domingo, 20 de outubro de 2013

O Segredo da Educação na Finlândia.


Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/



A Finlândia tem chamado a atenção do mundo pela questão do sucesso do seu sistema de ensino. Repetidamente seus alunos são os primeiros lugares no PISA, um processo de avaliação internacional de estudantes realizado a cada 3 anos com jovens de 15 anos.

Países economicamente ricos, como os EUA, através da Universidade de Harvard, vêm estudando o modelo finlandês aplicado à educação.

Uma breve observação a respeito do sistema finlandês aponta que se trata de um modelo 98% público e gratuito. Todos os estudantes, de todas as classes, recebem uma educação de qualidade e semelhante. Os professores são prestigiados na sociedade e muito bem remunerados. Acrescente-se que as turmas não excedem o número de alunos ideal para o processo de ensino e aprendizagem.

Uma questão interessante é quanto à formação do professor cujos cursos de licenciatura não foram reduzidos para 3 anos. O estágio é realizado por 2 anos. Sendo o primeiro ano parecido com o nosso estágio, feito no Brasil, quando o aluno acompanha uma sala de aula fazendo relatórios sobre as aulas do professor que está à frente da turma. No segundo ano de estágio, o aluno recebe uma turma especial de reforço onde ele mesmo será o professor. Sua atuação será analisada por três professores experientes que fazem relatórios das aulas. Destes relatórios dependerá a aprovação do aluno na licenciatura.

Um fato que também repercute no ensino é a questão de não haver situação de miséria entre a população. Conseguiram um sistema econômico mais equilibrado, onde todas as categorias profissionais de um determinado grau de instrução recebem provimentos parecidos. Assim, um engenheiro, um médico e um professor recebem salários aproximados. Com isto, não há, como no Brasil, a corrida para determinados cursos que, em tese, remuneram melhor que outros. Desta forma, o jovem pode se direcionar profissionalmente segundo suas aptidões naturais e não por questão financeira.

Em suma, organização e investimento na escola e no professor são elementos que fazem o sistema educacional da Finlândia dar um excelente resultado.

Como se vê, não há mágica! O que há é o investimento e a organização, coisa que pode ser duplicada facilmente em outros países. O problema maior está na vontade política de se fazer o investimento e organizar o sistema. Desta forma, o segredo não parece proveniente apenas da sala de aula, mas da motivação política por trás do investimento.

Destarte, a questão mais parece vir das conjunturas sociais, políticas e econômicas que levam à motivação política por trás da decisão de se investir no sistema educacional.

Ocorre que a Finlândia não possui uma grande fronteira agrícola e de criação animal. Também não possui grandes reservas minerais que renderiam grandes fortunas com sua extração. A atividade primária mais importante é a pesqueira, mas que de longe não consegue gerar dividendos suficientes para o padrão econômico experimentado no país.  Assim, a Finlândia depende estrategicamente da produção intelectual do seu povo para gerar os recursos econômicos para um PIB forte. Como não se sabe quais mentes irão produzir resultados intelectuais importantes é imprescindível que toda população receba educação de alta qualidade.

No Brasil, por outro lado, há uma enorme fronteira agrícola e de criação bovina que são historicamente a base para a nossa balança comercial. A área de extração mineral é outra que enriquece a economia do país. Isto posto, o Brasil não precisa de grande produção intelectual para fazer girar sua economia, pois os setores primários são suficientes para injetar recursos na economia interna. Agora, com o petróleo do pré-sal, mais uma vez o setor de extrativismo mineral irá gerar fartos recursos econômicos. Por consequência, a qualidade educacional para o povo passa a ser desnecessária para girar a economia e, de certa forma, um risco desnecessário para a classe dominante.

É de se ver, por exemplo, que com o advento do pré-sal o governo passado aventou um projeto de usar significativa parcela de dividendos da extração petrolífera a serem injetados na saúde e educação. No entanto, o que vemos atualmente, na prática, é a aprovação da PEC 55 que limitou os investimentos em educação por 20 anos.

Abaixo um vídeo com documentário sobre o sistema educacional finlandês.




quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O Império Turco-Otomano


Trata-se de um dos impérios do período moderno. Inclusive, foi o autor da invasão e consequente queda de Constantinopla, fato que é usado pela cronologia da história para divisar idade média da moderna.

Suas raízes se encontram no sultanato seldjúcia, que se converteu ao Islã no século X. Os seldjúcidas conseguiram uma grande expansão territorial, albergando o território da Anatólia de onde se originaria a dinastia Otomana. A dinastia Otomana seria derivada da família de Osman.

Os turcos-otomanos tinham sua legitimidade perante o Islã baseada na tradição jurídica muçulmana - a Shariah.

Quando da invasão à Constantinopla trocaram o nome da cidade para Istambul e lá fixaram a sede do império.

É de se notar a grande visibilidade e deferência que conseguiram perante toda a comunidade muçulmana pelo fato de conseguirem invadir uma das principais cidades da cristandade.

Em relação à questão administrativa, aproveitaram várias das instituições seldjúcidas e bizantinas já existentes. A elite clerical se mantinha nas cidades e nas aldeias havia uma relativa autonomia dos mulás.

Vários autores classificam o Império Otomano como uma variante das monarquias absolutistas ocidentais. Pois o Sultão tinha o domínio de fato sobre as terras e sua investidura se dava guardando elementos de sacralidade.

Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/ 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Transição Feudal-Capitalista e a Noção de Moderno



Em regra, uma noção ou conceito é construído para se antepor a um outro anterior. Desta forma, a noção de modernidade traria a ideia de ruptura com o sistema imediatamente anterior: o feudalismo. Dá-se esta percepção de ruptura ou descontinuidade ainda que as alterações ocorridas tenham derivado de um processo que ocorreu durante um largo período temporal.

Um dos principais fatos analisados nesta transição é a questão do poder político. No regime feudal havia uma fragmentação do poder político nas mão dos senhores feudais, enquanto o rei consistia apenas em mais um suserano. Por outro lado, no período convencionado como moderno há o retorno da centralização do poder político e militar na pessoa do rei.

Como já citado, este foi um processo que se desenvolveu de forma lenta, desde as primeiras associações entre burgueses e reis, em pleno feudalismo, até os eventos dos séculos XIV e XV que levaram à crise do sistema: a fome, a peste e a guerra.

Outro aspecto interessante adstrito à concepção de moderno é a construção do sentimento de nacionalidade, de identidade nacional, como uma percepção de pertencimento a um grupo com uma história, língua e destino em comum.

Esta trajetória do conceito ou noção de moderno pode ser bem exemplificado ao estudar a formação do Estado absolutista francês.

A França partiu do modelo clássico de feudalismo, quando o poder era pulverizado pela nobreza feudal. Ainda na época feudal a dinastia dos capetíngios, em aliança com setores da burguesia, vai retomando parcelas do poder político e se consolidando. 

Então, noutro momento, já na dinastia dos Valois, aproveita-se do enfraquecimento dos senhores feudais após a crise da idade média e da guerra dos cem anos, contra a Inglaterra, para realizar a concentração total de poder na figura real.

Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/ 


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O Projeto Colonizador de Portugal no Brasil


Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/

De início, o interesse maior da Coroa Portuguesa consistia em fechar o Atlântico Sul para navios que não fossem os seus e, assim, manter o monopólio das especiarias vindas das índias.

Um primeiro tema interessante a se enfrentar é sobre a “descoberta” das terras brasileiras, pois são atribuídas notoriamente à esquadra cabralina. No entanto, várias obras, sendo diversas provenientes da academia portuguesa, nos dão conta que documentalmente é comprovado, através da fonte esmeraldo de situ orbis, que a expedição do cosmógrafo e diplomata Duarte Pacheco Pereira, em 1498, teria sido a primeira que se tem ciência de ter avistado as terras sul-americanas.[1]

No entanto, a prática da pirataria francesa e holandesa demonstrava que apenas a posse da terra não seria suficiente. Ela teria que ser ocupada, colonizada, fixar gente para garantir a manutenção das terras.

Fato pouco comentado é que o reino português aventou a hipótese de deixar a colonização por conta exclusivamente da iniciativa particular. Inclusive, fez uma espécie de “licitação” com nobres que já possuíam domínios em ilhas próximas à costa africana para saber aqueles dispostos a investir nesta empresa audaciosa.[2]

Contudo, diante das perspectivas de se achar grande quantidade de metais preciosos na região do Prata, a Coroa entendeu melhor estar diretamente a frente da empresa colonizadora.

Observe-se que no período pré-colonial uma das estratégias portuguesas era o uso dos “lançados”, que consistia no envio de degradados e mercenários para o novo continente a fim de manter contato e aprender a cultura e língua dos povos nativos para facilitar posteriores contatos.

Ao mesmo tempo Portugal envia as expedições exploradoras e guarda-costas para desalojar ocupações francesas no litoral.

Diz-se que ao ano de 1530, Portugal sofrendo crise econômica decide empreender a colonização propriamente dita e envia a expedição comandada por Martim Afonso de Souza. Em 1532 funda o povoado de São Vicente.[3]

A fixação de colonos nas terras novas dependia da utilização econômica do espaço. Como Portugal já dominava a tecnologia da plantação da cana-de-açúcar na Ilha da Madeira, tratou de transpor mudas para o Brasil e iniciar o cultivo.

O modelo de colonização escolhido foi o de capitanias hereditárias, que posterior mente se mostraria ineficiente em parte. Grandes engenhos foram construídos e a plantação de cana feita em larga escala.

A questão da mão-de-obra barata para girar o ciclo da cana traz a figura do índio para o centro do debate. A forma que se encontrou para dar grande lucratividade à plantação de cana foi usar mão-de-obra escrava. Os nativos chamados de negros da terra começaram a ser apresados para trabalhar nos engenhos. Inclusive, algumas tribos já conheciam as técnicas de agricultura, sobretudo da mandioca.

Contudo, a resistência dos índios ao modelo de produzir muito mais do que o necessário para a subsistência levou a uma série de problemas entre colonos e grupamentos indígenas.

Neste momento, a igreja é parceira da Coroa Portuguesa na colonização através da presença da companhia de Jesus nas terras brasileiras, que tinham a intenção de catequisar e ganhar “almas novas” para a igreja católica. Isto vai gerar uma série de tensões entre colonos, jesuítas e índios no que tange ao apresamento dos índios que estão nos aldeamentos jesuíticos.

Tal contexto levará à criação de normas sobre qual índio pode ou não ser aprisionado para ser reduzido à condição de escravo, nascendo o conceito de “guerra justa”.

A guerra justa é uma construção antiga e vem desde Roma legitimando suas incursões contra povos “bárbaros”. Santo Agostinho, na Idade Média, também fundamenta o conceito que posteriormente será utilizado pela igreja nas cruzadas contra os infiéis muçulmanos.

A legitimidade da guerra-justa no Brasil também terá preceitos canônicos.[4]

Por outro lado, neste momento há um negócio de excelente lucratividade para nobres portugueses e, também, para Coroa que recebe impostos do comércio negreiro feito de escravos na África.

Com isto, era do interesse dos que lidavam com isto que o Brasil absorvesse os escravos africanos para aquecer o comércio negreiro ainda mais. 

As capitanias do nordeste que conseguiram boa evolução econômica passaram a utilizar a mão-de-obra vinda da África. No entanto, no sudeste que não conseguiu lograr êxito econômico as expedições de bandeiras para o apresamento de índios perdurou por longo período.

Devemos observar, no contexto africano, que a escravidão era um instituto que já ocorria amplamente no continente. Culturas do norte da África, islamizadas, já capturavam e escravizavam negros do sul para vende-los no Marrocos.[5]

Posteriormente ao decadente sistema das capitanias, o Rei de Portugal decide por nomear um governador-geral, em 1548, que foi Tomé de Souza. Tem como metas prioritárias enfrentar a pirataria francesa e os ataques dos indígenas.

Este seria o ponto chave da empresa colonizadora, quando se pretendia assentar definitivamente os colonos, auxiliar a implantação de engenhos e estabelecer aldeamentos de índios e feiras semanais.





[1] Lopez, Adriana, Carlos Guilherme Mota. História do Brasil: uma interpretação. Ed. SENAC. São Paulo. 2008. Fls 65 a 66.

[2] Couto, Jorge. A Construção do Brasil. Ameríndios, portugueses e africanos, do início do povoamento a finais de quinhentos. Ed. Forense Universitária. 3º edição. Rio de Janeiro. 2011. Fls. 121 a 123.

[3] Linhares, Maria Yeda. História Geral do Brasil. Ed. Campus. 9ª edição. Rio de Janeiro. 1990. Fl 55.

[4] Hansen. João Adolfo. A Servidão Natural do Selvagem e a Guerra Justa Contra o Bárbaro. Fl 349.


[5] Linhares. Maria Yeda. História Geral do Brasil. Ed. Campus. 9ª edição. Rio de Janeiro. 1990. Fl 53.


sábado, 5 de outubro de 2013

"GUERRA JUSTA" EM 4 MOMENTOS


 A "guerra justa" é uma construção conceitual que, desde a antiguidade aos dias atuais, tem sido utilizada no sentido de legitimar o ato de guerra contra outrem. Quando se configuraria os seus parâmetros, a guerra não seria considerada ilegítima, imoral ou antiética.

Parece-nos um conceito tão velho quanto a humanidade e tende a acompanhar o lado dos vencedores sobre os vencidos. Sua imutabilidade no decorrer da espiral do tempo pode ser visualizada em 4 momentos:


Os romanos alegavam a guerra justa para garantir a pax romana contra os povos por eles denominados como bárbaros.




Santo Agostinho e São Tomás de Aquino acolheram a guerra justa na construção filosófica e canônica. A Igreja a utilizou para fundamentar as cruzadas contra os infiéis muçulmanos.



No Brasil Colônia os colonos portugueses alegavam a guerra justa para o apresamento de indígenas "hostis" e que não estavam catequisados e protegidos nos aldeamentos jesuíticos.



Atualmente a guerra justa é a base da argumentação de guerra "antiterror" levada por americanos a países  do oriente médio.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

SEXO PARA VENDER HISTÓRIA



Noutro dia, estava numa das livrarias da cidade tentando identificar novidades literárias no campo da História e ciências afins, quando me deparei, na estante de filosofia, com o título que estava em destaque - "A FILOSOFIA DA ADÚLTERA: ENSAIOS SELVAGENS" - do filósofo Luiz Felipe Pondé. A obra era encadernada por uma capa vermelha tendo uma mulher sensual com ombros desnudos, em um carro, passando um provocante batom vermelho nos lábios. Ou seja, apresentava todos os elementos que compõem o lugar comum do tema: mulher, vermelho, carro, sensualidade e batom.


Realmente, o título e sua capa conseguiram, num primeiro momento chamar a minha atenção. E fiquei curioso para saber, afinal, a que tipo de filosofia se alinhava ou pregava a mulher adúltera. Como sexo e traição é algo que acompanha a humanidade desde suas origens, talvez aderisse à uma antiga filosofia pré socrática? Ou teria por base Aristóteles, que por séculos influenciou diversos ramos do saber? Santo Agostinho e Tomás de Aquino era improvável. Porém, poderia estar relacionado à liberação feminina e, assim, abraçar nomes ilustrados e modernos. Afinal, caramba, qual a filosofia de uma adúltera ?

Quando já me preparava para conferir o preço, em um movimento de realizar a compra da obra, então, lembrei-me que era exatamente este tipo de curiosidade que a estratégia da capa queria atingir. Acertar a curiosidade através de um tema picante como o sexo. E de estratégias de propaganda o autor deve entender bem, pois Pondé é um filósofo midiático, colunista de importantes jornais. Assim, recuei e desisti de levar uma discussão que poderia ou não ser útil. Afinal, não me parece crível que todos que cometem traições sigam uma dada corrente filosófica ! Desta forma, deixei de realizar a compra.

Contudo, naquele momento lembrei de um artigo que havia lido a pouco tempo, mas que não recordava onde nem o autor. O referido artigo defendia a tese que se você quiser escrever algo que tenha apelo para vender bastante deve escrever sobre sexo. E seu argumento para embasar tal teoria era a de que hoje há uma super exposição de sexo no cotidiano. Seja nos programas de televisão, cinema, revistas, internet, nas danças, nas letras das músicas, etc. E isto, como consequência, estaria anestesiando o apetite sexual das pessoas. A super exposição acaba tirando o prazer daquela sensualidade comum do dia-a-dia. E para as pessoas tentarem renovar seu apetite, consomem ainda mais coisas ligadas à temática. Promovendo uma retroalimentação do sistema.

Não faço ideia se a "sacada" do artigo tem apoio científico e acadêmico. Porém, a grande vendagem que "50 tons de cinza" alcançou, recentemente, parece corroborar com o autor do artigo.

Daí que tive o interesse de caminhar até a estante de História, na mesma livraria, e verificar como os historiadores vêm se aproveitando do sexo para vender seu peixe! E não faltavam obras que versavam sobre o tema e que o exploravam muito bem em suas capas. Desde o sexo na pré-história (será que era diferente de hoje em dia, tirando a cama redonda e o espelho no teto?) até as travessuras sexuais de nosso imperador Pedro I (em TITÍLIA E O DEMONÃO). Eis que inclusive a renomada historiadora Mary Del Priori, que escreve com notoriedade sobre história de gênero, aproveitou e sensualizou a capa de "HISTÓRIAS E CONVERSAS DE MULHER", com uma bela mulher de costas se despindo ao desamarrar o espartilho.

Destarte, podemos fazer um exercício imaginativo e sugerir alguns bons temas para os colegas surfarem no sucesso. Que tal monografias como: "As orgias do rei Salomão", "Romanas desejam visigodos", "Cleópatra para os íntimos"e outros. Qual tema você, leitor desta crônica, acrescentaria?

Concluindo, parece que os escritores que tem que guardar uma ligação com a ciência e a academia, terão essa difícil equação de se aproximar do grande mercado e dos leitores leigos, mas sem banalizar a história e outras ciências.






sábado, 7 de setembro de 2013

Palavras da Moda na Academia de História



O PROCESSO, A DINÂMICA, O DIÁLOGO E O CONTEXTO.

Tenho percebido que o uso de certas palavrinhas mágicas ou da moda fazem uma boa diferença na maneira como a Academia e seus mestres enxergam o texto de um graduando.

Se vc disser que - a Coroa portuguesa, por conta da expansão comercial, aparelhou a esquadra comandada por Cabral que veio descobrir ou tomar posse do Brasil - você poderá ser tachado de fazer um texto narrativo e, por isso, receber um grau de avaliação mais baixo. 

Por outro lado, se vc usar o pó de pirlimpimpim das palavrinhas da moda e disser - a Coroa portuguesa, DIALOGANDO com o CONTEXTO comercial expansionista do período, envia para o Atlântico esquadras, como a de Cabral, promovendo a DINÂMICA do descobrimento - aí sim, você fez um texto atual, segundo os ditames problematizantes requeridos pelo moderno pensamento histórico !

No fundo, ambos disseram a mesma coisa. Contudo, as palavrinhas mágicas fazem a diferença.

Essas quatro palavras são as que mais se repetem em todas as aulas e todas as disciplinas de história. Logo, trate de utilizá-las para ficar "por dentro".

Ah ! Rupturas e continuidades tb dão um excelente ibope ! Historiador não diz que um período passou para, mudou para, ou qualquer coisa do gênero; diz que houve uma RUPTURA ! Da mesma forma, não diga que algo permaneceu igual ou semelhante, mas que houve uma CONTINUIDADE !

Contudo, é preciso ter cuidado para que a importância demasiada que se dá a tais palavras não acabem reforçando aquela antiga visão de que a história é mais discurso do que ciência.

Abaixo, Hilário Franco Jr e Jacques Le Goff conversando sobre contextos, dinâmicas, diálogos, processos, rupturas...


-------------------------------------------------------------------------------------------------------


Participe do grupo de estudos de história no facebook:

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

REVISANDO O DESCOBRIMENTO.



Todos sabemos que é corrente, tanto na escola quanto na universidade, a narrativa do descobrimento do Brasil, ocorrido em 22 de abril de 1500, pela frota capitaneada por Pedro Álvares Cabral, cujo documento principal é a carta do escrivão Pero Vaz de Caminha.

No ambiente da Universidade e, também, entre os professores dos cursos colegiais, que possuem uma visão mais questionadora do tema, faz-se a discussão se o desvio feito pela frota de Cabral não teria sido mero obra do acaso, mas proposital, pois já se saberia da existência daquelas terras tropicais. Se esta hipótese pudesse ser comprovada, a viagem de Cabral não teria sido, como se diz em regra, de descobrimento mas de tomada de posse das novas terras.

Ocorre que, em Portugal, este debate já se torna ultrapassado desde as pesquisas do professor Joaquim Barradas de Carvalho, considerado um dos maiores especialistas mundiais no recorte das grandes navegações. Este notável pesquisador asseverou que a primeira viagem ao Brasil, que se tem notícia formalmente documentada, foi a do navegante, cosmógrafo e embaixador Duarte Pacheco Pereira, em 1498, de quem deveria ser a alcunha de "verdadeiro" descobridor das terras do Novo Mundo.

Ao professor Joaquim Barradas de Carvalho se deve a revisão temática do Descobrimento do Brasil. Era alentejano e graduou-se em História e Filosofia pela Universidade de Lisboa. Adepto da corrente historiográfica da École des Annales, trabalhava no campo da história das ideias e das mentalidades. Era amigo e discípulo de Fernand Braudel. Foi professor na Universidade de São Paulo, no Brasil. Retornou a Portugal definitivamente após a Revolução dos Cravos.

Esta nova versão é apoiada documentalmente, de forma principal, pela obra escrita pelo próprio Duarte Pacheco Pereira denominada "Esmeraldo de situ orbis", que trata da redução a termos do resultado obtido pela expedição que empreendeu em 1498. Como, também, de cartas enviadas por Manuel I, rei de Portugal, aos seus sogros, os reis de Castela e Aragão, onde relatava o achamento das novas terras pela citada expedição.

A pergunta comum que se faz perante esta dicotomia entre o tradicionalmente ensinado em nossas escolas e universidades para a nova narrativa, apresentada por Joaquim Barradas de Carvalho e seguida por diversos outros professores da academia portuguesa, é o motivo pelo qual estas novas informações e fontes não estiveram desde sempre amplamente conhecidas.

A resposta à questão acima reside na natureza secreta da expedição de Duarte Pacheco Pereira. Enquanto a natureza da expedição capitaneada por Cabral era de tomar posse, diante das outras nações, daquela terra, tendo assim caráter público; por outro lado, a expedição de 1498 era de cunho científico e militar, cujos resultados eram considerados  altamente confidenciais pela Coroa portuguesa. Desta forma, toda a documentação produzida, como o Esmeraldo e correspondências, foi mantida guardada sigilosamente em local secreto.O Esmeraldo, por exemplo, só foi encontrado no início do século XX e estudado a fundo mais adiante.

Alguns pesquisadores polemizam a natureza secreta destes documentos. Pois se o objetivo da viagem de Duarte Pacheco Pereira era a de produzir documentos cartográficos e narrativos sobre a geografia das costas encontradas no Atlânico Sul, que seria importante rota para a empresa das Índias, então, tais mapas e narrações produzidas deveriam, ao menos, ter sido remetidas aos comandantes das futuras frotas que iriam realizar aquela rota comercial.

Polêmica a parte, a Academia portuguesa vem tratando como fato, documentalmente comprovado, a viagem ao Brasil pela expedição de Duarte Pacheco Pereira, em 1498.

Atualmente, a questão que se levanta nas salas de aula portuguesas é a mesma que se faz aqui no Brasil em relação à viagem de Cabral. Teria Duarte Pacheco Pereira sido descobridor das costas brasileiras ou, por outro lado, o investimento feito em sua expedição cosmográfica era resultado de relatos anteriores, feito por outros navegadores, de que teriam avistado aquele novo território.

No Brasil, pouquíssimos professores transmitem ou possuem estes dados revisados sobre o chamado descobrimento. Uma das poucas obras nacionais já revisadas e que trazem, ao menos a possibilidade, desta nova versão, trata-se do livro "História do Brasil: Uma Interpretação", dos professores da USP: Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota.

Desta forma, assim como na expansão marítima, a academia portuguesa também sai na frente em relação a esta nova cronologia do descobrimento.