domingo, 11 de janeiro de 2015

Quem ria do conteúdo da charlie Hebdo?


Dentre os muitos textos que estão circulando pela rede a respeito do atentado ao jornal francês, encontramos uma reflexão muito interessante da professora Daniela Mussi, que é mestre e doutora em ciência política pela UNICAMP e, também, graduada em ciências sociais e comunicação social.

A citada autora faz uma análise sobre o riso e o humor a partir da obra do filósofo Henri Bergson. Posteriormente, contextualiza o trabalho humorístico da revista Charlie Hebdo.

Separamos um trecho do seu texto que recebemos através do blog Convergência:

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O humor contra os poderosos
Se retomamos as ideias de Bergson a respeito do riso, podemos facilmente justificar o “humor” de Charlie Hebdo. Ele se insere em uma tradição bastante específica, fortemente libertária e erudita, em busca incessante por um ambiente no qual todo riso possa ser possível. Porém, como notara Bergson, o riso não pode ser “todo riso”, já que é nunca “infinito” (idem, p. 7). Ele se insere em um ambiente circular, limitado pelo público para o qual se direcionava. O riso funciona como um eco, reverberado em uma plateia precisa. Justamente por isso, em termos sociais sua função é sempre diferencial, conflitiva.

O que ecoava a revista Charlie Hebdo? Quem ria de seu conteúdo? Quem não ria? E por que? Boas respostas a estes problemas precisam evidenciar contradições, já que o riso não é senão o sintoma “humano”, como notou Bergson, da conformação estratificada dos grupos sociais. O riso/falta de riso de Charlie não divide a sociedade em “dois”, como pensam alguns, mas revela uma série de cisões e sobreposições sociais, culturais e políticas, inclusive aquelas pertinente aos seus colaboradores.

O assassinato da quase totalidade de sua atual equipe de redação no último dia 7 de janeiro é um momento trágico da profunda crise vivida pelos países europeus e, de certa forma, por todos os países capitalistas. Uma crise que revela o real racismo, a islamofobia e o antissemitismo como armas de Estado contra o povo em todos estes países. Em nome de Charlie, os governos francês espanhol, alemão, italiano e britânico se reunirão hoje ao representante do Estado racista de Israel, que há menos de um ano implementou uma das maiores carnificinas da história da Palestina. Em nome de Charlie, todos os jornais falam em antissemitismo, mas não em islamofobia. Em nome de Charlie, os chefes de Estado europeus podem reivindicar para si a bandeira da liberdade, com a qual nunca realmente se comprometeram, seja com os imigrantes, seja diante das massas trabalhadoras que há anos pagam com seus direitos por uma crise que não é sua.

O governo francês, combinado à grande mídia e ao policiamento massivo, buscam, desde o dia dos ataques, um uníssono argumento no qual as “emoções” derrotam a inteligência e convertem a morte de Charlie em um espetáculo melodramático macabro. Para que o riso vingue a morte, o humor deverá novamente voltar-se contra os poderosos e a sátira política reencontrar seus verdadeiros inimigos: Hollande, Le Pen, Merkel, Rajoy, Cameron, Netanyahu e Abbas."

Quem desejar ler o artigo completo poderá acessar no endereço:
http://blogconvergencia.org/blogconvergencia/?p=2796

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