quarta-feira, 7 de junho de 2017

Harvard, investigação social e se tudo der errado ?



O jornal "The Harvard Crimson" publicou que ao menos dez alunos tiveram suas inscrições revogadas na famosa universidade de Harvard por conta de compartilharem, em grupos de internet, material considerado impróprio pelo setor de admissão da instituição.

Parece que a universidade mantém uma rede social oficial para que seus alunos encontrem outros colegas que possuam as mesmas afinidades em pesquisas acadêmicas. Contudo, alguns destes alunos criaram um outro grupo, não oficial, para trocas de memes e outras postagens consideradas abusivas e preconceituosas. Entre elas haviam mensagens zombando de abusos sexuais, do holocausto, de assassinato de crianças, pedofilia, etc. Este material chegou ao conhecimento do setor de admissão que excluiu os alunos que iniciariam no primeiro ano da academia mas que estavam envolvidos nesta questão.

Acontece que o processo de admissão nas famosas universidades americanas e inglesas é bem diferente da forma como se ingressa nas universidades brasileiras. No Brasil, basicamente o ingresso se resume ao processo seletivo pelas provas do ENEN ou por exames vestibulares. Em Harvard, por exemplo, também se leva em conta o resultado numa espécie de ENEN americano que é o Scholastic Assessment Test (SAT), mas não apenas isto. Também se leva em conta as notas do aluno em todo o ensino médio. É necessário que o aluno esteja entre os melhores de sua escola. Prêmios que o aluno ganhou durante sua vida escolar são importantes, como olimpíadas de conhecimentos. Precisa de cartas de recomendação dos diretores de sua instituição de ensino médio. As atividades sociais extracurriculares com as quais se envolveu, durante o ensino médio, são objeto de análise. E, ainda, passará por uma entrevista E, se for candidato a bolsa, ainda passará por uma investigação financeira. Ou seja, no final trata-se de uma grande investigação social e financeira.

Tudo isto para ter a certeza que o corpo docente será altamente capacitado a desenvolver os projetos solicitados durante o curso e, também, que seus alunos possuam um perfil adequado para representar a fidalguia da instituição na vida social futura.

Por outro lado, foi amplamente noticiado que um importante colégio de classe média alta, no sul do Brasil, sediou uma festa promovida pelos alunos, que recebeu o nome "se tudo der errado". Neste evento usaram uma série de "fantasias" de trabalhadores de baixa renda, como se fosse um desprestígio aquelas profissões.Não vamos entrar na questão da visão social distorcida destes alunos, pois já foi amplamente discutido nas redes, mas a principal questão é a instituição de ensino ser, ainda que somente oferecendo o espaço para a festa, promotora de um evento que reforça preconceitos e estereótipos.

Se, por um lado, as importantes universidades americanas estão preocupadas com os danos causados à instituição pelas mensagens passadas pelos seus alunos, a mesma coisa não ocorre nas instituições de ensino brasileiras. Não vamos nos esquecer que a pouco tempo outra escola realizou um encontro temático sobre regimes totalitários quando a escola foi toda enfeitada com símbolos nazistas. Provavelmente, as fotos da festa "e se tudo der errado" não cairiam bem naquele processo seletivo realizado por Harvard.

Contudo, devemos realizar algumas ponderações críticas a respeito do processo de admissão que leva em conta a investigação social dos alunos. Seria interessante adotar este sistema no Brasil ? Isto levaria aos alunos do ensino médio ter maior responsabilidade em suas condutas? Ou acabaria servindo a uma forma de  "higienismo" na admissão para o corpo docente das universidades?

Sem dúvida que aquele aluno que tem interesse em ingressar nas principais universidades do país teriam maior cuidado em não se envolver em fatos que possam desabonar seu ingresso naquelas entidades. Porém, a conduta social deve ser algo natural, da consciência do indivíduo, e não por medo de  consequências em futuros processos de seleção. E se o aluno teve problemas de conduta, talvez o melhor não seja excluí-lo da universidade. Ao contrário, constitui uma ótima oportunidade para trabalhar os alunos que mais necessitam de uma formação mais sólida.

E acreditamos que a investigação social acaba constituindo uma forma de "apartheid", pois quase sempre os alunos provenientes das camadas mais populares estariam mais sujeitos a serem eliminados. Ainda que um aluno proveniente de um bairro pobre conseguisse superar a barreira da sua formação mais fraca e conseguir notas nas provas de admissão, este aluno e sua família estaria mais propensa a ter se envolvido em problemas devido ao contexto social de vida. Desta forma, ainda que o aluno conseguisse a nota, as outras avaliações serviriam de um filtro social para garantir o espaço universitário aos "bem nascidos".

No Brasil, uma investigação social para ingressar na universidade seria desastrosa. Contudo, não devemos nos esquecer que nos EUA todas as instituições de ensino superior são privadas. Como não são instrumentos de uma política pública de educação, podem se basear unicamente na "meritocracia'.

Participe do grupo "prophisto" de história geral & Brasil no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/ 


Nenhum comentário:

Postar um comentário