sábado, 7 de julho de 2018

Quem irá fazer o gol quando o melhor atacante é quem cobra o escanteio ?






Uma postagem nas redes sociais delimitou muito bem o dilema nacional. O que é perder uma copa para quem já perdeu a Embraer, a Vale, a CSN, o pré-sal, a base de Alcântara, os direitos trabalhistas, entre outros ?

De todas as perdas que o brasileiro sofreu e vem sofrendo, parece que a perda de bom senso e inteligência é a pior de todas. Tenho visto os novos ideais econômicos empurrar um bom número de idosos da classe média a deixarem seus planos de saúde por conta dos reajustes exorbitantes. É tudo pelo mercado e nada pelo social !

Até na seleção brasileira a falta de inteligência tem feito estragos incontornáveis!!!

Um deles, por exemplo, é colocar o nosso melhor finalizador e driblador lá na bandeirinha de corner na hora de cobrar o escanteio ! Qual a inteligência por detrás da ideia de se retirar da proximidade da área o nosso melhor atacante quando a bola será pingada nela? 

Alguém poderá dizer que o Neymar é franzino e não consegue disputar  a bola com os zagueiros. Mas e o pânico que o Neymar leva à zaga só pelo fato de estar dentro da área? Então, que deixe o Neymar numa espécie de sobra da bola disputada pelos grandalhões. Ele poderá finalizar a sobra de bola ou, ainda, realizar uma jogada dentro da área que leve ao pênalti !  Agora, colocar o melhor atacante para bater escanteio é algo que nunca vi na minha vida de meio século de torcedor tricolor. 

Não nos esqueçamos que até o Romário fez gol de cabeça em jogo de copa do mundo !!!

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quarta-feira, 30 de maio de 2018

Os grandes hospitais privados e a desumanização na prática da medicina.


Há tempos que sabemos da crise de humanidade nos mais diversos setores de atendimento à sociedade. Porém, só quando passamos por uma situação dessas que conseguimos avaliar com profundidade o tamanho do buraco em que nos encontramos. A seguir, irei narrar fatos que vivenciei ao acompanhar o caso de um paciente em um grande hospital particular na cidade do Rio de Janeiro.

Primeiro, cabe um breve histórico médico para entender o desenrolar que seguiu. O paciente, que conta 84 anos de idade, começou a sentir inapetência e desconforto abdominal há cerca de dois meses. Procurou um gastro que pediu uma ultrassonografia abdominal total. A ultrassonografia sugeriu algum problema em um dos órgãos do aparelho digestório. Por isso, o médico solicitou novo exame mais sofisticado. Porém,. antes da realização deste exame houve uma piora no quadro e o paciente procurou um posto de atendimento de urgência mantido por seu plano de saúde. Foi feito um exame de sangue, mas o paciente também necessitava de uma tomografia. O tomógrafo do posto de atendimento estava quebrado e o paciente foi enviado para uma pequena clínica particular em bairro próximo. Nesta clínica, foi feita a tomografia e a médica que atendeu o caso solicitou a internação do mesmo. O paciente, no entanto, preferiu assinar um termo de responsabilidade e se retirou para posteriormente ir a um hospital maior e mais bem equipado que era conveniado ao seu plano de saúde e próximo à sua residência.

No início da tarde do dia seguinte o paciente se apresentou ao atendimento de emergência do citado grande hospital privado, que constava da rede credenciada ao seu plano de saúde e ficava próximo de sua casa.

Na emergência, o médico confirmou a necessidade de internação. O médico solicitou que os 3 exames, ainda que tivessem sido realizados no dia anterior, fossem repetidos neste hospital: exame de sangue, ultrassom e tomografia. Explicou que era necessário repetir os exames para fundamentar a internação naquele hospital. Achei um tanto estranha a alegação. Repetir três exames que haviam sido realizados uma dia atrás não me parecia um procedimento de interesse médico. Talvez, uma forma de receber maior repasse do plano de saúde. Porém, sequer discutimos sobre isso com o médico e aceitamos refazer os exames. Nessas horas, o importante é que a pessoa seja logo internada para dar início ao tratamento médico. Feitos os exames, o paciente foi levado para uma outra enfermaria onde aguardaria a internação deitado em uma maca. Fomos informados que ficaríamos aguardando ali até o quarto estar pronto.

Ocorre que as horas foram passando - tarde, noite e madrugada - e nada da internação ser efetivada. Num dado momento, fui orientado a procurar o departamento de internação para saber a respeito. Lá chegando, fui informado pela atendente que o hospital se encontrava lotado e sem previsão de haver a vacância de algum leito. Então, me informaram que provavelmente teriam que transferir o paciente para algum outro hospital. Uma notícia que não foi bem recebida por nós, que procuramos aquele hospital, justamente, por conta do seu nome, sua estrutura e sua proximidade em relação à residência do paciente e sua família. Neste momento, a atendente faz algumas colocações que funcionam como um verdadeiro terrorismo junto ao paciente e seus familiares. Disse que não havia vagas e dificilmente haveria alguma no dia que amanhecia. Disse que o plano de saúde não cobriria dois dias seguidos no setor de emergência e que se o paciente não aceitasse uma transferência para outro hospital, em qualquer outro lugar da cidade, teria que arcar do seu bolso com sua permanência na enfermaria da emergência.

Neste momento, fui tomado por um sentimento de indignação ao perceber que repetiram todos os exames e não se comprometiam com a internação. Ora, se não havia leitos disponíveis porque expuseram o paciente a mais cargas de raios-X desnecessariamente ?  Para mim, estava claro que havia uma forte fumaça de má-fé nisto tudo. O hospital se exime da má-fé dizendo que o setor de urgência e o de internação são diferentes. Assim, a emergência não sabia da falta de vagas. Contudo, é uma falta de comunicação e articulação entre departamentos que vem muito bem a calhar para o hospital ganhar dinheiro em cima de exames desnecessários sem se responsabilizar com o tratamento.

Durante este processo, uma moça da enfermagem que acompanhou o problema nos confidenciou algo ainda mais revoltante. Disse que o hospital é grande e sempre tem altas todos os dias. Que a questão da transferência é por conta dos reembolsos realizados pelos planos de saúde. Que o hospital dá preferência a internar clientes de determinados planos que pagam valores maiores e por isso seguram a vaga para estes, enquanto transferem os usuários dos outros planos, ainda que credenciados ao hospital. Ou seja, uma pessoa idosa com um problema que requer internação urgente não tem qualquer prioridade, nem mesmo uma outra pessoa com um problema muito sério; a prioridade é conforme o plano de saúde.

Para piorar, durante todas as longas horas que ficamos naquele lugar (somente fomos transferidos na manhã do dia seguinte), o paciente ficou deitado numa maca sem receber qualquer hidratação por soro ou água e nem qualquer alimentação. Ou seja, ganharam todo dinheiro que puderam com exames desnecessários e não pretendiam gastar nada no atendimento. Somente na madrugada, depois de já estar indignado com tudo, reclamei do tratamento dispensado e aí apareceram com soro e um potinho minúsculo com um tipo de geleia dentro sob pretexto que era alimentação.

Em suma, esses hospitais não merecem receber este nome, pois não passam de entrepostos comerciais que buscam se locupletar com o sofrimento alheio.

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terça-feira, 29 de maio de 2018

Os Nazistas que roubavam livros.





A sabedoria popular também se expressa, de forma sintética, através dos chamados ditos populares. Dentre eles, um dos mais famosos é aquele que estabelece que "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". Se este ditado possuísse valor jurídico, então, a personagem Liesel Meminger, protagonista do filme "a menina que roubava livros", estaria completamente perdoada pelos furtos de livros que cometia. Uma vez que as bibliotecas alemãs, durante o período nazista, foram abastecidas com milhares de livros roubados de bibliotecas particulares pertencentes a judeus, maçons e outros grupos perseguidos pelo regime.

EM CONSTRUÇÃO

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Uma imagem para a história !





O teólogo frei Leonardo Boff, sentado à frente do prédio da polícia federal de Curitiba, é proibido de visitar o presidente Lula, que é seu amigo pessoal de muitos anos. O prêmio nobel da paz Adolfo Pérez Esquivel também teve sua solicitação de visita negada pelo judiciário.

Neste momento, algumas perguntas ganham mais peso histórico:

Lula é um preso político ?

Lula é um preso do imperialismo norte-americano em terra brasileira ?

Esperamos que o distanciamento histórico possa dar uma resposta precisa aos acontecimentos que vivemos em nosso tempo.

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quinta-feira, 19 de abril de 2018

Eleições Gerais para a Magistratura ! Seria interessante acabar com a vitaliciedade dos cargos de juízes e desembargadores ?





O Poder Judiciário ganhou, nos últimos anos, papel central na política nacional. A judicialização da política é algo que vem sendo denunciado por diversos juristas de renome. Mas não apenas essa questão tem sido apontada como irregular. Há a questão da espetacularização dos processos, a seletividade judicial, os vazamentos de escutas para telejornais, dentre muitas outras supostas irregularidades processuais.

Desta forma, toma corpo a discussão sobre qual judiciário queremos no Brasil. As leis e os manuais de direito apontam um conjunto de regras processuais considerados dos mais modernos do universo jurídico. Porém, na prática muitos destes dispositivos vêm sendo relativizados para obter resultados políticos através da atividade judicial.

Nesta discussão, a forma como os cargos judiciários, notadamente dos órgãos colegiados superiores, são preenchidos se torna uma questão importante para a busca de um poder que represente todos os setores da sociedade.

O cargo de juiz é preenchido através de provas de concursos públicos. Posteriormente, dentro da carreira vão subindo de posto através do tempo na carreira e da indicação dos tribunais através de listas de nomes para preencher os postos de desembargadores ou ministros. Todos estes ganham, através da aprovação no concurso, a chamada estabilidade funcional e a vitaliciedade no cargo. É assim que ocorre o preenchimento das funções judiciárias no Brasil.

Outro modelo utilizado, por exemplo nos EUA, é a realização de eleições diretas gerais para os cargos dos órgãos superiores, quando o povo elege diretamente os magistrados que ocuparão os assentos naqueles tribunais. Neste caso, o magistrado fica no cargo por um determinado período de tempo, podendo se recandidatar posteriormente. O fundamento para eleições diretas na magistratura é o princípio de que todo poder emana do povo. Logo, a população seria a instância que deveria prover os cargos do Poder Judiciário, como ocorre com Legislativo e Executivo.

Confesso que sempre defendi a ideia do concurso público e dos princípios da vitaliciedade e estabilidade. Pois entendia que seriam condições para que o juiz pudesse ter tranquilidade para exercer o juízo com toda autonomia e isenção.

Porém, temos visto muitos magistrados perdendo a mão e promovendo diversas manifestações de cunho político, seja nos processos ou nas redes sociais. Ora, se o juiz deseja fazer política;  então, deveria ser eleito por um determinado período de tempo como qualquer membro dos poderes executivo e legislativo.

Outro problema que temos visto é que muitos magistrados, ao se manifestarem em redes sociais, demonstram um total distanciamento com as causas populares. Como foi o caso de uma desembargadora que, nas redes sociais, esteve divulgando boatos sobre a vereadora executada e, também, fazendo comentários ofensivos contra uma professora com síndrome de Down.

Desta forma, estou revendo os meus conceitos e mudando de opinião. Com a mentalidade temerária que vários de nossos julgadores vem demonstrando, melhor um modelo em que possamos trocar as figuras a cada mandato !

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terça-feira, 10 de abril de 2018

O suposto tapa de Ciro Gomes em youtuber. Até onde podemos ser constrangidos na rua? E a regulamentação de atividade de jornalista?



Está rolando um vídeo com o pré-candidato Ciro Gomes dando um tapinha na cabeça de um youtuber que aproveita a situação para criar um fato contra o candidato do PDT. Ocorre que o citado youtuber é de um conhecido canal conservador que usa da prática de fazer vídeos constrangendo, debochando, e sendo ostensivo contra pessoas que pensam de forma política diferente da dele.

Iremos deixar o link para o vídeo ao final do texto. Inclusive, com uma análise que conclui que o vídeo sofreu edição para dar a impressão que foi um tapa violento e não apenas um tapinha nas costas. Na análise, parece que o vídeo sofreu cortes entre uma posição da mão de Ciro e a outra em que a mão encosta na cabeça do youtuber. Assim, cortando o caminho do movimento da mão, fica parecendo que a mão chegou rapidamente à nuca, dando impressão de uma violência que não houve.

Deste fato já surgiram vários comentários na internet, em rádios, programas de televisão sobre a atitude do candidato. A atitude do youtuber é pouco debatida. Já ouvi dizer que o youtuber está na função dele. Que o Ciro é que teria de ter mais tranquilidade e etc.

Porém, entendo que a discussão deveria ser outra. O que é ou não é jornalismo ? Até onde uma pessoa que não é jornalista pode me filmar e me constranger para depois publicar em seu canal na internet?  Não sei se o citado youtuber também é jornalista! Porém, a forma como ele se comporta não é de jornalista. O jornalista, no trato dos entrevistados, é preciso demonstrar um mínimo de isenção. E esses caras não são isentos, a intenção deles é justamente constranger, tentar tirar uma reação de destempero e prejudicar a imagem de quem pensa de forma diversa. E mesmo as pessoas públicas têm direito à sua imagem. Ninguém deveria ter o poder de atacar outrem publicamente e depois postar o vídeo nas redes sociais.

Aliás, é preciso urgentemente voltar à discussão sobre a regulamentação da profissão de jornalista. Existe faculdade de jornalismo mas a profissão não é regulamentada. Assim, qualquer um de nós pode abrir um canal no youtube e se dizer jornalista. Talvez, as décadas de demora para se regulamentar a profissão seja para isso mesmo. Para que se possa usar politicamente essas pessoas que saem por aí com a função de constranger adversários políticos e, depois, se esconder sob o manto da proteção à atividade de jornalista.
A relativização da atividade de jornalista começou com programas como pânico e CQC, em que usavam "humoristas" para atuarem  como se fossem jornalistas, mas sem a observância dos princípios daquela atividade. O grande objetivo era constranger e fazer as pessoas se exaltarem. Agora, esses programas deram centenas de filhotes no youtube.

É urgente a regulamentação da atividade de jornalista. Mas será que há interesse ?

Vídeo de Ciro Gomes dando tapa:
https://www.youtube.com/watch?v=yZCdj7cjjws 

STF decide que não é necessário diploma para ser jornalista:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/06/17/ult5772u4370.jhtm

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sexta-feira, 6 de abril de 2018

Lula, cercado pelo povo, não é levado para o cárcere até as 17 horas e oportuniza uma lição de cidadania: todo poder emana do povo!





Uma presidente eleita pelo voto popular e honesta sofre impeachment sem ter cometido crime de responsabilidade. O STF legitima a situação. A Constituição chora !

A seletividade judicial, o ativismo do judiciário e a espetacularização do processo passa a ser denunciado por muitos juristas. A Constituição Chora !!

Judiciário promove escutas ilegais e vaza para a imprensa. A Constituição chora !!!

Juízes possuem casa própria em bairros nobres mas fazem greve por auxílio moradia. Os próprios juízes negarão este benefício a outras categorias. A constituição chora !!!!

Senadora estimula o uso de relhos - chicotes - contra adversários políticos. A Constituição chora !!!!!

Juristas apontam que os princípios do juiz natural e do devido processo legal estão sendo atropelados. A Constituição chora !!!!!!

Ministério Público promove ação com convicções e jejuns. A Constituição chora !!!!!!!

Generais mandam recado ao STF antes de julgamento. A Constituição treme e chora !!!!!!!!

A ministra pensa de uma forma mas vota de outra. A Constituição chora !!!!!!!!

Uma desembargadora espalha boatos sobre Marielle Franco nas redes sociais. A constituição chora !!!!!!!!!

Juiz atropela último recurso da defesa e manda que ex-presidente se recolha ao xadrez até às 17 horas. A constituição chora !!!!!!!!!!!

O ex-presidente vai passar suas últimas horas livre no lugar onde iniciou sua trajetória, o sindicato dos metalúrgicos do ABC. Milhares de populares cercam o prédio durante a noite e o dia. Passa 1,2,3... horas da data limite de 17 horas e a polícia federal, aquela do temido japonês, não aparece, dessa vez, para realizar a condução coercitiva. Dizem que o ex-presidente é um foragido. Não é. Eles esteve o tempo todo sob a mira das câmeras das redes de televisão que são braços poderosos dos interesses estrangeiros no país. A polícia não foi por conta da massa de povo nas ruas.

Ainda que involuntariamente, o atraso na apresentação do presidente mais popular, que tirou maior número de famílias da miséria, foi o primeiro evento, em todo esse processo, que nos fez lembrar de algo importante impresso na Constituição!

Diz a primeira oração escrita na CF/88: "Todo poder emana do povo!"

Somente quando o povo entender que tem de tomar para si a sua própria história e destino, será verdadeiramente livre!

Finalmente, a Constituição sorriu !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Os generais, o STF, o julgamento do Lula e as receitas de bolo.






Ontem assistimos ao julgamento de um Habeas Corpus, pelo STF, impetrado pelos advogados do ex-presidente Lula. O resultado de 5 contra 4 foi contrário ao pedido da defesa e, também, contrário ao texto constitucional que prevê prisão somente após o trânsito em julgado. A jurisprudência contrária à Constituição Federal foi firmada recentemente, em 2016 (veja que a Constituição é de 1988).

A ministra Rosa Weber, que foi o voto desempate, pronunciou que entende da mesma forma que o texto constitucional, mas de maneira estranha fundamentou voto contrário à sua própria interpretação da mens legis baseada na vontade do "colegiado" ( e não da C.F.).

A cereja no bolo deste julgamento foi a enigmática leitura de uma mensagem do comandante do exército, no dia anterior ao julgamento, realizada pelo famoso jornal nacional !

O processo em si vem sendo muito contestado no meio jurídico. Além de muitos especialistas apontarem um conjunto probatório deficiente, ainda apontam muitos atropelos de pricípios processuais basilares, como o do juiz natural e do devido processo legal.

Contudo, o julgamento realizado que vai em sentido contrário à letra constitucional somado aos pronunciamentos dos generais fez com que muitas pessoas entendam que o passado não esteja tão no passado assim. Que o julgamento teve como objetivo censurar a voz mais importante das eleições de 2018. Uma vez que Lula é o candidato com maior intenção de votos nas pesquisas e menor rejeição. 

Retirar o ex-presidente da disputa seria a mais nova face da velha censura.

Neste sentido, sugiro que o partido de Lula, no horário eleitoral gratuito dos candidatos À presidente, coloque o seguinte texto na tela:

"RECEITA DE BOLO DE CENOURA"

INGREDIENTES:
3 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de óleo
2 xícaras de açúcar
1 colher de sopa de fermento em pó
3 cenouras grandes picadas
3 ovos

PREPARO:
Bata as claras em ponto de neve e reserve
Bata no liquidificador, as cenouras picadas, o óleo, o açúcar e as gemas, 
até que se forme um creme liso.
Separadamente em uma tigela, junte a farinha, o fermento e o creme antes batido no liquidificador e por último acrescente as claras em neve, misturando-as delicadamente.
Leve ao forno para assar em forma untada.



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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Professora Karina ensina história, na internet, através de Libras (língua brasileira de sinais).





Professora de história, com especialização em LIBRAS, inicia um canal no youtube para ensinar a história através da língua brasileira de sinais,

Hoje em dia o youtube tem tantos canais péssimos, que espalham desinformação, ódio, intolerância e outras mazelas, que temos o dever de ajudar a divulgar os bons e inclusivos projetos que surgem naquela plataforma.

O problema é que esses canais que só espalham desgraça são os que crescem e geram muito dinheiro para seus idealizadores. Por outro lado, as boas iniciativas acabam patinando com poucas visualizações.

Por isso, proponho que todo mundo se inscreva no canal da professora Karina e o divulgue, mesmo não sendo surdo. Temos que incentivar as boas obras !  

O link para o canal História em Libras está abaixo (entre, se inscreva e divulgue):

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sábado, 31 de março de 2018

Charles Darwin previu que não dá para ser cristão e fascista ao mesmo tempo.


O Brasil atual é um país que vem flertando muito de perto com o fascismo. Cresce a cada dia os discursos de ódio, a intolerância em relação aos diferentes e preconceitos dos mais diversos tipos. Esta tendência parece culminar na mais violenta campanha política de todos os tempos na próxima eleição de 2018. Como exemplos lamentáveis temos a execução, por vários tiros, da vereadora Marielle Franco e, depois, outros tiros contra os ônibus de uma caravana que conduzia dois ex-presidentes da república.

O que mais nos causa arrepio é uma parcela de gente que apresenta atitudes extremamente fascistoides e, ao mesmo tempo, se identificam como profundamente cristãs e temente a Deus.

Noutro dia, por exemplo, um deputado federal, que também se apresenta como pastor e líder espiritual de uma denominação religiosa, era entrevistado num programa de rádio quando surgiu o tema do assassinado da vereadora Marielle Franco. Então, o citado pastor fez uma intervenção, em tom de deboche, dizendo que houve tiros contra a cabeça de um esquerdista e que ele demorou dias para morrer, porque a bala demorou a encontrar o cérebro. Uma das participantes do programa, ao ouvir tal disparate, principalmente vindo da parte de alguém que se coloca como sacerdote cristão, disse que desejava saber o endereço da igreja dele para nunca ir lá.

No youtube, vemos  vários ativistas políticos que misturam discurso de ódio aos opositores com fundamentalismo religioso. Dizem que são verdadeiros cristãos, mas divulgam ódio e intolerância pela rede. Promovem perseguições no ambiente digital a quem pensa diferente. Estimulam seus seguidores a atacarem quem expõe pensamento diverso. São intolerantes e preconceituosos, mas tentam provar que são bons cristãos porque doaram alguns trocados para alguma instituição de caridade.

Parece que este padrão de comportamento, que mistura extrema intolerância e ódio com o discurso do bom cristão, encontra terreno fértil em países que na sua história apresenta uma herança escravocrata. A exploração da mão-de-obra escrava desumanizava os indivíduos que se encontravam na posição de cativos. O discurso religioso da época dizia, inclusive, que o escravo não possuía alma e o estatuto jurídico o colocava como um bem da fazenda, como os demais animais semoventes. Os senhores e senhoras de terras eram pessoas respeitadas na sociedade escravista, eram notadas nas missas dominicais e doavam uma boa quantia à igreja; mas tratavam seus trabalhadores com notória desumanidade.

Os movimentos fascistas tiveram início na Itália e ganharam espaço no início do século XX. Despontaram, notadamente, a partir do final da primeira guerra mundial. Segundo o historiador Francisco José C. Falcon, é a própria estrutura do capitalismo em crise que determina o surgimento do fascismo. Verificava-se no interior do capitalismo monopolista uma intervenção cada vez maior do Estado, levando ao que ficou conhecido como "capitalismo monopolista de Estado". A crise, além de econômica, também era política, com o Estado liberal sendo contestado.

Como se depreende do parágrafo acima, não podemos correlacionar a violência contra escravos, no período da história do Brasil colonial e imperial, aos acontecimentos que ocorreram na Europa dominada pelos regimes fascistas. Isto seria incidir em sério anacronismo. A violência  contra os negros advinha do estatuto do trabalho escravo, enquanto na Europa a perseguição às minorias se dava por políticas de Estado que tinham parâmetros xenófobos de limpeza étnica e nacionalismo.

Porém, o que se pretende colocar é que em países de tradição pretérita escravista houve uma herança, que gerou permanências culturais, que facilitam a penetração dos discursos fascistoides entre pessoas que se identificam como cristãs "de carteirinha". Sendo que isto ainda ocorre atualmente.

No século XIX, o naturalista inglês Charles Darwin, idealizador da teoria da evolução das espécies (juntamente com Wallace), participou da viagem de 5 anos do navio Beagle para realizar pesquisas geográficas e de história natural pelo mundo. Em sua estada no Brasil, Darwin mostrou desconforto, numa carta, com a situação do tratamento auferido aos escravos, cujo trecho reproduzimos a seguir:

 " No dia 19 de agosto deixamos finalmente as costas do Brasil. Dou graças a Deus, e espero nunca mais visitar um país de escravos. Até o dia de hoje, sempre ouço um grito distante, lembro-me vivamente do momento doloroso que senti quando passei por uma casa em Pernambuco (Recife). Ouvi os mais angustiosos gemidos, e não tenho dúvida nenhuma de que algum miserável escravo estava sendo torturado. Entretanto, sentia-me tão impotente quanto uma criança, até mesmo para dar demonstrações. Julguei que os gemidos partiam de um escravo trucidado, pois me disseram ser esse o caso, em outra ocasião. No Rio de Janeiro, morei em frente de uma velha senhora que possuía parafusos para comprimir os dedos de suas escravas. Estive numa casa onde um jovem mulato sofria, diariamente e a cada hora, aviltamentos, castigos e perseguições suficientes para despedaçar o espírito mesmo do animal mais desgraçado. E esses atos são praticados por homens que professam amar ao próximo como a si mesmos, que dizem crer em Deus e oram para que Sua vontade se faça sobre a Terra."

Não há como deixar de fazer uma conexão  entre as palavras de Darwin com o discurso de uma senadora brasileira que disse que seus adversários políticos deveriam ser postos a correr debaixo de relhos (chicotes).

A carta de Darwin denota um cientista que não está distanciado das questões humanitárias. Apresenta uma grande sensibilidade e humanidade. Provavelmente, potencializada durante os anos que estudou teologia na Universidade de Cambridge para se tornar pastor anglicano. No entanto, após completar o curso optou pela história natural e embarcou na histórica viagem do Beagle.

As teorias formuladas por Darwin acabaram se contrapondo à doutrina das igrejas cristãs. A igreja prega uma visão de mundo fixista, através do criacionismo, em que a natureza é imutável enquanto uma criação de Deus. Por outro lado, a teoria da evolução das espécies aponta para uma natureza em constante transformação.

As construções teóricas de Darwin  acabaram alterando a visão de mundo a partir de então. Foram utilizadas para dar suporte ideológico à nascente burguesia industrial, Neste sentido, Herbert Spencer foi o principal propagador do "darwinismo social britânico". Pregava que os indivíduos deveriam ser abandonados à própria sorte pelo Estado, pois na luta pela vida os mais aptos venceriam e produziriam o desenvolvimento da sociedade. Discurso muito semelhante ao que é veiculado pela atual extrema direita brasileira ao dizer que "não existe almoço grátis" e, assim, o Estado não deve investir em políticas sociais.

O que Darwin provavelmente não esperava é que sua obra também viesse, futuramente, a ser utilizada como fundamento das ideologias nazistas que pregavam a eugenia. Através da eugenia se defendia a suposta supremacia das raças mais aptas para o desenvolvimento social.

Referências Bibliográficas:

- BAUER; TALCOTT PARSONS; NOLTE; TREVOR-ROPER; WOOLF; FALCON. Coleção Leituras: História - fascismo. 1ªed. Rio de Janeiro: Editora Eldorado, 1974.

- BRAGA, Marcio; GUERRA, Andreia; REIS. José Cláudio. Breve História da Ciência Moderna, volume 4: a belle-époque da ciência. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

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segunda-feira, 26 de março de 2018

Para general, o problema do Brasil é o politicamente correto!



Neste último final de semana pude acompanhar a entrevista dada pelo General Eduardo Villas Boas ao programa Conexão Roberto D'Ávila, na rede de televisão fechada. O general é o atual comandante maior do exército brasileiro.

A entrevista versou sobre diversos temas, principalmente sobre questões nacionais e a intervenção militar no Estado do Rio de Janeiro.

Num dado momento, o comandante filosofou sobre o que acredita ser um grande problema para o país. Dizia, então, que o problema reside na ideologia "politicamente correta".

Nunca gostei do termo "politicamente correto". Ele visa reduzir e simplificar um leque de questões muito complexas. E sempre que tentamos simplificar demais demandas complexas dá margem a críticas e discursos que desvirtuam estas temáticas.

Em regra, o que se convencionou chamar de "politicamente correto" é um esforço de inclusão dos mais diversos segmentos sociais, notadamente daqueles reconhecidos como minorias. Neste sentido, não dá para entender como que o "politicamente correto" poderia ser um problema. Ao contrário, é uma pauta civilizatória. Os contrários à inclusão seriam aqueles que desejam oprimir minorias, excluir os diferentes, ofender quem pensa de modo diverso, etc.

Então, o general expôs algumas pautas do que ele particularmente entende como "politicamente correto", citando o ambientalismo, o indigenismo e o racismo. Continuou discorrendo que quanto mais se fala em ambientalismo, mais ocorrem agressões ao meio ambiente. Quanto mais se fala na questão indígena, mais os índios são vitimados. E, da mesma forma, que ao se enfatizar o racismo dá margem para que ocorram ainda mais atos de racismo. Asseverou, inclusive, que hoje o Brasil, por conta do politicamente correto, está deixando de ser considerado um país mestiço para ser dividido entre brancos e pretos.

Ora, o nosso comandante repetiu um discurso enviesado que teve origem em setores da extrema direita. Sob esta ótica, se transfere o ônus das agressões para quem justamente denuncia a existência de tais preconceitos. Como se aqueles que se dedicam à defesa do meio ambiente fossem os responsáveis pelos latifundiários e madeireiros destruírem as florestas. os que lutam contra a intolerância religiosa fossem responsáveis por grupos de fanáticos que invadem e destroem templos, os sertanistas que defendem os povos indígenas contribuíssem para o assassinato dos índios pelos arrozeiros e assim por diante.

Provavelmente, o general e aquelas vozes da extrema direita preferissem que não houvesse grupos de defesa das minorias. Assim, qualquer agressão sofrida não seria denunciada como um ato contra uma minoria. A morte de um índio, por exemplo, seria apenas mais uma morte comum. Assim como querem fazer acreditar no caso da vereadora Marielle Franco. Como se não existisse intolerância e preconceitos de todo tipo em nossa sociedade

Ao transferir o ônus da agressão para quem defende as minorias, se esquecem que esses problemas todos existem estruturalmente em nosso país muito antes de cunharem a expressão "politicamente correto". Lembremos o caso da morte, por exemplo, de Chico Mendes, entre muitas outras.

Eu até simpatizo com a figura do general Villas Boas. Não sei se pela forma calma de se expressar ou se por conta do sobrenome que lembra os irmãos sertanistas que faziam sempre a defesa de nossos índios. Não sei se o general possui algum grau de parentesco com eles.

Contudo, esta fala do militar somada a outra, anterior, em que pedia carta branca para o exército na intervenção do Rio de Janeiro, para que a instituição não fosse posteriormente julgada, por abusos, em uma nova comissão da verdade, demonstram que nosso exército não conseguiu evoluir sua mentalidade do período do regime militar para cá.

Por ora, parece que as forças armadas não têm como contribuir para um projeto de nação, apenas como força de manutenção do status quo.

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quarta-feira, 21 de março de 2018

O malabarismo lógico irracional de Reinaldo Azevedo para transformar a morte de Marielle em propaganda para a intervenção militar.





Logo após a morte da vereadora Marielle Franco se iniciou uma maratona de reportagens nas televisões e revistas, análises nas rádios e vídeos na internet para tentar pautar o tema e suas consequências para a população ouvinte.

Essa é uma estratégia largamente usada pela direita conservadora que possui o domínio sobre os meios de comunicação. E num país onde a maioria da população não sabe ou não gosta de ler e pesquisar, a imagem passa a ter uma força muito grande na formação das opiniões.

Marielle Franco era notoriamente contrária à intervenção militar. Dizia com propriedade que as comunidades precisavam mais de lápis do que de fuzis. Contudo, os conservadores vêm transformando  a tragédia em ponto a favor de seus projetos de contenção da população através da força, enquanto esvaziam seus direitos mínimos, 

Em programa de televisão, que é transmitido em vídeo pelo youtube, o articulista Reinaldo Azevedo difundiu o mesmo pensamento que diversos extremistas de direita vêm divulgando em seus canais. Tentam convencer de que a pessoa ou pessoas que mataram a vereadora também são contrárias à intervenção. Por isso, escolheram matar uma autoridade para desmoralizar a intervenção.

Só que isto é uma falácia revestida de uma  lógica chinfrim. Primeiro, que ainda nem se sabe com absoluta certeza quem foram os autores. Nem sei se saberemos ao certo algum dia. Segundo, que se foi, como sugerem essas vozes, bandidos ligados ao tráfico com o intuito de desestabilizar a intervenção, jamais elegeriam umas das poucas políticas na câmara dos vereadores que também é contrária à intervenção. O lógico seria escolherem uma autoridade política a favor da intervenção. Ora, sendo os que defendem o fim da intervenção uma minoria, não seria inteligente tirar uma dessas vozes do tabuleiro político. Principalmente, uma que foi tão bem votada.

Assim, é bem capaz que esta "lógica" da rapaziada da direita funcione apenas na fantástica terra de Oz, onde espantalho anda, macaco voa e leão é medroso !

E não adianta usar aquela outra lógica de botequim que relaciona os políticos de esquerda aos traficantes pelo fato de ambos serem contrários à intervenção militar. Acontece que o bandido é contrário pois entende que irá atrapalhar suas atividades criminosas. A inteligência de esquerda é contrária por entender que essa estratégia é ineficiente para o combate ao crime em um país com severas desigualdades sociais.

Eu, que estou com meio século de vida, sou testemunha que a escalada da militarização e aumento da violência policial não funcionou. Minha avó contava que na época dela as ruas eram patrulhadas por uma dupla de policiais a pé ou em bicicleta que recebiam o apelido de "Cosme e Damião". Quando eles iniciavam a caminha numa rua davam algumas salvas de apitos para que os moradores soubessem da presença policial. Já ao tempo da minha infância, lembro que a polícia portava revólveres e andavam num fusquinha com sirene barulhenta que o povo chamava de "joaninha". Hoje, a polícia conta com carros blindados e armas de guerra (fuzis e metralhadoras). E nem por isso a sensação de insegurança é menor que naqueles velhos tempos, muito pelo contrário !

Desta forma, colocar tanque de guerra nas ruas é apenas mais do mesmo do que já foi feito em todas essas décadas.  Fica evidente que Marielle está cheia de razão. O verdadeiro combate à violência está no âmbito da justiça social.

Vídeo da Reinaldo Azevedo:
https://www.youtube.com/watch?v=9_q_WR70IQg 

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O juiz e o cidadão: onde termina um e começa o outro ?






Na era das redes sociais é difícil que as pessoas se controlem para não tornar público seus pensamentos sobre os mais variados temas. Essa obsessão pela publicidade do pensamento está sendo boa para que possamos desapegar de alguns mitos que acompanharam várias gerações. Sempre se acreditou que algumas castas de pessoas estariam acima do bem e do mal. Assim eram vistos os religiosos, médicos, magistrados, entre outros. Porém, atualmente, as postagens de, pelo menos, uma parte dessas categorias nos tem descortinado uma outra realidade. São pessoas que podem conter as mesmas contradições e falhas que o resto da população. O problema se configura quando as contradições são tão grandes que colocam em xeque sua atuação profissional.

Um caso desses ocorreu comigo em relação ao sacerdote que dirigia a paróquia do bairro onde morava. Certa vez, comentando sobre a crise econômica, o pároco deixou escapar uma mensagem muito preconceituosa, em que culpava o governo por distribuir dinheiro para pessoas pobres e preguiçosas. Essa postagem teve um impacto tão forte que jamais voltei às missas naquela igreja. Não deu para que eu dividisse o padre no altar do cidadão falando no facebook.

Temos visto a celeuma causada por uma magistrada que postou notícias consideradas falsas a respeito da reputação da vereadora Marielle, que morreu esses dias vítima de crime notoriamente político. Para piorar, ainda postou uma outra mensagem sugerindo um paredão para o assassinato de outro político. E como nada que está ruim ainda pode ficar pior, ainda descobriram outra postagem, da mesma juíza, expressando flagrante preconceito contra a inclusão de pessoas com síndrome de down no magistério.

Como vivemos uma notória polarização da sociedade, vários perfis de uma direita mais extremada tentaram defender a magistrada alegando que há uma separação entre a pessoa comum - a cidadã - e a juíza. Que ela realizou as postagens como cidadã e não como juíza. Por isso, não caberia uma representação aos órgãos judiciários competentes para analisar a sua conduta nas redes sociais.

O que não imaginei é que a própria magistrada usasse  esse argumento em seu benefício. Em carta resposta enviada ao jornal "O Dia", a juíza afirma que fez as postagens "fora das funções" e que "não era a desembargadora que se manifestava mas uma cidadã como outra qualquer".

O problema desse argumento é que deseja fazer acreditar que uma pessoa qualquer, que é investida na função da magistratura, ao colocar a toga se transforme num juiz sem nenhum vínculo com sua identidade pessoal. Como que se ao colocar a toga deixasse o cidadão trancado num cofre. É evidente que este pensamento é apenas um mito. Só seria possível se o indivíduo sofresse de um sério transtorno dissociativo de identidade.

Aliás, muitos pesquisadores das áreas das ciências humanas, como sociólogos, antropólogos e historiadores sabem que não existe uma possibilidade de isenção absoluta destes profissionais no trabalho de pesquisa. Por isso, além de toda a metodologia os trabalhos ainda passam por um crivo crítico dentro da própria academia, ganhando maior ou menor credibilidade.

A emenda fica pior que o soneto quando a pessoa, como cidadã, decide realizar manifestações que são próprias do seu ofício. Por exemplo,se um professor de história, quando não está no tablado da sala de aula, em sua folga, comete sérios equívocos históricos, como dizer que Hitler foi personagem da revolução francesa ou que Lampião era integrante da SS nazista, acarretará sérias dúvidas sobre o exercício de sua atividade profissional. A mesma coisa ocorre com um juiz que, nas horas vagas, decide publicar juízos de valor sobre terceiros. Ora, a finalidade da magistratura é exatamente a de formar juízos ! Desta forma, quando um membro da magistratura sai, nas horas vagas, emitindo juízos sobre outrem sem guardar bom senso, traz uma enorme insegurança jurídica para a sociedade. Aqui, sequer estou entrando no caso de tais opiniões configurarem crimes.

Contudo, os próprios operadores do direito e pesquisadores das ciências jurídicas sabem que as ideologias , preconceitos, moralismos, entre outros, dos juízes, acaba interferindo nas decisões processuais. Apesar de todo o regramento processual e material, ainda há um largo campo de manobra para a subjetividade do magistrado se manifestar. Aliás, é por isso que processos idênticos podem ter decisões totalmente diversas quando interpostos a juízos distintos. Há uma excelente matéria sobre este tema na Revista Consultor Jurídico, cujo link deixaremos ao final do texto.

Devemos considerar, ainda, que no caso em tela tudo que um magistrado fala ou escreve fora de suas funções acaba tendo uma carga maior de legitimação frente aos leitores e ouvintes por conta do cargo que ocupa.

  Concluindo, sou apenas mais um cidadão qualquer, preocupado com um juiz qualquer em um tribunal qualquer. Acreditando que tudo que desejamos é que o Brasil não seja um país qualquer !

Carta da magistrada no jornal O Dia:
https://odia.ig.com.br/rio-de-janeiro/2018/03/5523378-desembargadora-nao-se-arrepende.html#foto=1

Conjur: Ideologia pessoal define decisões de juízes, diz estudo:
https://www.conjur.com.br/2012-jul-06/ideologia-pessoal-define-decisoes-juizes-estudo-ufpr

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