Originalmente, a palavra idiota foi cunhada pelos gregos para se referir àquelas pessoas que se diziam apolíticas, que não queriam participar da vida política na pólis, não compreendendo que a política determinava o rumo de suas vidas. A estes os gregos chamavam de idiotas. Vamos utilizar o sentido mais empregado atualmente, que se refere a gente grossa, estúpida e mal-educada. Aquele sujeito, por exemplo, que fura a fila se achando melhor que os outros ou aquele que diminui e humilha os demais porque acredita possuir de maior cabedal intelectual. A estes, também comumente chamamos idiotas. Neste sentido, é uma questão que resvala para o campo da moral.
Esta abordagem me faz lembrar um debate que tive com uma das minhas tias, durante uma ceia natalina, sobre a educação formal como determinante para o aperfeiçoamento moral dos cidadãos. Ela acredita na educação formal como ferramenta essencial para alcançar este resultado. Devo dizer que sua crença dialoga intimamente com sua história de vida. Formou-se em pedagogia e foi quase que a vida toda, até a aposentadoria, diretora em escola pública. E no plano religioso é uma espírita militante, que mesmo idosa continua com seus afazeres e proferindo palestras na seara espírita. Crer que a educação formal é determinante na lapidação moral, para ela, é também justificar seus esforço de vida a frente de um colégio público cuja clientela era formada por crianças de famílias pobres de um bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Enquanto que o espiritismo tem seus fundamentos filosóficos, concebidos por Allan Kardec, centrados nas teses positivistas do final do século XIX e início do século XX. "Evoluir sempre e retroceder jamais" é um dos pilares da crença espírita. Deste modo. a formação educacional deveria levar o indivíduo a uma posição moral elevada. Quanto mais cultura melhor a formação moral.
Esta construção conceitual, acima descrita, nunca me pareceu uma regra geral. Pois isso não explica quando encontramos pessoas na academia que possuem notórios vícios de caráter. E, por outro lado, gente muito humilde tanto econômica como culturalmente mas que no trato diário demonstra elevado espírito humano.
Vi muitos universitários ingressarem no início do curso com toda sorte de atitudes idiotas, estúpidas, canalhas, fascistas e ao final do curso não ter havido mudança significativa. Entrou um idiota e saiu um idiota ilustrado, um canalha e saiu um canalha ilustrado, um fascista e saiu um fascista ilustrado, assim por diante. A pedagogia e a psicologia da educação têm avançado muito no estudo dos processos cognitivos atinentes à relação ensino e aprendizagem. Contudo, ainda há um universo desconhecido sobre o que pode transformar em essência o ser humano.
Estava assistindo a um vídeo do professor Sílvio Luiz de Almeida, doutor em filosofia pela USP, que abordava sobre a ingênua crença que muitas pessoas têm de que o judiciário é isento e independente. Para o professor, todos os golpes no país tiveram as digitais do poder judiciário impressas em suas páginas. E lembrou que esta importante instituição sempre esteve ao par de lamentáveis episódios para a humanidade. Asseverou, por exemplo, que o nazismo só foi possível por conta da existência de juízes nazistas e que a escravidão, também, contou com a chancela de magistrados escravistas que tratavam o cativo como um bem semovente. Que, geralmente, as vozes críticas vinham de fora da instituição. Na escravidão, boa parte dos abolicionistas eram poetas e escritores que levavam vida pouco glamourosa e muitos morriam jovens pela tuberculose. Não foi diferente com os demais locais de fala institucionalizados, como o executivo, o legislativo, as igrejas e a universidade. Não nos esqueçamos que àquele tempo a academia discutia a eugenia e a hierarquia entre as raças.
Porém, é necessário que continuemos acreditando na educação como um importante instrumento de retificação social. Caso contrário, nós que acreditamos na universidade como espaço para desenvolvimento da percepção crítica da realidade acabaremos sendo os idiotas, no sentido dado ao ingênuo príncipe Míchkin do romance de Dostoiévski. E neste caso, nosso lugar não seriam mais a academia, mas o sanatório.
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Estava assistindo a um vídeo do professor Sílvio Luiz de Almeida, doutor em filosofia pela USP, que abordava sobre a ingênua crença que muitas pessoas têm de que o judiciário é isento e independente. Para o professor, todos os golpes no país tiveram as digitais do poder judiciário impressas em suas páginas. E lembrou que esta importante instituição sempre esteve ao par de lamentáveis episódios para a humanidade. Asseverou, por exemplo, que o nazismo só foi possível por conta da existência de juízes nazistas e que a escravidão, também, contou com a chancela de magistrados escravistas que tratavam o cativo como um bem semovente. Que, geralmente, as vozes críticas vinham de fora da instituição. Na escravidão, boa parte dos abolicionistas eram poetas e escritores que levavam vida pouco glamourosa e muitos morriam jovens pela tuberculose. Não foi diferente com os demais locais de fala institucionalizados, como o executivo, o legislativo, as igrejas e a universidade. Não nos esqueçamos que àquele tempo a academia discutia a eugenia e a hierarquia entre as raças.
Porém, é necessário que continuemos acreditando na educação como um importante instrumento de retificação social. Caso contrário, nós que acreditamos na universidade como espaço para desenvolvimento da percepção crítica da realidade acabaremos sendo os idiotas, no sentido dado ao ingênuo príncipe Míchkin do romance de Dostoiévski. E neste caso, nosso lugar não seriam mais a academia, mas o sanatório.
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