Noutro dia, aqui no blog, postei sobre uma foto da campanha publicitária inusitada que um sebo realizou, explorando a polarização e contradições de nossa sociedade atual, chamando a atenção do público para a importância da leitura na formação do nosso acervo de conhecimentos e cultural.
Digo que a peça publicitária era inusitada e ousada porque convidava os intolerantes de todos os tipos (homofóbicos, racistas, machistas, fundamentalista religiosos, etc...) a ingressarem na loja e no respectivo mundo dos livros, pois poderiam ser ajudados.
Ao postar esta foto em alguns grupos das redes sociais foi imediatamente gerada uma polêmica. Aqueles participantes que se identificaram com estas posturas intolerantes elencadas logo se pronunciaram de forma enérgica contra a foto e os proprietários da loja de livros usados.
O curioso é que a maioria dos argumentos contra o "cartaz" da loja dizia que os donos do sebo estavam sendo intolerantes com quem pensava de forma contrária à deles. Ou seja, a mensagem da livraria era contra atitudes notoriamente intolerantes, como o racismo e a homofobia, mas uma parcela do público percebia intolerância nesta campanha pubicitária. O que me pareceu algo bastante insólito. Seria, mais ou menos, como se o advogado do réu que foi preso por manter alguém em cárcere privado se voltasse contra e processasse a polícia e o Estado pelo fato da condenação à pena de reclusão importar que seu cliente ficasse, também, em situação de cárcere.
A mensagem que me chamou atenção foi a de um participante, que após trocar algumas postagens criticando o sebo, arrematou afirmando que agora estava livre do "atraso intelectual' que, na sua visão, corresponde ao Brasil. Parece que ele estava vivendo nos Estados Unidos ou Europa.
Esta declaração imediatamente reportou minha memória aos anos 90, quando na universidade estudei sociologia na classe do professor Jonas Resende. Este saudoso mestre era um homem de notável cultura e da cultura (pois tinha atuação destacada na TV Educativa do RJ onde costumava ser um dos debatedores fixos do programa "sem censura"). Possuía formação em direito, filosofia e teologia. Era pastor presbiteriano mas nunca deixou sua formação religiosa se sobrepor aos recortes temáticos estudados na academia. Em uma das aulas ele discorria sobre a influência do meio social no homem. Citou o exemplo dos religiosos eremitas que iam para o deserto com o objetivo de se afastar da sociedade, mas que era uma tarefa difícil e relativa pois o homem, ainda que no deserto, levava a sociedade dentro de si.
Este mesmo exemplo serve ao rapaz que pensa ter deixado para trás o atraso intelectual apenas pelo fato de ter se deslocado geograficamente de um país de terceiro para outro de primeiro mundo. Não é o caso de se afirmar que não aprendemos nada quando viajamos ou moramos no exterior. Conhecemos novas pessoas e outras culturas, o que nos acrescenta algo importante. Porém, não deixamos nossos defeitos, atrasos, falta de empatia, pouca civilidade, preconceitos, só porque mudamos de latitude e longitude. Acontece, que quando nos mudamos temos o ônus de nos levar a nós mesmos para as novas praças.
Está muito enganado quem pensa que nos países de primeiro mundo não exista todo tipo de preconceito, ignorância e outros aspectos considerados socialmente atrasados. E quem viaja costuma reproduzir e buscar no novo local as mesmas categorias de relação e pensamento com as quais já estava habituado. Por exemplo, o indivíduo que está super habituado a comer churrasco não é pelo fato de ir morar na Escandinávia que, por si só, se tornará vegano. Quem é intolerante e preconceituoso poderá viajar para o outro lado do globo que acabará atraindo e sendo atraído por grupos de semelhante mentalidade.
Assim, se você tiver a possibilidade de viajar não a perca. Agora, mais importante que viajar é não perder a oportunidade de ler. Leia todos os autores e assuntos que puder. Mas leia sem seletividade e nem leia somente com o espírito de combater o autor. Deixe-se, primeiro, ser tomado por aquele novo universo de ideias. Assim, você irá superar qualquer atraso indo apenas de sua casa à biblioteca mais próxima.
"A única forma de escapar do atraso intelectual não é viajando em milhas, mas viajando em páginas".
Participe do grupo "prophisto" de História Geral & Brasil no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/
Para colaborar e incentivar este blog basta compartilhar essa postagem em sua rede social. Obrigado!
O curioso é que a maioria dos argumentos contra o "cartaz" da loja dizia que os donos do sebo estavam sendo intolerantes com quem pensava de forma contrária à deles. Ou seja, a mensagem da livraria era contra atitudes notoriamente intolerantes, como o racismo e a homofobia, mas uma parcela do público percebia intolerância nesta campanha pubicitária. O que me pareceu algo bastante insólito. Seria, mais ou menos, como se o advogado do réu que foi preso por manter alguém em cárcere privado se voltasse contra e processasse a polícia e o Estado pelo fato da condenação à pena de reclusão importar que seu cliente ficasse, também, em situação de cárcere.
A mensagem que me chamou atenção foi a de um participante, que após trocar algumas postagens criticando o sebo, arrematou afirmando que agora estava livre do "atraso intelectual' que, na sua visão, corresponde ao Brasil. Parece que ele estava vivendo nos Estados Unidos ou Europa.
Esta declaração imediatamente reportou minha memória aos anos 90, quando na universidade estudei sociologia na classe do professor Jonas Resende. Este saudoso mestre era um homem de notável cultura e da cultura (pois tinha atuação destacada na TV Educativa do RJ onde costumava ser um dos debatedores fixos do programa "sem censura"). Possuía formação em direito, filosofia e teologia. Era pastor presbiteriano mas nunca deixou sua formação religiosa se sobrepor aos recortes temáticos estudados na academia. Em uma das aulas ele discorria sobre a influência do meio social no homem. Citou o exemplo dos religiosos eremitas que iam para o deserto com o objetivo de se afastar da sociedade, mas que era uma tarefa difícil e relativa pois o homem, ainda que no deserto, levava a sociedade dentro de si.
Este mesmo exemplo serve ao rapaz que pensa ter deixado para trás o atraso intelectual apenas pelo fato de ter se deslocado geograficamente de um país de terceiro para outro de primeiro mundo. Não é o caso de se afirmar que não aprendemos nada quando viajamos ou moramos no exterior. Conhecemos novas pessoas e outras culturas, o que nos acrescenta algo importante. Porém, não deixamos nossos defeitos, atrasos, falta de empatia, pouca civilidade, preconceitos, só porque mudamos de latitude e longitude. Acontece, que quando nos mudamos temos o ônus de nos levar a nós mesmos para as novas praças.
Está muito enganado quem pensa que nos países de primeiro mundo não exista todo tipo de preconceito, ignorância e outros aspectos considerados socialmente atrasados. E quem viaja costuma reproduzir e buscar no novo local as mesmas categorias de relação e pensamento com as quais já estava habituado. Por exemplo, o indivíduo que está super habituado a comer churrasco não é pelo fato de ir morar na Escandinávia que, por si só, se tornará vegano. Quem é intolerante e preconceituoso poderá viajar para o outro lado do globo que acabará atraindo e sendo atraído por grupos de semelhante mentalidade.
Assim, se você tiver a possibilidade de viajar não a perca. Agora, mais importante que viajar é não perder a oportunidade de ler. Leia todos os autores e assuntos que puder. Mas leia sem seletividade e nem leia somente com o espírito de combater o autor. Deixe-se, primeiro, ser tomado por aquele novo universo de ideias. Assim, você irá superar qualquer atraso indo apenas de sua casa à biblioteca mais próxima.
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Excelente texto!
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