O
filme em tela trata-se de uma produção estadunidense dirigida por David Lean,
do ano de 1965, baseada em romance homônimo do autor russo Boris Pasternack.
Constitui uma superprodução em longa metragem que conta a história de um médico
e poeta que, de início, é simpático às diretrizes dos revolucionários
bolcheviques mas, aos poucos, após a revolução, se desilude com o socialismo e
se divide entre dois amores que são a esposa Tânia e a amante Lara.
Saliente-se
que o autor do romance, Boris Pasternack (1890 a 1960), era famoso romancista e
poeta russo. Posteriormente à revolução socialista acabou tendo problemas com
as autoridades soviéticas nos anos 1930. Sua obra poética foi censurada e seu
romance – Dr. Jhivago – não fez sucesso na Rússia, provavelmente pelas
conotações políticas.
É
interessante que o personagem principal, Dr. Jhivago, interpretado pelo famoso
ator Omar Sharif, além de médico também era poeta. Coincidentemente, no
romance, Jhivago também tem sua obra poética censurada pelo governo soviético.
Por isto, muitos críticos asseveram que o personagem Dr. Jhivago simboliza um
alterego de Boris Pasternack.
O
ano de produção do filme, 1965, indica o período de plena guerra-fria entre
Estados Unidos e União Soviética. Muito provavelmente, este tenha sido um dos
fortes motivos para que o romance de Pasternack tenha sido eleito para receber
o tratamento cinematográfico hollywoodiano. Pois o cinema e a imagem em geral
são importantes instrumentos de persuasão e panfletagem política utilizados
pelo governo norte-americano, como expõe a professora Priscila Aquino Silva em
seu artigo “Cinema e História: o imaginário norte americano através de
Hollywood.”. Isto, é claro, sem tirar o valor artístico das peças
cinematográficas produzidas.
Através
da saga do personagem principal a plateia viaja pela transição revolucionária.
Inicia-se ainda na Rússia dos Czares, as manifestações populares promovidas
pelos bolcheviques, a repressão feroz aos movimentos, a revolução, e o
pós-revolução com a guerra civil entre exércitos vermelhos e brancos.
A
primeira cena do filme é bem simbólica a respeito do uso das imagens para se
legitimar um discurso crítico ao socialismo. O vai e vem de operárias na
entrada da mina de carvão, o uso de cores frias, sem colorido, todas com roupas
simples e muito parecidas, passando uma ideia de padronização, massificação e
despersonalização do indivíduo. Em um momento mais adiantado do filme, a ideia
de mitigação dos valores individuais retorna textualmente no discurso de uma
autoridade soviética que interroga Jhivago em um trem, dizendo que não há mais
espaço, na Rússia, para a vida pessoal.
Observa-se
também o discurso de crítica ao sistema socialista nas cenas anteriores e
posteriores à revolução. Antes da revolução é mostrada uma Rússia com uma
aristocracia rica, belos salões, culta. O próprio Dr. Jhivago é um médico e
poeta aristocrata de sucesso. Após a revolução todos os cenários se empobrecem.
Inclusive o protagonista que perde as propriedades e acaba pobre e doente. Este
percurso da trama descreve o senso comum de que o socialismo divide a pobreza e
a miséria.
É
interessante, também, observar a dureza das faces das autoridades do estado
soviético. Quase sempre aparecem de forma dura, sem emoção, autoritária, legitimando
o discurso de um regime duro e que coage os cidadãos.