sexta-feira, 21 de julho de 2017

Capitalismo selvagem e privatizações conseguiram transformar os mortos em consumidores.



O capital sempre necessita de uma área nova para explorar, sob pena de haver estagnação econômica. Essa nova área pode ser literalmente um espaço geográfico novo, que não era alcançado pelo grande capital, ou uma atividade que antes não era dominada mas que passa a sofrer dominação da economia de mercado.

Um exemplo clássico da competição capitalista por novas áreas de influência foi o processo de colonização efetuado no continente africano e na Ásia entre 1880 e 1914, que acabou precipitando a primeira guerra mundial. Esta foi notadamente uma guerra pela expansão de áreas de influência econômica (como a maioria das guerras, na verdade).

No entanto, como o globo terrestre é geograficamente limitado e  ainda não foram encontrados outros planetas habitados para explorar seu mercado, mão de obra e recursos naturais; então, para que haja a contínua expansão dos mercados dentro de um sistema fechado é necessário que o capital se debruce sobre novas áreas de atuação que antes não estavam sob a lógica do mercado. Uma das formas de se fazer isso é através do investimento em inovações. Por exemplo, a invenção do computador pessoal e programas como o Windows e a internet criaram um novo mercado que faz girar muito dinheiro. A outra forma é o capital pressionar os Estados para que retraiam sua atuação social e em áreas estratégicas e as deixem para a exploração privada. Neste ponto que surgem as tão famosas e decantadas privatizações.

Há muito tempo temos ouvido na grande imprensa várias vozes que asseveram que nossas vidas e a qualidade dos serviços melhorarão bastante se vários destes serviços prestados pelo governo passarem para a iniciativa privada. Nesta lógica, empresas como as telefônicas, a Embratel, a Vale do Rio Doce e muitas mais foram vendidas a grandes grupos privados de investimento. Não podemos nos esquecer da precarização das universidades públicas e da previdência social, que tem o mesmo objetivo.

Uma das últimas atividades privatizadas na cidade do Rio de Janeiro foi a administração dos cemitérios. E para a surpresa das famílias que têm seus entes queridos enterrados, todos estão sendo convocados pela empresa particular que venceu a licitação para fazer um cadastro dos jazigos, nichos e ossários para fim de cobrança anual de até R$500,00 por conta da manutenção dos mesmos. Assim, além das verbas de enterro, cremação, repasses do governo entre outras; agora, irão arrecadar cerca de 33 milhões de reais ao ano, segundo matéria do jornal O Dia, por transformar o cemitério numa espécie de condomínio. Muito provavelmente, mais para a frente a anuidade se tornará mensalidade. Acontece, que as famílias quando adquiriram seus jazigos (o mesmo para os nichos e ossários) já pagaram muito caro para que, justamente, ficassem perpetuamente com a família sem necessidade de novos pagamentos. Porém, toda a relação contratual anterior foi jogada fora e a nova administradora, privada, poderá "despejar" os entes das famílias que não aceitarem pagar à nova empresa pelo que já pagaram no passado.

Do jeito que a coisa vai, ninguém mais poderá dizer: "Descanse em paz" !

Matéria do Jornal O Dia sobre a privatização e cobrança nos cemitérios:
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-07-20/cemiterios-vao-cobrar-de-proprietarios-taxas-de-ate-r-500-pelos-jazigos.html

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