quarta-feira, 26 de julho de 2017

A diretora respondeu ao arqueólogo que a escola não estava interessada em "coisas de índio".


O canal brasileiro do portal de notícias alemão Deutsche Welle trouxe um entrevista com o arqueólogo Carlos Augusto da Silva, que é pesquisador e doutor em arqueologia na Universidade Federal do Amazonas (UFAm). Carlos Augusto descende de índios que ocupavam a região e seu pai é carpinteiro. Contudo, apesar das dificuldades conseguiu completar a graduação em arqueologia e trilhar carreira acadêmica que daria condições de realizar o seu sonho de desvendar os segredos escondidos na floresta amazônica.

Ele contou ao repórter que diferente do que se pensou por muitos anos, a Amazônia brasileira também esconde sítios arqueológicos referentes a civilizações que ali se estabeleceram. Contrariando a visão que somente na Amazônia peruana existiram estruturas urbanas de povos pré colombianos.

O problema principal, como sempre, é a falta de investimentos adequados no setor de pesquisa e educação. A arqueologia nacional vive com pouquíssimos recursos. Carlos Eduardo contou que está pesquisando em um sítio que fica exatamente onde está um terminal de ônibus. Ao lado deste local existe um colégio. O arqueólogo se apresentou à diretora propondo realizar uma palestra aos alunos sobre os achados arqueológicos no sítio vizinho. A diretora respondeu que a escola não está interessada em "coisas de índio".

Não sei se a diretora disse exatamente nesses termos, mas não me surpreendo nem um pouco se proferiu ipsis litteris este absurdo. Não é sequer por falta de conhecimento ou ignorância, mas falta de vontade em organizar uma palestra para todos os alunos. É o tipo de coisa que dá algum trabalho. Desde pesquisar as referências do palestrante até mudar a rotina das aulas para o evento. E tem muita gente de má vontade e sem amor à profissão por aí.

No entanto, quando se trata de organizar festas que não são próprias do calendário cultural brasileiro, parece que vem sobrando disposição. Noutro dia, divulgamos aqui no blog o texto de um colega que vem percebendo que várias escolas vem festejando o halloween  e deixando de realizar eventos referentes ao nosso folclore nacional e aos temas indígenas. Com isto, vamos perdendo os elementos multiculturais de nossa identidade nacional.

Assim, não é de se assustar com o resultado de uma pesquisa realizada pelo instituto britânico Ipsos Mori que revelou ser o Brasil o terceiro país mais ignorante sobre si mesmo !

Artigo sobre o Halloween estar mais festejado que o nosso folclore e o índio nas escolas brasileiras:
http://fahupe.blogspot.com.br/2017/05/colonizacao-cultural-quando-escola.html

Sobre a pesquisa do instituto britânico Ipsis Mori:
https://pensadoranonimo.com.br/povo-brasileiro-e-o-terceiro-mais-idiota-do-mundo-revela-estudo-britanico/

Entrevista com o arqueólogo Carlos Augusto da Silva:
http://www.dw.com/pt-br/p%C3%A9-na-praia-o-arque%C3%B3logo-do-terminal-de-%C3%B4nibus/a-39839628

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2 comentários:

  1. Sou historiador e compreendo bem essa realidade, pesquiso sobre a Capoeira e escravidão urbana e passo por isso quase todos os dias quando falo do meu trabalho. As pessoas falam "que legal pena que as escolas não valorizam esse tipo de pesquisa". Nem por isso deixo de produzir, meu trabalho trouxe enorme compreensão acerca do que sou e meu lugar no mundo e vejo as escolas que não cumpre esse papel implantando de forma brutal o desconhecimento acerca de suas realidades as custas do valorizar a "história mundial" sem conhecer a história latino americana. Estudamos mais a guerra civil espanhola que os processos de independência Latino Americano, isso nos cega acerca de nós mesmos e torna escolas em deposito de crianças esperando ter idade para ocupar presídios.

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  2. Triste,mas é a realidade brasileira!
    Nós,pais, avós, educadores e a sociedade,não podemos nos calar e participar cada vez mais das instâncias rescisórias, fóruns e conselhos onde pautamos nossas demandas p que sejam implantadas políticas públicas.

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