quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Um Projeto Propositalmente Incorreto da História do Brasil. Agora dizem que a feijoada veio da França! Eles pensam que nos enganam !




Os tais guias politicamente incorretos são obras com as quais não gasto o meu suado dinheirinho. E sequer gasto tempo vendo a reprodução desses livros no canal History. Hoje, contudo, de férias e "zapeando" o controle remoto da televisão, acabei parando naquele canal que tem mais "trato feito" e "o sócio" do que história propriamente dita. Estava passando justamente o programa sobre o guia incorreto da história do Brasil.

Neste episódio faziam uma colcha de retalhos de entrevistas para ensinar ao espectador que a feijoada não é brasileira, mas uma imitação do cassoulet francês. Apareceu até um doutor em história, que não recordo o nome, que ao ser entrevistado asseverou que o primeiro registro escrito que se tem sobre a feijoada é de um restaurante de Recife.

Acho engraçado pensar se o tal pesquisador doutor esperava encontrar um cardápio de senzala escrito: "domingo, feijoada completa" !!! Lembrando, inclusive, que a transmissão da cultura dos escravos africanos se fazia através da tradição oral.

Parece que os dois fundamentos usados para retirar a feijoada do acervo cultural dos escravos foram que em outros países já existiam pratos com feijão e que não havia registro escrito anterior ao citado restaurante.

Ora, são dois argumentos muito chinfrins para desautorizar o patrimônio cultural de nossos afrodescendentes.

Dizer que o prato não é invenção dos escravos porquanto já existia feijão em culinária de outros países é algo tão idiota que se levado a sério teria que acabar com toda a culinária nacional existente no globo. Pois todos os alimentos que existem na natureza já foram utilizados por grupos humanos mesmo antes do atual recorte geográfico em estados nacionais. O homem domina a agricultura e a criação de animais desde o neolítico. Desde aqueles tempos imemoriais que o ser humano já faz assados, cozidos, caldos, ensopados com os mais diversos tipos de produtos da terra.

O fato de não haver registro escrito e o primeiro ser de um restaurante é mais esdrúxulo ainda. Pois, como dito, os escravos, em sua maioria, não possuíam escrita, com exceção de alguns islamizados. E um restaurante servir feijoada não significa que trouxe a receita da França. Todo cozinheiro pesquisa pratos populares para ver se pode aproveitar receitas e temperos.

O arroz e o feijão são dois dos alimentos mais baratos que temos. Mesmo nas mais agudas crises foi o arroz com feijão e farinha que serviram de base alimentar à população miserável no Brasil. Certamente, por conta do preço, que também constituíam a base da alimentação dos escravos. Quem cozinhava na casa grande não eram chefes de cousine, mas escravas. Aquelas partes dos animais que não agradavam ao apetite dos senhores eram, por elas, levados para engrossar a comida dos negros cativos. Rabo e orelha de porco estavam logicamente neste contexto.

Se alimentar das partes menos nobres dos animais é prática comum em épocas de extrema necessidade. Os próprios portugueses inventaram pratos com as tripas do boi (dobradinha) por conta de períodos de guerra onde a parte nobre do boi era enviada para as tropas e a população das cidades comiam o resto em esforço de guerra.

Desta forma, da necessidade nas senzalas surgiu a feijoada que, depois, foi se tornando comida mais sofisticada. Assim, a existência de feijão na França, em Portugal, na China, ou em qualquer outro lugar, não retira a originalidade da receita elaborada em nossas senzalas.

Estes guias incorretos mais parecem com 'projetos propositalmente incorretos da história" com a finalidade de atacar a cultura e principalmente as minorias sociais. Somente este guia ataca a cultura negra em várias frentes: tenta destruir a figura de Zumbi dos Palmares, diz que o samba é de influência europeia e o mesmo com a feijoada.

E uma nação sem identidade cultural é bem mais fácil de ser dominada por interesses externos.

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Um comentário:

  1. http://www.portalsaofrancisco.com.br/culinaria/historia-da-feijoada

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