O termo revolução foi um conceito cunhado, de início, pela astronomia e que depois migrou para explicar fenômenos sociais e políticos. Originalmente, revolução se referia aos movimentos dos corpos celestes no firmamento. Posteriormente, o termo passa a ser utilizado nos campos político e social, mas com mudança de sentido através do tempo.
No prisma político e social, o termo revolução iniciou explicando eventos que após acontecerem tendiam a um retorno ao ponto inicial. Ou seja, após um breve momento de perturbação na ordem social ocorria uma distensão e o retorno ao estado anterior. Por exemplo, a revolução inglesa de 1688 foi marcada pela eclosão de uma guerra civil que termina com a restauração da monarquia, sendo o retorno ao status quo anterior. Posteriormente, o termo revolução muda novamente seu sentido, passando a conceituar aqueles eventos onde se dá uma modificação da ordem econômica e social sem que se apresente o retorno ao estado anterior. Ou seja, com efeitos permanentes e inaugurando uma nova configuração política. A revolução americana de 1776 e a revolução francesa em 1789 são exemplos clássicos desta nova semântica do vocábulo.
As revoluções liberais se deram durante o correr do século XIX. A independência das treze colônias inglesas na América e os demais movimentos emancipatórios nela inspirados possuíam o objetivo precípuo de derrubar o instituto do pacto colonial. Acontece que uma burguesia comercial que se formou nestes territórios coloniais ansiava por se libertar dos entraves impostos pelo regime do exclusivo colonial, que forçava uma balança comercial altamente favorável à metrópole. Por outro lado, a revolução francesa teve um horizonte de mudanças muito mais abrangente. Note-se que ocorreu em uma grande metrópole da época e não em áreas coloniais. Desta forma, não se dirigia tão somente às questões comerciais exploratórias, mas exigia a derrubada do próprio regime absolutista. Vinha propondo, também, o fim dos privilégios da aristocracia, do rei e do poder divino deste.
Observe que foi produto da revolução francesa a concepção e edição de um dos documentos mais importantes da humanidade, que foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Nele, se estabelecia a igualdade de todos os homens perante a lei. Eram previstos os direitos à liberdade, à segurança e à resistência contra qualquer tipo de opressão. Indicava a soberania nacional e a supremacia do império da lei.. Ainda consagrava liberdades como as de expressão, de ideias e de religião.. Um dos tópicos mais importantes referia-se à separação dos poderes. Sob este ideário liberal foram derrubados os regimes monárquicos absolutistas e implantado o sistema liberal e democrático. Teve importância sine qua non para a independência das colônias latino-americanas e o término do regime de exploração de trabalho escravo.
Saliente-se que toda revolução para ser deflagrada necessita de ampla adesão popular. Ou seja, não há revolução sem a presença do povo junto à vanguarda revolucionária. O povo, que constitui a base da pirâmide social, adere à luta revolucionária por acreditar que haverá, como resultado, a melhora nas suas condições gerais de vida.
Ocorre que a partir do século XX uma nova rodada de revoluções acontecem em vários locais do globo. Porém, agora as revoluções não se encontram mais fundadas nos preceitos liberais, mas nas teses socialistas. O povo novamente adere aos movimentos revolucionários por entender que o pacto firmado entre burguesia e povo, pelas revoluções liberais, não foi devidamente cumprido. O liberalismo fundou o proletariado como nova classe social que permaneceu sob uma lógica de exploração econômica. A igualdade jurídica não foi percebida na prática. A busca de controle e expansão de mercados através do imperialismo na África e Ásia acarretou guerras que levaram enormes contingentes populacionais a condições extremas. Os benefícios elencados na declaração dos direitos humanos, prometido aos trabalhadores do campo e da cidade, eram mera ilusão na percepção popular.
Surgem vários movimentos de contestação: comunistas, socialistas, sindicalistas, anarquistas, dentre outras vertentes reformistas. Neste momento, vários autores ligados ao socialismo utópico escrevem trabalhos criticando o capitalismo, dentre eles temos Fourier, Saint-Simon e Proudhon. Na Inglaterra, dois pensadores realizaram uma crítica sistemática ao modelo capitalista, são eles Karl Marx e Friedrich Engels. Marx e Engels inauguram a fase do socialismo científico, que vê na luta de classes o motor capaz de mover a história, realizando uma inversão materialista em relação aos conceitos de Hegel. Entendem que o proletariado será o agente de promoção da revolução social. Suas ideias são fundamentais na raiz das revoluções ocorridas durante o século XX. E continuam explicando várias questões na atualidade.
Em 1917 eclode a revolução russa, que levará à formação da União Soviética. Este movimento inspirou diversas ocorrências revolucionárias pela África, Ásia, Europa e na América. Com destaque temos em 1949 a revolução chinesa e em 1959 a revolução cubana, que configuraram novos modelos de organização revolucionária. Paralelamente, no mundo muçulmano também se deu suas revoluções, onde a inspiração socialista também teve seu grau de importância na mobilização popular, embora o viés da religião islâmica tenha sido o fio condutor mais forte. A revolução iraniana, em 1979, derrubou a monarquia dos Xás no Irã. Foi uma das mais importantes revoluções populares da história da humanidade, comparada às revoluções francesa e russa, mas pouco estudada no ocidente.
O choque entre os dois mundos criados pelas revoluções, o capitalista e o socialista, além de produzir guerras e muitas mortes, também afetou a produção historiográfica que se dividiu em interpretações segundo as duas vertentes.
A historiadora Emília Viotti da Costa ressalta que boa parte dos analistas, inclusive de esquerda, entendem que a era das revoluções terminou por conta da disparidade tecnológica militar entre os governos instituídos e a população. Não haveria mais como lograr êxito com as antigas barricadas em bairros diante de helicópteros e, agora, drones armados com material de grande poder de destruição. Que o futuro das lutas populares se resume aos movimentos sociais.
E você, concorda que terminou a era das revoluções ???
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Referências bibliográficas:
As revoluções liberais se deram durante o correr do século XIX. A independência das treze colônias inglesas na América e os demais movimentos emancipatórios nela inspirados possuíam o objetivo precípuo de derrubar o instituto do pacto colonial. Acontece que uma burguesia comercial que se formou nestes territórios coloniais ansiava por se libertar dos entraves impostos pelo regime do exclusivo colonial, que forçava uma balança comercial altamente favorável à metrópole. Por outro lado, a revolução francesa teve um horizonte de mudanças muito mais abrangente. Note-se que ocorreu em uma grande metrópole da época e não em áreas coloniais. Desta forma, não se dirigia tão somente às questões comerciais exploratórias, mas exigia a derrubada do próprio regime absolutista. Vinha propondo, também, o fim dos privilégios da aristocracia, do rei e do poder divino deste.
Observe que foi produto da revolução francesa a concepção e edição de um dos documentos mais importantes da humanidade, que foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Nele, se estabelecia a igualdade de todos os homens perante a lei. Eram previstos os direitos à liberdade, à segurança e à resistência contra qualquer tipo de opressão. Indicava a soberania nacional e a supremacia do império da lei.. Ainda consagrava liberdades como as de expressão, de ideias e de religião.. Um dos tópicos mais importantes referia-se à separação dos poderes. Sob este ideário liberal foram derrubados os regimes monárquicos absolutistas e implantado o sistema liberal e democrático. Teve importância sine qua non para a independência das colônias latino-americanas e o término do regime de exploração de trabalho escravo.
Saliente-se que toda revolução para ser deflagrada necessita de ampla adesão popular. Ou seja, não há revolução sem a presença do povo junto à vanguarda revolucionária. O povo, que constitui a base da pirâmide social, adere à luta revolucionária por acreditar que haverá, como resultado, a melhora nas suas condições gerais de vida.
Ocorre que a partir do século XX uma nova rodada de revoluções acontecem em vários locais do globo. Porém, agora as revoluções não se encontram mais fundadas nos preceitos liberais, mas nas teses socialistas. O povo novamente adere aos movimentos revolucionários por entender que o pacto firmado entre burguesia e povo, pelas revoluções liberais, não foi devidamente cumprido. O liberalismo fundou o proletariado como nova classe social que permaneceu sob uma lógica de exploração econômica. A igualdade jurídica não foi percebida na prática. A busca de controle e expansão de mercados através do imperialismo na África e Ásia acarretou guerras que levaram enormes contingentes populacionais a condições extremas. Os benefícios elencados na declaração dos direitos humanos, prometido aos trabalhadores do campo e da cidade, eram mera ilusão na percepção popular.
Surgem vários movimentos de contestação: comunistas, socialistas, sindicalistas, anarquistas, dentre outras vertentes reformistas. Neste momento, vários autores ligados ao socialismo utópico escrevem trabalhos criticando o capitalismo, dentre eles temos Fourier, Saint-Simon e Proudhon. Na Inglaterra, dois pensadores realizaram uma crítica sistemática ao modelo capitalista, são eles Karl Marx e Friedrich Engels. Marx e Engels inauguram a fase do socialismo científico, que vê na luta de classes o motor capaz de mover a história, realizando uma inversão materialista em relação aos conceitos de Hegel. Entendem que o proletariado será o agente de promoção da revolução social. Suas ideias são fundamentais na raiz das revoluções ocorridas durante o século XX. E continuam explicando várias questões na atualidade.
Em 1917 eclode a revolução russa, que levará à formação da União Soviética. Este movimento inspirou diversas ocorrências revolucionárias pela África, Ásia, Europa e na América. Com destaque temos em 1949 a revolução chinesa e em 1959 a revolução cubana, que configuraram novos modelos de organização revolucionária. Paralelamente, no mundo muçulmano também se deu suas revoluções, onde a inspiração socialista também teve seu grau de importância na mobilização popular, embora o viés da religião islâmica tenha sido o fio condutor mais forte. A revolução iraniana, em 1979, derrubou a monarquia dos Xás no Irã. Foi uma das mais importantes revoluções populares da história da humanidade, comparada às revoluções francesa e russa, mas pouco estudada no ocidente.
O choque entre os dois mundos criados pelas revoluções, o capitalista e o socialista, além de produzir guerras e muitas mortes, também afetou a produção historiográfica que se dividiu em interpretações segundo as duas vertentes.
A historiadora Emília Viotti da Costa ressalta que boa parte dos analistas, inclusive de esquerda, entendem que a era das revoluções terminou por conta da disparidade tecnológica militar entre os governos instituídos e a população. Não haveria mais como lograr êxito com as antigas barricadas em bairros diante de helicópteros e, agora, drones armados com material de grande poder de destruição. Que o futuro das lutas populares se resume aos movimentos sociais.
E você, concorda que terminou a era das revoluções ???
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Referências bibliográficas:
- Hobsbawn, Eric. A Era das Revoluções, 1789 - 1848. 32a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
- Pomar, Wladimir. A Revolução Chinesa. São Paulo: Editora Unesp, 2003. (Coleção Revoluções do Século XX / direção de Emília Viotti da Costa).
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