quinta-feira, 15 de junho de 2017

A arqueologia urbana e o sítio de São João Marcos.

(ruínas da igreja matriz de São João Marcos)

Muitas pessoas visualizam o trabalho dos arqueólogos unicamente em paisagens isoladas ou hostis. Como os acampamentos que são realizados em regiões de selva ou nas areias desérticas. Contudo, a arqueologia também é realizada no meio urbano. Nas obras realizadas para a revitalização de espaços no centro da cidade do Rio de Janeiro, por conta dos jogos olímpicos, vimos intenso trabalho arqueológico em sítios que brotavam a todo instante. Bastava quebrar uma calçada ou tirar o asfalto de uma das ruas principais que se deparavam com os testemunhos físicos de outras épocas em que as pessoas habitavam e se relacionavam de forma peculiar no mesmo espaço.

O arqueólogo estadunidense Edward Staski definiu a arqueologia urbana como "o estudo das relações entre cultura material, comportamento humano e cognição num assentamento urbano". A interpretação dos vestígios arqueológicos urbanos são capazes de mostrar como o mesmo espaço foi utilizado nas diversas fazes daquele mesmo aglomerado urbano e como estas diversas épocas dialogam ente si na construção do que temos e vivemos agora.

No tocante à arqueologia urbana, ainda podemos acrescentar as palavras da arqueóloga, formada pela FURG, Maritza Dode: "Este tipo de Arqueologia é capaz de trazer à tona indícios da complexidade de construção de uma cidade, onde diferentes etnias, grupos socioeconômicos, políticos e religiosos, onde diferentes ideias e ideais conviveram ao longo do tempo. É, assim, capaz de despertar nos indivíduos que habitam a cidade uma reapropriação de sua própria história e de seu patrimônio, proporcionando uma nova relação com espaços cotidianos".

Contudo, nem sempre a arqueologia urbana se dá exatamente no meio urbano atual. Pode ocorrer de se realizar esta atividade sobre os vestígios de uma localidade urbana que foi abandonada ou, por outro motivo, demolida. Este é o caso do sítio arqueológico de São João Marcos, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Neste local houve um esforço do setor de arqueologia da Universidade Federal Rural do Estado do Rio de Janeiro (UFRRJ), com a parceria da empresa Light, para trazer do solo a história de uma importante cidade do Brasil império que foi destruída na década de 40.

São João Marcos foi uma cidade situada no "vale do café", entre Mangaratiba e Rio Claro. A riqueza de sua arquitetura colonial motivou que esta fosse a primeira cidade, no Brasil, tombada pelo patrimônio histórico. Além de ser rodeada por grandes fazendas de café, o centro urbano contava com uma fábrica de tecidos, teatro, cinema, clube, a igreja matriz e outra menor, comércio diverso, a casa do capitão-mor, o casario das ruas e vilas, praças, entre outros.

Por São João Marcos também passava a estrada imperial, que fazia parte da estrada real que ligava o Rio de Janeiro  às Minas Gerais, Por esse caminho escoava o ouro a caminho da metrópole portuguesa.


No município de São João Marcos ainda se encontrava a propriedade rural que era a sede do império cafeeiro do Comendador Joaquim José de Souza Breves. Era considerado o "rei do café" no período imperial e foi feito comendador da Imperial Ordem de Cristo. Foi um dos poucos grandes proprietários de terras daquele tempo que não desejou comprar o título de "barão". O comendador também era coronel da Guarda Nacional. No final do período cafeeiro tanto a família Breves como a cidade de São João Marcos entraram em relativa decadência.

Outra figura importante da história da cidade do Rio de Janeiro que tinha ligação com São João Marcos foi o prefeito Pereira Passos. Ele nasceu e viveu até os 14 anos na Fazenda do Bálsamo, que ficava naquele município. São João Marcos também serviu de pouso na viagem que D. Pedro I realizou até São Paulo, quando proclamou a independência às margens do rio Ipiranga. Diz-se que o imperador levou quatro cidadãos "marcocenses" para reforçar a sua guarda.

Na década de 40 havia uma grande crise de água no Rio de Janeiro, então capital da república. A solução encontrada pelo governo foi de aumentar o reservatório da barragem de Ribeirão das Lages. Isto implicou na inundação da cidade de São João Marcos que ficava próxima. Assim, a cidade foi destombada e seus cidadãos desapropriados para a construção do grande lago. O presidente Getúlio Vargas indenizou os moradores e mandou destruir toda a cidade a marretadas.

Ao final, houve um erro de cálculo e a quantidade de água do reservatório teve que ser menor do que a prevista. Com isto, a cidade não foi inundada mas permaneceu só os escombros. Todas as famílias tiveram que se mudar para cidades vizinhas.

Hoje, o sítio arqueológico se transformou em um museu aberto a visitações. Há uma cantina que serve pratos de um livro de receitas encontrado nas escavações. Vale a pena conferir!

Vídeo sobre o parque arqueológico de São João Marcos:
https://www.youtube.com/watch?v=2WbbQkjpUfw 

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