sexta-feira, 18 de julho de 2014

História e filosofia: as duas partes do todo.





Duas disciplinas que dialogam intimamente: história e filosofia. Se deseja entender profundamente a história estude filosofia, se quer aprofundar a filosofia estude a história.

No século XIX, Hegel já evidenciava a importância das ideias para a construção da história. Entendia o processo histórico como resultado da contradição dialética. Tese, antítese e síntese funcionariam como motor da história. Nestes termos, a tese consiste numa ideia que afirma algo, a antítese sua negação e a síntese como superação da contradição entre as duas.

Por outro lado, na concepção de Marx, há a inversão da teoria hegeliana. Contrapõe ao idealismo de seu antecessor uma concepção materialista da história. A luta de classes é colocada como motor da história. As condições materiais de uma sociedade, definidas na sua infraestrutura e superestrutura, indicarão o devir do processo histórico. Neste entendimento, a conjuntura material é responsável pelo surgimento das novas correntes ideológicas.

Parece-nos que ambos acertaram em suas predições. Tanto a conjuntura material de um dado momento histórico tem influência sobre a produção de novas correntes de pensamento; como, também, as novas correntes filosóficas vão impactar e interferir no processo histórico em curso.

Por exemplo, sabe-se da importância de dois sistemas ideológicos na formação do Ocidente. Tanto a religião judaica quanto o pensamento grego estão na gênese da atual civilização ocidental. Contudo, o fato da expansão romana que colocou sob sua administração os dois povos e seus sistemas culturais, foi imprescindível para que ocorresse o diálogo entre as duas correntes e sua harmonização no nascente cristianismo.

Desta forma, é de se criticar que nos cursos de história, já combalidos pela sua redução a três anos, haja apenas um período do estudo de filosofia. Deveria haver uma disciplina de filosofia que acompanhasse todo o curso, da filosofia I à filosofia VI. Da mesma forma, no curso de filosofia uma atenção especial quanto aos processos históricos.

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quinta-feira, 17 de julho de 2014

O Paradoxo de uma História e Historiografia Autoritária



A história que conceitualmente aprendemos nos bancos acadêmicos, nem sempre gera, nos seus profissionais, atitudes condizentes com a aprendizagem humanista que esta ciência proporciona.

Diante da análise da atuação do homem através do tempo, de suas rupturas e permanências, dos momentos de glória e de obscurantismo da civilização, uma diretriz que parece saltar aos olhos do estudante é que um historiador jamais poderia se tornar um sujeito reacionário.

Contudo, o estudo da história não retira o sujeito do espírito humano. E assim, surge o paradoxo de se ver historiadores e professores de história que repetem atitudes das mais condenáveis no estudo da passagem humana pelo planeta. Censura, exclusão por motivo de opinião, preconceito por motivação política, autoritarismo, por exemplo, são características reprováveis que jamais deveriam combinar com uma sociedade composta pelos detetives dos fatos históricos.

Qual não foi minha surpresa, no entanto, quando ao achar que me encontrava em ambiente a prova de tais vícios, numa pretensa comunidade de história do facebook, ter sido, sem qualquer aviso, bloqueado daquela comunidade pelo fato de estar expressando opinião a respeito de institutos políticos praticados na atualidade.

Afinal, o historiador está inserido no mundo político. Tem sua opinião formada. E mesmo ao escrever uma obra não está absolutamente isento de seus valores culturais, como queriam os positivistas. Tanto que ao se estudar um autor é recomendável que o leitor identifique o "lugar da fala" do escritor da obra.

Não se tratava de postagem fazendo propaganda direta a candidato. Não foi a postagem de um "santinho" político. Sequer era mencionado o nome de qualquer político na mensagem. Mas pelo simples fato da mensagem defender algumas políticas sociais inclusivas, empreendidas pelo governo atual, fomos arbitrariamente excluídos da página e a postagem apagada do grupo sem qualquer tipo de aviso ou que se desse condição à defesa.

Tudo ocorrendo de forma muito semelhante à censura militar. Só faltou postarem no lugar uma receita de chuchu com camarão.

Fica a lição de que a ciência não faz milagre. Quem não tem espírito democrático nem com história, filosofia e sociologia conseguirá desenvolver uma consciência dialética. E fica a reflexão sobre os resultados da nossa educação formal. Será que nossa universidade consegue promover uma formação integral do indivíduo? Ou os cursos universitários apenas estão servindo para ilustrar indivíduos que não conseguem realizar uma evolução na mentalidade. O indivíduo se ilustra mas continua sem transformação em essência. E aí temos o paradoxo do historiador reacionário !

A seguir, deixarei a postagem que foi censurada com a exclusão da mesma e bloqueio do participante do grupo. Uma postagem que usa do recurso da ironia para se posicionar quanto a uma política social afirmativa. Que cada qual, ainda que com suas paixões políticas, reflitam se era motivo de guilhotina. A postagem a seguir:

"Venhamos e convenhamos que essa história do governo federal dar bolsa para garantir a segurança alimentar das populações carentes não tem nada a ver. Coisa de comunista. Tem que deixar o livre mercado regular a situação, nem que muita gente tenha que morrer de fome. Isso de dar o peixe não tá com nada. Eu fiz a minha parte, dei a vara de pescar para uma descamisada aqui da rua e ela tá pescando que é uma beleza ! ( pérolas da mentalidade da oposição )."










terça-feira, 15 de julho de 2014

E qual é a posição política dos novos presos políticos ?





Ao final da Copa do Mundo acompanhamos o caso de prisão dos ativistas ligados às conturbadas passeatas de jovens "black blocs" que ocorreram pelo país, notada mente no ano de 2013, conhecidas como "jornadas de junho".

Com receio e se dizendo com fundados indícios de que estavam organizando passeatas violentas para o último dia da copa, que portavam artefatos explosivos, foram presos preventivamente com a justificativa de impedir que terceiros, cidadãos e visitantes, ficassem expostos a risco de lesão e depredação do patrimônio.

Não conhecemos os autos do inquérito policial. Logo, não podemos asseverar se houve legalidade ou não na privação de liberdade. Contudo, os ativistas e várias entidades passaram a tratá-los como presos políticos.

A categorização de preso político me chamou atenção para refletir sobre, afinal, qual é a política defendida por estes manifestantes black blocs, que costumam a usar a violência como expressão do seu protesto.

No passado, tivemos grandes movimentos pelo país em que se sabia quais as pessoas estavam em sua vanguarda e quais suas pautas políticas. Como exemplo, tivemos o movimento pela legalidade, no sul, com Brizola. Houve o movimento das diretas já, com a participação de várias figuras importantes da política e da sociedade nacional. Mesmo o movimento dos jovens caras-pintadas, no "fora Collor", embora os jovens não fossem conhecidos, mas estavam ligados à UNE, e esta instituição deixava clara suas posições ideológicas.

Mesmo no passado próximo, como nas marchas do MST, sabe-se exatamente que são seus líderes e os conceitos idealizados por esta entidade.

Contudo, os líderes black blocs são jovens sem qualquer história anterior. Não sabemos o que fizeram. Qual o trabalho social que empreenderam. O que pensam e qual sua pauta propositiva.

Parece-me mais temerário, ainda, quando esses movimentos passam a perseguir, nas passeatas, militantes com história de participação política. Outra questão é que não vemos os movimentos sociais que historicamente participaram de lutas, no país, participando das mesmas.

São pessoas sem um histórico claro, que convocam a massa juvenil através da rede de computadores. E possuem uma estrutura, como financiamento para viagens, quentinhas para os participantes nas passeatas, sem que saibamos qual entidade formal está por trás desta engenharia.

Apresentam um discurso muito vazio de combate à corrupção. Ora, combate à corrupção todo e qualquer indivíduo é a favor, pode ser um anarquista, comunista, liberal ou mesmo fascista.

São contra o governo, contra os impostos, contras as políticas sociais inclusivas (cotas e bolsas). 
Mas qual a proposta deles ? Quem eles querem no governo ? Qual a política que defendem ?

Essas perguntas ficam sem resposta clara. É tudo muito obscuro. E milhares de jovens atendem a estas convocações, num clima de micareta, sem saber ao certo a quem e a quais ideias estão servindo.




Imagens que remetem preconceito na oposição violenta ao mais médicos.


A comparação entre as duas imagens é sintomática. Em ambas, na nossa visão, se expressa o preconceito em relação não só à raça, mas xenofobia contra latinos, dentre outras distinções.

Há quem tente mascarar a expressão preconceituosa da foto dizendo que a vaia não se tratava de questão de raça e xenofobia, mas de posição da categoria médica em defesa dos seus interesses.

É claro que o fato imediato se referia à contratação de médicos estrangeiros. Mas enxergamos muito além desta tela inicial. Entendemos, que se tratasse de uma equipe de médicos americanos, com ternos bem cortados, a reação não teria esta virulência. Basta ver como o tal Doutor Hollywood é recebido com tapete vermelho. Na verdade, parece que há pessoas que usam a discussão como anteparo para exteriorizar o preconceito existente naqueles advindos de uma elite que compõem o gueto do curso de medicina.

A universidade de medicina é um nicho das classes abastadas. Não há amplo acesso aos cursos de medicina, tanto na rede pública quanto na privada. O jovem de classe alta formado em medicina, pelo seu modo de vida, não tem interesse em fixar seu atendimento numa favela ou numa cidade pobre do interior. Este perfil precisa estar num local com certos luxos, com bom restaurante, com shopping center, um ambiente turístico, etc.

Por isso, a estrutura que eles tanto reclamam faltar, vai muito além de um ambulatório. querem toda uma estrutura de vida que o interior mais pacato e a comunidade carente não poderá prover nas próximas décadas.

O programa mais médicos, antes de abrir a médicos estrangeiros, ofereceu aos residentes no país, um salário de dez mil reais, e a demanda não foi nem de perto preenchida. Daí, ser aberto a estrangeiros (não apenas cubanos).

Certamente, um professor de colégio não recusaria uma proposta dessas. E nem reclamaria da falta de estrutura.

O opositor ao programa também diz que o salário deveria ser bem maior para compensar a tal falta de estrutura. Interessante, que o perfil destas pessoas são as mesmas que condenam os impostos, o tamanho do Estado,  os programas de distribuição de renda. Mas esta reclamação só vai até o limite em que o Estado usa os recursos para ajudar os menos favorecidos. Se for para gerar salários fora da realidade para uma categoria que já provém de classe alta, então não há problema.

Por outro lado, o programa mais médicos não deve ser a solução final da questão. A solução verdadeira passa pela universalização do curso de medicina. De forma que todo estudante, seja de qual classe for, tenha fácil acesso ao curso. Mas não devemos ser ingênuos de pensar que a classe dominante desta área deseja isto.

Por isso, entendemos que o programa é importante para atender de imediato as necessidades das pessoas destes rincões mais afastados

Afinal de contas, o Doutor Hollywood não vai atender o pacato povo do interior, nem o cidadão da comunidade carente.







domingo, 13 de julho de 2014

União Ibérica: D. Sebastião, Felipe II e a ascensão dos branganças.


(Felipe II da Espanha)

O fato histórico conhecido como união ibérica corresponde ao período, entre 1580 e 1640, em que, devido a uma crise dinástica, o reino de Portugal ficou sob o domínio de reis espanhóis.

Ocorre que, em 1557, ao falecer o rei D. João III, de Avis, a coroa foi transmitida para o seu neto D. Sebastião, de apenas 2 anos de idade à época. Por conta da menoridade do novo rei, Portugal foi governado por dois períodos regenciais, um deles por Dona Catarina de Bragança, avó de D. Sebastião, e outro pelo Cardeal D. Henrique, que era tio-avô do mesmo. Ao completar 14 anos, D. Sebastião é considerado maior e passa a governar o reino. Seu reinado irá de 1568 a 1578.

Em 1578, no Marrocos, o Sultão Abd Al Malik deu um golpe em seu sobrinho, o então rei Abu Abdallah Mohammed il Saadi, que era aliado dos portugueses, e tomou o trono para si. Al Malik se aliou aos turcos-otomanos e passou a fazer um governo hostil aos reinos cristãos da Europa. Abu A. M. il Saadi, que tinha boas relações com Portugal, enviou uma mensagem a D. Sebastião, pedindo ajuda para recuperar o trono.

D. Sebastião, que segundo seus biógrafos era obcecado pelos mitos da cavalaria medieval e das cruzadas, atendeu a solicitação do rei marroquino deposto, armando um exército de mais de 18.000 homens, entre portugueses e destacamentos de mercenários de vários cantos da Europa, que atravessaram o estreito de Gibraltar, em direção ao reino de Fez (Marrocos), onde ainda receberam o reforço de forças leais ao rei deposto.

Em 4 de agosto de 1578 ocorreu o enfrentamento entre as forças lideradas por D. Sebastião contra a aliança do Sultão Abd Al Malik reforçado por tropas turcas, na famosa batalha de Alcácer-Quibir.. A batalha foi precedida de uma longa troca de fogo de mosquetes. Em 4 horas de combate houve 9.000 baixas.

A batalha de Alcácer-Quibir, na historiografia marroquina, ficou conhecida como a "batalha dos três reis". Por conta da morte dos 3 reis envolvidos durante a batalha: D. Sebastião, Abu il Saad e o Sultão Abd Al Malik.

O exército cristão perde a batalha. Metade dos seus combatentes morreram e a outra metade foi aprisionada. Uma séria consequência econômica, para Portugal, foi o fato de que os fidalgos presos em batalha só seriam liberados após o pagamento de altos resgates ao rei do Marrocos. A campanha trouxe dívidas que agravaram as dificuldades econômicas que já vinham do reinado anterior, quando começava a ficar clara a fragilidade das posições conquistadas no Oriente e os limites de suas possibilidades de enriquecer a população lusitana.

Ainda pior foi o fato do Rei português, D. Sebastião, ter desaparecido durante a batalha. O corpo do jovem monarca nunca foi encontrado. D. Sebastião não havia deixado herdeiro ao trono, causando uma crise dinástica em Portugal.

(D. Sebastião representado no cinema português)


O desaparecimento de D. Sebastião gerou em Portugal o mito messiânico conhecido como "sebastianismo". Consistia na crença de que nos períodos de crise do império lusitano D. Sebastião reapareceria para reconduzir Portugal aos seus dias de glória. O sebastianismo repercute  até hoje como tema literário de ressonância profunda em Portugal, seja na cultura popular e nos planos psicológico e político português. Pode ser encontrado nas trovas de Gonçalo Bandarra (1541) e na obra do Padre Antônio Vieira (1603).

Fato é que com a morte de D. Sebastião, o único herdeiro da dinastia de Avis era seu tio-avô, o cardeal D. Henrique, que assumiu o trono por dois anos e morreu tembém sem deixar herdeiros. Assim, se encerrava a dinastia de Avis em Portugal.

Com a vacância do trono, vários foram os candidatos à sucessão real: Dona Catarina de Médici (rainha da França), Dona Catarina de Bragança, o Duque de Savoia e D. Felipe II da Espanha.

Felipe II usou a força do exército espanhol para garantir sua sucessão ao reino português em 1580. Felipe II da Espanha foi, então, aclamado como Felipe I de Portugal. Teve início, neste momento, a união ibérica.

Diante das desconfianças e possibilidade de insurgência dos nobres lusitanos, Felipe II prometeu conservar privilégios destes e as liberdades de um reino que continuaria a ser autônomo. A proposta de Felipe II é que a junção das duas monarquias numa pessoa não implicaria a anexação de Portugal à Espanha, constituindo uma monarquia dual (um rei mas duas administrações distintas).

Tal acordo foi consubstanciado no Juramento de Tomar, em 1581, quando Felipe II da Espanha (ou Felipe I de Portugal) assumiu o compromisso de preservar relativa autonomia a Portugal, não submeter suas colônias à Espanha e respeitar usos, costumes, leis e administração portuguesa.

Assim foi que o reinado de Felipe I (1581 a 1598) respeitou a autonomia administrativa portuguesa, o idioma português como língua oficial, as moedas cunhadas com as armas lusitanas e continuariam reservadas aos portugueses as funções administrativas, judiciais, militares e eclesiásticas da metrópole e das suas colônias. Encarregou a uma comissão de juristas lusitanos para proceder à revisão da legislação existente, formando o corpo jurídico que ficou conhecido como "ordenações filipinas".

Este período da união ibérica trouxe consequências tanto para Portugal quanto para o Brasil.

O império ultramarino português tornou-se alvo preferencial dos inimigos da Espanha (França, Holanda e Inglaterra). A política espanhola de captura dos navios holandeses nos portos de Lisboa e Sevilha, em 1585, conduziu os holandeses a criarem suas próprias companhias marítimas e a apoderar-se das possessões portuguesas no oriente, no Brasil e na África. Deu-se as invasões holandesa ( em Pernambuco) e Francesa (no Maranhão).

No Brasil, do ponto de vista administrativo ocorreram poucas mudanças significativas, pois a atividade mineradora nas colônias espanholas (Potossí) era tão lucrativa que não deixava aos espanhóis se sentissem atraídos pela colônia portuguesa. Ao contrário, o Brasil conheceu uma significativa expansão territorial neste período. O domínio espanhol acabou abolindo o Tratado de Tordesilhas, favorecendo o avanço português para o interior do continente. Mais tarde, em 1750, com o Tratado de Madrid, seria reconhecido o território brasileiro com dimensões parecidas com as atuais.

Nesta época, também, se intensificou o tráfico de escravos africanos do Rio de Janeiro para a América espanhola graças aos traficantes conhecidos como "peruleiros", que eram comerciantes portugueses que traficavam, via Buenos Aires, com a vila de Potossí no Alto Peru.

Em Portugal, após Felipe I, outros dois reis espanhóis de nome Felipe sucederam ao trono: Felipe II (1598 a 1621) e Felipe III (1621 a 1640).

Porém, estes sucessores de Felipe II não cumpriram o acordo de garantir autonomia a Portugal. Realizaram um aumento excessivo de impostos e procederam a recrutamentos forçados por conta da guerra entre Espanha e França. Estes fatos deterioraram ainda mais a combalida economia portuguesa.

A insatisfação tomou conta da nobreza portuguesa que passou a organizar levantes e revoltas (movimento restaurador) que culminaram com a ascensão do Duque de Bragança ao trono português sob o título de D. João IV, dando início à dinastia de Bragança (o reino Português passou por 4 dinastias: Borgonha, Avis, Habsburgo e Bragança).

Em 1661 é assinado o Tratado de Haia, que foi um tratado de paz entre Portugal e Holanda em que se acordou das terras conquistadas pelos holandeses no Brasil (Nova Holanda) serem formalmente devolvidas a Portugal em troca de uma indenização de 8 milhões de florins ( equivalente a 63 toneladas de ouro).



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sábado, 12 de julho de 2014

Alemanha: estratégia dentro e fora de campo.






O futebol alemão está anos-luz a frente do nosso e de muitas outras seleções em termos de estratégia de treinamento e esquema tático.

O time alemão é uma equipe na essência da palavra. Sabem o que é jogo em equipe. Treinam para ser um time, jogar um esporte coletivo. Ao contrário do Brasil, que faz um treino leve e espera que o talento individual resolva dentro de campo.

Ocorre que mais que o futebol, o que mais nos chamou atenção durante o torneio da Copa foi o excelente uso que a Alemanha faz de sua seleção como relações públicas da nação e do povo alemão em terras estrangeiras.

E isso não se deveu à simpatia natural dos jogadores, mas a uma bem planejada assessoria de relações públicas e marketing.

Começaram escolhendo um uniforme semelhante a um dos maiores clubes locais. Ao revés de alugarem um centro de treinamento, construíram um centro próprio que irão doar à comunidade local ao final do mundial.

Estiveram dançando com índios, jogando a capoeira em salvador, gritaram o nome do Bahêa, jogaram bola com menino de rua, carregaram bebê chorão e muitas outras coisas que deixaria para trás muito político oportunista em ano de eleições.

Acho que até fizeram um bom tratamento de clareamento dental nos jogadores para que nas fotos saíssem com o sorriso mais branco.

Enquanto isso, nós brasileiros e latino americanos fazemos tudo ao contrário. Fizemos anúncios televisivos avacalhando hinos adversários, vaiamos os hinos nos estádios e até xingamos nossa própria presidente. Romário na televisão com sua "malandragem" obtusa rivalizando com Maradona.

Os hermanos argentinos não ficam atrás. A torcida deles chegou em copacabana e começou a cantar músicas depreciando o Brasil e Pelé.

Em questão de maturidade e initeligência os alemães deram um show na copa.



terça-feira, 8 de julho de 2014

Enfim, Barbosa descansará em paz !






Agora, tantas décadas depois, o goleiro Barbosa, da seleção canarinho de 1950, terá seu descanso das más fadadas lembranças futebolísticas. Uma seleção que havia protagonizado o pior momento do Brasil nas quatro linhas. E, injustamente, todo o peso da campanha de 50 recaiu quase que unicamente nas costas do arqueiro negro do selecionado nacional cinquentista.

O vexame da goleada de sete gols para a Alemanha nesta copa de 2014 apaga por completo a derrota na final de 50. Acredito que daqui a décadas ainda se falará deste vexame de hoje, da mesma forma como aconteceu com aquela seleção que fez a final no Maracanã contra o Uruguai.

A certeza que muitas décadas se falará deste jogo vem da crença que dificilmente, ao menos nas próximas décadas, iremos tomar uma passeio da forma como se viu nesta partida.

Contudo, não vejo um futuro próximo de grandes jogos. Parece que estamos entrando nos anos das vacas magras. Não vejo um meio campo habilidoso para armar nosso time. Para isto, basta olhar os clubes, a maioria dos craques de meio campo em nosso futebol são "hermanos", como: Conca, Montillo, D'alessandro, Dátolo, etc.

O que houve com o futebol brasileiro? Qual o diagnóstico para termos perdido a mão (ou o pé)?

Parece-me mais um conjunto de fatores do que um fato isolado. Vai desde a preocupação dos jogadores com futilidades como cabelos, chuteiras coloridas, dancinhas comemorativas e outras besteiras, ao revés de se preocupar em treinar muito. Há, também, o clientelismo do nosso futebol, jogadores com grandes patrocínios que são titulares eternos nos clubes, mesmo que estejam jogando péssimo futebol. Até, o excesso de firula dos nossos craques, que preferem ficar rodopiando com o pé sobre a bola, dando pedaladas, ao revés de realizar passes e triangulações rápidas e objetivas. Enquanto se faz uma série de pedaladas, a defesa adversária está voltando toda e guardando as posições. Técnicos com suas "famílias" de jogadores protegidos. Não joga mais o melhor no momento, mas aquele que é da "família" do professor.

Deste jogo contra Alemanha, entre mortos e feridos, se faz justiça aos heróis de 1950.

Barbosa, enfim, descanse em paz.

 

 


sexta-feira, 4 de julho de 2014

História da África: relações entre os reinos Songai e Mali.





Os reinos de Ghana, do Mali e Songai fazem parte do processo civilizatório das etnias africanas do Sudão Ocidental, que vão se estabelecer como estruturas estatais mais complexas a partir do século VIII até o XV.

É interessante observar que o estudo destas sociedades apresentam características étnicas da chamada África negroide, cujas formas culturais variavam bastante das sociedades africanas do mediterrâneo, com as quais os europeus já mantinham contato comercial e militar por vários séculos, como podemos lembrar nas guerras púnicas entre Roma e Cartago.
O fato dos impérios de Mali e de Songai se sucederem numa mesma área (Sudão Ocidental) permitirá a observação de permanências culturais, na administração estatal, militar e econômica entre elas. Assim como o Mali sucedeu Ghana, Songai sucedeu o império de Mali.

O Estado unificado de Mali surge da vitória de Sundiata Keita sobre os Sossos na batalha de Kirina. Será composto por diversos povos que se encontravam na região entre os rios Senegal e Níger, sendo o povo mandinga os que mais se notabilizavam. As tribos sossas, derrotadas, foram submetidas a um tipo de servidão. Sundiata se converteu ao Islã, mas a população continuou em suas crenças antepassadas. O governante do Mali recebia a alcunha de "mansa", sendo a dinastia preponderante a Keita. A sucessão real se fazia por matrilinearidade. Constituía um império tributário através da taxação das comunidades aldeãs e do comércio internacional transaariano. Havia distinções de classe. Uma de suas principais cidades foi Tombuctu, que floresceu econômica e culturalmente.

Em relação ao Mali, uma passagem interessante diz respeito à peregrinação do Mansa Mussa à Meca. Registra-se que sua comitiva se apresentava ostentando muito luxo e riqueza, que o Mansa Mussa teria presenteado com outro diversas autoridades muçulmanas. Contudo, contrário do que se possa imaginas, não se tratou de ingenuidade, mas de uma estratégia para afirmação do novo reino muçulmano no Islã.

O império Songai será o último grande Estado da região, tendo a cidade de Gao seu maior centro comercial, político e econômico. Sua expansão se deu no século XV, tendo a frente o conquistador Soni ali, que por se manter politeísta acabou sofrendo a oposição do partido muçulmano dentro do reino. Songai derrotou Mali e ficou com a administração de seu território. O general Mohammed sucedeu Ali e se converteu ao Islã, viajando a Meca e recebendo apoio dos comerciantes muçulmanos no seu Estado. Aproveitaram a estrutura administrativa do antigo Mali fazendo algumas adequações. O Songai teve o primeiro exército profissional da região. A cidade de Tombuctu continuou um importante polo centro intelectual. O reino Songai acabou caindo perante os marroquinos que introduziram armas de fogo no combate.

Nestes reinos é importante notar a estreita relação que possuíam com a geografia desértica do Saara e o aproveitamento de suas rotas comerciais, por onde se comercializava principalmente o sal, mas também marfim, goma, dentre outros produtos. A exploração aurífera era um dos pontos altos de que se beneficiavam para alavancar a economia.

Note-se que todos eles tiveram estreita relação com a cultura islâmica. Em regra, a aristocracia se convertia ao Islã e a população camponesa e pastora continuava com seus deuses ancestrais. Tanto Mali quanto Songai mantiveram um importante centro cultural na cidade de Tombuctu, para onde se dirigiam vários sábios da África e Ásia.
A questão da fundição dos metais foi técnica importante para constituírem exércitos mais preparados, usando ponta de metal em lanças e flechas. Songai chegou a constituir um exército permanente.

As fronteiras destes Estados eram fluídicas, sem consistente unidade territorial, dependendo muito da extensão da autoridade pessoal do governante. Adotavam a monarquia como forma de governo, sendo que a forma de sucessão real oscilava entre o princípio matrilinear e o patrilinear.

Ambos Estados eram tributários. Cobravam impostos aos mercadores, aos agricultores, pastores e, principalmente, dos povos conquistados.

Configuravam sociedades multiétnicas, pois vários povos eram cooptados por cada um destes império. Por isso, também manifestavam uma multiculturalidade. Em regra, a dinastia dominante era proveniente da tribo mais forte.

Passaram a ter dificuldades em manter seus domínios a partir da chegada dos europeus no continente com seu novo paradigma comercial e militar. Marrocos ao absorver armas de fogo, em suas tropas, derrotou facilmente o exército profissional de Songai.

O estudo destas formações estatais do Sudão Ocidental joga luz sobre uma parte da história pouco estudada, pois naquele tempo (medievo) não havia o interesse direto do homem europeu sobre estas terras

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