terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Crítica e subserviência no carnaval carioca: Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca pontuam os dois lados da política nacional.



A simpática escola de samba do tradicional bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, ousou realizar, talvez, o maior enredo de crítica política de todos os tempos no carnaval carioca. Contou a história, na avenida, do golpe de Estado ocorrido em 2016, quando a presidente Dilma foi  impedida sem a adequada configuração de crime de responsabilidade fiscal. 

Trouxe um destaque representando como vampiro o presidente ainda em exercício. Algo de um ineditismo fantástico. A cereja no bolo é que o rapaz que representou o presidente-vampiro trata-se de um professor de história.

A ala dos "manifestantes-patos-fantoches-camisa-de-seleção" simboliza aquele mar de gente de pouquíssimo bom senso, com baixíssima leitura da conjuntura, que não acompanha profundamente a política e sem conhecimento histórico que se deixa manipular e passa a reverberar, como papagaios, ideias que são contrárias aos seus próprios interesses.

O mais fantástico foi o fato da escola conseguir que um dos principais meios de comunicação a serviço dos interesses dominantes realizasse a transmissão nacional e internacional desta narrativa que é diariamente abafada por estes mesmos veículos.

O resultado foi que o samba funcionou e a escola levantou a Marquês de Sapucaí.  Isto, no entanto, não é garantia de que a escola consiga retornar no desfile do sábado das campeãs. As escolas menos famosas têm extrema dificuldade em receber notas adequadas com o desfile que realizam. Algo que me chama a atenção são as notas da bateria. Quando escolas famosas quase sempre recebem a nota dez, efusivamente proclamada pelo Jorge Perlingeiro, e as escolas menores recebem notas mais baixas. Como se o sambista da mangueira ou de Vila Isabel soubesse tocar o tamborim melhor que os de outras praças.

Para piorar, o ingrediente político poderá se voltar contra a escola e sua diretoria. Não consigo deixar de pensar nos diretores dessa escola como possíveis alvos como foram os reitores das universidades públicas.



Por outro lado, tivemos o carnaval promovido pela Unidos da Tijuca. Uma escola que já pode-se considerar entre as mais fortes da cidade, tendo em vista que já conseguiu o título de campeã em passado recente. 

A Tijuca optou por uma fórmula mais fácil, que é a de bajular aqueles mesmos meios de comunicação através de uma homenagem do enredo a um de seus diretores. 

Em época eleitoral de tanta efervescência política, escolher este tema parece uma estratégia pouco corajosa. Ainda que se desejasse realizar uma homenagem a alguém das artes, houve várias personalidades importantes que faleceram em 2017 que acredito mais interessantes para se transformar em enredo. Uma delas foi a inesquecível Eva Todor. No meio musical tivemos o passamento de Luiz Melodia, Almir Guineto e do Belchior. 

Na quarta-feira de cinzas iremos saber o que valeu mais: se a crítica social e política ou a simples bajulação.

A Tijuca poderá até ser novamente campeã do carnaval carioca, mas a Paraíso do Tuiutí já entrou para história !!!

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3 comentários:

  1. Também adorei o desfile da Tuiuti! Mas gostaria de fazer um reparo a seu texto. O tema da escola não foi o Golpe, mas algo muito mais extenso: a continuada omissão a uma reparação efetiva ao crime da escravidão, sendo que a tomada de poder da direita interrompe as ações que começavam a ser feitas nesse sentido (como, por exemplo, as cotas, a ampliação do ensino público, etc.) Acho importante que não se passe por cima da especificidade da luta contra o racismo. Um abraço. Estamos juntos.

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  2. Ótimo texto sobre um importante momento de nossa história. Parabéns!

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