segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A Revolta da Cachaça


"A revolta do Rio não foi uma insurreição violenta da multidão, e tampouco o trabalho de uma pequena facção; mas, sim, um movimento revolucionário de caráter popular, no exato sentido da expressão". (BOXER, 1973:340)

Saliente-se que nos séculos XVI e XVII os engenhos de açúcar lucravam duplamente. Uma vez com o comércio do próprio açúcar e outra com o da aguardente de cana. A aguardente de cana ou a popular cachaça possuía preços baixos, sendo facilmente comercializada na colônia e na África, onde era usada pelos negreiros como moeda de troca por escravos.

Acontece que pelo princípio do pacto ou exclusivo colonial, através do qual as colônias não poderiam produzir bens de consumo que concorressem com os produzidos na metrópole, os donos dos alambiques começaram a ter problemas com o Conselho Ultramarino que via na cachaça um concorrente para o vinho e a bagaceira lusitanos.

A "revolta da cachaça" foi um movimento de insurreição originado pela união de dois fatores: a proibição da fabricação da aguardente e a instituição do primeiro imposto predial pelo então governador Salvador Correa de Sá e Benevides. A proibição da fabricação da cachaça desagradou os fazendeiros e o imposto predial desagradou a população em geral.

Desta forma, o estopim para a revolta estava aceso. Foi na madrugada de 8 de novembro de 1660 que os revoltosos da província de Niterói, liderados pelo usineiro Jerônimo Barbalho Bezerra, cruzaram a baia de Guanabara armados e invadiram a Câmara do Rio derrubando o Governo.

Os revoltosos governaram a cidade do Rio de Janeiro por cinco meses. O Governador deposto, Salvador Correa de Sá e Benevides, arregimentou tropas em São Paulo e na Bahia conseguindo retomar a capital da província em 6 de abril de 1661. Houve o aprisionamento dos revoltosos e o enforcamento do líder da revolta.

A Coroa portuguesa, ao saber dos acontecimentos, não gostou da maneira como o governador conduziu a retomada da capital, usando de violência contra a elite dos fazendeiros locais. Por isto, a Coroa afastou o governador Salvador Correa de Sá e Benevides que teve de voltar com a família para Portugal e responder processo.

Assim se encerrou o episódio da revolta da cachaça e, também, a prevalência da família Sá no governo do Rio de Janeiro. Pois desde a fundação da cidade por Mem de Sá, o governo por mais de cem anos esteve nas mãos desta família. O Rio de Janeiro chegou a ser considerado como um feudo da família Sá neste período.

Concluindo, embora seja episódio pouco conhecido, a revolta da cachaça é considerado pela historiografia como o primeiro movimento de insurreição nacional contra a dominação portuguesa.

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