sexta-feira, 10 de abril de 2015

Colonialismo e a belle époque.





Resenha do artigo: "O colonialismo como glória do império" de autoria do professor Edgar de Decca.

O autor, professor Edgar de Decca, possui doutorado em história social pela Universidade de são Paulo, sendo pesquisador do CNPQ e professor titular da Universidade Estadual de Campinas. é membro do conselho Consultivo da Revista Estudos Históricos da Fundação Getúlio Vargas, dentre outras edições.

O artigo em tela consiste em um dos mais de trinta capítulos com os quais colaborou em diversos livros publicados. Neste artigo, o autor faz uma análise do recorte histórico chamado imperialismo, quando as potências industriais europeias expandiram suas áreas de influência por outros continentes, notadamente o africano e o asiático.

Edgar de Decca escreveu sobre o período com olhar crítico e atento às suas contradições. Tais contradições ficavam evidentes no modelo econômico que não conseguiu sustentar um avanço material sem que deflagrasse a primeira grande guerra mundial e, também, se evidenciam através da luta de classes como, ainda, nas manifestações artísticas daquele tempo, no aspecto pessoal, quando o indivíduo foi invadido por sentimentos e desejos contraditórios com a sua capacidade de realização, levando ao surgimento de ciências como a antropologia e a psicanálise.

As fronteiras dos estados-nações não comportavam mais a necessidade de expansão dos mercados. Desta forma, as potências industriais europeias rumaram para conquistar áreas, principalmente, na África e na Ásia, inaugurando o chamado imperialismo. No entanto, uma das primeiras críticas do autor é quanto ao uso da palavra 'imperialismo" para definir esse processo, pois segundo a etimologia da palavra, entende-se que a construção de um império depreende que o estado empreendedor desta expansão imperial fosse estender suas leis e demais instituições aos territórios que iam sendo anexados aos seus domínios. Contudo, ocorreu algo diverso nas colônias africanas e asiáticas. Jamais estas populações ganharam um estatuto jurídico de igualdade para com os cidadãos dos respectivos países europeus.

Desta forma, o autor assevera que há uma imprecisão na eleição do termo 'imperialismo" para definir aquele período histórico. Por outro lado, hoje está consubstanciado mais de um significado para o vernáculo em questão.  Pois se entendemos império como uma unidade política e jurídica, de outra forma também é corrente o entendimento da palavra império e imperialismo para aqueles países centrais do capitalismo que usam sua força econômica para dominar os países periféricos sem que seja necessária uma ocupação militar com anexações territoriais.

Destarte, como o próprio professor menciona no texto, há duas formas de expansão do capitalismo, que são entendidas como duas abordagens imperialistas, sendo uma delas aquela ostensiva e de controle burocrático e militar dos povos e nações, enquanto a outra ocorre por meio de investimentos estrangeiros na infraestrutura e outros equipamentos econômicos dos países em que não há desenvolvimento nacional acentuado do capital industrial.

Nos planos social e individual ocorreram grandes alterações  no aspecto comportamental, atitudes e valores. A notória característica do período foi que do grande desenvolvimento industrial se produziu, também, um intenso agitamento nas metrópoles, que influenciou diretamente o imaginário das pessoas, tendo reflexo nos mais variados movimentos artísticos, na arquitetura, na literatura, nas artes plásticas, música, ciências, etc.

É de se ver a ocorrência de equipamentos que não teriam razão de ser fora desta época e seu contexto, tais como as grandes lojas de departamento, os equipamentos de lazer, como parques e teatros e o surgimento do turismo.

Apesar de todas estas possibilidades de entretenimeto ao alcance das classes mais abastadas, o proletariado vivia de maneira precária nas periferias das grandes metrópoles.

Uma alegoria interessante que extraímos do texto é a comparação entre o filme Titanic e a realidade social.Os ricos no andar de cima do transatlânticos e os proletários nos andares inferiores. E no momento do acidente, da crise, se privilegiou o socorro aos ricos, deixando os pobres à própria sorte. Embora devamos fugir do "presentismo", esta alegoria ainda se enquadra na época atual. Sempre que o capitalismo passa por um período de crise são criadas medidas de "austeridade" que visa proteger o grande capital e sua margem de lucro, enquanto relega às classes baixas o pagamento pela conta de crise.

Por conta das contradições do capitalismo, surge o movimento político e econômico socialista, que visava fortalecer as classes proletárias através de sua conscientização e mobilização, propondo novo modelo econômico, que no discurso de suas lideranças se dizia que traria mais justiça social. Entretanto, apontou-se ambiguidades também dentre os diversos grupos de socialistas que surgiram no curso da Internacional Socialista.

Concluindo, a belle époque foi um período em que ocorreu conquistas, desde as científicas até as artísticas e comportamentais, mas também de inúmeros contrastes e ambiguidades que não devem ser apagados por conta das propostas de progresso que foram vendidas pelo discurso capitalista industrial.






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