quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Brasilianistas ensinan o Brazil aos Brasileiros







Quando iniciei o estudo da História do Rio de Janeiro, na faculdade de História, fiquei surpreso que o primeiro texto usado como referência para o estudo da cidade maravilhosa era da lavra de uma historiadora francesa, professora na Sorbonne, chamada Armelle Enders.

De início, fui invadido pelo estranhamento de uma vez que nasci na cidade, vivendo toda minha vida por aqui, cursando uma faculdade com sua sede na cidade do Rio de Janeiro, iria estudar a mesma através dos olhos de uma intelectual francesa.

Não se tratava de uma leitura complementar ou suplementar, mas uma das leituras principais do nosso conteúdo programático do curso.

Posteriormente, nas aulas de Brasil República, ao iniciar o estudo sobre movimentos messiânicos, fomos apresentados a um artigo da professora Jacqueline Hermann, da UFRJ, especialista em messianismos luso-brasileiros. Contudo, ao falar do movimento do Padre Cícero, em Juazeiro, a autora inicia logo destacando que a obra de referência para se entender este processo é do brasilianista americano Ralph Della Cava. E todo o artigo da professora Jacqueline Hermann, sobre o Juazeiro, vai sendo construido através do livro do citado brasilianista.

Desta forma, mais uma vez fui assalto pela questão da alteridade. Pois vejamos, se para nós que vivemos no país há uma dificuldade de quem mora nas grandes cidades entender as especificidades da cultura rústica do agreste, imagine para um indivíduo que vem de outro país, em outro continente, de outro hemisfério !!!

Não se trata de xenofobia ! Acho muito bacana e sinto-me honrado que pesquisadores do mundo inteiro se interessem pela nossa história e cultura. Porém, parece-me que nossa academia é desprestigiada quando um "brasilianista" é a referência maior sobre um assunto nosso. 

O brasilianista pode e deve ser lembrado, seus artigos usados como leitura suplementar, mas nunca deveria ser a nossa referência. Afinal, a fala dele é adaptada ao seu universo cultural. Logo, um brasilianista americano deve ser excelente para ensinar Brasil aos americanos. Ao contrário, não deveria ser a pedra angular para falar do Brasil aos brasileiros.

Por exemplo, temos o professor Leandro Karnal que escreve sobre a história dos Estados Unidos. Admito que é uma leitura muito agradável para se entender a história estadunidense. Por outro lado, duvido que alguma universidade americana utiliza seu livro como referência para o estudo, por exemplo, da guerra de secessão; 

Concluindo, isso me remete a outra questão. Será que em nosso solo pátrio nossos graduandos e graduados dos cursos de história têm acesso fácil aos arquivos e fontes históricas ou são colocadas dificuldades? E será que o doutor que vem "de fora" é recebido com tapete vermelho em nossos arquivos, tendo o trabalho todo facilitado ?


( Ralph Della Cava)

Nenhum comentário:

Postar um comentário