sábado, 25 de abril de 2015

O Estudante que viajou no tempo para plagiar o seu próprio texto.





Trata-se da fantástica história do estudante que quebrou as regras da física para conseguir o feito de plagiar um texto de sua própria autoria.

Esta é uma das muitas histórias insólitas que acontecem na Belíndia, en la Universidad Bolívar de Sá !

Naquela avaliação a professora não deu prova, mas um trabalho valendo pela prova. O trabalho consistia em resenhar dois textos. O aluno leu os textos, redigiu as resenhas solicitadas, imprimiu e mandou encadernar. Entregou o trabalho no dia e hora da prova, assinou a pauta e foi para casa. Ao chegar a casa, mais tarde, postou uma das resenhas em um blog e, no dia seguinte, postou o outro texto no mesmo blog, onde sempre arquiva todos os trabalhos que produz para o curso.

É importante salientar que o blog tinha um nome genérico, pois o estudante abriu o blog sem caráter de promoção pessoal, não havendo uma referência direta ao autor do blog na página.

Passadas algumas semanas a professora entregou os trabalhos com as notas. O trabalho deste aluno veio com a nota 0 (zero). A justificativa da brilhante professora, dublê de sherlock, foi que o aluno copiou os textos da internet e anotou nas páginas do trabalho o link do blog.

O aluno argumentou que, embora não tivesse o costume de assinar a autoria dos textos que postava no blog, era fácil constatar que era ele quem realizava as postagens, afinal ele era o administrador do blog, em qualquer computador com acesso À internet demonstraria que possuía a senha para o login, podendo postar qualquer coisa naquela página. E ainda que o objeto da suspeita era totalmente fora de propósito, pois era fisicamente impossível de ser realizado, uma vez que os textos foram publicados em horários e dias posteriores ao da entrega do trabalho. Bastava a professora olhar a data das postagens !!!

Mas a brilhante professora permaneceu irredutível ! É zero porque está na internet, está num blog, se está num blog e está na internet foi copiado !

Tudo bem que internet não escreve texto. Blog também não escreve texto. Pessoas escrevem textos. Então, ninguém copia nada da internet. Alguém copia o que outra pessoa escreveu. A questão, então, seria verificar se foi o aluno ou não quem postou o texto. Pois as pessoas podem fazer o que bem entender com os seus textos. Rasga-los, colar na porta do banheiro, rodar várias cópias e distribuir pela rua, vender em bares para ajuda de custo e, até, vejam os senhores, publicá-los em alguma página da internet. Inclusive, devemos considerar que a internet é o ambiente mais democrático onde todos podem publicar. Não precisa ter título de mestre, doutor ou Phd para publicar algo na internet.

Mas a professora permaneceu irredutível .

Ora, para a hipótese da professora estar certa, o aluno teria que ter entrado na máquina do tempo ( seria um delorean ? ), avançado no futuro para o dia posterior À prova, copiado o texto da internet, voltar para a máquina do tempo e retornar à sua linha do tempo original, para então, ter o objeto do crime nas mãos. Isto, sem contar, que o aluno teria que prever que um dia após a prova alguém iria postar exatamente aquele texto na internet.

A hipótese proposta pelo estudante era muito mais simplória. Ele entregou a prova e depois publicou os textos no blog. Para comprovar bastava que o levassem a um terminal com acesso à internet para mostrar que tinha a senha para o login de administrador na página do blog.

Nada demoveu a professora em sua teoria que prejudicaria o aluno.

Mas isso aconteceu lá na Belíndia.
Malditos belindianos.

Se aquela professora conhecesse um mínimo de história da metodologia científica poderia ter encaminhado a questão de outra forma. No século XIV viveu um frade franciscano, Guilherme de Ockham, que se dedicava à observação científica. Ele elaborou um princípio de metodologia científica que é usado até hoje pelos pesquisadores. Sempre que para explicar um evento houver duas hipóteses, uma mais complexa, que depende de muitas variáveis, e outra mais simples, em regra, 99,9% das vezes a correta será a hipótese mais simples. Este princípio ficou conhecido como "navalha de ockham".

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sábado, 11 de abril de 2015

O Titanic como metáfora das crises econômicas




O historiador Edgar de Decca, da Universidade de Campinas, construiu um interessante diálogo entre o filme Titanic e a sociedade imperialista europeia do período moderno. Uma comparação, que no viés econômico, ainda pode ser estendida para os dias atuais. Vejamos o trecho em que o citado professor realiza este paralelo no artigo "O colonialismo como a glória do império", que integra o livro "O Século XX: tempo das certezas", organizado por Daniel Aarãon Reis Filho:

"O navio representa um microcosmo da sociedade da Europa moderna do período imperialista, com seu andar superior repleto de personagens típicos da burguesia abastada e ociosa, da agonizante aristocracia e da classe média ascendente, todos eles turistas em busca de aventuras e fantasias no além-mar. Nos andares inferiores, amontoam-se trabalhadores que emigram para países distantes da Europa em busca de sonhos de felicidade. Não deixa de ser significativo que todos estão no mesmo barco, que, entretanto, ao afundar, privilegia o salvamento dos mais abastados e deixa os trabalhadores jogados à própria sorte. Uma semelhança muito grande com o que acontecia na vida cotidiana das grandes cidades européias e que também encontraria continuidade na aventura imperialista. Todos parecem ter o seu sonho satisfeito  dentro do navio: os burgueses, porque suas aventuras e fantasias iriam se transformar em lucros capitalistas fabulosos na expansão e exploração econômica imperialista; a aristocracia decadente, por acreditar no sonho imperial cavalheiresco da expansão e da dominação europeia no mundo; a classe média ascendente, porque esperava alcançar os cargos burocráticos e militares da administração colonial; e os trabalhadores por sonharem com terras distantes, onde iriam começar uma nova vida diferente das agruras das grandes cidades industriais e da pobreza do trabalho rural assalariado. O elemento emblemático do filme Titanic é esse navio, símbolo da vitória da tecnologia e da ciência, que se acreditava indestrutível e impossível de submergir, como se a confiança na ciência e na técnica fosse de tal grandeza, a ponto de cegar os homens para a possibilidade de um desastre. Todos aqueles que participavam da viagem, de uma maneira ou de outra, acreditaram nessa fantasia criada pela tecnologia industrial e apenas perceberam o tamanho do pesadelo quando acordaram tarde demais. Se pudéssemos resumir a experiência imperialista numa única imagem, o Titanic seria sem dúvida uma das mais completas. Evidentemente, existiram outras, mas que talvez não tenham alcançado a dimensão real desse navio, que de sonho maravilhoso transformou-se num enorme pesadelo."

O navio luxuoso que ante ao desastre privilegiava salvar os ricos deixando os pobres à própria sorte ainda é uma perfeita metáfora para as crises econômicas do século XXI.

É exatamente este o cenário que vimos na Europa atual, quando trabalhadores gregos e espanhóis saem Às ruas revoltados contra as famosas medidas de "austeridade" que são receitadas pelos grandes fundos econômicos mundiais, cuja solução prevê a manutenção dos altos lucros e concentração de renda que beneficia a minoria dona do grande capital em detrimento dos trabalhadores.

é o mesmo receituário que vemos no Brasil, quando os efeitos da crise mundial se tornam mais visíveis, com estagnação econômica e aumento da inflação, são realizados os "ajustes" que de certa forma sempre cortam direitos da grande população. E não pensem que os opositores ao atual governo, que de suas varandas gourmets batem em panelas de R$1.500,00 desejam algo diferente. Ao contrário, querem aprofundar as medidas que precarizam a vida e destroem direitos do proletariado, como o caso do PL das terceirizações.

Nesse cabo-de-guerra a nossa classe média está repetindo o discurso reacionário da direita, contrário às conquistas sociais e pedindo pelo corte de importantes programas de inclusão. Em boa parte nossa classe média é desinformada, mas não é apenas falta de esclarecimento político, econômico e social. Trata-se de uma posição histórica de antagonismo em relação às classes mais depauperadas da nossa sociedade. Ser classe média em uma nação subdesenvolvida com um grande fosso social entre as classes tem os seus atrativos.

Por isso, foi criado para o Brasil o termo "Belíndia", que se referia ao país onde uma pequena classe rica vivia como os ricos da Bélgica e a imensa parte da população pobre como se vivesse na Índia. E para as classes médias, exceto pela questão da violência, viver na Belíndia é muito mais interessante do que viver num país cujo capitalismo seja menos excludente. A pessoa que é das classes médias na Belíndia pode ter seus pequenos servos, como faxineiras diaristas, lavadeiras e passadeiras, coisa que uma pessoa da classe média na Finlândia, por exemplo, não tem acesso, pois não existe uma distância econômica que permita isso.

É neste sentido que assistimos a uma simpática senhorinha, classe média, numa das passeatas, explicar ao repórter que depois das bolsas e outras medidas inclusivas do governo, não existe mais mão-de-obra no Ceará. Todos estariam vivendo de bolsa felizes e abastados. Que existe a mã-de-obra, existe. Contudo, é só dar um pouco de condições que ninguém mais vai se sujeitar a um trabalho sem condições dignas.


A revolução ou as revoluções russas.






Resenha do artigo: "As revoluções russas", do autor Daniel Aarão F. Reis.

No texto em tela, o autor faz uma análise do contexto da revolução russa de 1917. Partindo da Rússia Czarista até os efeitos da guerra civil entre vermelhos e brancos. Defende a ocorrência de uma sequência de três revoluções, dentro desse processo, até a consolidação da União das Repúblicas socialistas Soviéticas.

De início, nos mostra uma fotografia da Rússia Czarista, que era ainda essencialmente agrícola, se valendo do regime de servidão, extremamente atrasada em relação à industrialização que ia se processando em marcha cada vez mais dinâmica na Europa Ocidental.

Quando da participação da Rússia em alguns conflitos bélicos, como a guerra da Criméia e contra o Japão, as contradições e o atraso do "gigante com pés de barro" (Rússia) ficou patente, sendo urgente a necessidade de uma série de reformas para a  implementação de uma política desenvolvimentista.

Neste contexto nasce a chamada intelligentsia revolucionária, que desejava promover um modelo que evitasse as desigualdades sociais, que era comum nos países europeus industrializados. Dividiam-se em dois grupos: aqueles que entendiam a necessidade de um trabalho constante de conscientização das massas e, outro, que pregava a necessidade de uma vanguarda política e intelectual para desestabilizar o governo e promover a revolução.

Note-se que foi neste período que se constituiu a social-democracia russa, com inspiração marxista. Entre os sociais democratas surgiram duas novas correntes: os bolcheviques ( mais radicais) e os mencheviques (mais moderados).

O professor Daniel Aarão entende que a primeira revolução que acontece no correr deste processo foi em 1905, por conta de uma mal sucedida operação militar, no Extremo Oriente, quando o Czar entrou em choque com interesses japoneses naquela área de influência. Os japoneses derrotaram com facilidade a esquadra russa em Port Arthur. A insatisfação popular cresceu e gerou inúmeras revoltas naquele ano. Uma delas foi debelada, pelos Czares, com extrema violência tendo entrado para a história como "domingo sangrento". O Czar acabou recuando e convocou eleições para o Parlamento (Duma). Daí em diante os movimentos camponeses se fortaleceram e constituíram uma importante ferramenta revolucionária.

Intensificou-se o debate sobre qual modelo a Rússia deveria seguir. Se uma monarquia constitucional ou se uma república. Leon Trotski defendia a instalação de uma revolução permanente e Lênin uma revolução initerrupta.

Com a eclosão da primeira guerra mundial se precipitaram os fatos que levaram à derrubada do Antigo Regime na Rússia. O desabastecimento e o caos gerado pela entrada na guerra contra os alemães provocou críticas em todos os segmentos da população. Termina com a queda dos Romanov do poder. O autor considera este momento como a segunda revolução dentro de todo o processo.

Neste momento, o governo passou a ser regido pela Duma e pelos soviets. Contudo, com a decisão do parlamento pela manutenção da rússia na guerra acarretou a formação de novas crises e movimentos. Enquanto isso, crescia o poder dos bolcheviques.

Em outubro de 1917 o partido bolchevique assume o poder derrubando o Governo Provisório. Para o professor Daniel Aarão esta corresponde à terceira e última revolução compreendida durante todo este processo histórico. Há autores, como o historiador Angelo Segrillo, especialista em Rússia e professor de história contemporânea da UFF, que entende este momento como dividido em duas fases: um golpe seguido de uma revolução. 

O estratagema da tomada do poder pelos bolcheviques teria constituído um golpe contra o governo provisório, tendo caráter antidemocrático. Contudo, a população camponesa, nesta queda de braço entre mencheviques e bolcheviques, acabou tendendo para o segundo grupo. Se por um lado os bolcheviques tomavam  parte da produção dos camponeses para solucionar a questão da fome no país, por outro lado eles davam maior garantia da posse sobre a terra para o campesinato. Havia a desconfiança, entre os campesinos, que os moderados mencheviques pudessem entrar em acordo com os antigos proprietários lhes restituindo as terras. Desta forma, após o golpe a população rural acabou aderindo aos bolcheviques emprestando o caráter revolucionário ao fato.

Por fim, levando em conta a tese de várias revoluções menores dentro da revolução, há quem pregue que a guerra civil, entre vermelhos e brancos, deveria ser considerada uma quarta revolução daquela sequência proposta pelo autor do artigo. Se os movimentos de 1905 foram considerados uma das revoluções, ainda que não tenham tido o condão, naquele momento, de realizar as mudanças estruturais na sociedade russa, entendemos que por equiparação a guerra civil também poderia ser considerada uma das revoluções dentro do quadro geral.

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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Colonialismo e a belle époque.





Resenha do artigo: "O colonialismo como glória do império" de autoria do professor Edgar de Decca.

O autor, professor Edgar de Decca, possui doutorado em história social pela Universidade de são Paulo, sendo pesquisador do CNPQ e professor titular da Universidade Estadual de Campinas. é membro do conselho Consultivo da Revista Estudos Históricos da Fundação Getúlio Vargas, dentre outras edições.

O artigo em tela consiste em um dos mais de trinta capítulos com os quais colaborou em diversos livros publicados. Neste artigo, o autor faz uma análise do recorte histórico chamado imperialismo, quando as potências industriais europeias expandiram suas áreas de influência por outros continentes, notadamente o africano e o asiático.

Edgar de Decca escreveu sobre o período com olhar crítico e atento às suas contradições. Tais contradições ficavam evidentes no modelo econômico que não conseguiu sustentar um avanço material sem que deflagrasse a primeira grande guerra mundial e, também, se evidenciam através da luta de classes como, ainda, nas manifestações artísticas daquele tempo, no aspecto pessoal, quando o indivíduo foi invadido por sentimentos e desejos contraditórios com a sua capacidade de realização, levando ao surgimento de ciências como a antropologia e a psicanálise.

As fronteiras dos estados-nações não comportavam mais a necessidade de expansão dos mercados. Desta forma, as potências industriais europeias rumaram para conquistar áreas, principalmente, na África e na Ásia, inaugurando o chamado imperialismo. No entanto, uma das primeiras críticas do autor é quanto ao uso da palavra 'imperialismo" para definir esse processo, pois segundo a etimologia da palavra, entende-se que a construção de um império depreende que o estado empreendedor desta expansão imperial fosse estender suas leis e demais instituições aos territórios que iam sendo anexados aos seus domínios. Contudo, ocorreu algo diverso nas colônias africanas e asiáticas. Jamais estas populações ganharam um estatuto jurídico de igualdade para com os cidadãos dos respectivos países europeus.

Desta forma, o autor assevera que há uma imprecisão na eleição do termo 'imperialismo" para definir aquele período histórico. Por outro lado, hoje está consubstanciado mais de um significado para o vernáculo em questão.  Pois se entendemos império como uma unidade política e jurídica, de outra forma também é corrente o entendimento da palavra império e imperialismo para aqueles países centrais do capitalismo que usam sua força econômica para dominar os países periféricos sem que seja necessária uma ocupação militar com anexações territoriais.

Destarte, como o próprio professor menciona no texto, há duas formas de expansão do capitalismo, que são entendidas como duas abordagens imperialistas, sendo uma delas aquela ostensiva e de controle burocrático e militar dos povos e nações, enquanto a outra ocorre por meio de investimentos estrangeiros na infraestrutura e outros equipamentos econômicos dos países em que não há desenvolvimento nacional acentuado do capital industrial.

Nos planos social e individual ocorreram grandes alterações  no aspecto comportamental, atitudes e valores. A notória característica do período foi que do grande desenvolvimento industrial se produziu, também, um intenso agitamento nas metrópoles, que influenciou diretamente o imaginário das pessoas, tendo reflexo nos mais variados movimentos artísticos, na arquitetura, na literatura, nas artes plásticas, música, ciências, etc.

É de se ver a ocorrência de equipamentos que não teriam razão de ser fora desta época e seu contexto, tais como as grandes lojas de departamento, os equipamentos de lazer, como parques e teatros e o surgimento do turismo.

Apesar de todas estas possibilidades de entretenimeto ao alcance das classes mais abastadas, o proletariado vivia de maneira precária nas periferias das grandes metrópoles.

Uma alegoria interessante que extraímos do texto é a comparação entre o filme Titanic e a realidade social.Os ricos no andar de cima do transatlânticos e os proletários nos andares inferiores. E no momento do acidente, da crise, se privilegiou o socorro aos ricos, deixando os pobres à própria sorte. Embora devamos fugir do "presentismo", esta alegoria ainda se enquadra na época atual. Sempre que o capitalismo passa por um período de crise são criadas medidas de "austeridade" que visa proteger o grande capital e sua margem de lucro, enquanto relega às classes baixas o pagamento pela conta de crise.

Por conta das contradições do capitalismo, surge o movimento político e econômico socialista, que visava fortalecer as classes proletárias através de sua conscientização e mobilização, propondo novo modelo econômico, que no discurso de suas lideranças se dizia que traria mais justiça social. Entretanto, apontou-se ambiguidades também dentre os diversos grupos de socialistas que surgiram no curso da Internacional Socialista.

Concluindo, a belle époque foi um período em que ocorreu conquistas, desde as científicas até as artísticas e comportamentais, mas também de inúmeros contrastes e ambiguidades que não devem ser apagados por conta das propostas de progresso que foram vendidas pelo discurso capitalista industrial.