domingo, 30 de outubro de 2016

A derrota de Freixo desnuda o erro histórico do PSOL.






A derrota de Freixo na sua melhor chance de chegar à prefeitura demonstra o erro histórico do PSOL em ter participado dos movimentos de desestabilização do governo do partido dos trabalhadores desde 2013. Ainda que tenha sido contrário ao golpe em seus momentos finais.

Lá atrás, no ano de 2013, quando iniciaram-se os grandes protestos e muito quebra-quebra, eu me colocava em oposição aos movimentos, pois entendia já naquela época o altíssimo potencial daquilo tudo levar a uma situação de ingovernabilidade e haver a retomada dos partidos mais à direta ao poder, com a perda dos pequenos ganhos sociais conseguidos durante os anos de governo do PT.

Ainda lembro, na universidade, um desses jovens dinâmicos apoiadores do psol me confrontando por conta da minha negativa em relação a apoiar a "estratégia black bloc". O jovem ficava me perguntando, em tom desafiador: - então, qual é a estratégia que deveria ter? qual a estratégia? a estratégia?

Antes de se falar em estratégia, há que se saber o que você pretende (objetivo) e onde você está em relação ao que deseja. Depois, como diria o general chinês Sun Tzu, conhecer as suas habilidades e fraquezas como as dos seus concorrentes. E, na seara política, saber quem você necessita alcançar para que te ajude no processo.

Naquele momento, entendíamos que derrubar o governo do PT só serviria ao projeto político da retomada do poder das forças mais à direita no espectro político. Não que o governo federal da época fosse maravilhoso. Havia muitas críticas verdadeiras e sinceras. Em quatro mandatos o PT ainda havia feito muito pouco. Contudo, havia um pouco feito que os demais não tinham interesse em realizar. 

Por isso, entendia que naquele momento seria importante mobilizações para empurrar o governo no sentido de realizar as mudanças estruturais necessárias e não para guilhotinar as cabeças.

Acredito que o PSOL entendia ser o herdeiro político do eleitorado do partido dos trabalhadores. Após quatro eleições presidenciais seguidas, os psolistas devem ter entendido que se consolidara no país o voto nos partidos identificados com a esquerda. Que se o PT saísse do governo, o seu provável herdeiro seria o PSOL.

Então, o PSOL teria duas estratégias para se alavancar ao topo da pirâmide política: ou escalar as costas do PT para chegar ao cume ou balançar e mesa para que o PT tombasse.

Por muito tempo, o PSOL escolheu a segunda estratégia. O PSOL foi um dos braços e mãos que ajudaram a balançar a mesa para derrubar o governo. Sua presidente, Luciana Genro, até hoje apoia o impeachment. 

O problema é que o PSOL não fez a reflexão proposta pelo milenar Sun Tzu. O PSOL nem sabia o seu real tamanho e sua condição de tomar o lugar do PT e nem levou em consideração a força dos seus outros concorrentes, de direita, aos pleitos nacionais, estaduais e municipais.

Resultado, a mesa virou, o PT caiu, mas o PSOL não conseguiu aproveitar e herdar os despojos. 

Nesta eleição municipal de 2016, o candidato Freixo teve a melhor conjuntura de todas para ganhar a eleição. Foi para o segundo turno contra um candidato que possuía um altíssimo índice de rejeição por conta de suas ligações com a igreja universal. Se o Freixo fosse ao segundo turno com qualquer outro candidato de direita teria sido muito mais difícil para conseguir a vitória, já que seu nome também encontra forte resistência.

O resultado é que mesmo nesse contexto positivo, quando a própria imprensa não era simpática ao adversário, o Freixo não conseguiu vencer. 

O PSOL não pode sequer comemorar a votação com mais de 40% dos votos válidos, pois muitos desses vieram por conta da rejeição ao adversário e da campanha midiática contra o candidato da universal, que assusta mais à velha imprensa do que a atual esquerda.

Havia espaço para o PSOL crescer e se consolidar como força política sem precisar da derrubada do PT. O processo golpista acabou satanizando toda a esquerda, inclusive o PSOL, na mentalidade de boa parte do eleitorado.

E agora, com a prevalência da direita nos cargos diretivos e parlamento, medidas legislativas serão tomadas para tornar mais difícil a vida de partidos de esquerda que desejam seu lugar ao sol.

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sábado, 22 de outubro de 2016

A Mídia conservadora tradicional está pró-Freixo ou anti-Crivella ?



E a grande imprensa conservadora desembarcou de vez na campanha anti-Crivella. Há uma escalada visível de matérias de capa contra o candidato da universal. Uma das consequências do golpe parlamentar é a briga de diversos seguimentos da direita conservadora pelo poder. E um setor dessa direita conservadora que não agrada nem um pouco aos outros conservadores da globo e veja é o das igrejas neopentecostais. Nas décadas de 80 e 90 a globo esteve em "guerra" contra a Universal. Mas, ao contrário do que pretendia, a igreja do Edir Macedo continuou crescendo cada vez mais. No meio evangélico até produziram a frase "que a universal era igual a massa de bolo, quanto mais batem mais cresce". Agora, no vácuo de poder gerado pelo golpismo contra as esquerdas, pode ascender ao controle das instituições uma ala conservadora que é, em tese, hostil à Globo. Eles têm a sua própria televisão e com o poder político crescente poderão, em breve, tornar a globo um grupo de comunicação de quinta categoria.

O grande perigo nisso tudo é o PSOL acreditar que a Globo é sua aliada por supostamente apoiar o seu projeto ou a sua "ficha limpa". A globo e a Veja não são Freixo. Eles são anti-crivella. Entendem que depois tirar o Freixo e o PSOL é muito mais fácil que os candidatos da Universal. Vide o que fizeram no plano federal com Dilma. Na primeira eleição de Lula, em 2002, a grande imprensa conservadora tb se demonstrou pró partido dos trabalhadores. Naquela época, as crises econômica e social estavam se agravando rapidamente. A situação nas cidades, com as grandes greves gerais dos sindicatos, e no campo, com as cada vez maiores marchas do mst colocavam o Establishment em perigo. Era preciso um governo de "coalizão" para que os ânimos se acalmassem e a "paz" voltasse aos setores hegemônicos tradicionais. Isso foi conseguido com a "carta aos brasileiros" publicada pelo Lula. Após a primeira eleição de Lula, os setores conservadores da grande imprensa passaram a um ataque feroz contra o PT no governo federal. Apesar disso, o partido teve força para vencer mais 3 eleições seguidas. Quando a estratégia da imprensa mudou, ao revés de derrubar nas urnas se aliou ao grande golpe parlamentar, transformando as pedaladas em grande crime na mentalidade dos brasileiros.

O senador Roberto Requião conta que logo após a eleição de Lula, em 2002, ele teria alertado ao novo governo sobre a importância de se investir numa sólida rede de telecomunicações para defender as políticas sociais do governo. Ao que teria sido retrucado pelo então ministro José Dirceu: "Não precisamos, nós temos a Globo".