quinta-feira, 5 de setembro de 2013

REVISANDO O DESCOBRIMENTO.



Todos sabemos que é corrente, tanto na escola quanto na universidade, a narrativa do descobrimento do Brasil, ocorrido em 22 de abril de 1500, pela frota capitaneada por Pedro Álvares Cabral, cujo documento principal é a carta do escrivão Pero Vaz de Caminha.

No ambiente da Universidade e, também, entre os professores dos cursos colegiais, que possuem uma visão mais questionadora do tema, faz-se a discussão se o desvio feito pela frota de Cabral não teria sido mero obra do acaso, mas proposital, pois já se saberia da existência daquelas terras tropicais. Se esta hipótese pudesse ser comprovada, a viagem de Cabral não teria sido, como se diz em regra, de descobrimento mas de tomada de posse das novas terras.

Ocorre que, em Portugal, este debate já se torna ultrapassado desde as pesquisas do professor Joaquim Barradas de Carvalho, considerado um dos maiores especialistas mundiais no recorte das grandes navegações. Este notável pesquisador asseverou que a primeira viagem ao Brasil, que se tem notícia formalmente documentada, foi a do navegante, cosmógrafo e embaixador Duarte Pacheco Pereira, em 1498, de quem deveria ser a alcunha de "verdadeiro" descobridor das terras do Novo Mundo.

Ao professor Joaquim Barradas de Carvalho se deve a revisão temática do Descobrimento do Brasil. Era alentejano e graduou-se em História e Filosofia pela Universidade de Lisboa. Adepto da corrente historiográfica da École des Annales, trabalhava no campo da história das ideias e das mentalidades. Era amigo e discípulo de Fernand Braudel. Foi professor na Universidade de São Paulo, no Brasil. Retornou a Portugal definitivamente após a Revolução dos Cravos.

Esta nova versão é apoiada documentalmente, de forma principal, pela obra escrita pelo próprio Duarte Pacheco Pereira denominada "Esmeraldo de situ orbis", que trata da redução a termos do resultado obtido pela expedição que empreendeu em 1498. Como, também, de cartas enviadas por Manuel I, rei de Portugal, aos seus sogros, os reis de Castela e Aragão, onde relatava o achamento das novas terras pela citada expedição.

A pergunta comum que se faz perante esta dicotomia entre o tradicionalmente ensinado em nossas escolas e universidades para a nova narrativa, apresentada por Joaquim Barradas de Carvalho e seguida por diversos outros professores da academia portuguesa, é o motivo pelo qual estas novas informações e fontes não estiveram desde sempre amplamente conhecidas.

A resposta à questão acima reside na natureza secreta da expedição de Duarte Pacheco Pereira. Enquanto a natureza da expedição capitaneada por Cabral era de tomar posse, diante das outras nações, daquela terra, tendo assim caráter público; por outro lado, a expedição de 1498 era de cunho científico e militar, cujos resultados eram considerados  altamente confidenciais pela Coroa portuguesa. Desta forma, toda a documentação produzida, como o Esmeraldo e correspondências, foi mantida guardada sigilosamente em local secreto.O Esmeraldo, por exemplo, só foi encontrado no início do século XX e estudado a fundo mais adiante.

Alguns pesquisadores polemizam a natureza secreta destes documentos. Pois se o objetivo da viagem de Duarte Pacheco Pereira era a de produzir documentos cartográficos e narrativos sobre a geografia das costas encontradas no Atlânico Sul, que seria importante rota para a empresa das Índias, então, tais mapas e narrações produzidas deveriam, ao menos, ter sido remetidas aos comandantes das futuras frotas que iriam realizar aquela rota comercial.

Polêmica a parte, a Academia portuguesa vem tratando como fato, documentalmente comprovado, a viagem ao Brasil pela expedição de Duarte Pacheco Pereira, em 1498.

Atualmente, a questão que se levanta nas salas de aula portuguesas é a mesma que se faz aqui no Brasil em relação à viagem de Cabral. Teria Duarte Pacheco Pereira sido descobridor das costas brasileiras ou, por outro lado, o investimento feito em sua expedição cosmográfica era resultado de relatos anteriores, feito por outros navegadores, de que teriam avistado aquele novo território.

No Brasil, pouquíssimos professores transmitem ou possuem estes dados revisados sobre o chamado descobrimento. Uma das poucas obras nacionais já revisadas e que trazem, ao menos a possibilidade, desta nova versão, trata-se do livro "História do Brasil: Uma Interpretação", dos professores da USP: Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota.

Desta forma, assim como na expansão marítima, a academia portuguesa também sai na frente em relação a esta nova cronologia do descobrimento.







3 comentários:

  1. Mas não teria sido o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón quem descobriu primeiro o Brasil, chegando as terras do que hoje seria o Ceará?

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  2. Vicente Yáñez Pinzón,à mando da coroa espanhola, teria chegado três meses antes da chegada de Pedro Álvares Cabral.

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    1. Pois é amigo,
      Segundo as cartas trocadas entre D. Manuel e os reis de Castella e o próprio Esmeraldo, a viagem do Duarte Pacheco ocorreu 2 anos antes da empreitada de Cabral! Além do trabalho do professro Barradas de Carvalho, há um livro de outro historiador português - professor Jorge Couto - que tb faz uma aprofundada análise do descobrimento e da viagem do Duarte Pacheco, que pode ser encontrado em nossas livrarias. "A Construção do Brasil: Ameríndios, portugueses e africanos, do início do povoamento a finais de Quinhentos", Jorge Couto, editora Forense universitária.

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