quarta-feira, 24 de maio de 2017

De Villa a Karnal: como deve se posicionar o historiador no âmbito político.





Nesta semana houve um debate na rádio jovem pan entre o historiador Marco Antonio Villa e o deputado Jair Bolsonaro. Villa é historiador e mestre em sociologia pela USP. Deixa bem claro seu posicionamento político de viés liberal. Fez papel nos meios jornalísticos de antipetista implacável durante os 13 anos de governo do Partido dos Trabalhadores no plano federal e das administrações petistas na prefeitura de São Paulo. Sempre deixou claro seu alinhamento com o PSDB. Enquanto que Jair Messias Bolsonaro é deputado que se apresenta como símbolo da extrema direita na câmara.

Após o debate, em que o professor Villa se opôs ao deputado, os admiradores de Bolsonaro questionaram a coerência de Villa. Pois quando o inimigo da vez era a esquerda no governo federal, ele teria adotado uma postura de relativizar o período ditatorial. Que só poderia se falar de uma ditadura mais truculenta após a edição do AI-5 e que da mesma forma não se deveria considerar um regime autoritário após a lei da anistia. Desta forma, desqualificando a história de enfrentamento que as lideranças de esquerda protagonizaram contra os militares. Estas questões podem ser lidas na obra "Ditadura à brasileira", onde Villa faz uma abordagem sobre este recorte histórico. Contudo, agora que o inimigo da vez para a direita liberal passou a ser o candidato conservador da extrema direita, endureceu o discurso a respeito da ditadura militar para encurralar Bolsonaro, que defende os militares no poder.

 Outro historiador midiático da contemporaneidade é o professor Leandro Karnal, que é titular da cadeira de história da América na Unicamp. Ao contrário de Villa, o professor Karnal tem pautado suas falas por se esforçar em demonstrar uma neutralidade no espectro político. Por isso, se colocou reiteradas vezes como alguém de centro. Embora, num ato falho deixou publicar uma foto festiva ao lado do Juiz Sérgio Moro, que de certa forma é um dos ícones e símbolos adotados pelo conservadorismo no Brasil. Esse deslize acabou custando muita popularidade. Pois suas posições progressistas no que tange os temas comportamentais traziam a antipatia da direita conservadora. E, agora, com  foto ao lado do amigo juiz causou estragos entre os potenciais admiradores no campo da esquerda.

Na disciplina de prática de pesquisa científica aprendemos que o pesquisador deve guardar neutralidade no exame das fontes, formulação das questões e respectivas teorias interpretativas.  Porém, a sociologia comprova que não existe essa situação ideal de neutralidade absoluta. Todavia, o historiador deve buscar mecanismos para atingir uma neutralidade aproximada. Mas esta neutralidade que se fala na prática da pesquisa se relaciona tão somente ao processo de pesquisa propriamente dito. Não significa que o autor das dissertações ou teses tenha que se abster de defender um lado nos diversos contextos históricos estudados ou não ter postura política nas questões nacionais e internacionais do momento atual.

Afinal, de que adiantaria anos de estudos do comportamento histórico das sociedades se não gerar posicionamentos frente às grandes questões da atualidade. Acabaria sendo uma ciência estéril. O que não pode é manipular os dados das pesquisas históricas segundo a conjuntura apresentada pelo momento. O historiador pode e deve se posicionar, mas suas posições precisam guardar coerência com sua produção autoral. E mesmo o professor em sala de aula não deve fazer discurso panfletário, mas é bom que dê ciência aos alunos do seu lugar de fala.

E não adianta nos ocultarmos da política, pois mais cedo ou mais tarde ela irá cobrar um posicionamento.

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