terça-feira, 18 de julho de 2017

Partido da Ciência: após cortes nas verbas, pesquisadores brasileiros cogitam fundar legenda em prol da pesquisa científica.


O governo federal, em 2017, realizou corte de 44% das verbas para a pesquisa científica. O montante aplicado em ciência caiu drasticamente quase que pela metade, foi de 15,6 bilhões para 8,7 bilhões. Esses dados foram veiculados pelo programa Fantástico do dia 16/07/2017, na rede Globo de televisão. Segundo os diretores dos diversos centros de pesquisa do país a produção científica fica inviabilizada com este patamar de investimento tão baixo. 

Atualmente, a verba destinada à pesquisa teria que atender aos centros de pesquisa e cerca de 300 mil pesquisadores. Os resultados da falta de investimentos são diversos laboratórios fechando as portas. A manutenção da tecnologia é cara e muitos equipamentos estão parados. Em alguns locais de pesquisa já haveria falta de água e luz.

O mais alarmante é a grande quantidade de pesquisadores que, para não ter suas pesquisas paralisadas, estão saindo do país para dar continuidade a seus trabalhos em instituições estrangeiras. A crise das universidades também contribui para a saída em massa dos principais cérebros. Estima-se que o Brasil vivenciará nas próximas décadas um blecaute de inteligência. O último que ocorreu foi durante o período militar, quando vários nomes importantes da academia se retiraram forçosamente do país.

Neste sentido, na última reunião congressual do SBPC ganhou força, entre vários pesquisadores, a ideia de se criar uma legenda partidária para concorrer a cargos legislativos com o programa de defesa dos interesses científicos nacionais.

O diretor científico da Fapesp, por outro lado, defende que o ideal seria ter cientistas se candidatando pelos diversos partidos já existentes. Porém, acredito que essa experiência já existe e não deu certo. Há deputados e senadores que saíram do meio acadêmico e que mesmo assim votam pela aprovação de leis que não são do interesse da educação e da ciência. Faz-se necessário que o político esteja sob a orientação partidária para não se perder e se deixar cooptar por outros interesses.

O ,problema de um "Partido da Ciência" é que não sabemos qual seria seu comportamento frente a outros temas socialmente importantes. Como se comportaria a bancada da ciência na votação de leis que representem o avanço das desigualdades sociais? Há pesquisadores de todos os matizes de pensamento político e ideológico. Certamente, existem aqueles que olham a ciência tal qual o homem de finanças, visando tão somente a questão financeira. Assim, tal partido poderia degenerar para uma representação unicamente corporativa. A ciência, por si só, não é boa nem ruim. Ao mesmo tempo que ela cura doenças, também pode produzir pensamentos preconceituosos como a eugenia.

Concluindo, não sabemos se esta experiência poderia dar certo ou acabaria em apenas mais uma agremiação política sem qualquer vinculação ao ato de sua fundação e ao seu programa. Contudo, como diz um dos deputados mais votados do Congresso: pior do que tá não fica!

Eu até proponho o seguinte slogan:

SE VOCÊ JÁ PERDEU A PACIÊNCIA,
VOTE PARTIDO DA CIÊNCIA !

Matéria do Fantástico sobre os cortes para a pesquisa científica:

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Um comentário:

  1. A luta maior deveria ser o reconhecimento em lei da profissão do pesquisador científico. A pesquisa NÃO É apenas um estudo, é uma atividade laboral, pois atende aos 4 requisitos que configuram a relação trabalhista. Essa luta depende apenas dos pesquisadores, pois ela não interessa às universidades porque elas teriam que fazer concurso, não interessa à CAPES/CNPq e demais fundações de "fomento" porque teriam que pagar salários ao invés de bolsinhas miseráveis e não interessa ao corporativismo aristocrata dos professores doutores porque estes perderiam o monopólio do exercício da pesquisa científica remunerada com salário, pois uma vez reconhecida a profissão do pesquisador científico, nenhum título acadêmico poderá exercer a reserva de mercado da profissão.
    É sempre necessário relembrar o ÓBVIO: para incentivar a pesquisa, é preciso incentivar quem faz a pesquisa. Ou seja, é necessário dar garantias trabalhistas e total proteção da propriedade intelectual aos pesquisadores. É assim em qualquer profissão.
    Diversos tipos de pesquisadores já estão na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), que é um passo importantíssimo para a tipificação da profissão em lei específica. O próximo passo é a vontade política.
    A CAPES, o CNPq, a instituição de ensino e o professor-orientador do pesquisador bolsista tentam usar contra o pesquisador bolsista os argumentos escravocratas de que a pesquisa depende de resultado para tenrarem justificar as ameaças de cancelar a bolsa no meio do contrato ou fazer o pesquisador devolver a bolsa ao final do contrato. MAS TODAS as atividades laborais dependem de resultados (médicos, advogados, arquitetos, pecuaristas, etc) e nem por isso eles precisam devolver seus pagamentos após o término do serviço. Quanto a CAPES e o CNPq decidem contratar o bolsista eles estão ASSUMINDO O RISCO inerente à atividade de pesquisa, assim como está assumindo um risco qualquer um que contrata um profissional para executar uma tarefa.
    A maior parte da pesquisa científica feita no Brasil é realizada por bolsistas de pós-graduação.
    A EMBRAPII, Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, uma empresa federal 100% pública, foi criada para cobrir boa parte dos riscos do capital privado quando este adota na prática os resultados de pesquisas científicas criadas nas universidades públicas. OU SEJA: na hora de incentivar com verba pública o capital privado a usucapiar a pesquisa científica está tudo certo, MAS NA HORA de incentivar o pesquisador em si, este só pode viver de bolsa e deve fazer voto de pobreza para a CAPES/CNPq ao prometer não ter outras rendas diferentes da bolsa.
    Portanto, apenas pedir mais dinheiro para a ciência não pode ser considerado uma CAUSA, e sim uma REIVINDICAÇÃO CORPORATIVISTA, pois é um pedido de dinheiro que atenderá apenas à casta de professores-doutores concursados e que não se dedicam integralmente à pesquisa, pois também devem dar aulas. OU SEJA: a profissão de professor exerce o monopólio preguiçoso sobre a profissão de pesquisador.

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