sábado, 6 de maio de 2017

Bolsonaro já governa o Brasil do ponto de vista ideológico.






Sempre entendi que as pretensões do deputado Jair Bolsonaro a respeito de uma possível candidatura presidencial ficavam por conta do viés folclórico e caricato de setores da política nacional. Que por conta de seu discurso extremista e propostas polêmicas jamais teria chances reais num pleito executivo seja municipal, estadual ou federal. E que nenhum partido ou frente partidária se queimaria apoiando abertamente tais propostas. Poderia reunir sobre si o eleitorado conservador mais extremado, mas sem qualquer chance de vitória. E que o próprio deputado e seu partido sabiam disso. Ocorre que os partidos usam da estratégia de colocar uma de suas figuras políticas na corrida a um pleito maior, mesmo sem chances, não para ganhar naquela eleição mas visando a exposição da imagem do candidato para assegurar vitórias futuras ao legislativo. Ou seja, não venceria uma eleição a prefeito de grande cidade, governador de estado ou para presidente, mas garantiria sua eternização na Câmara dos Deputados.

Hoje, no entanto, a conjuntura política brasileira vai tomando rumos inesperados. O PMDB que sempre se notabilizou como uma sigla de centro, por isso sempre foi um apêndice de todos os governos desde a redemocratização, assumiu o poder federal graças ao impeachment (ou golpe parlamentar como muitos interpretam) e sua administração ganhou cores de extrema direita muito semelhantes ao preconizado pelo político em questão. 

O estado policial desejado pelo deputado vai tomando corpo nas ruas através de uma atuação violenta dos organismos de segurança contra cidadãos que protestam democraticamente. No plano internacional, o governo adota discurso de realinhamento subalterno aos preceitos dos grandes centros de poder capitalista e desvaloriza a ação conjunta com parceiros regionais e africanos. Sobre as questões do campo o deputado já declarou sobre ser contrário à lei do desarmamento para que fazendeiros possam receber "adequadamente" movimentos campesinos. Curiosamente, mesmo com a lei em vigor já vemos o aumento da violência no campo.

Algo muito sintomático aconteceu na última semana, pouco tempo depois de palestra do ilustre deputado num clube israelita do rio de Janeiro. Na palestra, o presidenciável falou sobre suas ideias de acabar com políticas de demarcação de terras indígenas e quilombolas. Poucas semanas depois há a exoneração do presidente da FUNAI e instauração de CPI sobre o órgão de proteção ao índio, onde se discursa contra lideranças indígenas, antropólogos e pela desestruturação do órgão.

Não temos ideia se o governo está se pautando pelo ideário do deputado ou se o político vem pressentido os movimentos do governo e se adiantando, em suas aparições, no sentido de se colocar na vanguarda das "reformas". 

O que fica evidente é que a figura do Bolsonaro é a que melhor sintetiza os rumos que a administração federal tomou após o impeachment. E, desta forma, já não sabemos se o deputado ficará apenas no teto de 10% do eleitorado que as pesquisas apontam ou se acabará recebendo um amplo apoio de partidos e tendo chances reais na disputa presidencial

A direita vem tentando ensaios com candidatos que, teoricamente, apresentariam menor rejeição, como o prefeito de São Paulo, algum empresário midiático ou apresentador famoso de televisão. Por ora, o polêmico deputado aparece como solução para a manutenção das políticas atuais.

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