quarta-feira, 30 de maio de 2018

Os grandes hospitais privados e a desumanização na prática da medicina.


Há tempos que sabemos da crise de humanidade nos mais diversos setores de atendimento à sociedade. Porém, só quando passamos por uma situação dessas que conseguimos avaliar com profundidade o tamanho do buraco em que nos encontramos. A seguir, irei narrar fatos que vivenciei ao acompanhar o caso de um paciente em um grande hospital particular na cidade do Rio de Janeiro.

Primeiro, cabe um breve histórico médico para entender o desenrolar que seguiu. O paciente, que conta 84 anos de idade, começou a sentir inapetência e desconforto abdominal há cerca de dois meses. Procurou um gastro que pediu uma ultrassonografia abdominal total. A ultrassonografia sugeriu algum problema em um dos órgãos do aparelho digestório. Por isso, o médico solicitou novo exame mais sofisticado. Porém,. antes da realização deste exame houve uma piora no quadro e o paciente procurou um posto de atendimento de urgência mantido por seu plano de saúde. Foi feito um exame de sangue, mas o paciente também necessitava de uma tomografia. O tomógrafo do posto de atendimento estava quebrado e o paciente foi enviado para uma pequena clínica particular em bairro próximo. Nesta clínica, foi feita a tomografia e a médica que atendeu o caso solicitou a internação do mesmo. O paciente, no entanto, preferiu assinar um termo de responsabilidade e se retirou para posteriormente ir a um hospital maior e mais bem equipado que era conveniado ao seu plano de saúde e próximo à sua residência.

No início da tarde do dia seguinte o paciente se apresentou ao atendimento de emergência do citado grande hospital privado, que constava da rede credenciada ao seu plano de saúde e ficava próximo de sua casa.

Na emergência, o médico confirmou a necessidade de internação. O médico solicitou que os 3 exames, ainda que tivessem sido realizados no dia anterior, fossem repetidos neste hospital: exame de sangue, ultrassom e tomografia. Explicou que era necessário repetir os exames para fundamentar a internação naquele hospital. Achei um tanto estranha a alegação. Repetir três exames que haviam sido realizados uma dia atrás não me parecia um procedimento de interesse médico. Talvez, uma forma de receber maior repasse do plano de saúde. Porém, sequer discutimos sobre isso com o médico e aceitamos refazer os exames. Nessas horas, o importante é que a pessoa seja logo internada para dar início ao tratamento médico. Feitos os exames, o paciente foi levado para uma outra enfermaria onde aguardaria a internação deitado em uma maca. Fomos informados que ficaríamos aguardando ali até o quarto estar pronto.

Ocorre que as horas foram passando - tarde, noite e madrugada - e nada da internação ser efetivada. Num dado momento, fui orientado a procurar o departamento de internação para saber a respeito. Lá chegando, fui informado pela atendente que o hospital se encontrava lotado e sem previsão de haver a vacância de algum leito. Então, me informaram que provavelmente teriam que transferir o paciente para algum outro hospital. Uma notícia que não foi bem recebida por nós, que procuramos aquele hospital, justamente, por conta do seu nome, sua estrutura e sua proximidade em relação à residência do paciente e sua família. Neste momento, a atendente faz algumas colocações que funcionam como um verdadeiro terrorismo junto ao paciente e seus familiares. Disse que não havia vagas e dificilmente haveria alguma no dia que amanhecia. Disse que o plano de saúde não cobriria dois dias seguidos no setor de emergência e que se o paciente não aceitasse uma transferência para outro hospital, em qualquer outro lugar da cidade, teria que arcar do seu bolso com sua permanência na enfermaria da emergência.

Neste momento, fui tomado por um sentimento de indignação ao perceber que repetiram todos os exames e não se comprometiam com a internação. Ora, se não havia leitos disponíveis porque expuseram o paciente a mais cargas de raios-X desnecessariamente ?  Para mim, estava claro que havia uma forte fumaça de má-fé nisto tudo. O hospital se exime da má-fé dizendo que o setor de urgência e o de internação são diferentes. Assim, a emergência não sabia da falta de vagas. Contudo, é uma falta de comunicação e articulação entre departamentos que vem muito bem a calhar para o hospital ganhar dinheiro em cima de exames desnecessários sem se responsabilizar com o tratamento.

Durante este processo, uma moça da enfermagem que acompanhou o problema nos confidenciou algo ainda mais revoltante. Disse que o hospital é grande e sempre tem altas todos os dias. Que a questão da transferência é por conta dos reembolsos realizados pelos planos de saúde. Que o hospital dá preferência a internar clientes de determinados planos que pagam valores maiores e por isso seguram a vaga para estes, enquanto transferem os usuários dos outros planos, ainda que credenciados ao hospital. Ou seja, uma pessoa idosa com um problema que requer internação urgente não tem qualquer prioridade, nem mesmo uma outra pessoa com um problema muito sério; a prioridade é conforme o plano de saúde.

Para piorar, durante todas as longas horas que ficamos naquele lugar (somente fomos transferidos na manhã do dia seguinte), o paciente ficou deitado numa maca sem receber qualquer hidratação por soro ou água e nem qualquer alimentação. Ou seja, ganharam todo dinheiro que puderam com exames desnecessários e não pretendiam gastar nada no atendimento. Somente na madrugada, depois de já estar indignado com tudo, reclamei do tratamento dispensado e aí apareceram com soro e um potinho minúsculo com um tipo de geleia dentro sob pretexto que era alimentação.

Em suma, esses hospitais não merecem receber este nome, pois não passam de entrepostos comerciais que buscam se locupletar com o sofrimento alheio.

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terça-feira, 29 de maio de 2018

Os Nazistas que roubavam livros.





A sabedoria popular também se expressa, de forma sintética, através dos chamados ditos populares. Dentre eles, um dos mais famosos é aquele que estabelece que "ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". Se este ditado possuísse valor jurídico, então, a personagem Liesel Meminger, protagonista do filme "a menina que roubava livros", estaria completamente perdoada pelos furtos de livros que cometia. Uma vez que as bibliotecas alemãs, durante o período nazista, foram abastecidas com milhares de livros roubados de bibliotecas particulares pertencentes a judeus, maçons e outros grupos perseguidos pelo regime.

EM CONSTRUÇÃO