Nesta
semana, o famoso professor e palestrante, Leandro Karnal, esteve numa
grande livraria do maior Shopping Center da zona sul do Rio de Janeiro
para lançamento de sua obra "Pecar e Perdoar: Deus e o homem na
história".
A
nota fica pelo aparente baixo público que a noite de autógrafos rendeu.
Sempre que estou na capital, passo lá pelo shopping e minha entrada naquela
livraria é pausa certa no passeio. Há sempre alguém, no final da tarde e
noite, lançando obras e autografando. Já vi aquela livraria com filas
enormes de pessoas com o livro na mão esperando a vez para receber a
assinatura do autor e tirar uma foto. Isto ocorre, principalmente, com autores voltados
para o público mais jovem, que lotam o lugar e fazem até apresentações orais.
Naquele dia, para minha surpresa, ao passar pelos corredores de estantes, avistei mais à frente, no lugar próprio onde fazem esse tipo de evento, uma cabeça que parece sempre se destacar na multidão, ora pelo engenho com que usa as palavras ora pelo biotipo mesmo. Olhei mais atento e conferi que era o notório e midiático acadêmico. Naquele momento, o citado autor também me avistou de longe, talvez pensando que seria mais algum comprador desejoso de momentos de sua atenção. Porém , passei direto para ver se um livro de psicologia, que venho namorando à algum tempo, ainda estava lá na prateleira.
A minha segunda surpresa foi com o baixo público presente em noite com convidado tão conhecido. Pois, como disse, já vi aquele espaço totalmente tomado com seguidores de escritores de obras que nunca ouvi falar. Quando passei pela primeira vez somente havia uma meia dúzia. Os seguranças com aquela cara de sono pela falta do trabalho em organizar a fila de vorazes leitores com seus celulares a filmar e fotografar, como ocorre de costume. Depois, saí da livraria e fui jantar na praça de alimentação, andei pelas lojas, vi uma belíssima escultura do Titã Atlas segurando o globo terrestre. Passado mais ou menos uma hora retornei à livraria e ainda estava lá o professor com uma meia dúzia nas proximidades.
Um público tão discreto para o tamanho da celebridade pode ser explicado, quem sabe, pelo fato dos assuntos acadêmicos e, mais especificamente, filosóficos ainda não constituírem parte integrante do cardápio da maioria dos leitores. Ainda assim, se ao menos alunos dos cursos de história da região tivessem comparecido teríamos uma outra visão de público.
Outra possibilidade seria uma indisposição criada pelo professor em relação a vários matizes ideológicos do público. O citado mestre é notório por se dizer isento ideologicamente, pregar uma total centralidade política. Um dia faz um discurso que contraria a direita conservadora em sua investida contra a liberdade de ensino e, ao mesmo tempo, noutra oportunidade, publica fotos festivas com figuras notórias desse mesmo local social conservador, na já famosa "república de Curitiba".
Andar se equilibrando no muro pode ser uma prática perigosa. Uma das correntes, faz muito tempo, que o etiquetou como comunista. Agora, o outro lado também o vê com extrema desconfiança. Se manter no centro pode ser uma estratégia boa para ficar de bem com todos e, assim, alavancar carreira, vendas e palestras. Mas não é sempre que se manter em cima do muro pode conferir a dádiva de ser recebido em todas as casas.
Em épocas de distensão política e social pode dar certo posar de isento. Por outro lado, há momentos na história de um povo que não dá para ficar em cima do muro. As pessoas precisam escolher sua trincheira, para não receber metralha de ambos os lados. Especialmente, aquelas pessoas das quais se esperam posicionamentos firmes. Talvez, este tenha sido um erro crasso na estratégia do pesquisador. Afinal, dizem que os acadêmicos são homens da biblioteca, dos laboratórios, mas que no corpo a corpo social não possuiriam a mesma inteligência no aspecto interpessoal. Há uma metáfora que contextualiza essa inaptidão do filósofo, que o compara com o condor. O condor é a maior ave que sobrevoa as geladas montanhas andinas. Seu voo é o mais alto e elegante. Porém, quando desce ao chão seu andar é totalmente desajeitado por conta do tamanho das asas.
Um
personagem da história dos hebreus que possuía posição privilegiada
para ser um "isentão" da época foi Moisés. Aquele líder hebreu viveu
como príncipe no Egito. Depois, descobriu suas raízes biológicas nas
tendas dos escravos. Poderia, tranquilamente, viver as delícias do
palácio e, aos fins de semana, pegar aquele "churrasco de cordeiro"
junto aos seus ascendentes. Contudo, as tensões históricas daquele
momento não deixavam dúvidas. Era necessário estar em um dos lados
daquela contenda.
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