quinta-feira, 6 de julho de 2017

Movimentos feministas enfrentam a concorrência das bonecas de silicone.



A revista "Isto É" trouxe curiosa matéria revelando que cresce entre os homens japoneses os casos em que elegem bonecas de silicone para serem suas "companheiras". Elas são chamadas de "rabu doru" que significa bonecas de amor. Contudo, se engana quem pensa que a relação entre proprietários e bonecas se dê unicamente no plano da simulação sexual, como acontecia com as antigas bonecas de inflar. Pesquisadores apontam que há uma transferência afetiva do homem para a boneca inanimada. Com a tecnologia atual as bonecas de silicone possuem um alto grau de perfeição física e apresentam uma textura compatível com a da pele humana. O que não justifica que homens se fechem a um relacionamento onde há uma troca verdadeira de sentimentos e emoções por um simulacro de relacionamento.

A questão vem merecendo a atenção de diversos pesquisadores acadêmicos. Uma das principais estudiosas do fenômeno é a antropóloga francesa Agnès Giard, que é especialista na temática das representações sexuais relativas ao corpo e ao afeto, especialmente no Japão Ela publicou as obras Dictionnaire de l’amour et du plaisir au Japon (2008) e Les Objets du désir au Japon (2009). Encontrei o perfil da professora Agnès no facebook, cujo link deixarei ao final do texto para quem tiver interesse.


As matérias jornalísticas fundamentam esta ocorrência na suposta solidão masculina de recortes sociais como pessoas idosas e deficientes físicos. Contudo, não dá para deixar de pensar na falta de maturidade de homens que não conseguem administrar uma relação verdadeira, entre iguais. A boneca de silicone é a "companhia" ideal para quem deseja alguém submisso e com vontade completamente anulada.

Aliás, conseguir a harmonia na relação entre iguais tem sido o desafio deste nosso milênio, mesmo após muitos anos de lutas feministas que vêm desde o século XIX. Ainda hoje a maioria dos homens não estão preparados para compreender a igualdade entre homens e mulheres e se beneficiar do prazer de ter uma companheira no verdadeiro sentido da palavra, e não apenas uma pessoa oprimida às suas vontades. Que é uma luta empreendida pelas mulheres desde a revolução francesa.

Devemos sempre relembrar que na história da humanidade sempre se realizaram construções culturais que tentaram colocar a mulher numa posição muito parecida com as das bonecas de silicone japonesas. Na antiga Grécia a democracia estendia direitos políticos somente aos homens, enquanto as mulheres tinham seu lugar apenas na casa com os afazeres domésticos e cuidando do marido e filhos. No período medieval o corpo da mulher é identificado com o pecado, quando muitas mulheres foram queimadas nas fogueiras. A revolução francesa declarava a igualdade entre todos os homens, porém as mulheres só conquistaram o direito ao voto no início do século XX com os movimentos sufragistas. O capitalismo industrial colocou, e ainda coloca, a mulher em plano desigual perante a mão de obra masculina. É curioso que em pleno século XXI, as reformas trabalhistas brasileiras pretendem tirar algumas conquistas das mulheres trabalhadoras.

A própria academia foi atingida por muitos anos pela cultura patriarcal e machista. Visto que a história interpretada pela perspectiva feminina é algo recente na produção acadêmica.

Desta forma, a indústria das companheiras de silicone mais parece uma reação à luta histórica das mulheres. Homens despreparados para a igualdade de condições buscam nas suas bonecas a manutenção de uma ordem social que não se sustenta mais na realidade.

Aliás, isto me lembra um artigo que desmistificava a noção de "mulher exótica" das brasileiras que eram procuradas por europeus para casamento. Na verdade, estudos indicaram que homens europeus que não conseguiam lidar com as mulheres europeias, que têm uma tradição feminista e de independência de muito mais tempo e culturalmente consolidada, procuram em brasileiras e orientais o perfil conservador de mulher que aceita uma relação de submissão. 

Tudo bem que a boneca de silicone não quer fazer D.R. durante a partida do Fluminense na TV, que não usam aquelas terríveis máscaras de abacate,  não envelhecem, não reclamam das suas idiotices, não sentem dor de cabeça, não ficam com tpm, não precisam do trigésimo par de sapatos, estão sempre com aquela cara amigável de paisagem e etc. Mas alguém acha que essas bobagens são realmente importantes? Pensando bem, onde é que eu COMPRO a minha ??!!!
Brincadeirinha!

Na verdade, "comprar" uma companheira é o verbo que transmite bem a base da noção machista de relacionamento homem e mulher. 

Página da antropóloga Agnès Giard:
https://www.facebook.com/agnes.giard.1

Participe do grupo "prophisto" de História Geral & Brasil no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/



Um comentário:

  1. Existe muito mais coisas por tras que o que foi dito.
    O dito "mercado sexual" é desleal.
    E bom, os caras que estão fora desse "mercado" por exclusão durante a juventude toda so tinham duas escolhas.
    1- esperar que as mulheres ficassem menos exigentes quanto status/aparencia. E acabasse tendo assesso apenas à velhas acabadas na farra com longo historico e com filhos de relacionamentos fracassados enquanto ele nao teria nenhuma ou pouquissima experiencia.
    O que é uma desvabtagem. Infelizmente muitos caras a maioria idealizam que so podem ser feliz se tiver uma mulher. Perseguem a validaçao social e isso é muito perigoso.
    2- voluntariamente desistir dos relacionamentos e seguir a vida sozinho.

    As dolls sao uma terceira opçao. Muito vadida por sinal.

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