Essas eleições foram marcadas por duas palavras de ordem: mudança e corrupção. Palavras um tanto vazias se comparadas ao que verdadeiramente interessa e que quase não foi debatido, os programas de governo dos candidatos.
A mudança foi colocada em pauta por conta das "jornadas de junho" no ano passado, que foram as passeatas que tomaram conta de várias ruas pedindo por mudanças. Era um pedido difuso, pois nas ruas havia gente de todo pensamento, desde extrema esquerda à extrema direita. Não havia uma unidade. E o tal pedido de mudança não teve força para ser refletido na disputa eleitoral deste ano, marcada por uma quantidade de candidatos conservadores muito maior que os demais. E, inclusive, refletido na eleição de ultraconservadores para as câmaras, como no caso de Bolsonaro e Feliciano. O resultado é que no próximo mandato teremos um congresso muito mais conservador e reacionário do que tínhamos antes.
De todos os principais candidatos, aquele que não reflete em nada o pedido de mudança é Aécio Neves. Filho de família de políticos tradicionais, sempre fez da política sua profissão. E, principalmente, atrelado ao PSDB que governou o país por 9 anos, não representa nenhuma mudança em direção ao novo, mas um retroceder em nossa caminhada para tempos de políticas neoliberais que ficaram demonstradas como um desastre na Europa em crise. Assim,. votar em Aécio não é mudança, mas retrocesso.
AS duas candidaturas que apontavam para uma possível mudança eram as de Marina e Luciana Genro.
Marina acabou desconstruindo por si só o discurso de novidade, ao demonstrar que sua candidatura estava vinculada a setores reacionários de nossa sociedade como alguns pastores como Malafaia. Marina põe a culpa pela sua derrocada eleitoral nos concorrentes. É um choro inútil, disputa eleitoral não tem sido feita com troca de flores entre nenhum candidato. Mas isso o povo já está calejado de saber. Por isso, acredito que o verdadeiro motivo de sua queda foi o abraço de morte de Malafaia e Feliciano.
Luciana Genro foi a candidata do discurso de mudança mais coerente. Contudo, sofreu a negação de espaço para sua campanha pela grande mídia. Se tivesse o mesmo tempo de exposição dos demais, talvez estivesse facilmente no segundo turno eleitoral.
Dilma como sucessora de Lula sofre com os muitos anos do partido no governo. Tem sido vidraça à muito tempo. Pelos anos do partido no executivo, não pode ser mais considerada uma candidatura de mudança. Principalmente, para os jovens eleitores, até 25 anos de idade, que praticamente tiveram a maior parte de sua vida sob o governo do partido dos trabalhadores. Contudo, o PT de Lula já encarnou a mudança. O PSDB quando não conseguiu fazer o sucessor de Fernando Henrique, vinha de uma das piores administrações da história, muito escondida e maquiada pela única medida lembrada pela mídia, o plano real. Durante o governo do PSDB muitas estatais importantes foram rifadas por valores muito abaixo do que valiam e ainda contaram com o recebimento de moeda-podre em troca do controle das empresas. A educação e a saúde já eram caóticas. E o pior, a economia ia de mal a pior, com sucessivos empréstimos milionários ao FMI. Na verdade, o PSDB, conseguiu durante seu período no governo, dobrer o valor da dívida externa. Desta forma, com tanto ingresso de dinheiro emprestado, era fácil promover estabilidade no câmbio e na moeda, mas uma estabilidade ficcional.
O PT quando entra no governo representa uma mudança e de fato realiza uma mudança na postura administrativa. Será o governo que mais verbas destinará a programas sociais. Um fato importante num país de desigualdades históricas como o nosso. No campo internacional mudará a orientação de diálogo unilateral com os EUA para se tornar uma diplomacia multipolar. O resultado de um Brasil que passa a conversar e negociar com todo o planeta se mostra eficiente na economia, que nunca mais recorre ao FMI. Mesmo neste período de séria crise econômica internacional, que se arrasta a anos, o Brasil não sofreu como os países europeus sofreram.
Logo, se não podemos mais considerar a candidatura de Dilma como uma mudança, mas temos que reconhecer que ocorreram avanços. E na atual configuração eleitoral, mais importante é continuar avançando que retornar ao passado.
A outra palavra da moda é a corrupção. Mas se alguém quer usar este como único critério para conceber seu voto, então o pior dos mundos é votar no candidato Aécio do PSDB. Basta o eleitor entrar na página do Tribunal Superior eleitoral para constatar que o PSDB é o partido campeão de fichas-sujas. Por isso, o partido menos indicado a quem deseja combater a corrupção. Vale lembrar, também, que no tempo de governo do PSDB as denúncias eram engavetas e não apuradas, diferente dos tempos atuais.
Quem milita no campo universitário sabe que não há comparação entre o que foi o governo do PSDB e o atual governo. Houve muito mais investimento no atual governo. Por isso, dentro das universidades o PT encontra grande apoio eleitoral.
No mais, basta ter sensibilidade para ver as pessoas que estão apoiando cada uma das duas candidaturas no segundo turno.