Atualmente a TV brasileira é um deserto em relação ao humor. E a televisão fechada, a cabo, não está diferente. Quem quiser rir terá que sintonizar o programa do Chaves, que é muitas vezes mais bem elaborado que os humorísticos nacionais.
Cresci num período, décadas de 70 e 80, quando vivíamos um momento áureo em relação ao humor, apesar de toda a repressão política imposta pelo regime ditatorial militar. Programas como "Balança mas não cai", "Planeta do homens", "Chico city" e "Viva o gordo" traziam uma plêiade de grandes atores que realizavam um humor inteligente e sofisticado.
Aliás, para ser um humorista era necessário ser ator, um grande ator. Não bastava ser um garoto extrovertido e disposto a falar calão e todo tipo de constrangimentos diante de uma câmera. Paulo Gracindo e Brandão Filho protagonizavam um quadro (primo rico e primo pobre) que pode ser apresentado como o maior ícone daquele período da história do nosso humor. Certamente, Chico Anysio o artista com maior número de tipos aplaudidos por todas as faixas da população, seguido pelos não menos talentosos Jô soares e Agildo Ribeiro. Estes são apenas alguns dos muitos humoristas que poderíamos citar.
Naquele tempo, os chamados "enlatados americanos" eram a sobra do resto dos programas de humor. Quando não havia nenhuma opção nacional o sujeito olhava os programas americanos. Hoje, a lógica inverteu. Não que os "enlatados" tenham melhorado muita coisa, pois continuam ruins. Porém, conseguem ser bem melhores que nossos programas.
Agora, o humorista não precisa ser ator. O perfil da maioria dos que trabalham nos modernos programas são de jovens "mauricinhos" que mais parecem saídos do elenco de "Malhação". Qualquer garoto extrovertido disposto a falar palavrões, constrangimentos, enfim, ser politicamente incorreto, se transforma em "grande humorista".
É um tempo de muitas crises. Crise hídrica, crise no futebol, crise na dramaturgia, crise no humor.
Inclusive, a maior delas, a crise acadêmica.