sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Frustração e sublimação. Nota sobre a violência de nossos dias.


Viver compreende o conhecimento de gerenciar emoções. Somos submetidos a uma sucessão de momentos que geram sentimentos, na maioria das vezes, aleatórios às nossas vontades. Fatos alegres, tristes, alvissareiros e temerários nos assaltam durante a história de nossas vidas. A maior ou menor incidência de um ou de outro estado de espírito acaba contribuindo para moldar nossa estrutura psicológica. Algumas pessoas têm motivos para saudar cada dia com otimismo. Outras, mesmo sem motivos, são mártires que nadam contra a corrente e nos passam sempre força e alegria. Uma parcela, no entanto, acaba tendo o brilho do olhar desvanecido pelo turbilhão dos acontecimentos.

Em determinados momentos, o peso sobre os ombros faz com que tanto as tristezas quanto as alegrias nos levam a chorar. Das tristezas já estamos inundados e da alegria sabemos sua transitoriedade. Agrava-se ainda mais quando inseridos num contexto social e econômico que não se pauta pela inclusão das pessoas. Neste caso, os desencantos de muitos servem de testemunho aos bem-aventurados.

Em determinados momentos históricos, todas as frustrações são reprimidas e vivemos sem fazer alarde. Alguns se tornam melancólicos, outros indiferentes e outros, ainda, não deixam transparecer as mágoas. As décadas que seguiram às duas grandes guerras podem ser assim consideradas. Houve tanta violência em tão pouco espaço de tempo que as pessoas cuidavam de evitar demonstrar ódio gratuitamente. Por isso, havia uma resignação que não era bom para o desejo de mudança, mas que foi útil ao estabelecimento de uma convivência mais solidária.

Hoje, no entanto, somos dominados por uma lógica econômica de mercado que nos leva a maiores frustrações. A todo instante somos bombardeados por campanhas a sugerir que para alcançar a felicidade precisamos consumir algo. No mesmo sentido, o atual discurso religioso da prosperidade nos remete a uma graça que se demonstra através dos bens. A tensão gerada por tais narrativas acabam como combustível para a explosão da violência. E a tendência é tal conjuntura se acirrar ainda mais com a adoção da agenda neoliberal, que terá como consequência maior concentração de renda, pobreza e aumento das distorções sociais.

Esta tensão e energia acumulada seria uma pulsão bem resolvida se sublimada na forma de organização e luta social por melhorias para o conjunto da sociedade. Contudo, isto não é do interesse do status quo e, por isso, medidas são tomadas para embaçar a percepção das pessoas e desarticular qualquer reação eficaz. As grandes mídias são os bispos, cavalos e torres de um xadrez que convence o homem médio de que o discurso correto é errado e vice versa. O meio virtual da internet também oferece veículo para inúmeras vozes intolerantes que semeiam o ódio.

 Manter o estado de violência de todos contra todos serve aos opressores.

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