sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A religião, o teatro, a filosofia e a ciência: quando o homem se distinguiu dos demais seres vivos.




Em essência, o homem moderno mobiliza sua vida em torno de buscas que também estão no horizonte das demais espécies. Resumidamente, podemos elencar a subsistência e a busca de prazer. É claro que com o nosso avanço técnico e cultural nossos objetos de subsistência e prazer se tornaram mais complexos e sofisticados que das outras espécies animais. Por exemplo,  quando vamos a um restaurante ainda há um viés de sobrevivência e subsistência na base deste comportamento. Porém, hoje conseguimos unir a subsistência ao prazer, como ocorre com a crescente onda da gastronomia gourmet. 

No entanto, não é a nossa capacidade técnica de transformação e utilização de ferramentas que conferiu à nossa espécie o salto evolutivo no planeta. Outros animais, como algumas espécies de símios, também conseguem produzir ferramentas. Há determinados macacos, no Brasil, que produzem ferramentas lascando pedras da mesma forma que o homem do paleolítico. Na África, outras espécies utilizam pequenos galhos de árvores como varetas para coletar formigas.

Assim, o que nos tornou protagonistas deste salto foi a capacidade que desenvolvemos de produzir reflexões sobre os fatos da vida e o mundo que nos rodeia. Posteriormente, esta habilidade conferiu um grau de excelência na produção dos meios de sobrevivência.

Com toda nossa capacidade tecnológica atual é difícil enxergar alguma proximidade entre o homem e outros animais. Mas no paleolítico, quando ainda éramos essencialmente coletores e caçadores, do ponto de vista técnico estávamos muito parecidos com as demais espécies de também coletores e caçadores. O que nos diferenciou foi um movimento de reflexão sobre os fatos da vida que buscava dar significado a tudo que rodeava e, assim, gerar conhecimento para imprimir uma ordem aos eventos naturais.

Do homem primitivo ao moderno já elaboramos quatro níveis de reflexão para o entendimento da natureza. São eles: o pensamento mítico ou religioso, o teatro (representando as artes),  a filosofia e a metodologia científica.

As interpretações mágicas e místicas constituíram a primeira forma de explicar o mundo. As diversas sociedades construíram explicações míticas para os mais diversos fatos. Mitos para o nascimento e a morte, para a caça e a agricultura, para o amor e a guerra, para os ciclos da natureza e para a origem de todos os elementos naturais e da humanidade. Conforme a multiplicidade de mitos conseguiam dialogar entre si, se estruturou sistemas de crenças mais complexos que levou à elaboração das religiões. Por isto, a antropologia considera que o pensamento religioso foi a ocorrência que distinguiu a espécie humana das outras; pois consistiu em nosso primeiro instrumental interpretativo para responder àquele movimento de reflexão sobre o mundo.

Depois da mitologia ou religião, o próximo paradigma mediador entre a percepção humana e os fatos da vida foram as diversas manifestações artísticas. Desde os primórdios da humanidade existem diversas experimentações e expressões estéticas. No início, tais expressões estavam muito ligadas, e mesmo instrumentalizadas, aos rituais místicos. As pinturas rupestres encontradas em diversas cavernas e paredes rochosas possuíam uma funcionalidade mística. Através daquelas pinturas acreditava-se  no maior sucesso da caçada vindoura. Acreditavam que a alma do animal se encontrava "capturada" pelo desenho na rocha. As danças e canções também estiveram, de início, atreladas aos êxtases religiosos. Por isso, muitos acreditam que a primeira manifestação artística a gerar maior potencial crítico na plateia tenha sido o teatro grego. Através da encenação do drama e da comédia os espectadores eram motivados e refletir sobre os diversos temas de sua existência.

O teatro foi tão importante para o fomento da capacidade crítica dos cidadãos, que muitos autores entendem que foi condição sine qua non (essencial) para o futuro nascimento da filosofia grega. O método filosófico consistiu no terceiro paradigma utilizado para a análise dos diversos elementos da vida humana e que propôs uma persecução racional, afastando abordagens místicas, na análise dos objetos em estudo.

O quarto e último paradigma interpretativo da realidade foi a ciência. O estabelecimento de novos parâmetros, através da metodologia científica, conferiu um novo salto para a compreensão dos fenômenos da mais variada ordem. Desde a inauguração da abordagem cartesiana, a metodologia evoluiu no sentido de fornecer, ao pesquisador, diversas técnicas e instrumentos para a realização da investigação científica. Hoje, nenhum trabalho realizado em âmbito universitário prescinde da metodologia científica.

É interessante observar que a criação de uma nova abordagem não invalidou ou extinguiu a anterior. Na atualidade, convivemos com estes quatro modelos de apreensão do mundo. A religião continua com  grande influência na conformação das sociedades. As artes na vanguarda de diversas discussões. A filosofia tem seu lugar acadêmico na discussão de elementos que não podem ser testados, segundo a exigência da marcha científica, como o amor, a paixão, o ódio, a ética, entre outros. E, finalmente, a ciência moderna que ocupa nossas universidades.

Muito provavelmente, outras abordagens surgirão futuramente. E, talvez, seja fundamental para aqueles momentos em que a sociedade parece padecer de certa estagnação.

Referência bibliográfica:
Obra: Mito e Realidade -  Autor: Mircea Eliade. -  Editora Perspectiva.

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