sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Quem vai ficar com Conca? A perda de identidade do futebol brasileiro.





O esporte foi um dos elementos bem utilizados para alavancar a integração e formação de identidade nacional no Brasil. Notadamente o futebol, como principal esporte praticado em solo pátrio, se transformou no momento mágico em que todos se unem para cantar o hino da seleção e dizer que é brasileiro "com muito orgulho".

Enquanto nações como os EUA utilizaram e ainda utilizam os conflitos bélicos para costurar a integração e sentido de identidade e soberania de seus cidadãos, no Brasil foram as épicas batalhas ocorridas dentro dos gramados que vem ajudando a forjar o sentimento de nacionalidade de boa parte da população, principalmente aquela mais carente que pouco retorno tem das autoridades.

Contudo, as décadas se passaram e o nosso futebol vive um período sem brilho, sem craques, sem clubes realmente grandes, sem dirigentes eficientes, sem técnicos de ponta e, por final, com muito pouca inteligência dentro e fora de campo.

Neste solo árido que se tornou nosso futebol, o que mais motiva os noticiários esportivos deste início de temporada são os destinos que tomarão os jogadores que que formam o espólio que era patrocinado pela Unimed no Fluminense.

Um deles em especial é a joia da coroa cobiçada por muita gente: Dario Conca. 

O que significa Dario Conca no futebol brasileiro? Significa a diferença entre um time rebaixado e um time que chegou em quinto lugar, quase conseguindo a vaga na libertadores. Em 2013, sem Conca, que estava na China, o Fluminense foi rebaixado para a segundona e só se manteve por conta da polêmica perda de pontos da Portuguesa e Flamengo. Por outro lado, em 2014 o time continuou o mesmo, somente acrescido de dois reforços: Walter e Conca. Contando que Walter pouco atuou como titular no brasileirão 2014, podemos dizer que quem fez a diferença foi o habilidoso jogador argentino.

O Conca além de habilidoso é inteligente. Sabe dar a melhor solução para cada jogada. Sempre faz um passe objetivo ou um drible com intenção de levar o time para frente. 

Mesmo assim, Conca não é nenhum superastro do futebol. Na própria Argentina nunca foi cogitado para participar da formação da seleção principal. Porém, no futebol brasileiro joga o suficiente para tirar um time da 18ª posição em 2013 para a 5ª posição na tábua de classificação em 2014.

E a presença de estrangeiros como principais jogadores e ídolos de nossos times tem sido a tendência. No Internacional, D'Alessandro é o grande articulador do meio-campo. No Botafogo, a o maior ídolo recente aínda é o uruguaio Loco Abreu. No Corínthians foi Tevez. Em um recente Cruzeiro o cérebro era Montillo e por aí vai.

Talvez isso se deva a uma recente geração de craques que não gostava de treinar e se orgulhavam disso, como Romário e outros. Os caras não gostavam de trabalhar mas resolviam dentro de campo e isso fez muito mal ao futebol brasileiro. Hoje temos os Fredis da vida que acham que são sumidades do futebol e podem jogar estáticos durante a partida.

Aliás, o Fred é um investimento que vai morrer na mão do antigo patrocinador do plano de saúde. Alguém vai pagar quase 1 milhão mensal para ter um atacante que não sabe driblar e não ganha na corrida do mais lerdo zagueiro?

Eu, como torcedor do verdadeiro tricolor desde o berço, pois como dizia Nelson Rodrigues os outros são apenas times de três cores, torço para que o Conca continue brindando as laranjeiras com sua habilidade e visão de jogo. E o argumento da antiga patrocinadora de que não é justo pagar o salário do jogador até o final do contrato sem ter sua marca estampada na camisa do clube não procede. Se fizer uma auditoria séria, ficará comprovado que os dividendos do patrocínio de 15 anos da antiga patrocinadora ainda dará lucro por muito tempo. Por um largo período, qualquer busca com o nome do clube na internet ainda trará imagens com a antiga camisa, boa parte da torcida ainda exibirá nas ruas a antiga camisa, ainda hoje as lojas estão vendendo a camisa antiga. Isso na ponta do lápis ainda renderá frutos ao antigo patrocinador para lá do contrato que ele tem com os atuais jogadores.

Por fim, pelo bem do futebol brasileiro devemos fazer coro com o que muitos estão dizendo:
Ou muda a  mentalidade de nossos jogadores, técnicos e dirigentes ou o futebol brasileiro acaba.


domingo, 11 de janeiro de 2015

Quem ria do conteúdo da charlie Hebdo?


Dentre os muitos textos que estão circulando pela rede a respeito do atentado ao jornal francês, encontramos uma reflexão muito interessante da professora Daniela Mussi, que é mestre e doutora em ciência política pela UNICAMP e, também, graduada em ciências sociais e comunicação social.

A citada autora faz uma análise sobre o riso e o humor a partir da obra do filósofo Henri Bergson. Posteriormente, contextualiza o trabalho humorístico da revista Charlie Hebdo.

Separamos um trecho do seu texto que recebemos através do blog Convergência:

"

O humor contra os poderosos
Se retomamos as ideias de Bergson a respeito do riso, podemos facilmente justificar o “humor” de Charlie Hebdo. Ele se insere em uma tradição bastante específica, fortemente libertária e erudita, em busca incessante por um ambiente no qual todo riso possa ser possível. Porém, como notara Bergson, o riso não pode ser “todo riso”, já que é nunca “infinito” (idem, p. 7). Ele se insere em um ambiente circular, limitado pelo público para o qual se direcionava. O riso funciona como um eco, reverberado em uma plateia precisa. Justamente por isso, em termos sociais sua função é sempre diferencial, conflitiva.

O que ecoava a revista Charlie Hebdo? Quem ria de seu conteúdo? Quem não ria? E por que? Boas respostas a estes problemas precisam evidenciar contradições, já que o riso não é senão o sintoma “humano”, como notou Bergson, da conformação estratificada dos grupos sociais. O riso/falta de riso de Charlie não divide a sociedade em “dois”, como pensam alguns, mas revela uma série de cisões e sobreposições sociais, culturais e políticas, inclusive aquelas pertinente aos seus colaboradores.

O assassinato da quase totalidade de sua atual equipe de redação no último dia 7 de janeiro é um momento trágico da profunda crise vivida pelos países europeus e, de certa forma, por todos os países capitalistas. Uma crise que revela o real racismo, a islamofobia e o antissemitismo como armas de Estado contra o povo em todos estes países. Em nome de Charlie, os governos francês espanhol, alemão, italiano e britânico se reunirão hoje ao representante do Estado racista de Israel, que há menos de um ano implementou uma das maiores carnificinas da história da Palestina. Em nome de Charlie, todos os jornais falam em antissemitismo, mas não em islamofobia. Em nome de Charlie, os chefes de Estado europeus podem reivindicar para si a bandeira da liberdade, com a qual nunca realmente se comprometeram, seja com os imigrantes, seja diante das massas trabalhadoras que há anos pagam com seus direitos por uma crise que não é sua.

O governo francês, combinado à grande mídia e ao policiamento massivo, buscam, desde o dia dos ataques, um uníssono argumento no qual as “emoções” derrotam a inteligência e convertem a morte de Charlie em um espetáculo melodramático macabro. Para que o riso vingue a morte, o humor deverá novamente voltar-se contra os poderosos e a sátira política reencontrar seus verdadeiros inimigos: Hollande, Le Pen, Merkel, Rajoy, Cameron, Netanyahu e Abbas."

Quem desejar ler o artigo completo poderá acessar no endereço:
http://blogconvergencia.org/blogconvergencia/?p=2796

Em Baga não houve caminhada dos líderes políticos mundiais pela paz





Na França, após o ataque ao jornal Charlie Hebdo, onde morreram 12 pessoas. ocorreu uma grande passeata pela paz que contou com a presença dos principais líderes políticos ocidentais.

Por outro lado, na Nigéria a cidade de Baga foi alvo de uma invasão de um grupo islamita radical onde ocorreu a morte de mais de 12.000 pessoas, entre elas mulheres e crianças, e a cidade foi incendiada. Muitos habitantes que fugiram da cidade ainda são perseguidos pelos radicais. As ações radicais na Nigéria já duram cerca de cinco anos com mais de 10.000 mortos apenas em 2014.




Apesar da dimensão muito maior da carnificina em Baga, não vimos nenhum importante líder ocidental ir até a Nigéria realizar passeata pela paz.

Cada qual se comove apenas pelo seu vizinho. Países europeus e ocidentais se mostram prontos a ajudar os coirmãos. Por outro lado, os países periféricos, orientais e, principalmente, africanos que tanto contribuíram com a riqueza do ocidente no período neocolonial e ainda hoje, não são carecedores da tanta atenção.

Enquanto houver desigualdade de toda ordem, inclusive de tratamento, dificilmente teremos paz.




sábado, 10 de janeiro de 2015

Franceses perguntam como o governo não evitou a tragédia dos cartunistas.





Os terroristas do jornal Charlie Hebdo realizaram uma ação com alto grau de profissionalismo. Não havia maneira de realizar identificação visual através de câmeras ou testemunhas. O fato da inteligência francesa empreender a caçada aos suspeitos poucas horas depois foi explicada pelo fato de já existir um amplo monitoramento, no solo francês, de muçulmanos potencialmente ligados a células terroristas.

Ora, reflete o homem médio francês, se os suspeitos já estavam sob vigilância e monitoramento constante, como conseguiram adquirir armas militares complexas, munições e armar toda a operação para atingir um tabloide e jornalistas que já se encontravam sob proteção policial por conta de ameaças ?

No nosso caso, outra questão que incomoda é o fato da polícia francesa não ter conseguido capturar nenhum dos suspeitos com vida. Todos foram executados pela polícia durante o cerco. Três que se encontravam no norte da França dentro de uma gráfica com um refém foram executados na invasão da polícia ao local. Outro que se encontrava em um mercadinho e mantinha reféns também foi executado.

Como uma polícia com o nível de treinamento dos franceses não conseguiu capturar nenhum dos terroristas vivo ? Não seria importante a captura destes elementos para severo interrogatório no sentido de desbaratar toda a célula terrorista e até outros grupos ou os reais mandantes ?




As imagens da execução do suspeito do mercado são no mínimo curiosas. No telejornal aparece o mercado cercado por inúmeros agentes de segurança. Dentro estava o suspeito com as pessoas do mercado que teriam sido feitas de refém. Ao que parece, a polícia lança uma bomba de luz e gás dentro do estabelecimento e o sujeito sai correndo desesperado pela porta a fora. Do lado externo estavam algumas dezenas ou centenas de policiais que acertaram o sujeito incontáveis vezes. É curioso em primeiro lugar porquanto a reação do indivíduo nada pareceu com a postura profissional daqueles que realizaram o ato terrorista. Em segundo lugar porque dava facilmente para imobilizar o sujeito. 

De qualquer forma, após estas operações a inteligência francesa já sabe quem foi o mandante, o lugar do oriente de onde se originou o plano e outras coisas. Nada como o primeiro mundo ! Já conseguiram tecnologia para fazer morto falar !

Acompanhar esse caso pela televisão me reporta constantemente ao filme brasileiro "Tropa de Elite II", quando a milícia se faz passar pelo tráfico para invadir uma delegacia e com isso conseguir facilidades para dominar outros territórios nos subúrbios do rio de Janeiro. Eles invadem a delegacia, depois o batalhão de operações especiais mata todos os traficantes, ficando o dito pelo não dito. É claro que ainda existe uma conexão com parte da mídia que veicula a narração oficial dos fatos conforme o interesse da milícia !


O certo é que este imbróglio, que foi uma tragédia para as famílias dos atingidos, com as quais nos solidarizamos, servirá de legitimação para mais alguns anos de operações das potências ocidentais nos territórios islâmicos.


quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Terrorismo de imprensa: o outro lado da questão.



O mundo inteiro repercute a ação ocorrida no tabloide francês - Charlie Hebdo - que culminou com a morte de vários jornalistas e chargistas do referido jornal. Saliente-se que o jornal em questão era especializado em fazer uma espécie de humor político-religioso, criticando através de seus textos e charges culturas e ideologias.

Somos veementemente contra qualquer tipo de ação ou reação armada que atente contra a vida e a integridade física das pessoas, seja pelo motivo que for argumentado. Contudo, no sentido contrário do discurso que "santifica" aqueles que foram alvo desse terrível crime, desejamos fazer uma breve reflexão sobre os limites da liberdade de expressão e, também, da responsabilidade da imprensa no exercício da sua referida liberdade.

Ocorre que, as imagens das charges que nossos telejornais mostraram como exemplo do trabalho divulgado pelo Charlie Hebdo foram selecionadas dentre algumas de conteúdo menos ofensivo. Uma grande parte do material postado como expressão de "humor" é de extremo mau gosto e ofensivo a pessoas, culturas e ideologias. Entendo que é lícito realizar a crítica através do humor. Que toda pessoa pública, instituição ou ideologia pode ser criticada. Porém, tem que haver bom senso nos limites do uso das mídias. É antiga a sabedoria que ensina que uma pena pode produzir mais estragos que uma arma. E no caso em questão, creio que não há santos em nenhum dos lados.

Apesar do Charlie Hebdo divulgar charges de gosto duvidoso e ofensivas a diversos grupos, pela pesquisa na internet parece que o número de charges ofensivas ao Islã são muito mais comuns.


Creio que muito possivelmente, se alguma publicação divulgasse periódica e constantemente imagens jocosas e de mau gosto alusivas a personagens queridos dos cartunistas e jornalistas eles também ficariam descontentes. Contudo, reiteramos que nada justifica a reação em forma de assassinatos.

Porém há que se olhar mais profundamente para esta questão. Trata-se da continuidade de uma guerra cultural entre ocidente e oriente. Edward Said, na obra Orientalismo, já nos apontava a desconstrução da imagem que o ocidente fazia em relação ao oriente. Atualmente, esta guerra ainda ocorre de forma velada. 

Inclusive, com o aumento de imigrações de muçulmanos para a Europa há o temor das elites europeias de uma islamização da base de sua população. Desta forma, a desconstrução da imagem do Islã é uma trincheira desta batalha. Tabloides como o jornal Charlie Hebdo são instrumentos dessa guerra cultural.

Com repercussões internas, vemos algo parecido no Brasil, o uso da mídia por líderes que usam a liberdade de expressão e acabam disseminando ódio entre grupos. Inclusive, já com o resultado de terreiros de candomblé sendo invadidos e depredados.

Assim, devemos tanto condenar o assassinato de pessoas como a perseguição que fazem contra culturas e grupos étnicos através do papel e da tinta em nome de uma suposta vanguarda artística.



Observação: 

Como alguns leitores realizam uma leitura seletiva e, por isso, dizem que o texto está justificando o ato terrorista, devemos deixar claro que em duas passagens deste pequeno texto deixamos expressa nossa total discordância com a ação contra a vida de quem quer que seja.

Mas a proposta do texto não é analisar a conduta dos assassinos, que obviamente é errada, seja por qual motivo for. A proposta é estabelecer uma crítica ao trabalho promovido pela revista Charlie Hebdo. 

Falar sobre a valoração de trabalho de arte é realmente um campo complicado, pois totalmente subjetivo. O que é de mau gosto para um pode não ser para outro. Contudo, a base de nossa crítica é que as imagens depreciativas de símbolos sacros islâmicos, sendo publicadas semanalmente em jornal e expostas nas bancas para o público passa uma mensagem que vai além da arte. A habitualidade dessas imagens passa a constituir uma deliberada campanha de desconstrução dos valores de um determinado grupo étnico. E quando esse grupo é minoria na Europa e vítima histórica de preconceito no ocidente, parece que este tipo de iniciativa artística da revista em nada colabora para a construção de um futuro de tolerância e amizade entre os povos.

Tente o leitor se colocar no lugar do outro. Se o leitor não possui fervor religioso, então imagine outra coisa que lhe seja muito cara. Imagine uma pessoa próxima que seja muito querida. E um dia ao passar pela esquina da rua onde vc mora veja uma caricatura desta pessoa em posição que a ridiculariza. Você pode se chocar mas deixar para lá, pois é arte. Mas imagine que toda semana, durante meses e anos, o artista semanalmente coloque imagens jocosas dessa pessoa para o público. Cada um dos quadros, isoladamente, pode até ser considerado arte, ainda que grosseiro ou de mau gosto. Mas o ato de publica-los com habitualidade todas as semanas durante um largo período de tempo denota que existe uma outra intenção além da simples exposição artística.

Não sou muçulmano, não tenho qualquer ligação com o oriente, meu recorte histórico predileto é a história do Brasil, notadamente os movimentos messiânicos ocorridos na primeira república.  Apenas estou realizando o exercício de se colocar no lugar do outro.