sábado, 11 de novembro de 2017

Metrópolis, filme expressionista alemão de 1927, discutiu o conflito de classes sob perspectivas que ainda se aplicam no Brasil de 2018.




O filme Metrópolis é considerado o maior ícone do cinema expressionista alemão. Trata-se de uma fita do cinema mudo produzida em 1927 pelo aclamado diretor Fritz Lang. A arte expressionista não possuía a intenção de reproduzir retratos fiéis da realidade. Ao contrário, dialogava com a subjetividade do autor ao demonstrar o mundo na visão particular do mesmo. O expressionismo recebeu influências diretas da filosofia de Nietzsche e das teorias psicanalíticas de Freud. Os personagens e cenários recebiam um tratamento fotográfico e de maquiagem para distorcer e descolar o resultado de uma imagem supostamente verídica. Consistia, também, num movimento que combatia o racionalismo moderno.

A data de lançamento do filme (1927) contava apenas uma década após a ocorrência da revolução socialista russa de 1917.  Nessa época, o "fantasma vermelho" rondava por toda a Europa ocidental. As críticas e teses de Marx e Engels borbulhavam em intensas discussões nos mais diversos espaços; notadamente entre intelectuais, ainda que não se identificassem com o regime socialista. Este foi, sem dúvida, o caso do diretor Fritz Lang. Que embora não fosse socialista, centrou sua obra sobre o romance, escrito por sua esposa, que discutia amplamente o conflito de classes e as tensões entre capital e trabalho.

A película é riquíssima em simbologias e metáforas que nos faz viajar pelo universo da exploração capitalista desmedida após o advento da revolução industrial. Por isso, uma ótima opção para ser exibido em sala de aula para posterior discussão. O único problema é sua longa duração.

O enredo conta a história de Freder, filho do mais importante capitalista industrial da cidade, que se apaixona pela babá Maria, que cuida dos filhos dos operários, mas que também se torna uma importante líder popular em prol das melhorias nas condições de trabalho. Esta aproximação entre os  personagens faz com que o filho do empresário conheça o outro lado da produção da riqueza, dos trabalhadores assalariados, e desenvolva uma consciência crítica e social.



De início, a cidade é apresentada geograficamente fragmentada conforme as classes sociais. Enquanto os ricos moram na superfície e frequentam clubes e o 'jardim das delícias", a população operária tanto trabalha quanto reside no subsolo da cidade. Marcando de forma inequívoca o lugar social, superior e inferior, de cada grupo.

Quando Freder desce, pela primeira vez,  aos níveis inferiores, a procura de Maria, é impactado pelas penosas condições de trabalho impostas aos operários. Para seu azar ou sorte, neste mesmo momento presencia um grave acidente de trabalho, quando algumas caldeiras explodem. Na mente de Freder vem a figura do deus cananeu Moloch, para o qual eram oferecidos sacrifícios humanos conforme o relato bíblico. Na tela, temos a metáfora dos trabalhadores como sacrifícios humanos na busca do lucro pelos donos dos meios de produção. É interessante observar que na época ainda não havia legislações substanciais que garantissem maior proteção ao trabalhador. Hoje, contrariando a evolução das relações trabalhistas, no Brasil está havendo a revogação de boa parte da rede legislativa que protege o trabalhador.

O grande capitalista mantém uma vigilância sobre a atividade dos operários após o horário do trabalho. Um espião detecta Maria como liderança do movimento operário. Para confundir os trabalhadores, o empresário planeja desconstruir a reputação de Maria. Para tal, usa os serviços de um cientista que constrói uma espécie de robô que depois se torna um ciborgue com aparência idêntica a de Maria. A versão robótica de Maria se apresenta no cabaré da cidade, causando espanto e desconfiança quanto à sua conduta.  Neste ponto, o filme apresenta a versão cristã sobre a conduta feminina, ou a mulher é santa ou pecadora.




O cabaré Yashiwara, local da luxúria e de todos os outros pecados capitais, é apresentado pela primeira vez através da imagem de três rostos de origens étnicas diferentes - negro, branco europeu e asiático - dialogando com as teorias raciais que dominavam a sociedade e, inclusive, a academia naquela época. Pois a mistura das raças era vista como fator que corrompia a espécie humana. Nada melhor que o espaço do cabaré, lugar de perversão, para passar a ideia de que a mistura racial é algo condenável.

Caminhando para o final da trama, é demonstrada a facilidade com que as massas são manobradas. O robô que toma o lugar de Maria convence facilmente os operários mesmo com um discurso contrário ao  da verdadeira líder. Não é muito diferente do efeito que a grande mídia, principalmente a televisão, exerce sobre as massas atualmente. O ludismo é lembrado na cena em que os operários são levados a quebrar todas as máquinas da fábrica.

Metrópolis também foi um importante marco para o cinema de ficção científica. Muitos dos seus conceitos foram repetidos em diversos filmes famosos de Hollywood. O homem-máquina de Metrópolis foi a inspiração para futuros androides famosos, como o C3PO de Guerra nas Estrelas. O cientista Rotwang, criador do robô sósia de Maria, foi inequivocamente usado como referência na construção do personagem "Dr. Emmett Brown", da franquia "De Volta Para o Futuro". Ainda podemos observar referências a Metrópolis em filmes como "Blade Runner", "Os Doze Macacos", "As Panteras", entre outros.

Concluindo, deixamos a frase que resume o ensinamento proposto por Lang a respeito da justiça social que deve reger as relações entre patrões e empregados:

"O mediador entre a cabeça e as mãos deve ser o coração"

Filme Metrópolis completo e legendado no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=QkHOwwPKZ78&t=54s

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