sábado, 27 de dezembro de 2014

MULHERES COMBATENTES ERAM COMUNS ENTRE OS VIKINGS


Viking é dominação dos povos nórdicos que promoveram diversas invasões e saques à Europa, notadamente pelo Atlântico Norte, entre o período que vai do século VIII ao XI.

Faz parte do senso comum sobre os guerreiros vikings uma construção de guerreiro alto, forte e extremamente selvagem em campo de batalha.

Com a evolução da historiografia e da pesquisa, a imagem de selvagem foi desconstruída dando lugar a um povo que se por um lado pretendia-se expansionista, por outro também realizava boas relações comerciais com outros povos e que deram valiosa contribuição tecnológica para a navegação. Há quem advogue que eles teriam estado na América, em regiões do Canadá, antes do achamento de Colombo.

Recentes estudos trazem uma nova faceta, demonstrando que a mulher teria espaço militar parelho com o do homem nas composições de guerra.

Recentes estudos arqueológicos auxiliados por exame de DNA em cemitérios de guerreiros vikings na Inglaterra levam à conclusão que suas tropas eram formadas por um grande número de mulheres, em alguns casos meio a meio com os homens. 

Acontece que, antigamente, ao se deparar com um cadáver portando escudo e espada o arqueólogo ou pesquisador atribuída de pronto a sexualidade masculina. Agora, numa revisão realizada por DNA esta lógica está caindo, sendo demonstrado numerosos combatentes do sexo feminino.

Esses dados foram catalogados pela pesquisadora Shane McLeol, do centro de Estudos Medievais da Universidade da Austrália Ocidental e publicados na revista Early Medieval Europe.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Femen agita natal da guarda do Vaticano.





Neste Natal as ativistas do grupo feminista ucraniano denominado FEMEN realizaram protesto no Vaticano contra a condenação do aborto.

A discussão vai longe sobre a proteção à vida e o direito da mulher ao seu próprio corpo. Ainda está longe de se alcançar consenso neste tema. 

Contudo, há que se relativizar a discussão de acordo com o contexto de cada local e sua realidade social. Uma coisa, por exemplo, é discutir o aborto numa Finlândia ou Suécia, outra é discutir em locais onde há grande desigualdade social, cujas mulheres são as mais afetadas pelas precárias condições de vida.

Por isso, é complicado qualquer entidade tomar uma posição única para aplicar em toda e qualquer realidade.

O certo é que as ativistas ucranianas agitaram e, talvez, alegraram o natal da guarda do Vaticano com seu modo inusitado de protestar. De hoje em diante muito policial vai preferir entrar para a guarda do Vaticano do que para o Bope !


sábado, 20 de dezembro de 2014

Divulgação do Conhecimento Acadêmico nas Novas Mídias





Um tema que nos chama atenção é o uso de novas mídias gratuitas ou de baixo custo como veículo para o debate científico e disseminação do conhecimento. Os agentes detentores do conhecimento acadêmico estão ou não aproveitando este período de abertura de mídias (blogs, youtube, sites) para democratizar o acesso a estes conteúdos.

A pouco tempo vimos nascer e tomar vulto o fenômeno dos vloggers, que são produtores de vídeos pessoais na internet. Geralmente, garotos ou adolescentes que usam uma câmera como diário ou para falar de diversos temas como filmes e músicas que fazem sucesso. Sendo que conseguem amealhar grande público com numerosas visualizações.

Por outro lado, não vemos esses espaços sendo muito utilizados pelo meio acadêmico, seja por renomados mestres e doutores ou mesmo por graduandos que estão em curso de sua faculdade. E os motivos para esta ausência ainda não é bem identificada.

Talvez pelo fato de uma proposta de levar temas acadêmicos não atraia tanta atenção de público. Não se tenha motivação ao falar para poucos ouvintes. A linguagem do conhecimento acadêmico ainda não conseguiu estabelecer um formato interessante de diálogo para o público em geral. Ainda que seja difícil compreender como a estória, por exemplo, do senhor dos anéis possa ser mais interessante do que da revolução francesa.

Neste sentido, ainda podemos elencar que os profissionais mais titulados não possuiriam tempo, estando muito ocupados com seus artigos e orientações. Os professores ocupados com a correria entre escolas e alunos. Sem contar, que há o discurso no meio acadêmico que o conhecimento é a ferramenta profissional do formado, não devendo ser distribuído gratuitamente, mas mediante o respectivo salário. Contudo, devemos salientar que não adianta muito guardar a sete chaves o produto quando vem sendo desvalorizado pela sociedade. Talvez, ao contrário, se houvesse maior motivação quanto ao conhecimento mais valor agregaria.

Não que haja ausência de tentativas de utilização das novas mídias. Existem muitos sítios com material didático. Alguns que consideramos excelentes outros duvidosos No entanto,. ainda é muito tímida esta utilização em nosso entender.

Deparei-me, por exemplo, com uma página no facebook e um blog que seriam de um acadêmico de uma das cadeiras de humanas e professor titular numa renomada universidade pública. O sujeito postava seus artigos no blog e divulgava pelo facebook, mas era de uma inóspita reatividade a qualquer pessoa que tentasse estabelecer um diálogo crítico em relação ao exposto. O citado profissional atirava um leque de adjetivações pejorativas a qualquer um que tentasse debater e criticar o texto. Sinceramente, este é o tipo de espaço que em nada enaltece o conhecimento, apenas serve ao ego do detentor da página. Aliás, vejo intelectualidade e arrogância como valores inversamente proporcionais. Todo sujeito arrogante que posa de intelectual não passa de uma falsificação, apesar dos títulos que a academia tenha conferido ao mesmo.

Por outro lado, quero enaltecer o trabalho feito por uma historiadora no youtube, no canal "cantinho da história", onde discorre sobre diversas temáticas do campo historiográfico e faz um intercâmbio com os ouvintes através de uma página no facebook com o mesmo nome. Vale a pena conferir o canal "Cantinho da História" no youtube. 

Se você, leitor, conhece algum canal interessante de divulgação do conhecimento acadêmico, deixe o endereço nos comentários.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A Revolta da Cachaça


"A revolta do Rio não foi uma insurreição violenta da multidão, e tampouco o trabalho de uma pequena facção; mas, sim, um movimento revolucionário de caráter popular, no exato sentido da expressão". (BOXER, 1973:340)

Saliente-se que nos séculos XVI e XVII os engenhos de açúcar lucravam duplamente. Uma vez com o comércio do próprio açúcar e outra com o da aguardente de cana. A aguardente de cana ou a popular cachaça possuía preços baixos, sendo facilmente comercializada na colônia e na África, onde era usada pelos negreiros como moeda de troca por escravos.

Acontece que pelo princípio do pacto ou exclusivo colonial, através do qual as colônias não poderiam produzir bens de consumo que concorressem com os produzidos na metrópole, os donos dos alambiques começaram a ter problemas com o Conselho Ultramarino que via na cachaça um concorrente para o vinho e a bagaceira lusitanos.

A "revolta da cachaça" foi um movimento de insurreição originado pela união de dois fatores: a proibição da fabricação da aguardente e a instituição do primeiro imposto predial pelo então governador Salvador Correa de Sá e Benevides. A proibição da fabricação da cachaça desagradou os fazendeiros e o imposto predial desagradou a população em geral.

Desta forma, o estopim para a revolta estava aceso. Foi na madrugada de 8 de novembro de 1660 que os revoltosos da província de Niterói, liderados pelo usineiro Jerônimo Barbalho Bezerra, cruzaram a baia de Guanabara armados e invadiram a Câmara do Rio derrubando o Governo.

Os revoltosos governaram a cidade do Rio de Janeiro por cinco meses. O Governador deposto, Salvador Correa de Sá e Benevides, arregimentou tropas em São Paulo e na Bahia conseguindo retomar a capital da província em 6 de abril de 1661. Houve o aprisionamento dos revoltosos e o enforcamento do líder da revolta.

A Coroa portuguesa, ao saber dos acontecimentos, não gostou da maneira como o governador conduziu a retomada da capital, usando de violência contra a elite dos fazendeiros locais. Por isto, a Coroa afastou o governador Salvador Correa de Sá e Benevides que teve de voltar com a família para Portugal e responder processo.

Assim se encerrou o episódio da revolta da cachaça e, também, a prevalência da família Sá no governo do Rio de Janeiro. Pois desde a fundação da cidade por Mem de Sá, o governo por mais de cem anos esteve nas mãos desta família. O Rio de Janeiro chegou a ser considerado como um feudo da família Sá neste período.

Concluindo, embora seja episódio pouco conhecido, a revolta da cachaça é considerado pela historiografia como o primeiro movimento de insurreição nacional contra a dominação portuguesa.

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domingo, 14 de dezembro de 2014

A colaboração entre Hollywood e o Nazismo.




Uma boa dica de leitura para a mesa de cabeceira neste final de ano é o livro "A Colaboração: o pacto entre Hollywood e o nazismo", do historiador Ben Urwand, lançado no Brasil pela editora Leya. A obra evidencia o acordo entre os grandes estúdios de Hollywood e o partido nazista alemão no sentido de tirar do roteiro dos filmes, na década de 30, cenas que atacassem o partido nazista ou que abordassem a perseguição aos judeus na Europa. Por conta do importante mercado Alemão, os estúdios de cinema aceitaram tais condições. No livro, se destaca que vários importantes investidores dos estúdios de cinema americanos eram judeus, demonstrando o paradoxo entre os interesses do capital e da identidade étnica.

Um exemplo do ocorrido foi a barração do filme The Mad Dog of Europe (O Cachorro Doido da Europa), que contaria o tratamento que os judeus estavam recebendo do governo alemão, em 1933, cujo projeto não foi adiante por conta da má repercussão que teria entre o público alemão.

A obra detalha as negociações entre os estúdios de cinema e o governo nazista. Evidencia os cortes feitos em filmes por executivos da indústria cinematográfica em cenas que pudessem levar ao boicote pelo governo nazista.

Salienta que o próprio Führer era fã do cinema hollywoodiano, pois assistia a um título diferente por noite, e reconhecia o poder da imagem para controlar as massas. Daí, seu investimento em cineastas como Leni Riefenstahl, de O Triunfo da Vontade (1935).

O autor, Ben Urwand, é historiador australiano especialista em história do cinema. é junior Fellow de Harward e para escrever esta obra pesquisou numerosa documentação tanto nos Estados Unidos quanto na Alemanha.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A arte de chocar na política.


Vivemos tempos em que a urbanidade e a polidez não são mais exigências para se estar no meio político. Acabou a época dos grandes oradores. As disputas no campo das ideias e das doutrinas econômicas e políticas mas que ocorriam dentre notórios preceitos de educação e respeito.

Atualmente, temos visto uma categoria de político que necessita chocar a assistência para garantir a sua eleição. Trata-se do político medíocre. São aqueles que ora por sua mediocridade ora por não desejarem nenhuma mudança, não apresentam qualquer projeto de importância significativa para o país. Eles não desejam melhorar a situação das populações em situação de pobreza extrema. Não querem soluções para os desequilíbrios regionais. Nem estão interessados nas questões das minorias. Querem que tudo permaneça como está.

Desta forma, como não podem apresentar propostas interessantes e consistentes, usam da arte de chocar como marketing político para atrair a mídia e garantir votação nas eleições.  Foi assim que surgiram políticos que repetiam chavões como "bandido bom é bandido morto".

E nesta seara, chocar tem função bem distinta daquela realizada pela vanguarda artística. Esta quando choca através da arte tem a função de fazer a sociedade sair da sua zona de conforto e refletir sobre algum tema. Aqui, a função é apenas sintonizar com preconceitos e potencializá-los a seu favor.

Esse tipo de político sabe que nunca ganhará uma eleição majoritária. A estratégia é conseguir atingir uma parcela adoentada do eleitorado que garante suas sucessivas reeleições a cargos legislativos.

Digo parcela adoentada, pois tanto eleitores de esquerda, centro ou direita que possuem consciência crítica não jogam seu voto na lixeira deste jeito. Eleitores conscientes que gravitam ou no socialismo ou no liberalismo desejam uma representação que traga propostas concretas para o país.

O problema do político medíocre que depende de arrumar confusões e falar asneiras que chocam é que com o tempo determinados chavões viram lugar comum e não produzem efeito. Como o caso da frase "bandido bom é bandido morto". Então, precisam subir o tom das provocações para conseguir que a estratégia do choque traga dividendos.

É neste sentido que vimos, por exemplo, discursos completamente aparteados do bom senso, como aquele que ao falar com uma ex ministra diz que "não estupra mulher que não merece".

Isto é usar a estratégia do choque sem ter nenhum pudor para com as consequências que a representação simbólica de tal frase possa repercutir na sociedade. Seja no trato que se deve ter com uma pessoa que exerceu cargo de autoridade no Estado ou seja em relação ao trato com o gênero feminino.

E o assustador é verificar nas redes sociais a quantidade de pessoas que louvam esse tipo de discurso despropositado. Evidenciando o porquê este tipo de político assegura suas reeleição com boa votação. Isso denota o quanto nossa sociedade está doente.


domingo, 7 de dezembro de 2014

A historiografia sobre a antiguidade



Na obra "História Antiga", de autoria do professor Norberto Luiz Guarinello, publicada pela editora Contexto, o autor realiza um esforço para elencar e sistematizar a evolução dos modelos teóricos que a academia usou e usa para interpretar cientificamente o recorte da antiguidade.

O autor possui graduação em História, mestrado e doutorado em antropologia social, todos pela USP. Realizou pós-doutorado na Oxford University. É professor titular da USP. Lidera o grupo de pesquisa LEIR - Laboratório de Estudos sobre o Império Romano.

Nas palavras do citado professor: " a história não produz a verdade sobre o passado, mas um conhecimento cientificamente controlado e capaz de ser debatido em termos científicos". Os vestígios do passado que formam os chamados documentos históricos serão interpretados segundo os modelos teóricos sobre o funcionamento das sociedades. Ocorre que o processo de construção destes modelos é dinâmico. Novos modelos teóricos são criados segundo o olhar e contingências de cada época. Desta forma, haverá sempre novas interpretações que garantirão a existência de uma nova história antiga, nova história medieval e assim por diante. 

A seguir, tentaremos sintetizar os principais modelos teóricos aplicados à história antiga elencados pelo professor Norberto L. Guarinello.

1- O renascimento e a criação do antigo.

A partir do século XII e mais notadamente do século XV ocorre a valorização dos textos gregos e romanos antigos, em oposição à cultura cristã dominante da idade média. Foi um processo de construção de uma memória que levava a uma nova identidade que negava em parte o passado recente, que foi colocado sob a alcunha de idade das trevas. Neste período ainda não se fala em história científica, pois não era realizada uma leitura crítica dos clássicos.

2- Surgimento da história científica.

A formação da história científica ocorre junto com o nascimento da história antiga. Foi o momento em que a leitura das fontes escritas da antiguidade se dará de forma crítica, levando em conta as teorias sociais e políticas do período (sécs XVII e XVIII). Tem por característica a construção de uma história das nações, notadamente europeias. Se enfatizava o estado, os grandes personagens e as grandes guerras. Alguns importantes autores sobre história antiga deste período: George Grote, Barthold Niebuhr e Theodor Mommsen.

3- Evolucionismo e Darwinismo social.

Em meados do século XIX a historiografia foi influenciada pela obra de Darwin. Passou a fazer parte do pensamento historiográfico as ideias de evolução, civilização, progresso e superioridade da Europa sobre as demais regiões. Esta concepção atendia às pretensões imperialistas e neocolonialistas das potências europeias. A história antiga passa a ser entendida como marco inicial de uma linha progressiva de civilização. Sendo que a história do ocidente passa ao centro da história universal e a Europa capitalista o auge  da civilização e progresso.

4- A interdisciplinaridade.

Ainda no século XIX, outras ciências passam a dialogar mais de perto com a escrita da história, tais como a antropologia, a economia e a sociologia. Na obra de Karl Marx também pode ser notada a tendência evolucionista, através da proposta do desenvolvimento histórico através dos modos de produção (caracterizado pela relação de exploração entre proprietários e trabalhadores). Marx entendia que a formação das comunidades na antiguidade se devia mais pela guerra, aliança dos proprietários de determinada região contra a ameaça exterior, do que pela necessidade da realização de obras públicas. Durante o séc. XIX a História Antiga se institucionalizou pelos sistemas escolares dos recém criados Estados nacionais.

5- A Contemporânea História Antiga.

No século XX se intensifica ainda mais o  diálogo da história com outras ciências humanas, se notabilizando os estudos culturais. Vários eventos foram marcantes para a reinterpretação da História antiga neste período: as duas guerras mundiais, a revolução russa, a revolução dos costumes das décadas de 1960 e 1970, a queda do muro de Berlim, o fim do comunismo e a globalização e suas crises. Alguns autores importantes da primeira metade do século XX: Michael Rostovtzev, Geoffrey de Ste. Croix, Moses Finley e Jean Pierre Vernant.

6- A Crise do Ocidente e a Descolonização da História Antiga.

Com o enfraquecimento das potências Européias, no pós segunda guerra, e a consequente descolonização da África e Ásia também houve, no campo historiográfico, o combate a ideia de superioridade cultural da Europa. Esta nova concepção vai de encontro aos escritores do início do século XX, que entendiam a respeito da romanização e, posterior, helenização do mundo antigo como um avanço da civilização sobre a barbárie. Ocorreu a ruptura do pensamento de uma civilização superior com legitimidade para conquistar outros povos. Alguns autores importantes nesta linha: Marcel Bénabou, Ives Thébert, Eduard Said e Martin Bernal.

7- O Pós-modernismo e a Virada Cultural.

A partir de 1980 o paradigma econômico é passado para segundo plano na análise historiográfica, sendo que os fatos sociais passam a ser interpretados pelo viés cultural e simbólico. A queda do muro de Berlim, o multiculturalismo norte-americano e a absorção de imigrantes das antigas colônias na Europa são apontados como catalisadores desta nova ótica. O conceito de classe foi substituído pelo de identidade. Foram revistas as identidades nacionais, étnicas, de gênero e religiosas. As oposições entre Oriente e Ocidente, grego e bárbaro, romano e não-romano passaram a ser vistas como categorias arbitrárias, construídas no presente e, da mesma forma, no passado. A História Antiga foi desconstruída.  

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Futebol Feminino no Brasil: tensões históricas.






Resumo do texto: Futebol é “coisa para macho”? Pequeno esboço para uma história das mulheres no país do futebol.
Autor: Fábio Franzini

O autor, Fábio Franzini, graduou-se em história pela USP. Ainda pela USP titulou-se mestre e doutor em história social. Atua como professor no departamento de História da Unifesp. Quanto à pesquisa, sua linha de atuação compreende a teoria da história, a historiografia brasileira, história das ideias e a história do livro. É membro de vários grupos de pesquisa, dentre eles o SPORT e o LUDENS cuja direção é o estudo do contexto histórico das modalidades esportivas.

No artigo em tela, o autor discute as relações de gênero em torno do principal esporte desenvolvido em nosso país, que é o futebol. Discute a inserção da mulher no ambiente futebolístico, enfatizando as leituras realizadas sobre a presença do sexo feminino dentro e fora do campo de jogo durante o recorte da primeira metade do século XX.

Evidencia a importância do futebol como elemento da formação de identidade nacional, sendo um espaço onde os valores sociais e culturais irão dialogar dentro de uma lógica excludente em relação à prática feminina do desporto, seguindo o critério de que o lugar social da mulher é subjacente ao do homem, no lar, cuidando da casa, enquanto o gênero masculino se ocupa da construção do país.

Desta forma, a modalidade feminina nunca conseguiu sua afirmação dentro do país, embora tenha ocorrido inúmeras tentativas desde a partida apontada como marco inicial do futebol feminino no Brasil, que ocorreu em 1940, numa preliminar entre São Paulo e Flamengo.

A questão chegou a ser tratada como de proteção à saúde da mulher e sua capacidade reprodutiva, como forma de escamotear o machismo embutido nas manifestações contrárias que tomaram a sociedade e que chegaram ao nível da legislação proibir a prática feminina, fornecendo uma lista de quais esportes as mulheres poderiam praticar.

Trata-se de um bom artigo para a discussão da história de gênero. Leva o leitor a entender os diversos espaços onde se trava a luta pela participação da mulher dentro da sociedade. Assim como a análise dos diversos discursos socais que visam a exclusão de parcela da sociedade; porém, mantendo uma retórica de moralidade como a  proteção aos “bons costumes" e à saúde.

Leia o artigo na íntegra pelo link abaixo:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882005000200012 

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O imaginário americano através de Hollywood


Resenha do texto: Cinema e História: o imaginário norte americano através de Hollywood.
Autora: Priscila Aquino Silva

A autora possui bacharelado e licenciatura em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pela mesma instituição adquiriu titulação de mestrado e doutorado em História Medieval, com estágio na Universidade Clássica de Lisboa. Atualmente é pesquisadora e professora de História Medieval da Unilasalle-RJ. Também possui graduação em Comunicação Social pela UERJ onde defendeu monografia na área de comunicação e cinema.

No presente artigo, a professora Priscila Aquino Silva tem por objetivos analisar o período nascente do cinema norte americano, entrando em contato com a sociedade americana do início do século XX e, também, demonstrar a necessidade de se decodificar e interpretar a mensagem por trás  da imagem reproduzida pela película cinematográfica. Para tal, usará como pressupostos teóricos o princípio de Duby que concebe a ideologia como representação do real, nunca o real em si.

Salienta que por muito tempo a historiografia, de influência positivista, negava ao cinema a legitimidade dos filmes como documentos históricos, sendo considerado como distorção do passado. Por outro lado, a partir da escola francesa do Annales o filme é tomado como canal através do qual se pode aferir testemunhos da sociedade, sua mentalidade, costumes e ideologia.

Neste sentido, a autora realiza a análise de três obras clássicas do cinema americano. O primeiro filme analisado é “O nascimento de uma nação” de D.W. Griffith, que visa a construção de um discurso patriótico nacionalista, mas que deixa claro as questões racistas que moviam a cultura do autor e do sul do país, de onde Griffith era natural. Outro filme analisado foi “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, que traz a crítica sobre a nova sociedade industrial que vinha despersonalizando o ser humano, cada vez mais robotizado por metodologias de produção em massa como o fordismo e o taylorismo. Por fim, o filma “Ombros, Armas”, também de Chaplin, que mostra como o discurso cinematográfico pode ser utilizado para legitimar ações belicistas entre nações.

Uma boa conclusão do artigo sobre o cinema vem no início do artigo, quando a autora deixa claro que o cinema nem é uma grande indústria maquiavélica, nem uma inocente obra de arte. O cinema é arte, mas também traz em si influências daqueles que patrocinam, do estado e da sociedade em geral.

O presente artigo é muito interessante para alertar o estudante sobre a pesquisa que deve realizar para fazer a correta leitura de uma obra cinematográfica. Não se pode considerar unicamente a imagem, descolada de inúmeros fatores históricos e sociais que permeiam a mensagem final emitida para o espectador.

Leia o artigo na íntegra pelo link abaixo:


Contexto histórico de Dr. Jivago






O filme em tela trata-se de uma produção estadunidense dirigida por David Lean, do ano de 1965, baseada em romance homônimo do autor russo Boris Pasternack. Constitui uma superprodução em longa metragem que conta a história de um médico e poeta que, de início, é simpático às diretrizes dos revolucionários bolcheviques mas, aos poucos, após a revolução, se desilude com o socialismo e se divide entre dois amores que são a esposa Tânia e a amante Lara.


Saliente-se que o autor do romance, Boris Pasternack (1890 a 1960), era famoso romancista e poeta russo. Posteriormente à revolução socialista acabou tendo problemas com as autoridades soviéticas nos anos 1930. Sua obra poética foi censurada e seu romance – Dr. Jhivago – não fez sucesso na Rússia, provavelmente pelas conotações políticas. 


É interessante que o personagem principal, Dr. Jhivago, interpretado pelo famoso ator Omar Sharif, além de médico também era poeta. Coincidentemente, no romance, Jhivago também tem sua obra poética censurada pelo governo soviético. Por isto, muitos críticos asseveram que o personagem Dr. Jhivago simboliza um alterego de Boris Pasternack.


O ano de produção do filme, 1965, indica o período de plena guerra-fria entre Estados Unidos e União Soviética. Muito provavelmente, este tenha sido um dos fortes motivos para que o romance de Pasternack tenha sido eleito para receber o tratamento cinematográfico hollywoodiano. Pois o cinema e a imagem em geral são importantes instrumentos de persuasão e panfletagem política utilizados pelo governo norte-americano, como expõe a professora Priscila Aquino Silva em seu artigo “Cinema e História: o imaginário norte americano através de Hollywood.”. Isto, é claro, sem tirar o valor artístico das peças cinematográficas produzidas.


Através da saga do personagem principal a plateia viaja pela transição revolucionária. Inicia-se ainda na Rússia dos Czares, as manifestações populares promovidas pelos bolcheviques, a repressão feroz aos movimentos, a revolução, e o pós-revolução com a guerra civil entre exércitos vermelhos e brancos.

A primeira cena do filme é bem simbólica a respeito do uso das imagens para se legitimar um discurso crítico ao socialismo. O vai e vem de operárias na entrada da mina de carvão, o uso de cores frias, sem colorido, todas com roupas simples e muito parecidas, passando uma ideia de padronização, massificação e despersonalização do indivíduo. Em um momento mais adiantado do filme, a ideia de mitigação dos valores individuais retorna textualmente no discurso de uma autoridade soviética que interroga Jhivago em um trem, dizendo que não há mais espaço, na Rússia, para a vida pessoal.


Observa-se também o discurso de crítica ao sistema socialista nas cenas anteriores e posteriores à revolução. Antes da revolução é mostrada uma Rússia com uma aristocracia rica, belos salões, culta. O próprio Dr. Jhivago é um médico e poeta aristocrata de sucesso. Após a revolução todos os cenários se empobrecem. Inclusive o protagonista que perde as propriedades e acaba pobre e doente. Este percurso da trama descreve o senso comum de que o socialismo divide a pobreza e a miséria.


É interessante, também, observar a dureza das faces das autoridades do estado soviético. Quase sempre aparecem de forma dura, sem emoção, autoritária, legitimando o discurso de um regime duro e que coage os cidadãos. 


Concluindo, é uma obra de grande valor artístico, mas que também denota o uso da imagem com finalidade de construir e legitimar um discurso político em meio ao período de maior tensão e concorrência entre dois sistemas distintos que também produziam um corte entre ocidente e oriente.

Assista ao filme "Dr Jivago" completo no link:
http://assistirdrjivago.blogspot.com.br/2014/05/assistir-dr-jivago.html 

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