segunda-feira, 22 de maio de 2017

Brasil: país sem projeto, sem estratégia e a deriva.




O atual governo federal brasileiro foi para o espaço. Podemos dizer que a ponte do governo caiu. Lembrando que o nome dado por este governo ao "projeto" para o país sair da crise se chama "ponte para o futuro". Se é que podemos chamar a ponte de projeto. A ponte acaba com o mercado interno ao deixar de valorizar o salário mínimo e tomar medidas concentradoras de renda. Precariza grande parcela da sociedade com as reformas trabalhistas e previdenciária. Entrega a exploração de nossas reservas minerais estratégicas, notadamente o petróleo, a companhias estrangeiras sem maiores benefícios internos. Altera leis que previam entraves a estrangeiros comprarem grandes propriedades no território nacional. Dentre outras que não parece propriamente um projeto muito interessante ao país.

Aliás, mais parece um projeto do grande capital financeiro especulativo internacional do que um projeto de país. Corrobora com isso, o fato de já ter sido implementado em alguns países europeus e o resultado foi desastroso. Países como a Grécia, que são menores que o Brasil e com menos contradições sociais internas, sofreram grandes desajustes sociais com tal fórmula. No Brasil, poderá levar a uma política de "terra arrasada".

Agora, com a delação do Joesley, aquele rapaz "simpático" da JBS, parece que o governo Temer desintegrou de vez. Só que o Joesley fez a delação e voou direto para Miami. E por lá deseja ficar por muitos anos ou a vida toda. Embora pouco noticiado, parece que a JBS já havia transferido o principal da sede de seu grupo para os Estados Unidos. A JBS é uma das maiores empresas de alimentos do mundo. Mas atualmente somente 10% da renda da empresa é gerado no Brasil. Por isso a mudança não irá trazer alterações significativas ao grupo. Para realizar tal mudança era necessário que o grupo resolvesse suas pendências judiciais perante a corte americana. E a delação no Brasil teria sido parte disso. Resolvida a pendência, a JBS muda sua sede para os EUA e abrirá o capital na bolsa de Nova Iorque.

Embora este viés esteja sendo pouco explorado na mídia, pode-se vislumbrar algo neste trecho do jornal de uma emissora de TV: https://www.youtube.com/watch?v=KVEhFnNFQH0

 Um governo não pode ser apenas um gestor. O prefeito, governador ou presidente não poder apenas atuar como síndico de um edifício. É necessário que se tenha um grande projeto de nação e que sejam traçadas as estratégias para alcançar a execução satisfatória do projeto. No chamado mundo globalizado, torna-se vital que o projeto se divida, com igual rigor, em duas frentes: uma para estabelecer avanços internos e outra para uma inserção internacional que lhe garanta independência e autonomia. A boa evolução da política interna ajuda na projeção externa. Da mesma forma, uma boa execução das estratégias internacionais ajudam na resolução das questões internas.

Em ambos os sentidos o governo Temer tem sido desastroso. Podemos lembrar a cúpula que ocorreu este mês em Pequim para realização de tratados internacionais para estabelecer uma grande teia comercial global que estão apelidando de "nova rota da seda". Nos livros de história aprendemos que a rota da seda foi a maior rota comercial da antiguidade. Que beneficiou comercialmente e culturalmente Ásia e Europa. A nova rota da seda é algo bem maior. Passa, inclusive, pela construção da ferrovia transoceânica. Uma forma de driblar o canal do Panamá controlado pelos EUA. Os presidentes da Argentina e Chile estiveram presentes e já saíram na frente neste novo empreendimento. O presidente Temer não foi ao encontro e não mandou representantes.

Neste sentido, podemos lembrar que no governo Lula houve a adoção de um projeto e eleição de estratégias para sua execução. Apesar disso não excluir os graves problemas de corrupção dentro do governo. Embora corrupção ocorra em todo lado  onde role muito dinheiro. Até o banco do Vaticano está atolado na corrupção. Não é diferente na maioria dos países, tanto no setor público como no privado.

O governo Lula adotou a política de fortalecer o mercado interno. Valorizou o salário mínimo e abriu o pequeno crédito à população. Foram medidas ainda tímidas. Poderia ter feito muito mais. A fragilidade dessas medidas ficaram claras quando rapidamente, após o impeachment, a população perdeu aquela vantagem. Contudo, enquanto durou, essa política foi importante no fortalecimento da economia. É bom lembrar que esta crise econômica mundial teve início no começo do segundo mandato do Lula, quando ele falou na "marolinha", mas só sentimos seus efeitos drásticos a partir do meio do primeiro mandato de Dilma. Essa demora na chegada dos efeitos da crise em terras brasileiras foi de algum ineditismo. Pois, em regra, em períodos anteriores, antes mesmo das crises econômicas se intensificarem pelo mundo o Brasil já estava quebrado.

No plano internacional, o governo Lula teve um projeto mais audacioso. Implementou uma política internacional que ficou conhecida como "ativa e altiva". Quando o país deixou de simplesmente ter uma posição de alinhamento automático aos interesses americanos e europeus para agir de forma autônoma e abrindo um leque de discussões e de partidas com os mais diversos atores globais. Entendemos que um dos grandes nomes da elaboração desta estratégia foi o do ministro Celso Amorim, das relações internacionais. Ele usou, com maestria, o simbolismo do presidente operário e sindicalista para alavancar o país nas mais diversas discussões estratégicos. Lula, no plano internacional, teve um simbolismo parecido com o do presidente polonês Lech Walesa, que foi o fundador do sindicato "solidariedade" em seu país. Exceto para quem é polonês, os presidentes daquele país não são muito conhecidos do público mundial. Mas com Walesa foi diferente. Eu era criança mas ainda hoje lembro perfeitamente da voz do Cid Moreira falando em Lech Walesa no famoso jornal nacional. O mesmo acontece com o Brasil. Exceto nós, brasileiros, ninguém pelo mundo sabe quem é Fernando Henrique, Itamar, ou Collor. Contudo, a geração atual de pessoas em todo o globo sabe que Lula foi presidente do Brasil.

Todos os chefes de Estado queriam uma foto ao lado de Lula, para mostrar que apoiavam uma liderança popular. Desde a rainha da Inglaterra aos presidentes americano e russo tiveram poses fotográficas ao lado de Lula estampadas pelos jornais mundo a fora. E nesse espaço que se abria, o Brasil foi assinando diversos acordos comerciais muito proveitosos para  as empresas nacionais. Desde a estatal Petrobrás até as companhias privadas

Foi nesse contexto que a ODEBRECHT, que já era uma grande empresa brasileira, se tornou uma gigante mundial em seu ramo. E a JBS, que era apenas um frigorífico de médio porte no Brasil, se transformou numa das maiores empresas de alimentos do mundo. O crescimento dessas empresas não se deu apenas pelo aporte de vultosos financiamentos do BNDES. Mas pelas partidas comerciais que essas empresas ganharam graças à política de comércio exterior implementada nos últimos 15 anos. Essas empresas conseguiam grandes contratos no exterior e em contrapartida o banco de desenvolvimento aportava os recursos. Se, depois, essas empresas não pagaram os créditos ao banco ou usaram parte dele para corrupção já é outro problema. Sabemos que ocorreram graves distorções.

Aliás, é assim que o capitalismo de ponta, e não o periférico, se desenvolve. Quando o presidente Trump vai na Arábia Saudita e fecha a maior venda de armas da história, os grandes beneficiados são as empresas americanos privadas do setor bélico.

O governo brasileiro, na época de Lula, teve uma balança comercial altamente positiva em negócios com a Venezuela. Também teve grande sucesso comercial no oriente. Foi ao Irã e conseguiu excelentes tratados comerciais. Muitos frigoríficos nacionais criaram setores onde as aves eram manipuladas de acordo com tradições islâmicas para melhor atender o universo muçulmano. E muita gente criticou o Brasil por conversar e tratar com Venezuela e Irã, que não eram considerados do "eixo do bem" pelos EUA. Mas é justamente nos mercados não dominados pelos EUA que surgem as grandes oportunidades. Isso é ter visão estratégica.

Hoje, não temos mais nenhuma estratégia ou projeto. Somente as distorções!

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