domingo, 30 de abril de 2017

Os trituradores de ossos: a polícia que é algoz e vítima.






Os órgãos de segurança continuam sendo fontes de péssimos exemplos pelo país a fora. Salvaguardando um bom  número de policiais que atuam de forma digna e consciente. Contudo, mesmo os bons policiais acabam sendo tragados pela péssima reputação que essas corporações vêm granjeando nos mais variados núcleos sociais.

As imagens de policiais que agem sadicamente contra a população, como este fato ocorrido com um estudante em Goiânia, que sofreu traumatismo craniano e está entre a vida e a morte numa UTI, vem se repetindo frequentemente.

Não sei o que acontece no exame psicotécnico desses concursos, mas pessoas como este da foto jamais poderia usar um uniforme de policial. É caso de psicopatia notória. Esse tipo de gente não pode receber licença para andar armada nas ruas.

Este caso está causando repercussão pelo fato da vítima ser um estudante provavelmente de classe média. Mas esse tipo de atitude é comum nas periferias todos os dias, não apenas em dia de manifestação e greve.

Quando se diz que o povo pobre, das favelas, não aparece nas manifestações tem muito da forma como são tratados diariamente nas comunidades. A perseguição pela força tira dessas comunidades as ruas da cidade como local de pertencimento para a manifestação política. 

E nossa sociedade vem se especializando em colocar pobre oprimindo pobre. O policial e sua família, em regra, vem de comunidades pobres. Quando o policial arrebenta o cassetete no professor  que luta por melhores condições na escola pública, está defendendo que seu filho continue com um péssimo ambiente de estudo escolar. No futuro, o filho do policial não terá condições de competir no mercado e continuará na periferia, como vítima ou algoz desse sistema que se perpetua.

Participe do grupo de estudos de história no facebook: 




Patrão chamando trabalhador grevista de corno.





Tem sido noticiado pela internet que houve empresário nas redes sociais chamando os trabalhadores que participaram da histórica greve geral do dia 28 de abril (2017) de cornos. 

É sempre interessante lembrar de alguns preceitos psicológicos quando alguém aparece se expondo desta forma. Em regra, quando alguém xinga outras pessoas que mal conhece com a primeira palavra que lhe vem à cabeça, esta pessoa acaba falando muito mais sobre si mesma do que sobre o outro! Desta forma, por exemplo, se o falante for casado, é possível que seja um sintoma de preocupações, com ou sem fundamento, sobre sua própria relação conjugal que acabam escapando no ato falho de comparar grevistas a cornos.

Depois, teria dito o quanto que perdeu em dinheiro naquele dia de greve. Nesse momento, não sei se o empresário foi super inteligente dando um jeito de apoiar os grevistas sem ficar mal com sua classe, pois, afinal, passou o recibo de que a greve deu certo. Ou, ao contrário, se foi burro suficiente para acenar aos sindicatos que a pressão funcionou, abrindo as portas para um futuro de muitas greves Brasil a fora.

Independente do personagem em particular, a greve é a única arma que o trabalhador possui para defender os seus direitos. Podemos concordar ou não com uma ou outra greve em particular, com um ou outro sindicato, mas jamais poderemos ficar contra a greve como instituto jurídico

Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/.
 


sábado, 29 de abril de 2017

Trocando as bolas: um embate inusitado durante a greve geral no RJ.





Nesta greve geral da última sexta feira, dia 28/04/2017, um enfrentamento muito curioso ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, próximo ao palácio da Assembleia Legislativa (ALERJ). No episódio se envolveram dois personagens muito peculiares, de um lado um comediante global do extinto programa Casseta e Planete e do outro um conselheiro do Fluminense Football Club.

Parece que o comediante foi às ruas para fazer algum tipo de imagem com piadas em oposição à manifestação. O grupo em que se encontrava o conselheiro do fluminense detectou a intenção do comediante e houve uma discussão entre a partes e o comediante, isolado, precisou deixar o local.

O curioso nesta notícia é que, a priori, os personagens parecem trocados de lado, como naquele filme estrelado pelo ator Eddie Murphy,

Este comediante nunca fez um humor refinado orientado para o consumo das altas classes sociais. Seu período de maior aparição midiática foi quando integrou o elenco do programa Casseta e Planeta, na Globo, cujo telespectador era prioritariamente o povão. E mesmo antes da globo contratar o grupo, editavam um pequeno jornal que tinha um viés de crítica bem humorada.  Porém, nada  comparado a envergadura intelectual e humorística de um Pasquim ! Desta forma, era de se esperar pela biografia do humorista que estivesse ao lado das lutas populares neste período de cortes de direitos trabalhistas e previdenciários. Mas, ao contrário, tem se notabilizado como uma voz a serviço dos grupos conservadores mais extremos.

Do outro lado, um conselheiro de um dos clubes mais identificados com a elite da cidade. Sua torcida é conhecida como "a mais charmosa" do Brasil, supostamente pela tradição que o clube nutriu dentre as camadas mais abastadas da antiga capital federal. Quando a capital brasileira estava sediada na cidade do Rio de Janeiro, o salão nobre das laranjeiras envergava festas de alto requinte com a presença da nata política e social da sociedade. Até pelo fato do clube estar edificado estrategicamente ao lado do palácio do governo. Por isso, o tradicional mascote do clube era o "cartola", que não era o antigo sambista da mangueira. O cartola, mascote do fluminense, era um sujeito trajando fraque e cartola nas cores do clube. Hoje, o clube tenta se desvencilhar desta imagem de um clube voltado para as elites e elegeu um novo mascote que é o "guerreirinho". Desta forma, era de esperar que o conselheiro do clube pudesse estar a favor das reformas, mas não. O conselheiro estava nas ruas participando do dia de movimento contra as reformas.

A imprensa noticiou que o citado conselheiro estava vestindo uma camisa com o escudo do clube. Não é bem verdade. Ele estava com a camisa de um movimento politizado de esquerda iniciado por torcedores do clube com esta ideologia. Trata-se do movimento "tricolores de esquerda", que usa como símbolo uma imagem do contorno do escudo do fluminense mas que no interior não traz as letras do clube, mas um punho cerrado.

Este fato, pode ser um estudo de caso para reafirmar a tese do filósofo húngaro Georg Lukács, que rompeu com o determinismo marxista ao entender que nem sempre a consciência de classe do indivíduo  está ligada invariavelmente à sua origem de classe. Um intelectual pode se identificar com a luta do proletariado através da aquisição do conhecimento e de sua formação crítica.

Desta forma, queremos deixar nossa solidariedade ao "guerreiro tricolor" nas trincheiras do povo trabalhador. Esperamos que não sofra algum tipo de sanção dentro do quadro social do clube.

Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/

Página dos "Tricolores de Esquerda" no facebook:
https://www.facebook.com/tricoloresdeesquerda/



A blitzkrieg contra o futuro e a autodeterminação do povo.


O termo "blitzkrieg" foi cunhado pelo comando do exército alemão durante a segunda grande guerra mundial. Visava um ataque rápido e brutal para desmobilizar o inimigo e deter sua capacidade de organização. O principal nome desta tática militar foi o general Erich Von Manstein.

Saindo dos idos da década de 40 do século passado para o Brasil atual, vemos algo ocorrendo que nos lembra e faz uma analogia com aquela tática alemã. Trata-se da velocidade como vários direitos que constituem a rede protetiva dos trabalhadores brasileiros estão sendo pulverizados por um congresso envolvido num "impeachment" que boa parte das academias de história e de ciências jurídicas apontam que ficará conhecido como mais um golpe ocorrido nesse grande celeiro do mundo.

E não só ocorre o que chamamos de guerra relâmpago, pela velocidade como a agenda é proposta e sem discussão com os diversos setores da sociedade, como, também, parece haver uma "guerra total" pela abrangência das manobras nas mais diversas áreas sensíveis da sociedade: no ensino médio a retirada de disciplinas que conferem formação crítica, a crise na universidade pública, a relativização da CLT, a terceirização e as mudanças radicais nas regras previdenciárias.

A educação fica meio esquecida nessa convulsão mas é uma das peças mais importantes neste tabuleiro. Se por algum tempo as classes mais baixas do proletariado começaram a pleitear uma futura formação universitária, parece que a inteligência das reformas atuais vão no sentido de desfazer este sonho, apontando para o "exército de mão-de-obra" apenas o ensino técnico. Afinal, como já se dizia desde o início do século passado: "o Brasil precisa de mãos para  a lavoura" e para ser consumido como carvão de fábrica também.

As novas regras previdenciárias garantirão que o povo fique por toda sua vida preocupado com o horário de ingresso na fábrica. Inclusive, mais uma vez a universidade perderá com isto. Pois os programas de incentivo ao ingresso de pessoas da terceira idade nos bancos universitários se tornarão inviáveis. Muita gente, ao se aposentar, tentava uma faculdade e ainda possuía tempo para uma pequena carreira naquele campo que, muitas vezes, foi um sonho de jovem que não pode ser realizado àquela época. Terceira idade na universidade é algo que será desintegrado.

No campo trabalhista, a relativização da CLT se dá pelo fato de se dispor que acordos entre patrões e empregados terão prevalência sobre a legislação do trabalho. E, de forma magistral, acabam com a obrigatoriedade do imposto sindical que enfraquecerá os sindicatos como parte deste acordo.

Todas estas reformas apontam para transformar o país em um grande chão de fábrica. Mas não como na Europa ou outros países desenvolvidos. Seremos, tão somente, uma ilha de exploração de mão-de-obra barata, como acontece com Vietnã e outros. Aqui não se estabelecerão os centros de pesquisa, pois para isso é preciso uma revolução na educação. O Brasil será apenas fornecedor de trabalho barato.

O pequeno e médio comerciante também serão afetados pelos baixíssimos salários. Se o português do açougue da esquina está comemorando agora, em breve sentirá os efeitos de um povo sem capacidade financeira e a entrada no país de grandes redes internacionais que usam da mão de obra barata para vender produtos de necessidade básica a preços muito baixos.  Esse pequeno comércio está em risco, como já aconteceu em cidades americanas onde se estabeleceram grandes redes como o Walmart.

Estas medidas apontam para o achatamento da classe média. Justamente uma parcela da população que ainda não compreendeu o que está acontecendo.  Pois na transformação do país em uma grande fábrica de exploração de mão-de-obra, sem pesquisa, e com a burocracia estatal cada vez mais encolhida segundo os preceitos do estado mínimo, haverá cada vez menos postos para receber uma pretensa classe média. Ou seja, uma boa parte da classe média se proletarizará nos próximos anos. 

Não é a toa que já votam leis liberando a compra de propriedades dentro do país por estrangeiros, pois com uma multidão de pobres e uma bem pequena classe média quem iria comprar bens de alto valor, como propriedades, num país de dimensões vastas. 

A cereja no bolo é a revogação da demarcação das terras indígenas e quilombolas configurando a blitzkrieg e a guerra total !

Participe do grupo de história do facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/ 



terça-feira, 25 de abril de 2017

Marcha indígena histórica é recebida com bombas em frente ao Congresso Nacional.




Uma união de várias tribos indígenas levou, neste dia 25 de abril de 2017, a maior marcha já ocorrida dos povos indígenas às portas do Congresso Nacional para reivindicar a manutenção de seus direitos. Direitos, diga-se de passagem, muito menores que o mal realizado a esses povos desde a colonização do atual território nacional pelos europeus.

Além de todo tipo de exclusão que os povos indígenas já sofreram e ainda sofrem, o atual governo vem acenando com a possibilidade de passar projetos que revisariam a questão da demarcação das terras indígenas.

É um absurdo que depois de tudo que os povos das florestas já passaram, ainda sejam recebidos com bombas pela força policial que faz a segurança em Brasília.

Nossas tribos indígenas estão sendo bombardeadas duas vezes na atual legislatura. Por projetos que retiram seus direitos e, agora, literalmente por bombas de gás.

Fica o nosso protesto !!!

Participe do grupo de estudo de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/ 



domingo, 23 de abril de 2017

Pela Obrigatoriedade das disciplinas humanas (história, sociologia e filosofia) em todos os cursos superiores.






Temos visto exemplos partindo de várias turmas de formandos, em diversos cursos, no sentido do péssimo preparo que este pessoal teve no sentido de construir uma mentalidade cidadã. A última novidade foi a de várias turmas de pretensos ginecologistas realizando poses fotográficas que podem ser interpretadas como uma violência simbólica contra as mulheres. Justo contra as suas futuras clientes. A motivação pela medicina sempre deve ser na orientação da prestação de socorro à vida humana e isso não combina com essa visão desrespeitosa. Até por isso, a medicina sempre foi um pouco que comparada ao sacerdócio.

Por outro lado, o discurso das universidades sempre foi o de formar mais do que meros técnicos com capacidade de ganhar a vida em determinada área de conhecimento, mas a de formar futuros cidadãos. E cidadania compreende uma leque de valores muito maior que a simples venda do seu conhecimento através da prestação de serviço.

Há quem diga que o problema é unicamente de foro ético. Contudo, ética é uma disciplina que já consta da grade desses alunos. De forma que entendemos que falta a todos eles uma formação humanística para que aética possa ser algo que flua naturalmente de suas ações e não apenas um código que estipula ações que devem ser evitadas para que não sejam alvo de futuras penalizações pela entidade de classe.

Assim,. acreditamos que o atual governo vai no sentido contrário das atuais necessidades do nosso corpo discente. Ao revés de tirar a obrigatoriedade das disciplinas do grupo das humanas da grade do ensino médio, deveria fazer o contrário. Manter história, sociologia, geografia e filosofia na grade obrigatória dos colégios e colocar urgentemente essas disciplinas em todos os cursos superiores do país.

Participe do grupo de estudos de história no facebook:


sábado, 22 de abril de 2017

A Marcha pela Ciência contra a globalização da mediocridade.






Hoje, dia 22 de abril, comemora-se o "Dia Internacional da Terra". Neste mesmo dia, cientistas de vários países combinaram um movimento em conjunto que já está batizado como "A Marcha pela Ciência". Que busca uma revalorização da ciência e de seus profissionais em um horizonte tão conturbado pela política mundial. 

Vivemos uma nova época obscurantista. Os discursos de ódio vão encontrando solo fértil nas mais diversas paragens. A política não visa o bem comum, mas abertamente os interesses de poucos em detrimento de muitos. 

Tão pouco as narrativas religiosas têm conseguido trazer paz e harmonia a um mundo tão desigual e prestes a naufragar como o grande Titanic. Poderia a ciência trazer as repostas que tanto necessitamos neste momento ? Não sabemos. O que fica patente é que a ciência também foi tragada pelo grande capital e a necessidade de gerar lucros.

Houve uma época em que acreditamos que a revolução científica significaria um futuro mais próspero e confortável para todos. Isso não aconteceu por conta da lógica do lucro desmedido. Cada nova tecnologia acabou sendo instrumento para agravar as diferenças sociais.

Embora pessimista, espero que a "marcha" sirva não somente para que governos se sensibilizem e voltem a valorizar a pesquisa científica. Notadamente no Brasil, onde cada crise significa cortes de verbas na pesquisa e na educação. Aqui a pesquisa não é vista como investimento. Mas que sirva para que os próprios pesquisadores olhem sua atuação sob uma nova perspectiva. Por uma ciência mais pelo social do que pelo capital !

Participe do grupo de estudos de história no facebook:


sexta-feira, 21 de abril de 2017

O quarto de Jack e a inversão do mito da caverna.



O filme "O quarto de Jack" é uma adaptação para o cinema da obra literária homônima da autora irlandesa Emma Donoghue. O filme foi lançado em 2015 e ganhou o oscar de melhor atriz para Brie Larson, que interpretou o papel de Joy, mãe de Jack, que por sua vez é interpretado pelo ator mirim Jacob Tremblay. O enredo conta a história do menino Jack que nasceu e viveu, até os cinco anos, sempre dentro de um pequeno quarto de 7m2. Ocorre que Joy, quando tinha 17 anos de idade, foi raptada por um indivíduo que a deteve em cativeiro (o quarto) por vários anos. O pequeno Jack nasceu de relações que o raptor mantinha com Joy. Jack ficou preso dentro do quarto com sua mãe desde o nascimento.

No quarto não havia janelas e Jack conhecia o mundo apenas através de uma televisão e do que sua mãe contava. Para não angustiar o menino, Joy contou que o mundo se resumia às paredes daquele quarto. Que atrás das paredes havia o nada ou o espaço e que a televisão era como uma tela mágica que mostrava o que acontecia em outros mundos.

Jack estava perfeitamente adaptado àquela falsa realidade. Ele se sentia muito confortável naquele pequeno cubículo. Inclusive, enquanto os personagens estão presos no quarto, a direção do filme optou por gravar num quarto de dimensões bem maiores do que os parcos 7m2, para mostrar a percepção do espaço através dos olhos de Jack. Mais tarde, quando conseguiram fugir do cativeiro e, depois, o menino resolveu revisitar o lugar, Jack acaba estranhando o local, que agora parece muito menor.

A tela do aparelho de televisão foi o principal vetor na formação do menino durante os anos aprisionado. Jack acreditava que as "mágicas" que aconteciam nos filmes eram possíveis, que os desenhos animados existissem nalgum outro mundo e que os estereótipos apresentados eram verdadeiros. Um dia, quando uma folha caiu na claraboia que havia no teto do quarto, Jack não conseguiu acreditar que se tratava de uma folha, como contou sua mãe, pois a folha na claraboia estava seca e as folhas da televisão eram sempre verdes.

Porém, o conforto de Jack se dilui quando chega aos cinco anos de idade e sua mãe crê que ele já possui idade suficiente para entender a verdade e, até, ajudar num plano de fuga. Quando sua mãe revela que há muito mais atrás das paredes do quarto o pequeno menino não acredita, fica irritado e se volta momentaneamente contra Joy.

A estória em "O quarto de Jack"  dialoga muito de perto com o "mito da caverna",  que corresponde a um tipo de "parábola" criada pelo filósofo grego Platão, entre várias outras que criou, para simplificar alguns de seus sistemas de pensamento quando ensinava na sua academia em Atenas.

Em "o mito da caverna", Platão descreve uma situação onde algumas pessoas se encontram aprisionadas, desde o nascimento, por correntes no interior de uma caverna e de costas para a saída da mesma. De forma  que conheciam o mundo exterior apenas pelas formas das sombras que eram projetadas na parede dos fundos da caverna. Certo dia um dos prisioneiros se liberta e vai explorar o mundo exterior e, posteriormente, volta para contar aos seus companheiros de cativeiro a realidade das pessoas, plantas e animais que eram conhecidos por eles apenas por meio das sombras. Porém, seus colegas não aceitam sua narrativa, pois acreditam apenas na realidade projetada pelas sombras e se voltam contra ele.

Para Platão, todos nós estamos aprisionados dentro de alguma caverna. Ela corresponde ao conjunto de valores aos quais nos apegamos para ver e interpretar o mundo ao redor. A própria cultura, na qual estamos inseridos, constrói as paredes de nossa caverna particular. Somente através do discernimento de que é necessário nos afastarmos de nosso sistema de crenças para analisar um determinado fato com imparcialidade, para chegar à realidade, é que saímos da caverna. E, para tal, a filosofia é ferramenta essencial.

O personagem Jack conseguiu realizar esta passagem de dentro para fora da caverna. Nasceu de novo, como sugere a maiêutica socrática. No início, ele se revolta contra a mãe que desconstrói as suas crenças, mas depois absorve os novos conceitos e ajuda, com sucesso, na fuga do quarto.

Curiosamente, hoje em dia vemos um movimento reverso em relação à caverna, As pessoas andando pelas ruas e não enxergam nada além da tela de sues smartphones. Numa escola que passei havia duas alunas tímidas que ficavam isoladas durante o recreio, mas que conversavam entre si através dos celulares, ainda que estivessem uma ao lado da outra! A internet, que pode ser uma ferramenta de conhecimento, está se tornando mais um elo das correntes que nos aprisionam a todo tipo de discurso extremista. Como diz o professor Cortella, a maioria não navega na internet. Eles naufragam! 

Participe do grupo "prophisto" de História Geral & Brasil no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/


quinta-feira, 20 de abril de 2017

A Escola como espaço de formação capitalista. Pequenas crianças & Grandes negócios.






Um colega publicou numa rede social a foto de material didático que visa orientar crianças de 8 anos, do ensino fundamental I, no sentido de formarem desde jovens uma mentalidade empreendedora como projeto de vida. (A foto enviada do citado livro didático encontra-se no final deste texto)

Não li o material, por isso não posso realizar uma crítica do conteúdo, somente da proposta veiculada no título da obra para inclusão da disciplina em sala de aula. Disseram que o conteúdo traz temáticas que lembram um pouco a antiga "moral e cívica" e dinâmicas que fomentariam a iniciativa e criatividade das crianças. 

Toda forma de incentivar a criatividade das crianças é jovens é muito bem vinda. Porém, preocupa se existir, por trás das boas intenções, um viés político e ideológico. Pode-se tentar orientar a formação de uma geração pouco preocupada com as questões sociais, sem uma percepção de alteridade. Uma geração que veja a meritocracia como única fórmula social a ser perseguida.

A forma como essa discussão vai ser desenvolvida, ainda na infância,. pode levar à criação de uma população alienada quanto aos seus direitos e, principalmente, aos direitos dos próximos. Pois, se o meu projeto de vida depende unicamente do meu mérito empreendedor pessoal, não há que que eu possa cobrar de ninguém. Menos ainda exigir dos governos que façam uma política social adequada às necessidades da maioria da população. Mentalidade que viria bem a calhar quando se tenta excluir políticas sociais, trabalhistas e previdenciárias através de terceirizações e da pejotização.

Interessante, que por conta dos cabelos brancos, posso testemunhar mudanças sociais que afetam o universo infantil. As crianças em décadas atrás eram notavelmente criativas. Usavam botões de paletós para jogar futebol de mesa. Com madeira e alguns pregos construíam um pequeno campo de futebol em tabuleiro. As brincadeiras de bonecas simulavam a vida adulta em inúmeros detalhes. Uma capa e um cabo de vassoura era, muitas vezes, os objetos necessários para encenar os contos infantis. E poderia listar exemplos por muitas laudas. Atualmente, quanto mais o mercado de consumo invadiu o campo infantil, mais tolhido ficou este horizonte criativo. Necessita-se da troca constante de tecnologias para manter as brincadeiras e jogos atuais. O mercado de consumo substituiu a criatividade.

Por isso, fica a pergunta se não seria mais interessante um material que incentivasse a solidariedade e a fraternidade nesses primeiros anos da vida escolar.

Participe do grupo de estudos de história no facebook clicando sobre o link a seguir: https://www.facebook.com/groups/prophisto/

 

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Luta de classes estereotipada no filme "Setembro em Shiraz".


Esta semana a tv fechada iniciou a exibição da película "Setembro em Shiraz". Tendo Adrian Brody e Shohreh Aghdashloo estrelando como protagonistas da estória. Mostra as agruras de uma família judia de classe alta iraniana, moradores na cidade de Shiraz ( que também pode ser grafada como Xiraz ou Chiraz), à época dos acontecimentos que desencadearam a revolução iraniana. O título do filme provavelmente faz uma referência à sexta feira negra, ocorrida em 8 de setembro de 1978, quando o regime do Xá perpetrou um massacre, através do exército, contra os opositores.

O ator Adrian Brody, diga-se de passagem, deve estar resgatando algum tipo de carma cinematográfico ainda não catalogado pelos nossos amigos kardecistas. Pois através de sua trajetória cinematográfica já foi perseguido pelos cruéis nazistas, por um gorila ciumento gigante e, agora, por revolucionários islâmicos ferozes.

O recorte histórico em tela compreendeu a convergência de múltiplos fatores; ou seja, a revolução iraniana foi resultado de um leque multifacetado de motivações que, num dado momento histórico, se convergiram a favor da liderança religiosa do aiatolá Khomeini. Este foi contrario ao, então, governo dos Xás, na época comandado pelo Xá Reza Pahlevi.

Entre os diversos fatores envolvidos na revolução iraniana podemos elencar fatores políticos, religiosos e culturais. A questão política, com a mudança do regime, caindo a monarquia que foi substituída por uma república islâmica. Destaque-se a importante questão religiosa que envolveu este processo, levando o país para uma teocracia. Ainda a tensão no campo da identidade cultural, com a ocidentalização na cultura e costumes por conta da aproximação com os Estados Unidos e Europa promovida pelas políticas do governo monárquico. Por fim, não menos importante, o fator econômico e social que teve na "revolução branca", uma suposta modernização imposta pelo Xá Reza Pahlevi, a desastrosa consequência de arruinar a vida de milhões de camponeses, que precisaram abandonar os campos e migrar em direção às grandes cidades onde houve um intenso processo de favelização.

A visão hollywoodiana de "Setembro em  Shiraz", entretanto, quase que resume este contexto, através da narrativa das falas dos personagens, à questão socioeconômica, com a luta entre classes ocorrendo em meio à revolução. É verdade que no cinema a narrativa não se dá apenas pela oralidade dos personagens. Há uma diversidade de elementos cenográficos propondo narrativas paralelas aos textos das falas. Através da observação destes diversos elementos cenográficos, outros fatores, além do social, são sugeridos ao telespectador mais atento. Por exemplo, logo no início do filme, a festa promovida pelos personagens de Adrian Brody e Shohreh Aghdashloo, em sua pomposa casa, com música de discoteca americana e a postura dos costumes destes personagens e seus convidados, como suas roupas mais "modernas", contrastam com a postura e vestimenta da empregada da casa, que se apresenta de forma mais recatada, indicando as tensões nos costumes entre a população mais apegada aos preceitos religiosos e a elite com maior abertura ao ocidente. Da mesma forma, o pronome de tratamento - irmão - utilizado entre os personagens ligados à revolução denota a forte presença da questão religiosa no processo revolucionário. A política é rapidamente mencionada quando, na prisão, o personagem de Adrian Brody é torturado e interrogado sobre suas supostas relações com o Xá. Porém, o que fica mesmo marcado como justificativa da trama é o enfrentamento entre classes. Sequer o fato de se tratar de uma família judia em meio a uma revolução em país de ampla maioria islâmica se torna um argumento notado.

De fato, a degeneração do tecido social com grande pobreza e altíssimas taxas de inflação foi o principal combustível da revolução.  Esta foi a conjuntura que levou o povo a formar junto aos revolucionários. Não há revolução sem o apoio popular. O apelo popular cria o ambiente para que forças distintas estejam lado a lado na primeira fase da revolução iraniana. Nesta fase, intelectuais islâmicos de esquerda, setores liberais e religiosos fundamentalistas se uniram contra a monarquia de Reza Pahlevi. Num segundo momento, os aiatolás tomam o poder, quando há o afastamento entre esses grupos políticos.

Desta forma, não há problema quando o filme torna a questão social o argumento central do desenvolvimento da trama. Sequer o ambiente de violência seria de se criticar, pois como já disse o historiador Leandro Karnal, em uma de suas muitas palestras, a violência é intrínseca aos processos revolucionários. A manipulação  ocorre quando os principais personagens da trama que sustentam, de início, uma narrativa de luta por justiça social, depois se revelam de moral duvidosa. Fica evidente que agem contra os personagens abastados por questão de revanchismo. Sugerindo a narrativa daqueles que não tiveram competência para se estabelecer e aproveitam a conjuntura para espoliar a propriedade dos que trabalharam duro para vencer na vida por seus méritos pessoais. E o casal que simboliza a elite passa por tudo com muita dignidade e, ao final, ainda mostram um grande gesto de generosidade para com a mãe daquele personagem que fazia o discurso social mas que agia sem princípios, ao doar sua mansão para ela. Este tipo de reducionismo imprime uma mensagem na mente dos telespectadores, que não possuem o conhecimento para fazer o discernimento histórico e crítico da narrativa, que tenta criminalizar o ativismo social.

A revolução iraniana foi uma das mais importantes revoluções populares da história da humanidade. Comparada à revolução francesa e russa, mas pouco estudada em nossas escolas e faculdades. O filme pode ajudar a levantar o debate e o interesse. Mas sempre com olhar crítico para as construções realizadas na tela.

Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/

Referências bibliográficas:

Coggiola, Osvaldo. A Revolução Iraniana. 2.ed. São Paulo: Editora Unesp, 2008.

Demant, Peter. O Mundo Muçulmano.  3.ed. São Paulo: Contexto, 2011.



segunda-feira, 17 de abril de 2017

A Elite que cogita abandonar o país.


Temos lido nos últimos dias, na internet, que alguns empresários teriam afirmado deixar o país caso Lula volte a vencer as eleições presidenciais em 2018.

Acho muito difícil este pessoal que fez fortuna dentro do país abandonar seus negócios para tentar a sorte em mercados muitas vezes mais competitivos e exigentes do que o nosso, como o caso dos EUA para onde a maioria deles deseja residir.

No caso de apresentadores de televisão que também são empresários, por exemplo, não faço a mínima ideia quais tipos de empresas possuem ou se são apenas investidores financeiros. Contudo, acredito que o viés midiático deles teria muita dificuldade de conseguir espaço na televisão norte americana para realizar seus programas. Lembrando, ainda, que o maior sucesso na televisão aberta brasileira, desse perfil de empresário midiático, tratou-se de uma simples imitação do programa original encabeçado pelo Donald Trump nos EUA.  Ou seja, em se tratando de Estados Unidos, foram apenas "o aprendiz" do Trump.

Por isso, comprar casa e residir na Flórida é uma coisa. Transferir sua base de negócios para lá e abandonar a galinha dos ovos de ouro brasileira é algo que duvido bastante. A elite quer viver nos estados unidos e se sentir um pouco americana, mas é aqui que ganham a sua fortuna.

Porém, não precisa do Lula vencer as eleições para essa  nata endinheirada de nossa sociedade postular residir na Flórida e viver seu "sonho americano". Isso já acontece à um bom tempo. Mas sempre deixam um dos pés no Brasil, para garantir a manutenção do território que abastece suas polpudas contas.

Grandes investidores, industriais, comerciantes e artistas milionários possuem casas nos melhores condomínios da Flórida. Por outro lado, nenhum deles abandona o Brasil como centro dos seus negócios. Vivem na ponte aérea. Há apresentadores famosos da tevê que residem por lá e viajam algumas vezes no mês para cá afim de gravar seus programas.

A realidade é que a maioria não conseguiria desenvolver nos EUA os negócios que já consolidaram aqui. Imagine uma famosa cantora e apresentadora infantil tentando investir para lançar um dos seus discos no mercado americano. Creio que seria jogar dinheiro fora, pois lá não são conhecidos do grande público e teriam imensa dificuldade de se tornarem famosos. Ainda mais tendo a competição dos artistas locais e mais o preconceito pelas origens latinas de terceiro mundo.

Pensemos, ainda, no caso de um grande empresário como Silvio Santos, dono de uma das maiores redes de televisão do país. O simpático patriarca do SBT possui sua casa em Orlando, porém jamais suscitou levar sua televisão para solo americano. Dos vários canais americanos podemos tomar a FOX como exemplo. Eles possuem uma estrutura tão forte que são capazes de produzir séries que são distribuídas simultaneamente para o mundo todo. É uma mega estrutura que tornaria a nossa vênus platinada uma empresa de pequeno porte. A televisão do baú, então, seria algo de fundo de quintal perto destas grandes do mercado audiovisual estadunidense.  

Por isso, eles compram suas casas nos chiques condomínios americanos mas não abandonam seus negócios e nem as aparições constantes na mídia brasileira. Os famosos, ainda que passem mais tempo fora, são figuras constantes na nossa imprensa de celebridades. É necessário que suas imagens continuem a circular fortemente dentro do país para manter as janelas de oportunidade.

Isto posto, quando um dos nossos milionários nacionais faz o discurso de que está morando fora mas mantém suas empresas no Brasil, gerando empregos para os brasileiros, trata-se mais da necessidade do que propriamente do nacionalismo. Desta forma, quando um desses bacanas diz que vai abandonar o Brasil, acaba não passando de blefe. Em nenhum outro lugar lograriam ganhar suas fortunas como aqui. Ainda amais na atual conjuntura política em que praticamente rasgatam a CLT precarizando ainda mais as relações de trabalho. Explorar os trabalhadores brasileiros nunca esteve tão fácil

Além do que, a fala deste personagem do nosso mundo midiático empresarial reforça a postura pouco democrática que estes setores da sociedade vêm historicamente demonstrando. Não se ameaça o país caso o seu candidato predileto perca o pleito. Há que se respeitar o resultado das urnas.

Participe do grupo de estudos de história no facebook:
 https://www.facebook.com/groups/prophisto/



domingo, 16 de abril de 2017

A nova hierarquia escolar e a precarização da universidade pública.



De tempos em tempos ocorre uma reorganização de setores sociais conforme vão evoluindo as alterações políticas e econômicas. No Brasil, em regra, essa nova organização é fruto do aprofundamento da concentração de riquezas e o consequente aumento do hiato social entre classes.

Neste sentido, podemos pensar, por exemplo, nas populações rurais, tanto os grandes donos de terra quanto o pequeno agricultor e o camponês sem terra. Era comum, até às primeiras décadas do século passado, em meados de 1920 e 1930, que boa parte das famílias dos abastados fazendeiros ainda morassem na região rural, nas majestosas sedes das fazendas. Conforme avançava para a metade do século, as famílias desses proprietários rurais se deslocam para as cidades, primeiro cidades de médio porte e, depois, para as capitais. Os filhos dos fazendeiros passariam a frequentar os colégios mais tradicionais do país. Posteriormente, caminhando para as décadas finais do século XX, nos anos 80 e 90, acelerando após a entrada do século XXI,  essas famílias passam a dividir sua residência nas grandes capitais do país com casas adquiridas no exterior, na maioria em estados americanos como a Flórida. Esse movimento em direção aos Estados Unidos também é notado no seio familiar de grupos que auferem grandes lucros em outros ramos de atividades, tais como comercial, industrial ou artístico. Por outro lado, boa parte do campesinato sem terra e de pequenos proprietários que acabam engolidos pelos latifúndios, também realizam um movimento migratório para as grandes cidades brasileiras. Contudo, não aproveitarão os benefícios dos grandes centros urbanos. Seus filhos não frequentarão os caros colégios da capital. Esse exército de mão de obra expulso do campo irá adensar as grandes favelas brasileiras.

Desta forma, o campo educacional também foi se reorientando segundo as novas demandas advindas destes movimentos populacionais gerados pelos novos contextos econômicos. Os caros e tradicionais colégios fundados nas principais cidades do país  vieram atender a esta demanda de famílias com grande capacidade financeira concentrada nas melhores cidades e, também, para os filhos de uma classe média mais qualificada geralmente proveniente da burocracia pública. Um grande investimento foi realizado para a construção de universidades públicas de excelência, nas capitais, que atenderiam à demanda desses jovens afortunados A rede escolar pública se organizou para atender à baixa classe média e às camadas mais pobres da população. Para estes, o nível universitário era um sonho distante.

Atualmente, começamos a presenciar uma nova configuração do sistema tomando forma, com mudanças rápidas em todos os níveis da educação.

Surgem, no Rio de Janeiro e São Paulo, colégios estrangeiros, geralmente com sedes na Inglaterra ou EUA, voltados para a nata mais elitizada da nossa sociedade. Trazendo uma grade curricular compatível com a daqueles países e cobrando mensalidades astronômicas por aluno. A maioria das aulas são ministradas na língua inglesa. Dão aos seus alunos a possibilidade de realizar seus estudos colegiais parte no Brasil e parte no exterior, uma vez que as grades são compatíveis. E o mais importante, o objetivo destes jovens estudantes é de realizar sua formação acadêmica naqueles países. As futuras gerações dirigentes do Brasil sairão, muito provavelmente, deste leque de formandos nas universidades britânicas e americanas.

Neste ponto, entra o drama atual das universidades públicas brasileiras. Na época em que foram erigidas houve pesados investimentos para a formação de cursos de excelência porquanto o alvo era atender as necessidades das ricas famílias em dar uma formação de altíssimo nível aos seus filhos. Tanto que sempre foi sabida a dificuldade para um jovem de família pacata ingressar nos cursos das mais afamadas universidades do nosso país. Agora, por outro lado, como o recorte social mais abastado da sociedade está se preparando para tirar o diploma acadêmico no exterior, perde-se a original demanda por uma universidade pública de ponta. Afinal, os setores da alta classe média poderão pagar  por uma universidade privada. E, por isso, também estão surgindo diversos polos universitários privados com boa qualidade de ensino, além das já tradicionais universidades pontifícias da igreja.  As classes médias mais baixas e os setores pobres que desejarem um grau superior acabarão ou em universidades particulares de baixo padrão ou nas precarizadas universidades públicas.

Neste contexto, há que se dizer que poderá ocorrer um ou outro destino para nossas universidades públicas, Numa alternativa se manterão públicas mas com ensino precarizado e os professores passando por um processo de proletarização como já ocorreu com o corpo docente das escolas públicas. Noutra, a privatização das universidades públicas para concorrerem pelos alunos das classes médias mais abastadas.

Hierarquia parecida ocorrerá dentre os diversos equipamentos educacionais à disposição. Os colégios bilíngues estrangeiros recepcionarão o aluno do mais alto padrão financeiro. Os antigos colégios tradicionais acabarão voltados para as classes médias altas. A rede particular mais precária para a baixa classe média. E a rede pública para a grande população em geral e cada vez mais precarizada nas estrutura e no material humano.

Concluindo, o mais dramático que vemos diante deste quadro é a mobilização dos professores das escolas públicas gritando para travar esta engrenagem e exigir condições dignas para trabalhar e formar alunos aptos para o mercado e a vida cidadã. Algo que muitos professores das famosas universidades públicas ainda não conseguiram vislumbrar como um problema deles ou, que ao menos, bate à sua porta. A cereja do bolo é ver a atuação policial descendo a pancada nos professores. Professores, que ao final, estão brigando para oferecer uma educação decente também para o filho do policial. Em regra, os filhos dos policiais fazem parte do corpo discente dos colégios públicos. E o policial bate no professor que está pedindo melhores condições para a educação. No final das contas, o policial está batendo para que a educação continue nesta espiral de degradação e que seu filho não tenha a menor condição de realizar a famosa competição "meritocrática" na futura sociedade brasileira que se avizinha.

Ingresse e participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/ 


A operação lava jato no império romano.






A presente época no Brasil nos traz a "novidade" de que múltiplos políticos dos mais variados partidos tiveram suas campanhas eleitorais regadas por verbas advindas de esquemas escusos. Esse é o suposto objetivo principal da chamada operação lava jato, que constitui um esforço persecutório do judiciário na busca de evidências do uso de caixa 2 nas campanhas.

Usamos o vocábulo "novidade", no parágrafo anterior, por conta da grande mídia e do próprio processo em curso levar o espectador à falsa conclusão que a corrupção para fins eleitoreiros seja algo inédito, que aconteceu da última década para cá.

Segundo as palavras de Emílio Odebrecht, patriarca da família que construiu a grande empreiteira nacional, em vídeo de sua delação, este é um processo que ele tem conhecimento que ocorre a mais de 30 (trinta) anos. E que vários órgãos e, inclusive, a grande mídia tinha conhecimento do que ocorria no submundo das propinas para partidos políticos. 

E, certamente, este tipo de expediente não é novidade para a história.Não é somente nos últimos 30 anos e no Brasil que a política se desenvolve por maneiras ilegítimas.

Na obra "SPQR, uma história da Roma antiga" a autora Mary Beard narra essas mesmas ocorrências tendo lugar nas disputas para cargos eleitorais em Roma. No primeiro capítulo, a autora destrincha os bastidores e consequências de uma disputa entre Cícero e Catilina para a vaga de Cônsul. Catilina perdeu e por estar falido financeiramente teria tentado fomentar uma revolta. Cícero faz a denúncia contra Catilena no Senado, onde ambos realizam um embate verbal. Esta passagem é retratada em obra do célebre pintor italiano Maccari (que pode ser vista no início deste texto). Cicero aparece de pé, ao centro, realizando sua oratória, enquanto Catilina está sentado isolado e de cabeça baixa.

No entanto, é muito interessante ver como a autora descreve a política romana no seguinte trecho:

"Uma campanha eleitoral em Roma podia ser um negócio dispendioso. Por volta do século I a.C. exigia o tipo de generosidade pródiga que nem sempre é fácil de distinguir do suborno. As apostas eram altas. Aqueles que fossem bem sucedidos nas eleições tinham a oportunidade de recuperar seu desembolso, legal ou ilegalmente, por meio de algumas das regalias do cargo. Os fracassados - e, como no caso das derrotas militares, havia mais gente nessa condição em Roma do que geralmente se admite - afundavam-se ainda mais em dívidas."

Assim, ficando evidente que a "lava jato" não traria surpresas unicamente no Brasil da última década !

Ingresse e participe do grupo de estudos de história no facebook: https://www.facebook.com/groups/prophisto/

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Professor Karnal com público discreto em lançamento de livro.





Nesta semana, o famoso professor e palestrante, Leandro Karnal, esteve numa grande livraria do maior Shopping Center da zona sul do Rio de Janeiro para lançamento de sua obra "Pecar e Perdoar: Deus e o homem na história". 

A nota fica pelo aparente baixo público que a noite de autógrafos rendeu. Sempre que estou na capital, passo lá pelo shopping e minha entrada naquela livraria é pausa certa no passeio. Há sempre alguém, no final da tarde e noite, lançando obras e autografando. Já vi aquela livraria com filas enormes de pessoas com o livro na mão esperando a vez para receber a assinatura do autor e tirar uma foto. Isto ocorre, principalmente, com autores voltados para o público mais jovem, que lotam o lugar e fazem até apresentações orais.

Naquele dia, para minha surpresa, ao passar pelos corredores de estantes, avistei mais à frente, no lugar próprio onde fazem esse tipo de evento, uma cabeça que parece sempre se destacar na multidão, ora pelo engenho com que usa as palavras ora pelo biotipo mesmo. Olhei mais atento e conferi que era o notório e midiático acadêmico. Naquele momento, o citado autor também me avistou de longe, talvez pensando que seria mais algum comprador desejoso de momentos de sua atenção. Porém , passei direto para ver se um livro de psicologia, que venho namorando à algum tempo, ainda estava lá na prateleira.

A minha segunda surpresa foi com o baixo público presente em noite com convidado tão conhecido. Pois, como disse, já vi aquele espaço totalmente tomado com seguidores de escritores de obras que nunca ouvi falar. Quando passei pela primeira vez somente havia uma meia dúzia. Os seguranças com aquela cara de sono pela falta do trabalho em organizar a fila de vorazes leitores com seus celulares a filmar e fotografar, como ocorre de costume. Depois, saí da livraria e fui jantar na praça de alimentação, andei pelas lojas, vi uma belíssima escultura do Titã Atlas segurando o globo terrestre. Passado mais ou menos uma hora retornei à livraria e ainda estava lá o professor com uma meia dúzia nas proximidades.

Um público tão discreto para o tamanho da celebridade pode ser explicado, quem sabe, pelo fato dos assuntos acadêmicos e, mais especificamente, filosóficos ainda não constituírem parte integrante do cardápio da maioria dos leitores. Ainda assim, se ao menos alunos dos cursos de história da região tivessem comparecido teríamos uma outra visão de público.

Outra possibilidade seria uma indisposição criada pelo professor em relação a vários matizes ideológicos do público. O citado mestre é notório por se dizer isento ideologicamente, pregar uma total centralidade política. Um dia faz um discurso que contraria a direita conservadora em sua investida contra a liberdade de ensino e, ao mesmo tempo, noutra oportunidade, publica fotos festivas com figuras notórias desse mesmo local social conservador, na já famosa "república de Curitiba".

Andar se equilibrando no muro pode ser uma prática perigosa. Uma das correntes, faz muito tempo, que o etiquetou como comunista. Agora, o outro lado também o vê com extrema desconfiança. Se manter no centro pode ser uma estratégia boa para ficar de bem com todos e, assim, alavancar carreira, vendas e palestras. Mas não é sempre que se manter em cima do muro pode conferir a dádiva de ser recebido em todas as casas.

Em épocas de distensão política e social pode dar certo posar de isento. Por outro lado, há momentos na história de um povo que não dá para ficar em cima do muro. As pessoas precisam escolher sua trincheira, para não receber metralha de ambos os lados. Especialmente, aquelas pessoas das quais se esperam posicionamentos firmes. Talvez, este tenha sido um erro crasso na estratégia do pesquisador. Afinal, dizem que os acadêmicos são homens da biblioteca, dos laboratórios, mas que no corpo a corpo social não possuiriam a mesma inteligência no aspecto interpessoal. Há uma metáfora que contextualiza essa inaptidão do filósofo, que o compara com o condor. O condor é a maior ave que sobrevoa as geladas montanhas andinas. Seu voo é o mais alto e elegante. Porém, quando desce ao chão seu andar é totalmente desajeitado por conta do tamanho das asas.

Um personagem da história dos hebreus que possuía posição privilegiada para ser um "isentão" da época foi Moisés. Aquele líder hebreu viveu como príncipe no Egito. Depois, descobriu suas raízes biológicas nas tendas dos escravos. Poderia, tranquilamente, viver as delícias do palácio e, aos fins de semana, pegar aquele "churrasco de cordeiro" junto  aos seus ascendentes. Contudo, as tensões históricas daquele momento não deixavam dúvidas. Era necessário estar em um dos lados daquela contenda.

Não deixe de se inscrever e participar do grupo de história no facebook:  https://www.facebook.com/groups/prophisto/