segunda-feira, 21 de abril de 2014

História da África: Comparativo entre os reinos Songai e do Mali

SONGAI & MALI


Os reinos de Ghana, do Mali e Songai fazem parte do processo civilizatório das etnias africanas do Sudão Ocidental que se estabeleceram como estruturas estatais mais complexas a partir do século VIII até o XV.


É interessante observar que o estudo destas sociedades apresenta características étnicas da chamada África negroide, cujas formas culturais variavam bastante das sociedades africanas do mediterrâneo, com as quais os europeus já mantinham contato comercial e militar por vários séculos. Como exemplo, podemos lembrar as guerras púnicas entre Roma e Cartago.


O fato dos impérios de Mali e de Songai se sucederem numa mesma área geográfica permitiu a observação de permanências culturais, na administração estatal, militar e econômica entre eles. Assim como Mali sucedeu Ghana, o império Songai sucedeu o de Mali.


O Estado unificado de Mali surge da vitória de Sundiata Keita sobre os Sossos na batalha de Kirina. Foi composto por diversos povos que se encontravam na região entre os rios Senegal e Níger, sendo o povo mandinga os que mais se notabilizavam. As tribos sossas, derrotadas, foram submetidas a um tipo de servidão. Sundiata se converteu ao Islã, mas a população continuou com as crenças antepassadas. O governante do Mali recebia a alcunha de “mansa”, sendo a dinastia preponderante a Keita. A sucessão se fazia por matrilinearidade. Constituía um império tributário através da taxação  das comunidades aldeãs e do comércio internacional transaariano, havendo distinções de classe. Uma de suas principais cidades foi Tombuctu que floresceu econômica e culturalmente.


Em relação ao Mali, uma passagem interessante diz respeito à peregrinação do mansa Mussa à cidade de Meca. Conta-se que sua comitiva se apresentava ostentando muito luxo e riqueza e que Mussa teria presenteado com ouro diversas autoridades muçulmanas. Contudo, contrário do que se possa imaginar, não se tratou de ingenuidade, mas de uma estratégia para afirmação do novo reino muçulmano no Islã.


O império Songai será o último grande Estado da região, tendo a cidade de Gao seu maior centro comercial, político e econômico. Sua expansão se deu no século XV tendo à frente o conquistador Sonni Ali, que por se manter politeísta acabou sofrendo oposição do partido muçulmano dentro do reino. Songai derrotou o Mali e ficou com a administração de seu território. O general Mohammed sucedeu Ali e se converteu ao Islã, viajando a Meca e recebendo apoio dos comerciantes muçulmanos no seu Estado. Aproveitaram a estrutura administrativa do antigo Mali fazendo algumas adequações. O Songai teve o primeiro exército profissional da região. A cidade de Tombucto continuou um importante polo intelectual. Acabou caindo perante os marroquinos que introduziram armas de fogo no combate.



Nestes reinos é importante notar a estreita relação que possuíam com a geografia desértica do Saara e o aproveitamento de suas rotas comerciais, por onde se comercializava principalmente o sal, mas também marfim, goma, e outros produtos. A exploração aurífera era um dos pontos altos de que se beneficiavam para alavancar a economia.


Note-se que todos eles tiveram estreita relação com a cultura islâmica. Em regra, a aristocracia se convertia ao Islã e a população camponesa e pastoril continuava com seus deuses ancestrais. Tanto Mali quanto Songai mantiveram um importante centro cultural na cidade de Tombucto, para onde se dirigiram vários sábios da África e da Ásia.


A questão da fundição dos metais foi técnica importante para constituírem exércitos mais preparados, usando ponta de metal em lanças e flechas. Songai chegou a constituir um exército permanente.


As fronteiras destes Estados eram fluídicas, sem consistente unidade territorial, dependendo muito da extensão da autoridade pessoal do governante. Adotavam a monarquia como forma de governo, sendo que a forma de sucessão oscilava entre o princípio matrilinear e o patrilinear.


Ambos estados eram tributários. Cobravam impostos aos mercadores, aos agricultores, pastores e, principalmente, dos povos conquistados.


Configuravam sociedades multiétnicas, pois vários povos eram cooptados por cada um destes impérios. Por isso, também manifestavam uma multiculturalidade. Em regra, a dinastia dominante era proveniente da tribo mais forte.


Passaram a ter dificuldades em manter seus domínios a partir da chegada dos europeus no continente com seu novo paradigma comercial e militar. Marrocos ao absorver armas de fogo em suas tropas derrotou facilmente o exército Songai.


Contudo, o estudo destas formações estatais joga luz sobre uma parte da história pouco estudada, pois neste tempo não havia o interesse direto do homem europeu sobre estas terras e suas riquezas.

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