quarta-feira, 11 de outubro de 2017

"Não existe almoço grátis ! No Brasil, o que sempre existiu foi o "banquete grátis" !





Nos últimos tempos,. sempre que se fala em programas estatais inclusivos e na rede protetiva de assistência social, você deve ter escutado alguém proferindo a frase "não existe almoço grátis" para tentar deslegitimar projetos de cunho social. Repetem esta frase no sentido de que ou o receptor de benefício irá pagar por ele de alguma forma ou, asseveram ser mais provável, que a sociedade é que irá custear as "benesses" do seu próprio bolso. A naturalização desta ideia leva ao aumento do discurso "eu que tô pagando", seja pela bolsa alimentar concedida ao hipossuficiente, ao estudante da universidade pública ou à exposição no museu.

Historicamente, a frase "não existe almoço grátis" foi cunhada nos EUA, no século XIX, quando vários bares anunciavam fornecer almoço gratuito aos fregueses que consumissem bebidas. O truque dos donos de bar estava em oferecer pratos extremamente salgados, que levava os clientes a consumirem ainda mais cerveja. Desta forma, na verdade, a comida nunca saiu de graça. Posteriormente, esta frase ganhou status de princípio econômico na obra do economista Milton Friedman, que a utilizou como título de um de seus livros.

Quando parte considerável da elite financeira brasileira passa a criticar os programas sociais implantados na última década, utilizam deste recurso simplista para fazer a classe média acreditar  que está bancando a farra do almoço grátis. No caso brasileiro, a própria palavra "almoço" é inadequada, pois os projetos sociais ainda estiveram tão aquém da necessidade de desenvolvimento humano, que estavam mais para um lanche mirabel com groselha do que almoço. A realidade de boa parcela da população pobre do país é mais bem representada na frase "vendendo o almoço para pagar o jantar".

Por outro lado, na história econômica brasileira sempre ocorreram verdadeiros "banquetes" grátis oferecidos pelo povo às elites. A começar pelo nosso modelo agrário centrado no latifúndio que é herdeiro direto das sesmarias coloniais, quando a administração portuguesa concedia vastas áreas de terras a determinados colonos portugueses sem qualquer pagamento ou meritocracia e, ainda, concedendo títulos como de barão. Isto foi um enorme banquete grátis na terra brasilis. Não satisfeitos, além de ganhar muita terra desta forma ainda ganharam mão-de-obra a custo zero, através da escravização dos indígenas e, posteriormente, de milhares de africanos capturados e trazidos à força para trabalhar a terra sem nada receber destes senhores. Desta forma, foram algumas centenas de anos com muito banquete grátis. Com a abolição da escravatura, as péssimas condições de trabalho e baixíssimo salários continuaram a beneficiar aquelas mesmas elites coloniais que, agora, começam a diversificar os investimentos também no setor industrial nascente. A entrada em vigor das leis trabalhistas e previdenciárias tentaram corrigir alguns desses abusos econômicos. Contudo, até hoje vemos que a prática do "banquete" grátis para os ricos continua a todo vapor nas tratativas que os atores da corrupção realizam por debaixo dos panos e das mesas. 

Desta forma, pense criticamente quando ouvir a balela do "não existe almoço grátis" para desmerecer e atacar os programas sociais. Estes programas não existem para dar nada a ninguém, mas para corrigir as distorções acumuladas por séculos de "banquetes grátis".

No Brasil, nunca existiu almoço grátis para os pobres, somente banquetes grátis para os ricos.

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