Muitas lideranças religiosas evangélicas têm participado da onda de
ataques contra a educação e o magistério. Estão divulgando e defendendo
que a atuação dos professores seja limitada em sala de aula. Um bom
número deles apoia e fez parte da gestação da proposta da "escola sem
partido". E muitos estão colocando a família dos alunos em prevenção
contra o profissional do ensino, que está na escola para preparar seus
filhos intelectualmente. Entendem, ainda, que vários temas devem ser
vedados aos professores e tratados exclusivamente dentro do núcleo
familiar. Com isto, muitos alunos também acabam se voltando contra e
desafiando os seus mestres no ambiente escolar.
Os
setores evangélicos estão conseguindo provocar este desconforto, no
que tange à educação, porque conseguiram arregimentar grande força
política. Hoje, a chamada "bancada cristã" é uma das maiores no
Congresso. Contudo, nem sempre foi assim. Se voltarmos uns 50 anos no
passado, os pastores das múltiplas correntes protestantes não gozavam
dessa força dentro da sociedade. Apenas no âmbito circunspecto às suas
comunidades de fiéis. Com o passar do tempo, conseguiram um crescimento
exponencial da sua influência política. Este modelo de expansão e
consolidação da influência, que ocorreu entre evangélicos,
deveria ser observado, estudado e aplicado pela categoria dos
profissionais da educação em prol de sua causa; ou seja, os professores
podem aprender algo com os evangélicos.
Hoje, as
diversas denominações, juntas, dominam amplamente as ondas de rádio AM e
FM. Possuem o segundo maior canal de televisão do país e vários
horários em outras emissoras. Já estão editando jornais e revistas que
ocupam espaço nas bancas. Fundaram partidos políticos. Ganharam eleições
importantes como a da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e, no
Congresso Nacional, possuem uma das maiores e mais atuantes bancadas.
Porém, voltando cinco décadas atrás, ainda não possuíam esta enorme
máquina de pressão política. A única coisa, mas não menos importante,
que possuíam era uma grande capilaridade no território nacional. Havia
ao menos uma igreja evangélica em cada pequena cidade do interior e em
cada bairro pobre dos subúrbios das grandes cidades. E esta
capilaridade, os professores também possuem atualmente.
Capilaridade
é um termo originário da física, que na mecânica dos fluidos define a
propriedade destes em se transportarem por tubos de diâmetros muito
diminutos, podendo o fluxo seguir, inclusive, contra a força da
gravidade. Na ciência política o termo capilaridade é utilizado para
descrever algo que se encontra espalhado por todos os pontos do país,
seja nas capitais ou nas cidades pequenas do interior. Assim como o
poder evangélico teve início com uma igreja em cada rincão do país; hoje,
existe, ao menos, uma escola pública em cada pequena cidade ou bairro
pobre da nação.
Além da capilaridade, a causa da
educação e de seus profissionais encontra amparo na sociedade. A força
com que ocorreram os movimentos grevistas de professores, notadamente no
Rio de Janeiro, entre 2014 e 2015, apontou o potencial que esta
categoria teria, se organizada, para uma forte atuação política.
Acredito que seja a única categoria de servidores que consegue mobilizar
forças populares em prol de sua agenda.
Acredito, até,
que todo o ataque atual que a educação e a respectiva categoria vem
sofrendo é por conta da força que mostrou naquelas manifestações. A
vida inteira as igrejas conviveram com a pregação do criacionismo e os
professores ensinando a teoria da evolução; com o catecismo dos dogmas
religiosos e a análise sociológica destas manifestações, nos colégios;
com a visão do pecado, na igreja, e com a visão das construções
culturais destes discursos, na escola. Então, não me parece que o problema
seja a sala de aula. Essas questões, na verdade, são uma cortina de
fumaça para atacar o poder político, em potencial, que o magistério
demonstrou. Da mesma forma como estão, agora, atacando as organizações
sindicais. Querer limitar a atuação do profissional da educação faz
parte do xadrez político.
No último congresso da SBPC
(Sociedade Brasileira pela Pesquisa Científica), foi ventilada a ideia
de se criar um partido político da ciência, que teria por objeto criar
uma bancada em defesa dos interesses da pesquisa científica. Acredito
que muito mais eficaz seria um partido da educação ou dos professores.
Afinal, a pesquisa, no Brasil, é feita majoritariamente nas
universidade, quase todo pesquisador é professor. Então, um partido da
educação englobaria a causa da pesquisa. Para tal, é preciso
organização. Há que se criar uma organicidade entre todos os professores
brasileiros, da cidade grande ao interior.
Algo neste
sentido já foi feito. O movimento operário do ABC paulista, ao
compreender que não bastava ser uma força de pressão através dos
sindicatos, que precisava ter a sua representação política própria,
criou o Partido dos Trabalhadores. E, independente dos erros e desvios
supostamente cometidos, conseguiram chegar às prefeituras, aos Estados e
ao governo federal.
Está na hora de ser redigido "O Manisfesto do Partido Educacionista".
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