quinta-feira, 24 de abril de 2014

Preconceito ou ilusão de ótica na novela ?





Acompanhando alguns capítulos da obra do autor Manoel Carlos - Em Família - que é transmitida no horário nobre, colocamos a reflexão de que, apesar de todo o esforço em campanhas contra o preconceito racial, ainda haveria uma expressão clara, nas novelas, das permanências culturais e históricas que marcam a existência do preconceito racial em nossa sociedade e que nos remete à velha dicotomia casa-grande e senzala.

Sabe-se que o escritor Manoel Carlos é dono de uma narrativa monotemática. Apresenta sempre, nos folhetins, as tramas do seu próprio universo social e pessoal. As estórias são sempre adaptadas no Leblon, bairro onde vive, e retrata personagens com o perfil das "tradicionais" famílias do bairro.

Nas novelas que escreve não existe um núcleo de personagens populares com vida própria. O representante das classes populares é, em regra, um serviçal das famílias abastadas. Sendo suas aparições bem pequenas, servindo um café, perguntando se a patroa necessita de algo mais, etc.

Na atual trama há apenas um personagem popular e negro (os dois outros personagens negros relevantes são femininos) que ganhou mais espaço e evidência, que se trata do "Jairo", representado pelo ator Marcello Melo Jr.

Ocorre que o "Jairo" também encarna o personagem inadequado. Apresentando vários vícios pessoais. Representa um sujeito inculto (em relação aos gostos sofisticados dos demais personagens), malandro, violento (várias vezes chamado pelos outros personagens de primitivo), chantagista, dentre outras. O personagem até poderia ter aproveitado a oportunidade "inusitada" de ascensão social para se educar, aprender, estudar, mas prefere exclusivamente a boemia dos bares e a sinuca.

Alguém poderá lembrar o fato que também existem outros personagens com características de vilania. Contudo, a questão racial, no caso dos outros personagens, se dilui no universo de tantos personagens "bons" ou 'maus" provenientes de uma mesma etnia e classe social apresentados.

Desta forma, o "Jairo" acaba sendo a referência de personagem pobre e negro. Acaba passando a mensagem de que aquele personagem está fora do seu "lugar" social, que não se encaixa no contexto apresentado. Se expressando, mais uma vez, a permanência cultural e história que reparte nossa sociedade entre casa-grande e senzala.

Nesta época em que tanto se luta contra todos os tipos de preconceito, parece-nos, no mínimo, inadequado e inoportuno apresentar um personagem tão estereotipado.

3 comentários:

  1. Vergonhoso pra não dizer uma ofensa moral aos negros.

    ResponderExcluir
  2. Também acho curioso o fato de que seus personagens negros só se envolvem com outros negros, como se houvesse um estigma invisível nas relações inter-raciais. Quando isso é superado, dá-se a impressão de que o relacionamento está fadado a fracassar, como ocorre com Jairo, que não se ajusta ao meio elitista de sua mulher branca - onde é definido como primitivo, animal, marginal. Me incomoda também a afirmação do personagem Nando de que Jairo espancava mulheres antes de qualquer sinal de que ele faria isso. Expressa claramente o preconceito do autor. Os outros personagens pobres são estupradores, e só se salva a avó da criança - que, vejam só, é branca.

    ResponderExcluir
  3. Só porque mora na favela é agressivo e não consegue se adaptar a um meio social mais favorecido? Essa novela passou dos limites do preconceito e o que eu percebo é que quase não há defesa, os personagens de classe média alta demonstram constantemente o preconceito e fica tudo por isso mesmo

    ResponderExcluir