Noutro dia, estava numa das livrarias da cidade tentando identificar novidades literárias no campo da História e ciências afins, quando me deparei, na estante de filosofia, com o título que estava em destaque - "A FILOSOFIA DA ADÚLTERA: ENSAIOS SELVAGENS" - do filósofo Luiz Felipe Pondé. A obra era encadernada por uma capa vermelha tendo uma mulher sensual com ombros desnudos, em um carro, passando um provocante batom vermelho nos lábios. Ou seja, apresentava todos os elementos que compõem o lugar comum do tema: mulher, vermelho, carro, sensualidade e batom.
Realmente, o título e sua capa conseguiram, num primeiro momento chamar a minha atenção. E fiquei curioso para saber, afinal, a que tipo de filosofia se alinhava ou pregava a mulher adúltera. Como sexo e traição é algo que acompanha a humanidade desde suas origens, talvez aderisse à uma antiga filosofia pré socrática? Ou teria por base Aristóteles, que por séculos influenciou diversos ramos do saber? Santo Agostinho e Tomás de Aquino era improvável. Porém, poderia estar relacionado à liberação feminina e, assim, abraçar nomes ilustrados e modernos. Afinal, caramba, qual a filosofia de uma adúltera ?
Quando já me preparava para conferir o preço, em um movimento de realizar a compra da obra, então, lembrei-me que era exatamente este tipo de curiosidade que a estratégia da capa queria atingir. Acertar a curiosidade através de um tema picante como o sexo. E de estratégias de propaganda o autor deve entender bem, pois Pondé é um filósofo midiático, colunista de importantes jornais. Assim, recuei e desisti de levar uma discussão que poderia ou não ser útil. Afinal, não me parece crível que todos que cometem traições sigam uma dada corrente filosófica ! Desta forma, deixei de realizar a compra.
Contudo, naquele momento lembrei de um artigo que havia lido a pouco tempo, mas que não recordava onde nem o autor. O referido artigo defendia a tese que se você quiser escrever algo que tenha apelo para vender bastante deve escrever sobre sexo. E seu argumento para embasar tal teoria era a de que hoje há uma super exposição de sexo no cotidiano. Seja nos programas de televisão, cinema, revistas, internet, nas danças, nas letras das músicas, etc. E isto, como consequência, estaria anestesiando o apetite sexual das pessoas. A super exposição acaba tirando o prazer daquela sensualidade comum do dia-a-dia. E para as pessoas tentarem renovar seu apetite, consomem ainda mais coisas ligadas à temática. Promovendo uma retroalimentação do sistema.
Não faço ideia se a "sacada" do artigo tem apoio científico e acadêmico. Porém, a grande vendagem que "50 tons de cinza" alcançou, recentemente, parece corroborar com o autor do artigo.
Daí que tive o interesse de caminhar até a estante de História, na mesma livraria, e verificar como os historiadores vêm se aproveitando do sexo para vender seu peixe! E não faltavam obras que versavam sobre o tema e que o exploravam muito bem em suas capas. Desde o sexo na pré-história (será que era diferente de hoje em dia, tirando a cama redonda e o espelho no teto?) até as travessuras sexuais de nosso imperador Pedro I (em TITÍLIA E O DEMONÃO). Eis que inclusive a renomada historiadora Mary Del Priori, que escreve com notoriedade sobre história de gênero, aproveitou e sensualizou a capa de "HISTÓRIAS E CONVERSAS DE MULHER", com uma bela mulher de costas se despindo ao desamarrar o espartilho.
Destarte, podemos fazer um exercício imaginativo e sugerir alguns bons temas para os colegas surfarem no sucesso. Que tal monografias como: "As orgias do rei Salomão", "Romanas desejam visigodos", "Cleópatra para os íntimos"e outros. Qual tema você, leitor desta crônica, acrescentaria?
Concluindo, parece que os escritores que tem que guardar uma ligação com a ciência e a academia, terão essa difícil equação de se aproximar do grande mercado e dos leitores leigos, mas sem banalizar a história e outras ciências.