domingo, 28 de maio de 2017

O cinema de ficção enxerga a realidade que não vemos. O homem não é mais sujeito de sua história.






Chegou ao final a saga "resident evil" nos cinemas. Foi mais uma série de filmes tratando do apocalipse humano através da contaminação por um vírus que torna as pessoas zumbis. A cada filme desta série víamos o caos se espalhando mais agudamente por todo globo terrestre. Também foi a franquia cinematográfica mais longa em que o protagonista foi uma personagem feminina, estrelada por Milla Jovovich.

No último filme da série, ficamos sabendo que o "caos" não era fruto de um mero acidente ou acaso. Existia uma ordem no caos. Tudo foi planejado pela diretoria da maior empresa global no ramo de armas biológicas, a fictícia "umbrella corporation". Ao concluírem que o mundo teria poucas décadas de sobrevida digna, por conta do crescimento populacional desordenado e o aquecimento global, decidiram realizar um "apocalipse" controlado para dizimar grandes contingentes humanos e a terra ser herdada por um seleto grupo de "escolhidos".

A obra  teve o condão de dialogar com as atuais expectativas de "empoderamento" da mulher na sociedade. Milla Jovovich serviu de ícone deste novo contexto, onde as mulheres não serão meras ajudantes ou amantes do grande herói. Mas esta série enxergou algo além. Que somos governados pelas grandes corporações mundiais. O poder executivo dos países se tornou mero garoto de recados dos grandes interesses financeiros.

Mesmo presidentes "poderosos" como o americano Trump, quando viaja a um país para vender armas, está servindo aos interesses corporativos. As agruras da guerra são meros detalhes frente aos lucros que obterão dela. Não é casuísmo que o atual presidente da maior nação capitalista seja um empresário.

Espalhar o caos se tornou plausível se ele trouxer maiores lucros e concentração de renda. Como ocorre com as supostas notícias de empresas do ramo da informática que contratam especialistas para criar e espalhar vírus pela rede e depois ganham fortunas vendendo o antivírus.  Já não sabemos se o mesmo acontece com as notícias de epidemias, quando empresas farmacêuticas ganham fortunas vendendo vacinas. Lembremos do caso das gripes suínas e aviárias. E a grande imprensa mundial trata de construir narrativas para desviar nossa atenção desta realidade. São como flautistas mágicos nos guiando pela estrada encantada dos bobos.

O Brasil atual é um ótimo exemplo.  Quem nos governa realmente? O sujeito que simbolicamente senta na cadeira de presidente da república? Ou somos governados pelas grandes corporações e seus interesses? As grandes empresas de mídia, os bancos, as super construtoras e, até, os gigantes frigoríficos !  

Não interessa se medidas como uma draconiana reforma trabalhista e previdenciária irão espalhar o sofrimento e o caos social, se delas surgirem belos lucros para o sistema financeiro. E a grande mídia trata de nos convencer sobre a oportunidade de seguir o caminho do precipício.

Li excelente texto do professor Afrânio da Silva Jardim, titular da cadeira de direito processual penal na UERJ, que aborda este contexto. Deixarei o texto do citado mestre a seguir:


"O SER HUMANO JÁ NÃO É MAIS O SUJEITO DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA.

No mundo atual, somos “governados” pela grandes corporações. Tudo gira em torno de interesses econômicos e o “mercado” é o grande artífice de nosso modo de vida.

É importante notar que o próprio “mercado” é controlado e direcionado, mundialmente, pelo grande capital, pelas empresas sem pátria e sem ética. Projetos sofisticados e elaborados pelos executivos das grandes multinacionais acabam determinando, via produção e propaganda massiva, o que vamos consumir, o que vamos ouvir, o que vamos ver, do que vamos gostar, etc., etc., etc. Um exemplo disso foi a imposição das grandes montadoras de automóveis: elas decidiram que nós só teríamos carros prata, preto e branco. Acabamos gostando disso ... Puro autoritarismo.
Por outro lado, os novos automóveis, salvo as sempre presentes exceções, estão sendo fabricados sem aparelhos de som próprios para cds ou dvds. Que fazer com as nossas coleções? O que fazer com as nossas bibliotecas, quando elas forem substituídas por “pen drives” ou por leitores de textos, tipo “Kindles”. A eles, não interessa o apego por nossas coisas.

Ao “capital”, só interessa a sua acumulação ... O lucro não tem limites ... Os valores humanos não são limites à cobiça desmedida ...

A sociedade moderna e tecnológica está “roubando” o nosso tempo. Talvez porque o tempo seja subversivo ... O tempo nos permite pensar, nos permite vivenciar emoções, nos permite refletir e desenvolver uma consciência crítica da perversa realidade a que estamos sendo submetidos. Hoje tudo é feito para ser rapidamente consumido. Tudo é efêmero e descartável. Isto nos abrange até o ponto dos afetos.

Estamos substituindo e verdadeiro sentimento de felicidade pela excitação. A ansiedade é um dos muitos grandes males da sociedade tecnológica. A intolerância é uma “epidemia” nos dias de hoje, resultante da falta de cultura e resultante de uma sociedade autoritária e preconceituosa.
A ciência não é conhecida pela população, que apenas deseja usufruir da tecnologia imposta pelo mercado. Falam em “banda larga”, mas ninguém sabe o que seja ... Fala-se em tecnologia digital (diferente da analógica), mas ninguém sabe o que seja uma coisa ou outra ... Pior, não sabem e não têm curiosidade de saber ... 

Os jovens atuais “abraçam” tudo o que o mercado deseja que eles venham a consumir, tudo de forma totalmente acrítica. A grande mídia nunca influenciou tanto a formação de novas gerações. A grande mídia é o reflexo perverso dos interesses econômicos que a sustentam. 

Não somos mais sujeitos de nossa própria história e estou profundamente pessimista com o futuro desta sociedade globalizada e dominada pela ganância, pela hipocrisia, pela falta de humanismo e pelo individualismo. O ser humano está “morrendo com o próprio veneno”. 

Parodiando o grande e saudoso historiador inglês Arnold Toynbee, termino demonstrando ainda alguma esperança na sobrevivência de nossa espécie, dizendo: espero que ainda haja a possibilidade de uma quarta guerra mundial, mesmo que ela seja de arco e flecha.

Como será a sociedade do futuro? Haverá futuro para o ser humano? Será ele verdadeiramente humano? Haverá ser humano e sociedade no futuro?

Afranio Silva Jardim, professor associado de Direito da Uerj."

Participe do grupo "prophisto" de história geral & Brasil no facebook: 
https://www.facebook.com/groups/prophisto/

Nenhum comentário:

Postar um comentário