O nazista visto como um homem banal e comum foi retratado na obra "Eichmann em Jerusalém", escrita em 1963 pela filósofa alemã, de origem judaica, Hannah Arendt. Adolf Eichmann era tenente coronel da SS e encarregado do transporte de prisioneiros judeus para os campos de extermínio. Após a segunda guerra ele foi encontrado pelo Mossad (serviço secreto israelense) em Buenos Aires e levado a Jerusalém para ser julgado e, posteriormente, enforcado. Hannah Arendt foi enviada como correspondente pelo editor da revista "The New Yorker" para cobrir o julgamento. Durante este processo ela percebeu que boa parte dos alemães que matavam judeus e pessoas de outros grupos minoritários se consideravam tão somente funcionários públicos da burocracia estatal do partido, se vendo e vistos pelos demais como pessoas comuns, chefes de família e cumpridoras de suas obrigações. Os responsáveis por milhares de mortes eram, na maioria, apenas, indivíduos médios. E mesmo boa parte dos oficiais, notadamente os de baixa patente, se tratava de pessoas estúpidas e vulgares que encontramos comumente em nosso dia-a-dia. E que uma vez ocorrida a queda do regime nazista, aquelas pessoas não transmitiam perfil monstruoso ou demoníaco como poderia se supor. Eram pessoas comuns que num dado contexto deixaram se tomar pelo mal que existe potencialmente dentro de cada indivíduo. Contudo, devemos eliminar a possibilidade de uma visão determinista, pois nem toda pessoa que vive num contexto autoritário ao extremo irá se tornar um fascista Há uma relação com a solidez da construção dos valores éticos, morais e a consciência de alteridade de cada pessoa. Outro importante pensador que se debruçou sobre esta temática foi o filósofo alemão, expoente da Escola de Frankfurt, Theodor W. Adorno.
O contexto histórico, tanto para a sociologia quanto para a psicologia social, tem se demonstrado fator importante na questão comportamental. Sempre que há uma escalada autoritária por parte da estrutura estatal, também percebemos uma progressão de comportamento agressivo em parcela da sociedade. A professora Hannah Arendt, ao estudar esta fenomenologia, visualizou, entre outros, dois elementos conceituais: a "banalidade do mal" e "o prazer da instrumentalidade".
Com a "banalidade do mal" a autora se refere às situações em que se relativiza ou contraria os valores éticos e morais e tais ocorrências passam a ser constantes numa determinada sociedade, gerando a percepção que este comportamento foi naturalizado e percebido como algo comum. Neste ponto, as pessoas passam a reproduzir atos reprováveis sem realizar a autocrítica, pois perderam a capacidade de pensar o mundo com o senso de alteridade. Os regimes autoritários criam uma situação favorável para a "banalização do mal", quando pessoas comuns naturalizam o exercício de atitudes reprováveis. Neste sentido, o filósofo Theodor Adorno afirma que todo ser humano é um fascista em potencial.
O conceito de "paixão pela instrumentalidade" se dá quando o sujeito adere a uma "causa" ou "ideologia" e se deixa usar como instrumento para aqueles fins pregados. Neste caso, ele entende que está agindo em nome de outro, de um bem maior, e que seus atos estão, por isso, justificados. Ele não se vê como alguém que está genuinamente praticando o mal, pois está cumprindo ordens e determinações maiores. Esse foi o caso do tenente Eichmann que não demonstrou qualquer pesar ou constrangimento pelos atos praticados em nome do Terceiro Reich. Outro personagem da Alemanha Nazista que demonstrou, em entrevistas, o mesmo padrão de raciocínio foi o comandante do campo de Auschwitz - Rudolf Hoss - que ao ser entrevistado pelo psiquiatra, no tribunal de Nuremberg, não demonstrou qualquer remorso ou drama de consciência pelas milhares de mortes por fuzilamento e nas câmaras de gás. Ele acreditava realmente que não estava vinculado a essas mortes pelo fato de nunca ter matado pessoalmente ninguém, pois nunca atirou com um revólver ou acionou o gás. Ele se considerava completamente isento por ser um burocrata que estava a serviço do Estado como diretor do campo de extermínio. O mesmo padrão ocorreu com várias outras pessoas entrevistadas que estavam ligadas a atos lastimáveis contra a humanidade. E diga-se de passagem que este padrão Não ocorreu somente entre militares graduados, mas com inúmeros soldados rasos e mesmo civis que empreendiam perseguições contra minorias. A questão, aqui,. não é unicamente o indivíduo se encontrar obrigado ou não a realizar determinado ato, mas a condição de que mesmo obrigado não conseguia mais realizar processos de empatia e alteridade. O mal se tornou banal e pode ser empreendido sem qualquer drama de consciência.
No entanto, é necessário salientar que se, de início, o sujeito comete tais atos por conta da banalização do mal e por conta da sua instrumentalidade pelo Estado, em um segundo momento ele começa a sentir o prazer sádico de perceber a possibilidade e o poder de subjugar outras pessoas. Sua capacidade de discernimento moral e ético vai se degenerando na medida em que perdura e avança aquele contexto opressivo.
O contexto histórico, tanto para a sociologia quanto para a psicologia social, tem se demonstrado fator importante na questão comportamental. Sempre que há uma escalada autoritária por parte da estrutura estatal, também percebemos uma progressão de comportamento agressivo em parcela da sociedade. A professora Hannah Arendt, ao estudar esta fenomenologia, visualizou, entre outros, dois elementos conceituais: a "banalidade do mal" e "o prazer da instrumentalidade".
Com a "banalidade do mal" a autora se refere às situações em que se relativiza ou contraria os valores éticos e morais e tais ocorrências passam a ser constantes numa determinada sociedade, gerando a percepção que este comportamento foi naturalizado e percebido como algo comum. Neste ponto, as pessoas passam a reproduzir atos reprováveis sem realizar a autocrítica, pois perderam a capacidade de pensar o mundo com o senso de alteridade. Os regimes autoritários criam uma situação favorável para a "banalização do mal", quando pessoas comuns naturalizam o exercício de atitudes reprováveis. Neste sentido, o filósofo Theodor Adorno afirma que todo ser humano é um fascista em potencial.
O conceito de "paixão pela instrumentalidade" se dá quando o sujeito adere a uma "causa" ou "ideologia" e se deixa usar como instrumento para aqueles fins pregados. Neste caso, ele entende que está agindo em nome de outro, de um bem maior, e que seus atos estão, por isso, justificados. Ele não se vê como alguém que está genuinamente praticando o mal, pois está cumprindo ordens e determinações maiores. Esse foi o caso do tenente Eichmann que não demonstrou qualquer pesar ou constrangimento pelos atos praticados em nome do Terceiro Reich. Outro personagem da Alemanha Nazista que demonstrou, em entrevistas, o mesmo padrão de raciocínio foi o comandante do campo de Auschwitz - Rudolf Hoss - que ao ser entrevistado pelo psiquiatra, no tribunal de Nuremberg, não demonstrou qualquer remorso ou drama de consciência pelas milhares de mortes por fuzilamento e nas câmaras de gás. Ele acreditava realmente que não estava vinculado a essas mortes pelo fato de nunca ter matado pessoalmente ninguém, pois nunca atirou com um revólver ou acionou o gás. Ele se considerava completamente isento por ser um burocrata que estava a serviço do Estado como diretor do campo de extermínio. O mesmo padrão ocorreu com várias outras pessoas entrevistadas que estavam ligadas a atos lastimáveis contra a humanidade. E diga-se de passagem que este padrão Não ocorreu somente entre militares graduados, mas com inúmeros soldados rasos e mesmo civis que empreendiam perseguições contra minorias. A questão, aqui,. não é unicamente o indivíduo se encontrar obrigado ou não a realizar determinado ato, mas a condição de que mesmo obrigado não conseguia mais realizar processos de empatia e alteridade. O mal se tornou banal e pode ser empreendido sem qualquer drama de consciência.
No entanto, é necessário salientar que se, de início, o sujeito comete tais atos por conta da banalização do mal e por conta da sua instrumentalidade pelo Estado, em um segundo momento ele começa a sentir o prazer sádico de perceber a possibilidade e o poder de subjugar outras pessoas. Sua capacidade de discernimento moral e ético vai se degenerando na medida em que perdura e avança aquele contexto opressivo.
Nesta última semana aconteceu um fato (assédio telefônico) com um parente e o atendimento telefônico de uma instituição financeira privada e que me fez lembrar dos escritos da professora Hannah Arendt.
Este parente possui uma conta e uma aplicação de baixo rendimento vinculada à citada conta em uma instituição financeira privada. Tem um bom tempo que ele não movimenta esta conta, pois passou a receber salário em outra instituição e acabou movimentando somente a nova conta e deixando a primeira inativa por muito tempo. Embora seja uma quantia pequena, que nem dá para comprar um carro popular, manteve o dinheiro naquela antiga conta e na aplicação vinculada para o caso de dispor daquela quantia numa emergência.
Acontece que há cerca de dois meses atrás uma pessoa se identificando como gerente "por atendimento telefônico" da conta ligou para este parente para conversar sobre o montante que está parado numa aplicação de muito baixo rendimento e que poderia estar melhor aplicado numa das opções que tinha a oferecer. Fez uma longa explanação sobre diversas modalidades de aplicação e tentou que o meu parente (cliente da instituição) autorizasse que ele ( o gerente telefônico ) realizasse aplicações e investimentos por via telefônica. Após ouvir pacientemente a explanação, o cliente educadamente explicou que não tem o hábito de realizar transações bancárias via telefone e nem por internet. Que ele é muito conservador nesta questões e que se desejasse realizar algum daqueles investimentos que o faria por meio de atendimento presencial na agência de sua conta. O gerente insistiu para realizar a operação via telefone, mas o cliente repetiu que iria estudar as opções mas que só faria qualquer coisa através do atendimento olho no olho (presencial). Porém, naquela semana e nas próximas o cliente passou a receber seguidas ligações do citado gerente que perguntava sempre sobre a aplicação que ele ainda não havia realizado e que poderia ser feita pelo telefone. O cliente atendeu, ao menos, mais 5 ou 6 vezes estes telefonemas sempre com o gerente cobrando a realização do investimento e tentando convencê-lo a fazer pelo telefone. Como este meu parente é muito educado sempre refutou as ligações com toda civilidade e fidalguia. Porém, as constantes ligações alcançavam o limite do constrangimento. Afinal, ele já havia explicado mais de uma vez que não trata destes assuntos por telefone. E, também, o cliente é quem tem que definir se quer ou não fazer determinado investimento ou se está satisfeito somente com o atual. Não é o gerente quem vai determinar as ações dos correntistas. Desta forma, por conta da repetição das ligações sobraram duas opções ao cliente: ou daria uma resposta mais grosseira, por conta da chateação e constrangimento a que estava sendo exposto, ou parava de atender aquelas ligações. Ele adotou a segunda opção. Sempre que ligavam e, por ventura, estivesse em casa pedia que alguém atendesse e dissesse que não se encontrava. Ele entendeu que com este expediente o gerente desistiria e parasse de ligar constantemente.
Porém, o efeito esperado pelo meu parente não se realizou. Ao contrário, as ligações se intensificaram numa verdadeira "tempestade" telefônica ! O que houve, então, foi algo surreal e assustador. Durante a semana passada, em todos os dias, de segunda à sexta, foram dezenas de ligações diárias feitas do referido atendimento para a casa deste meu parente. As ligações aconteciam em intervalos de meia em meia hora, de 15 em 15 minutos e, às vezes, outros ainda menores. Certas vezes atendiam e perguntavam pelo meu parente, outras vezes atendiam e desligavam e em outras oportunidades ficavam mudos no outro lado da linha. De vez em quando pessoa diversa do gerente, com outra voz, é que ligava. Outras vezes parecia que estavam usando algum aplicativo modificador de voz, pois dava pra escutar ao fundo a voz de um homem pronunciando a frase e logo a seguir uma voz de mulher repetindo ipsis litteris o que foi dito. Não adiantava dizer que o meu parente não estava em casa, ou que estava viajando e que regressaria adiante, pois dali em alguns minutos o telefone tocava de novo, e novamente e de novo ! Parecia um ato de revanchismo ou vingança por conta do meu parente não haver mais atendido às ligações. Chegou ao ponto de uma tia com quem tinha pouco contato ligar para sua casa dizendo que do banco "tal" estavam telefonando para a casa dela procurando por ele ! A intenção era obviamente causar um constrangimento.
O mais interessante é que este meu parente não estava devendo nada à referida instituição, nunca ficou com a conta no vermelho; ao contrário, tinha uns bons trocados juntados naquela conta. Contudo, devemos salientar que ainda que fosse o caso de um cliente devedor o banco jamais poderia tomar esta atitude. O Código do Consumidor veda a chamada "cobrança vexatória". Quanto mais fazer este tipo de ação somente porque o cliente não fez determinada aplicação sugerida por um gerente telefônico.
De início, pensou-se apenas que isto era uma ação individual do gerente. Que talvez se tratava de um potencial psicopata investido no cargo de gerente. Contudo, com o passar dos dias resolveu-se empreender uma pesquisa para saber se havia algum precedente a este respeito. E para a nossa surpresa foram encontrados vários relatos idênticos em alguns sites e portais de denúncias e reclamações. A procuradoria do consumidor (PROCON), por exemplo, até criou a expressão "Assédio Telefônico" para definir esta situação. Quem sofre este tipo de assédio pode registrar queixa no PROCON, na delegacia do consumidor, na secretaria de defesa do consumidor do legislativo, registrar na Anatel e, ainda, acionar o juizado especial pedindo indenização por danos morais. O fato é que este tipo de operação viola os direitos à intimidade e à privacidade protegidos pela Constituição Federal de 1988.
Para mim, é ininteligível a razão pela qual uma empresa mandaria executar este assédio contra um dos seus clientes. Então, cabe algumas perguntas. Será que a direção executiva manda e sabe que seus funcionários estão realizando este assédio? Se a direção está ciente qual seria a intenção ? Quando a instituição for estrangeira será que realizam isto no país onde fica a sede ? Será que avaliam que certo perfil de cliente não interessa e, por isso, pretendem que o mesmo encerre o relacionamento com a instituição fechando as contas ?
Não sei as respostas das questões acima. Não sei se é algo que parte de maus funcionários ou da direção. O que se pode dizer é que, seja qual for a razão, se trata de uma atitude totalmente inconsequente. Imagine se fazem isto contra uma pessoa que precisa de tranquilidade em casa para trabalhar e não pode desligar o telefone, pois precisa dele para o trabalho. Causariam danos financeiros a esta pessoa. Imagine, ainda, se realizam este tipo de assédio contra uma pessoa que sofra de algum tipo de transtorno psicológico, como esquizofrenia ou depressão aguda, poderiam provocar um colapso nervoso ou algo mais grave. A avó deste parente, por exemplo, mora na mesma residência e acabou tendo problemas no controle da pressão por conta de acompanhar a situação sofrida pelo neto.
Contudo, fora os casos mais excepcionais, acredito que um dos maiores prejudicados nesse processo é o próprio gerente que se deixa instrumentalizar para empreender o assédio. Constitui a figura do chamado pau-mandado para fazer o trabalho sujo. E neste momento devemos retornar aos ensinamentos da filósofa Hannah Arendt. Assim como os Estados autoritários, as gigantes e bilionárias corporações podem apresentar um contexto extremamente opressor. Não nos esqueçamos que os bancos, no caso do Brasil e outros países subdesenvolvidos, têm o poder de eleger e derrubar presidentes. Essas instituições possuem um volume de recursos maior que a o pib de boa parte dos países. E estes funcionários que apresentam a "paixão da instrumentalização" sob a ideia de "vestir a camisa da empresa" acabam banalizando o mal e praticam abusos ainda maiores do que os exigidos pelos seus supervisores (pois entendem estar protegidos pelo anonimato da linha telefônica e pela força da empresa). Essa gente acaba com a sua estrutura psicológica, ética e moral seriamente comprometida. Muito provavelmente, este tipo de indivíduo será um canalha antiético pelo resto de sua vida. Neste sentido, basta revelar que o tal gerente que assedia o meu parente sequer deu o nome verdadeiro através das conversas telefônicas. Ele apenas forneceu um fragmento do nome, pois já deve estar acostumado a fazer estas canalhices. O meu parente soube o nome correto do sujeito no atendimento presencial que teve na agência. Vou usar outro nome para exemplificar o expediente usado pelo gerente. Imagine que o nome que ele tenha dado ao telefone fosse Miro e, depois, você fica sabendo que o nome correto é Argemiro. Em regra, começam realizando esta conduta a mando de um supervisor hierárquico, mas depois se degeneram e passam a ter o prazer sádico em causar constrangimento aos outros. Por isso, mesmo recebendo ligações em intervalos curtos o melhor é jamais demonstrar que perdeu a paciência ou a educação, pois a ira do cidadão que sofre o assédio é recebida por estes vermes degenerados como uma motivação para continuar. É bem possível que se você xingar o sujeito pela linha telefônica ele ainda irá rir e comentar ironicamente com seus colegas de "trabalho" sobre este "troféu".
Concluindo, após acompanhar este casou também estou chegando à conclusão que a melhor política é sempre que possível realizar qualquer operação ou contrato preferencialmente de forma presencial. Pois o atendimento telefônico possui uma segurança muito frágil para o cliente. Ele sequer sabe verdadeiramente com quem está falando. O funcionário tem todos os dados sobre o cliente em sua tela, mas o cliente não sabe sequer o nome correto e nem pode fazer um reconhecimento facial se ocorrer algo imprevisto.
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Este parente possui uma conta e uma aplicação de baixo rendimento vinculada à citada conta em uma instituição financeira privada. Tem um bom tempo que ele não movimenta esta conta, pois passou a receber salário em outra instituição e acabou movimentando somente a nova conta e deixando a primeira inativa por muito tempo. Embora seja uma quantia pequena, que nem dá para comprar um carro popular, manteve o dinheiro naquela antiga conta e na aplicação vinculada para o caso de dispor daquela quantia numa emergência.
Acontece que há cerca de dois meses atrás uma pessoa se identificando como gerente "por atendimento telefônico" da conta ligou para este parente para conversar sobre o montante que está parado numa aplicação de muito baixo rendimento e que poderia estar melhor aplicado numa das opções que tinha a oferecer. Fez uma longa explanação sobre diversas modalidades de aplicação e tentou que o meu parente (cliente da instituição) autorizasse que ele ( o gerente telefônico ) realizasse aplicações e investimentos por via telefônica. Após ouvir pacientemente a explanação, o cliente educadamente explicou que não tem o hábito de realizar transações bancárias via telefone e nem por internet. Que ele é muito conservador nesta questões e que se desejasse realizar algum daqueles investimentos que o faria por meio de atendimento presencial na agência de sua conta. O gerente insistiu para realizar a operação via telefone, mas o cliente repetiu que iria estudar as opções mas que só faria qualquer coisa através do atendimento olho no olho (presencial). Porém, naquela semana e nas próximas o cliente passou a receber seguidas ligações do citado gerente que perguntava sempre sobre a aplicação que ele ainda não havia realizado e que poderia ser feita pelo telefone. O cliente atendeu, ao menos, mais 5 ou 6 vezes estes telefonemas sempre com o gerente cobrando a realização do investimento e tentando convencê-lo a fazer pelo telefone. Como este meu parente é muito educado sempre refutou as ligações com toda civilidade e fidalguia. Porém, as constantes ligações alcançavam o limite do constrangimento. Afinal, ele já havia explicado mais de uma vez que não trata destes assuntos por telefone. E, também, o cliente é quem tem que definir se quer ou não fazer determinado investimento ou se está satisfeito somente com o atual. Não é o gerente quem vai determinar as ações dos correntistas. Desta forma, por conta da repetição das ligações sobraram duas opções ao cliente: ou daria uma resposta mais grosseira, por conta da chateação e constrangimento a que estava sendo exposto, ou parava de atender aquelas ligações. Ele adotou a segunda opção. Sempre que ligavam e, por ventura, estivesse em casa pedia que alguém atendesse e dissesse que não se encontrava. Ele entendeu que com este expediente o gerente desistiria e parasse de ligar constantemente.
Porém, o efeito esperado pelo meu parente não se realizou. Ao contrário, as ligações se intensificaram numa verdadeira "tempestade" telefônica ! O que houve, então, foi algo surreal e assustador. Durante a semana passada, em todos os dias, de segunda à sexta, foram dezenas de ligações diárias feitas do referido atendimento para a casa deste meu parente. As ligações aconteciam em intervalos de meia em meia hora, de 15 em 15 minutos e, às vezes, outros ainda menores. Certas vezes atendiam e perguntavam pelo meu parente, outras vezes atendiam e desligavam e em outras oportunidades ficavam mudos no outro lado da linha. De vez em quando pessoa diversa do gerente, com outra voz, é que ligava. Outras vezes parecia que estavam usando algum aplicativo modificador de voz, pois dava pra escutar ao fundo a voz de um homem pronunciando a frase e logo a seguir uma voz de mulher repetindo ipsis litteris o que foi dito. Não adiantava dizer que o meu parente não estava em casa, ou que estava viajando e que regressaria adiante, pois dali em alguns minutos o telefone tocava de novo, e novamente e de novo ! Parecia um ato de revanchismo ou vingança por conta do meu parente não haver mais atendido às ligações. Chegou ao ponto de uma tia com quem tinha pouco contato ligar para sua casa dizendo que do banco "tal" estavam telefonando para a casa dela procurando por ele ! A intenção era obviamente causar um constrangimento.
O mais interessante é que este meu parente não estava devendo nada à referida instituição, nunca ficou com a conta no vermelho; ao contrário, tinha uns bons trocados juntados naquela conta. Contudo, devemos salientar que ainda que fosse o caso de um cliente devedor o banco jamais poderia tomar esta atitude. O Código do Consumidor veda a chamada "cobrança vexatória". Quanto mais fazer este tipo de ação somente porque o cliente não fez determinada aplicação sugerida por um gerente telefônico.
De início, pensou-se apenas que isto era uma ação individual do gerente. Que talvez se tratava de um potencial psicopata investido no cargo de gerente. Contudo, com o passar dos dias resolveu-se empreender uma pesquisa para saber se havia algum precedente a este respeito. E para a nossa surpresa foram encontrados vários relatos idênticos em alguns sites e portais de denúncias e reclamações. A procuradoria do consumidor (PROCON), por exemplo, até criou a expressão "Assédio Telefônico" para definir esta situação. Quem sofre este tipo de assédio pode registrar queixa no PROCON, na delegacia do consumidor, na secretaria de defesa do consumidor do legislativo, registrar na Anatel e, ainda, acionar o juizado especial pedindo indenização por danos morais. O fato é que este tipo de operação viola os direitos à intimidade e à privacidade protegidos pela Constituição Federal de 1988.
Para mim, é ininteligível a razão pela qual uma empresa mandaria executar este assédio contra um dos seus clientes. Então, cabe algumas perguntas. Será que a direção executiva manda e sabe que seus funcionários estão realizando este assédio? Se a direção está ciente qual seria a intenção ? Quando a instituição for estrangeira será que realizam isto no país onde fica a sede ? Será que avaliam que certo perfil de cliente não interessa e, por isso, pretendem que o mesmo encerre o relacionamento com a instituição fechando as contas ?
Não sei as respostas das questões acima. Não sei se é algo que parte de maus funcionários ou da direção. O que se pode dizer é que, seja qual for a razão, se trata de uma atitude totalmente inconsequente. Imagine se fazem isto contra uma pessoa que precisa de tranquilidade em casa para trabalhar e não pode desligar o telefone, pois precisa dele para o trabalho. Causariam danos financeiros a esta pessoa. Imagine, ainda, se realizam este tipo de assédio contra uma pessoa que sofra de algum tipo de transtorno psicológico, como esquizofrenia ou depressão aguda, poderiam provocar um colapso nervoso ou algo mais grave. A avó deste parente, por exemplo, mora na mesma residência e acabou tendo problemas no controle da pressão por conta de acompanhar a situação sofrida pelo neto.
Contudo, fora os casos mais excepcionais, acredito que um dos maiores prejudicados nesse processo é o próprio gerente que se deixa instrumentalizar para empreender o assédio. Constitui a figura do chamado pau-mandado para fazer o trabalho sujo. E neste momento devemos retornar aos ensinamentos da filósofa Hannah Arendt. Assim como os Estados autoritários, as gigantes e bilionárias corporações podem apresentar um contexto extremamente opressor. Não nos esqueçamos que os bancos, no caso do Brasil e outros países subdesenvolvidos, têm o poder de eleger e derrubar presidentes. Essas instituições possuem um volume de recursos maior que a o pib de boa parte dos países. E estes funcionários que apresentam a "paixão da instrumentalização" sob a ideia de "vestir a camisa da empresa" acabam banalizando o mal e praticam abusos ainda maiores do que os exigidos pelos seus supervisores (pois entendem estar protegidos pelo anonimato da linha telefônica e pela força da empresa). Essa gente acaba com a sua estrutura psicológica, ética e moral seriamente comprometida. Muito provavelmente, este tipo de indivíduo será um canalha antiético pelo resto de sua vida. Neste sentido, basta revelar que o tal gerente que assedia o meu parente sequer deu o nome verdadeiro através das conversas telefônicas. Ele apenas forneceu um fragmento do nome, pois já deve estar acostumado a fazer estas canalhices. O meu parente soube o nome correto do sujeito no atendimento presencial que teve na agência. Vou usar outro nome para exemplificar o expediente usado pelo gerente. Imagine que o nome que ele tenha dado ao telefone fosse Miro e, depois, você fica sabendo que o nome correto é Argemiro. Em regra, começam realizando esta conduta a mando de um supervisor hierárquico, mas depois se degeneram e passam a ter o prazer sádico em causar constrangimento aos outros. Por isso, mesmo recebendo ligações em intervalos curtos o melhor é jamais demonstrar que perdeu a paciência ou a educação, pois a ira do cidadão que sofre o assédio é recebida por estes vermes degenerados como uma motivação para continuar. É bem possível que se você xingar o sujeito pela linha telefônica ele ainda irá rir e comentar ironicamente com seus colegas de "trabalho" sobre este "troféu".
Concluindo, após acompanhar este casou também estou chegando à conclusão que a melhor política é sempre que possível realizar qualquer operação ou contrato preferencialmente de forma presencial. Pois o atendimento telefônico possui uma segurança muito frágil para o cliente. Ele sequer sabe verdadeiramente com quem está falando. O funcionário tem todos os dados sobre o cliente em sua tela, mas o cliente não sabe sequer o nome correto e nem pode fazer um reconhecimento facial se ocorrer algo imprevisto.
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