domingo, 25 de maio de 2014

Conexão Atual entre História e Literatura





A crítica e os estudos literários podem colaborar com a historiografia?
A escrita da história pode colaborar com o estudo literário?
Qual a abrangência e limites da interdisciplinaridade entre história e estudo literário?

Estas são questões atuais que vem sendo objeto de estudo por intelectuais das duas disciplinas.

A historiografia periodicamente está presente nos estudos literários. Ocorre que nas últimas décadas esta preocupação voltou a ganhar força  com a entrada da consciência histórica nos estudos literários.

Com base nesta interdisciplinaridade, podemos enumerar 3 momentos ou fases distintas:

1- Historicismo: Dominou o início dos estudos literários com a preocupação centrada nos fatores determinantes da história social e econômica. Analisavam os vínculos aparentes ou ocultos entre a literatura e eventos particulares ou, ainda, procurava mostrar o processo pelo qual uma obra literária trazia implícita o panorama mundial da época que foi escrita.

2- Nova Crítica (EUA - 1940): Mudou o foco do Estudo literário, acreditavam que o s textos possuíam significados e verdades essenciais não históricas que deveriam ser transmitidas. Por isso, a análise literária deveria se abster da análise contextual histórica.

3- Novo Historicismo: (a partir do inicio de 1980): Marxistas e feministas lideram um retorno à história, mas, agora, com foco voltado para a política da forma e a cultura.

Michel Foucault, inspirado por Nietzsche (Uso e abuso da história), introduz a perspectiva de, ao revés do talento individual dos autores, estudar as forças de dissipação, privilegiando a retórica das descontinuidades, lacunas e rupturas.

A questão de enfatizar a descontinuidade, na análise do processo histórico, é um recurso sine qua non para distanciar passado do presente e, assim, tirar o historiador de uma zona de conforto no estudo destas temporalidades. Neste sentido, influenciados por Foucault, os "novos historicistas" defendiam uma visão de história que enfatizasse o papel da representação e do discurso na vida social. Esta escola constitui importante movimento de releitura da história e da literatura nas últimas décadas.

O "novo historicismo" rejeita a ideia de História como um passado unitário diretamente acessível e a substitui pela concepção de "histórias", uma série contínua de construções humanas, cada uma representando o passado em momentos presentes específicos para propósitos específicos.

O campo da "memória" é onde ocorre maior convergência entre história e literatura. Há o interesse pelos teóricos literários e culturais pela memória como importante vínculo entre teoria e história. O foco dos estudos literários na memória social e na memória textual visa a libertação do tempo linear e da fixidez do passado.

Referência: Lambert, Peter. História: introdução ao ensino e à prática. 1a. edição. Editora Penso.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

História da África: O Processo de Escravidão e o Comércio de Escravos



O comércio transatlântico de escravos: os mercadores e/ou líderes políticos que decidiram participar do tráfico transatlântico de escravos não sofreram pessoalmente as perdas por ele ocasionadas.

Mercadores europeus estabeleceram contato com os mais prováveis donos de escravos: ricos mercadores, funcionários dos Estados ou governantes. Os mesmos que também negociavam ouro, marfim, pimenta dentre outros.

A obtenção de escravos:  2 tipos ideias de obtenção.

1- Guerra por motivação econômica, cujo objetivo exclusivo seria a obtenção dos escravos;
2- Guerra por motivação política, na qual os escravos eram seu "subproduto".

Segundo o autor Thornton, a prática da escravidão antes da chegada dos europeus significou que as instituições legais necessárias, assim como os recursos materiais, estavam disponíveis para sustentar um grande mercado de escravos que permitia, inclusive, a participação de estrangeiros.

A influência da Europa sobre o comércio de escravos não foi significativa até, pelo menos, meados do século XVII. Além disso, as formas iniciais da tecnologia militar europeia não foram capazes de proporcionar conquistas significativas sobre as populações africanas.

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terça-feira, 20 de maio de 2014

Mudanças no Mundo do Trabalho



O surgimento do trabalho fabril:
- Perda, por parte do artesão, do domínio sobre o processo do trabalho.
- Na fábrica, divisão do trabalho e nova disciplina sobre os trabalhadores.
A divisão manufatureira do trabalho: divisão das várias etapas de produção, executadas por trabalhadores diferentes. Há a separação do local de trabalho do local da vida doméstica.
O taylorismo e o fordismo:
Taylorismo: o controle do processo de trabalho e do seu ritmo se dá através da "gerência científica". Leva em conta tres aspectos:
1- Separação entre planejamento e execução das tarefas;
2- Seleção dos mais adequados para o cumprimento de funções específicas;
3- Controle sobre o tempo e os movimentos executados pelos trabalhadores.
Fordismo: a produção em massa de mercadorias padronizadas, consumo em massa e controle sobre o processo de trabalho através da execução de funções específicas por meio da esteira fordista. Foi o modelo dominante no mundo industrial até o início dos anos 1970.

Pós-fordismo e globalização.
Reestruturação produtiva: externalização e terceirização de serviços, redução do quadro de funcionários e diminuição dos custos de produção. Otimização da conectividade entre as empresas. Aumento da produção não é mais acompanhado pelo mesmo ritmo de crescimento dos empregos.
Flexibilização: no processo de trabalho (novas tecnologias) e no mercado de trabalho (novos tipos de contratos). Diversificação e variedade na produção de mercadorias e "consumo globalizado".

sábado, 17 de maio de 2014

Origem Histórica da Tensão entre Rússia e Ucrânia





A historiografia aponta a origem das tensões entre Rússia e Ucrânia desde a formação da unidade, no século IX, dos povos eslavos que ocupavam aquelas áreas da Europa Oriental e Ásia. A primeira unidade que se formou daquela etnia não se deu dentro do território russo atual, mas em torno da capital ucraniana de Kiev. Assim, a partir de Kiev havia se consolidado o chamado Império Kievano.

Naquele tempo, os eslavos não estavam divididos, como atualmente, entre grão-russos (russos atuais), pequenos-russos (ucranianos atuais) e bielo-russos. O Império Kievano formava um único povo.

Politicamente, o Império Kievano constituía uma confederação de cidades-Estado que eram dirigidas por vassalos do Príncipe de Kiev, dentro de uma estrutura feudal.

O nascimento do império é imprecisa. Uma crônica lendária da Ucrânia conta que as tribos eslavas teriam convidado três irmãos vikings para os governarem no século IX. Por outro lado, os historiadores russos minimizam a presença dos irmãos vikings na formação do império.

É interessante notar que naquele tempo o Império sediado em Kiev não ficava atrás da Europa ocidental nas questões culturais e econômicas. O atraso que a região passou a experimentar em relação ao Ocidente teria vindo a partir dos séculos XIII a XV, quando a região foi invadida e passou ao domínio mongol, enquanto o Ocidente passava pelo processo da Renascença.




No século XV os príncipes moscovitas conseguem centralizar o poder e, deste forma,  reunir força suficiente para libertar a região do domínio mongol. Contudo, a partir daí a sede do império é transferida para Moscou e não mais em Kiev.

Esta história secular em torno do centro de poder dos povos eslavos, inicialmente em Kiev e posteriormente em Moscou, trazem ainda no presente permanências tensionais entre os dois lados. Esta é a gênese da explicação de relação conflituosa entre as duas regiões e do porquê dos habitantes do leste da Ucrânia  desejarem laços com a Rússia, enquanto o Oeste tende a querer a independência política em relação a Moscou.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Paixão e Morte na Corte Portuguesa




Os personagens da realeza lusitana, em diversas épocas, apresentaram uma interessante reedição de paixões proibidas envolvendo príncipes com o nome Pedro e mulheres de sobrenome Castro. No Brasil, é famosa a história do envolvimento amoroso entre D. Pedro I, filho de D. João VI, da dinastia dos Braganças, com Domitila de Castro, conhecida como Marquesa de Santos. 

Ocorre que em Portugal, no século XIV, um outro D. Pedro I, filho do Rei Afonso IV, da dinastia dos Borgonhas, teve um intenso relacionamento extraconjugal  com a galega Dona Inês de Castro.

Durante o tempo das dinastias reais, os casamentos entre parentes de dinastias europeias eram arranjados para favorecer alianças políticas. Daí que as partes não podiam levar em conta seus desejos afetivos. Sendo um dos poucos fardos da nobreza. O rei casava com uma escolhida de acordo com as injunções políticas e deveria ter herdeiros para garantir a linha sucessória, caso a esposa não conseguisse ter filhos poderia repudia-la e formar novo enlace.

D.Pedro I, filho do El Rei Afonso IV, nascido em 08 de abril de 1320, teve seu casamento acertado precocemente com Dona Branca, de Castela, quando ela completasse os 14 anos de idade. Contudo, por Branca se demonstrar com grande debilidade física e, há quem diga, mental ( o que não era raro entre membros da realeza por conta dos casamentos entre primos), teria sido repudiada por Pedro I.

Em 1340 novo casamento foi acertado para o príncipe com outra princesa de Castela, agora com Dona Constança.

Um grande cortejo foi programado para a chegada de Dona Constança, que entrou na corte rodeada de parentes, criados, pajens e aias. Foi quando D. Pedro I viu pela primeira vez Dona Inês de Castro que era uma das damas de companhia da princesa (aias) e, segundo os biógrafos, se apaixonou de imediato.

Pedro casou-se com Dona Constança com quem teve três filhos. Porém, começou um relacionamento extraconjugal com Dona Inês, que passou a ser tema de fofocas entre os membros da corte. O romance passou a ser mal visto pelo povo, pela corte e pelo rei Afonso IV.

O rei e a rainha tomaram como medida trancar Inês no Convento de Santa Clara, em Coimbra. No entanto, isto não afastou os amantes que se comunicavam através dos muros e por correspondência levada por um barquinho de madeira que navegava um riacho que atravessava o terreno do Convento.

Posteriormente, os reis enviaram Dona Inês para o Exílio na fronteira com Castela.

Com a morte de Dona Constança, em 1345, D. Pedro conseguiu trazer Dona Inês do exílio a que foi imposta. Os dois passaram a viver juntos contrariando os reis e as cortes. Juntos tiveram quatro filhos.

Além de tudo, um problema político se instalava. Uma vez que o filho de Pedro com Constança era o sucessor legítimo ao trono, o rei Afonso IV ficou temeroso que os filhos de Inês pudessem matá-lo para herdar o trono. Da mesma forma, os filhos bastardos poderiam levar D. Pedro I a requerer a coroa de Castela e abrir nova guerra com o reino vizinho.

Em meio a todo este caldo o rei Afonso IV tomou uma solução drástica. Aproveitando uma ausência de D. Pedro, mandou assassinar Inês de Castro que foi apunhalada por três fidalgos ao passear pela Quinta das Lágrimas (nome que posteriormente ao assassinato ficou conhecido o Pavilhão de Caça onde Inês se encontrava sediada a época).




 Esta atitude acabou em uma quase guerra entre pai e filho que teve de ser intermediada pela rainha Dona Beatriz.

Após a morte de D. Afonso, em 1357, D. Pedro torna-se o rei D. Pedro I de Portugal e imediatamente ordenou que se achasse e matasse os assassinos de sua amada.

Como castigo para a nobreza que contribuiui para o desfecho com suas intrigas, D. Pedro I mandou que desenterrasse o corpo de Inês e a coroou rainha, obrigando que todos os nobres presentes beijassem a mão da rainha-cadáver.

Posteriormente, ordenou que fossem construídos dois túmulos, uma para ela e outro para ele ocuparem quando de suas mortes, que constituem duas obras-primas da escultura gótica, situados no Mosteiro de Alcobaça. Cada túmulo está voltado para o outro, para que os dois, quando acordarem no juízo final possam ter o outro como a primeira coisa para ser vista. E desta forma, o amor de ambos resistiria à morte.


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terça-feira, 13 de maio de 2014

Os Anarquistas





O anarquismo é um movimento que se caracteriza pela recusa do Estado e enfoca na luta antiautoritária. Considera que os indivíduos e os grupos possuem em si mesmos a capacidade de engendrar uma outra forma de organização que não a do Estado.

Proudhon (1809-1865): o poder operário seria organizado a partir de entidades federadas e autogeridas. O poder central seria apenas como um órgão de coordenação e orientação.

Bakunin (1814-1876): a religião, o Estado e a propriedade estariam superados e constituiriam freios à emancipação humana e ao florescimento da liberdade.

Anarco-sindicalismo: objetivava forjar, fora das partidas políticas, uma força que estivesse nas mãos dos operários (o sindicato) e que pudesse se contrapor à política do Estado burguês e lutar concretamente contra o poder capitalista.


segunda-feira, 12 de maio de 2014

História da África: A Escravidão entre os Africanos.





A escravidão na África apresentava significativa diversidade, sendo aparentemente maior em sociedades mais urbanizadas, variando em comunidades agrícolas ou pastoris e representando um incremento de força de trabalho, poder e riqueza para os chefes das famílias aldeãs.

A presença de escravos nos exércitos e em cargos de confiança diminuía a dependência dos governantes de suas respectivas aristocracias, contribuindo para a centralização e aumento de seu poder.

Terra e trabalho: o escravo, na África, constituía a principal forma de riqueza reprodutiva, pois era o trabalho, e não o solo, o fator de produção escassa.

A terra, entretanto, não era destituída de valor, sendo utilizada por chefes de família e governantes, através dos seus direitos de cedê-la ou não, para manter ou ampliar seus vínculos de mando.

O sacrifício ritual: era comum, no continente, o sacrifício e a imolação ritual dos escravos em ocasiões especiais. Ex: morte do rei, epidemias, secas, etc.

Da redução à escravidão: se dava, principalmente, por meio da guerra, do sequestro, de castigos penais, dívidas, abuso de poder, desterro político, entre outras formas. A grande maioria dos escravos, no entanto, provinha de conflitos armados ou já nascia sob a condição da escravidão.

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sábado, 10 de maio de 2014

O Socialismo Utópico





O termo socialismo apareceu nos anos 1830. A junção entre socialismo e utopia serviu para desenhar, no século XIX, um conjunto díspar de concepções políticas. Para uma doutrina ingressar nesta categoria era necessário estar preocupada com a questão social, mas sem fazer parte dos quadros do liberalismo ou do marxismo.

Na raiz da posição utópica há uma atitude de revolta diante do estado de coisas estabelecido.

Alguns textos de Marx e Engels atacavam vivamente os socialistas  utópicos. A oposição entre ciência e a utopia estava carregada de uma pretensão cientificista própria do século XIX. Somente o método marxista, o materialismo dialético e histórico, podia se pretender verdadeiramente científico. Qualquer outro método, ou ausência de método - como em Fourier, Leroux, Cabet, Owen e Louis Blanc - seria utópico, ou seja: ingênuo, pueril, irrealista, idealista, moralista, metafísico, até mesmo religioso.

Essa pretensão marxista de constituir a sua visão como a que seria madura, de uma continuidade histórica entre um socialismo utópico precursor ultrapassado e um marxismo científico, revela uma filosofia da história própria a todos os determinismos positivistas.

Para Marx, toda utopia é a-histórica: por ignorar a luta de classes. Os utopistas são capazes da crítica, percebem o antagonismo das classes, mas substituem a atividade social por sua própria engenhosidade. Seriam incapazes de conceber as leis da revolução.

A força da utopia não pode ser medida por sua capacidade de realização, mas por uma capacidade crítica que recusa as discussões no quadro imposto  e se volta contra os princípios, contra as aporias dos sistemas que emergem dos próprios sistemas. Esse argumento foi usado para defender a utopia, mas que terminava a enfraquecendo.

Os utópicos do século XIX, ao contrário de uma opinião banal, não renegam em nada a ideia de ciência e pretendem valer-se dela contra os falsos sábios e as falsas ciências fabricadas pelo espírito positivista.

As doutrinas socialistas do século XIX têm em comum o fato de criticarem o liberalismo enquanto é incapaz de resolver a questão social.

Para François Châtelet, as correntes socialistas utópicas apresentam tantas divergências, que agrupa-las na mesma categoria "utópica" resulta numa impostura.

Alguns dos principais socialistas utópicos:

- Robert Owen, industrial inglês, pregava a criação de comunidades agrárias que absorveriam a indústria, aboliriam a propriedade privada e levaria,, por contágio, as advento da felicidade e da virtude sobre a terra.

- Etienne Cabet, recorreu ao cristianismo para justificar a criação de mundo novo, comunista. O Evangelho prescreve a partilha dos bens e a supressão da moeda.

- Buchez, pregava um cristianismo socialista. A teoria do bem comum comandava todo o seu sistema.

- Pierre Leroux era outro que defendia um cristianismo socialista. Propagava o socialismo como bandeira de uma religião para a humanidade e não como a luta de classes.

- Charles Fourier apresentava princípios de uma crítica radical não somente da ordem social existente em seu tempo, mas da própria civilização, bem como um conjunto de proposições para construir um mundo harmonioso.

Obs: o termo utopia foi criado por Thomas More em 1516.


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quinta-feira, 8 de maio de 2014

O Modelo Mercadológico de Pesquisa Matando a Universidade.



A crise intelectual constatada em universidades de todo mundo é fruto do modelo competitivo implementado de fora (pelo mercado de trabalho) para dentro da pesquisa universitária, na graduação e, principalmente, na pós-graduação.

Em tempos passados a pesquisa na pós-graduação era visada por aqueles que tinham essa tendência pela iniciação científica, que possuíam um projeto de pesquisa que gostariam de levar adiante. Aqueles que não tinham inclinação para o trabalho de pesquisa seguiam nos cursos de especialização, aprendendo as novas teorias vindas do setor de pesquisa.

Hoje, o mercado está exigindo no curriculo o profissional pesquisador. Então, cada vez maior quantidade de formandos, sem nenhuma tendência para tal, acabam seus cursos e se dirigem para os mestrados sem nenhum projeto pessoal solidamente constituído. Aliás, atualmente nem se tem mais a figura daquele que possui uma ideia própria e faz seu projeto, acaba se enquadrando em alguma pesquisa da área de concentração da universidade que o aceitou.

A lógica se inverteu. Antigamente o importante era a pesquisa que se realizava e o título era o reconhecimento de tal trabalho. Agora, o importante é receber o título para o currículo, sendo a pesquisa a formalidade para atingir o real objetivo.

Desta forma, temos muita gente fazendo pesquisa sem a menor paixão. Muitos pesquisando assuntos que nem gostam na verdade.

O sujeito tem um tempo limitado para produzir o resultado. E na caminhada da pós ainda tem que apresentar, loucamente, o máximo de artigos que puder, pois é uma competição mesmo. Quanto mais artigos melhor para o currículo. E o orientador também fica cobrando esta produção, pois para ele da mesma forma é importante ter o nome associado ao máximo de produção científica possível.

E assim, nunca se produziu tantos artigos como agora. São milhares de trabalhos metodicamente problematizados e formatados conforme as normas da ABNT que vão parar nos arquivos. Por outro lado, nada que faça grande diferença para o mundo acadêmico. Mas valeu para incrementar o currículo.

Ao mesmo passo que tanto se produz nos mestrados e doutorados, por outro lado se fala numa grande crise intelectual nestes nossos tempos.

Onde estarão os novos Kant, Rousseau, Einstein, Freud, dentre outros ?

Eles estão por aí ! Inteligência não falta. Só que ao revés de estarem concentrados no trabalho de suas vidas, estão muito ocupados escrevendo milhares de artigos meia-boca !







quarta-feira, 7 de maio de 2014

Filme para debate: Meu Amigo Nietszche





O filme "Meu Amigo Nietszche" é um curta metragem, de Fáuston da Silva, rodado em Brasília e que foi vencedor do 11º Festival de Cinema de Taquatinga.

O enredo mostra o cotidiano escolar de um garoto da periferia. Notas baixas e pouco estímulo ao estudo. Por pressão da professora e da mãe passa a ler tudo que encontra, pois segundo recomendação da professora precisa melhorar sua leitura para aumentar o rendimento em todas as matérias.

É neste momento que ocorre a grande virada na estória, ao encontrar um volume no lixão, próximo de sua casa, de "Assim Falava Zaratustra", do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. Ao se impor a leitura do livro, não só melhora suas notas na escola, mas começa a formar pensamento crítico e criar uma consciência emancipatória.

Neste momento, em que reproduz uma postura consciente libertária, passa a ser condenado e desestimulado em casa e, principalmente, na escola, a continuar o estudo do livro de filosofia.

O filme é cheio de simbologias. 

O garoto usa a camisa da seleção brasileira, deixando de ter uma representação singular, mas todo o contingente de crianças brasileiras das classes populares.

Ele consegue melhor orientação com um homem catador de papel nas ruas do que dentro da própria instituição oficial de ensino, a escola.

E, principalmente, mostra que o sistema deseja que o indivíduo aprenda o bastante para ser um bom empregado ou funcionário. Contudo, não deve passar do senso comum em seus estudos. Formar uma mente emancipada não é desejado, mas combatido.

É um filme que deveria ser passado nas escolas e faculdades para fomentar debates.

Veja o filme no link abaixo:






terça-feira, 6 de maio de 2014

KARL MARX: materialismo, ideologia, determinismo...




Karl Marx, filho de pais judeus, nascido na Alemanha, estudou direito na Universidade de Bonn e fez doutorado (1841) em filosofia na Universidade de Berlim. Entrou em contato com os discípulos de Hegel e travou conhecimento com os socialistas utópicos franceses.

Em 1844, mudou-se para Paris, onde conheceu Friedrich Engels, amigo e colaborador nos estudos e pesquisas. Ambos fundaram o Partido Comunista, cujo programa - O Manifesto do Partido Comunista - publicaram em 1848.

Sua vasta obra abrange diversas disciplinas: história, ciências políticas, sociologia, economia, filosofia e jornalismo.

Suas ideias constituíram forças teóricas e políticas fundamentais do século XX.

O MARXISMO DE MARX E ENGELS

O ponto de vista materialista: segundo Marx e Engels, deve-se priorizar a análise das condições materiais de existência de uma dada sociedade, as relações econômicas que nela se estabelecem, a dominação sócio-política que nela se exerce os mecanismos que essa dominação utiliza.

Organização política e crítica da economia.

Centros de correspondência comunista (1846): criados por Marx e Engels para por em contato os diversos grupos europeus que trabalhavam pela emancipação do proletariado.

Manifesto do Partido Comunista (1848): luta de classes, missão do proletariado e noções constitutivas do materialismo histórico.

Dicotomia entre base (infraestrutura) e superestrutura: a primeira corresponde à dinâmica das forças produtivas que constitui um modo de produção, enquanto a segundo é o edifício jurídico e político.

O Capital como fundamento da sociedade burguesa.

O Capital (1867): análise do modo de produção capitalista com sua complexidade (o trabalhador como mercadoria, a mais-valia, a acumulação primitiva, etc.)

Desdobramento político do Capital: a luta de classe operária deve ter o objetivo de suprimir a extorsão.

Associação Internacional dos Trabalhadores: fundada em 1864, foi transferida para Nova York, em 1872, por conta das disputas entre marxistas e anarquistas.


A FILOSOFIA CRÍTICA DE MARX

Marx deve ser entendido como um filósofo crítico.

No início da modernidade, a crítica consistia na necessidade de examinar o próprio processo de conhecimento para evitar os erros e ilusões  das antigas filosofias e teorias pseudocientíficas, combatendo o falso saber.

Hegel ensina por meio da historicidade da consciência individual, que isso é impossível, pois o indivíduo não pode ser desvinculado da tradição, da cultura e da sociedade a que pertence.

Marx busca um método filosófico para combater as ilusões da consciência e assim libertar o homem.

Marx criticou o idealismo de Hegel. A interpretação hegeliana do processo histórico e da formação da consciência restringe-se ao plano das ideias e representações, do saber e e da cultura, não levando em conta as bases materiais da sociedade em que este saber e esta cultura são produzidos e em que a consciência individual é formada.

Enquanto para Hegel o motor que move a história é a contradição dialética (tese, antítese e síntese) no campo das ideias, para Marx o motor da história é a luta de classes. Para entender a história não se deve partir do que os homens pensam, mas da maneira pela qual produzem os bens materiais necessários à sua vida.

A questão central da análise de Marx passa a ser o "trabalho".

O materialismo histórico, fundado por Marx, pretende ser uma teoria científica da história. Marx analisa os diferentes estágios, caracterizados através da noção de "relações de produção", que levaram a humanidade desde a sociedade primitiva, a escravocrata, a feudal, até a sociedade burguesa.

Abaixo, um quadro com as principais categorias conceituais da obra marxista:




CRÍTICA DA IDEOLOGIA

Ao contrário da obra dos pensadores conhecidos como ideólogos ( que desejavam criar um ciência das ideias ), nos estudos de Marx o termo ideologia ganha um valor pejorativo.

Para Marx e Engels a ideologia é entendida como uma falsa consciência, uma visão distorcida, o mascaramento da realidade, de uma realidade opressora, que faz com que seu caráter negativo seja ocultado.

Assim, a ideologia seria uma forma de dominação que legitima as condições existentes numa determinada sociedade num dado período histórico. Consiste numa alienação da consciência humana de sua real condição de existência dentro das relações de produção.

DETERMINISMO

O professor François Châtelet e outros autores elencam algumas críticas ao conjunto da obra elaborada por Marx e Engels. A principal delas é o caráter determinista que apresenta várias das suas conclusões.

A questão principal se apresenta no papel que deve desempenhar o determinismo, seja no que se refere às relações do modo de produção com outras instâncias da sociedade, seja no que se refere à transformação de um modo de produção em outro. Até que ponto a passagem de um modo de produção a outro, no decorrer da história, pode ser entendida como "determinada".

Ocorre que a ideia de determinismo instiga preocupação no que tange à reflexão sobre a liberdade humana.

Engels propôs uma alternativa ao escrever que não se trata de um determinismo absoluto, mas relativizado.

Vários autores marxistas posteriores irão rever a obra de Marx realizando uma proposta de flexibilizar este viés determinista. Entre eles podemos citar: Lukács, Gramsci, Pierre Vilar, Edward Thompson, Eric Hobsbawn, entre outros.

CONSCIÊNCIA DE CLASSE X ORIGEM DE CLASSE

O pensador húngaro Georg Lukács realiza uma importante obra interpretativa e de revisão do marxismo.

Seu estudo introduz uma distinção fundamental entre "origem de classe" e "consciência de classe". 

Através da distinção destas duas categorias conceituais mostra que a consciência de classe de um indivíduo nem sempre reflete necessariamente a sua origem.

Desta forma, um intelectual de origem burguesa poderá se identificar com a luta do proletariado pela emancipação

MARXISMO-LENINISMO

Postulado desenvolvido por Lenin, foi a doutrina oficial do Partido Comunista que passou a governar a União Soviética.

Nesta interpretação, é enfatizado o papel do indivíduo, do intelectual revolucionário e do partido como vanguarda do proletariado, rompendo com o determinismo histórico apontado por Marx.

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Referências:

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

CHÂTELET, Francois. História da Ideias Políticas. Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora, 2000.

BARROS, José D'Assunção. Teoria da História Vol III. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia Geral e Brasil. São Paulo: Moderna, 2006.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

História da África: Escravidão Islâmica





Expansão Muçulmana: iniciada no século VII, consolidou o comércio transaariano de escravos, assim como aquele oriundo da África Oriental.

A Revolta Zanze: ocorreu na Baixa Mesopotâmia, ao final do século IX, e levou à diminuição de escravos vindos da África Oriental e ao aumento do fluxo transaariano.

A Transferência do Ônus da Captura: cada vez os escravos vinham de mais longe dos entrepostos comerciais. A tentativa de evitar a escravidão generalizada levou povos a, inicialmente, pagarem tributos em escravos e, posteriormente, a praticar a escravidão contra povos vizinhos.

A escravidão permeava a vida urbana e rural do mundo muçulmano, no qual os escravos poderiam cumprir as mais distintas funções.

Cavalaria e Escravidão: a crescente importância da cavalaria levou reinos sudaneses ao comércio de mais escravos, que eram trocados por equinos de fora da região, pois possuíam maior porte e eram mais eficazes em batalha.

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