terça-feira, 1 de agosto de 2017

O desmonte da educação ! Os professores precisam aprender a se organizar politicamente com os evangélicos.



Muitas lideranças religiosas evangélicas têm participado da onda de ataques contra a educação e o magistério. Estão divulgando e defendendo que a atuação dos professores seja limitada em sala de aula. Um bom número deles apoia e fez parte da gestação da proposta da "escola sem partido". E muitos estão colocando a família dos alunos em prevenção contra o profissional do ensino, que está na escola para preparar seus filhos intelectualmente. Entendem, ainda, que vários temas devem ser vedados aos professores e tratados exclusivamente dentro do núcleo familiar. Com isto, muitos alunos também acabam se voltando contra e desafiando os seus mestres no ambiente escolar.

Os setores evangélicos estão conseguindo provocar este desconforto, no que tange à educação, porque conseguiram arregimentar grande força política. Hoje, a chamada "bancada cristã" é uma das maiores no Congresso. Contudo, nem sempre foi assim. Se voltarmos uns 50 anos no passado, os pastores das múltiplas correntes protestantes não  gozavam dessa força dentro da sociedade. Apenas no âmbito circunspecto às suas comunidades de fiéis. Com o passar do tempo, conseguiram um crescimento exponencial da sua influência política. Este modelo de expansão e consolidação da influência, que ocorreu entre evangélicos, deveria ser observado, estudado e aplicado pela categoria dos profissionais da educação em prol de sua causa; ou seja, os professores podem aprender algo com os evangélicos.

Hoje, as diversas denominações, juntas, dominam amplamente as ondas de rádio AM e FM. Possuem o segundo maior canal de televisão do país e vários horários em outras emissoras.  Já estão editando jornais e revistas que ocupam espaço nas bancas. Fundaram partidos políticos. Ganharam eleições importantes como a da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e, no Congresso Nacional, possuem uma das maiores e mais atuantes bancadas. Porém, voltando cinco décadas atrás, ainda não possuíam esta enorme máquina de pressão política. A única coisa, mas não menos importante, que possuíam era uma grande capilaridade no território nacional. Havia ao menos uma igreja evangélica em cada pequena cidade do interior e em cada bairro pobre dos subúrbios das grandes cidades. E esta capilaridade, os professores também possuem atualmente.

Capilaridade é um termo originário da física, que na mecânica dos fluidos define a propriedade destes em se transportarem por tubos de diâmetros muito diminutos, podendo o fluxo seguir, inclusive, contra a força da gravidade. Na ciência política o termo capilaridade é utilizado para descrever algo que se encontra espalhado por todos os pontos do país, seja nas capitais ou nas cidades pequenas do interior. Assim como o poder evangélico teve início com uma igreja em cada rincão do país; hoje, existe, ao menos, uma escola pública em cada pequena cidade ou bairro pobre da nação.

Além da capilaridade, a causa da educação e de seus profissionais encontra amparo na sociedade. A força com que ocorreram os movimentos grevistas de professores, notadamente no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2015, apontou o potencial que esta categoria teria, se organizada, para  uma forte atuação política. Acredito que seja a única categoria de servidores que consegue mobilizar forças populares em prol de sua agenda.

Acredito, até, que todo o ataque atual que a educação e a respectiva categoria vem sofrendo é por conta da força que  mostrou naquelas manifestações. A vida inteira as igrejas conviveram com a pregação do criacionismo e os professores ensinando a teoria da evolução; com o catecismo dos dogmas religiosos e a análise sociológica destas manifestações, nos colégios; com a visão do pecado, na igreja, e com a visão das construções culturais destes discursos, na escola. Então, não me parece que o problema seja a sala de aula. Essas questões, na verdade, são uma cortina de fumaça para atacar o poder político, em potencial, que o magistério demonstrou. Da mesma forma como estão, agora, atacando as organizações sindicais. Querer limitar a atuação do profissional da educação faz parte do xadrez político.

No último congresso da SBPC (Sociedade Brasileira pela Pesquisa Científica), foi ventilada a ideia de se criar um partido político da ciência, que teria por objeto criar uma bancada em defesa dos interesses da pesquisa científica. Acredito que muito mais eficaz seria um partido da educação ou dos professores. Afinal, a pesquisa, no Brasil, é feita majoritariamente nas universidade, quase todo pesquisador é professor. Então, um partido da educação englobaria  a causa da pesquisa. Para tal,  é preciso organização. Há que se criar uma organicidade entre todos os professores brasileiros, da cidade grande ao interior.

Algo neste sentido já foi feito. O movimento operário do ABC paulista, ao compreender que não bastava ser uma força de pressão através dos sindicatos, que precisava ter a sua representação política própria, criou o Partido dos Trabalhadores.  E, independente dos erros e desvios supostamente cometidos, conseguiram chegar às prefeituras, aos Estados e ao governo federal.

Está na hora de ser redigido "O Manisfesto do Partido Educacionista".

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