A crise intelectual constatada em universidades de todo mundo é fruto do modelo competitivo implementado de fora (pelo mercado de trabalho) para dentro da pesquisa universitária, na graduação e, principalmente, na pós-graduação.
Em tempos passados a pesquisa na pós-graduação era visada por aqueles que tinham essa tendência pela iniciação científica, que possuíam um projeto de pesquisa que gostariam de levar adiante. Aqueles que não tinham inclinação para o trabalho de pesquisa seguiam nos cursos de especialização, aprendendo as novas teorias vindas do setor de pesquisa.
Hoje, o mercado está exigindo no curriculo o profissional pesquisador. Então, cada vez maior quantidade de formandos, sem nenhuma tendência para tal, acabam seus cursos e se dirigem para os mestrados sem nenhum projeto pessoal solidamente constituído. Aliás, atualmente nem se tem mais a figura daquele que possui uma ideia própria e faz seu projeto, acaba se enquadrando em alguma pesquisa da área de concentração da universidade que o aceitou.
A lógica se inverteu. Antigamente o importante era a pesquisa que se realizava e o título era o reconhecimento de tal trabalho. Agora, o importante é receber o título para o currículo, sendo a pesquisa a formalidade para atingir o real objetivo.
Desta forma, temos muita gente fazendo pesquisa sem a menor paixão. Muitos pesquisando assuntos que nem gostam na verdade.
O sujeito tem um tempo limitado para produzir o resultado. E na caminhada da pós ainda tem que apresentar, loucamente, o máximo de artigos que puder, pois é uma competição mesmo. Quanto mais artigos melhor para o currículo. E o orientador também fica cobrando esta produção, pois para ele da mesma forma é importante ter o nome associado ao máximo de produção científica possível.
E assim, nunca se produziu tantos artigos como agora. São milhares de trabalhos metodicamente problematizados e formatados conforme as normas da ABNT que vão parar nos arquivos. Por outro lado, nada que faça grande diferença para o mundo acadêmico. Mas valeu para incrementar o currículo.
Ao mesmo passo que tanto se produz nos mestrados e doutorados, por outro lado se fala numa grande crise intelectual nestes nossos tempos.
Onde estarão os novos Kant, Rousseau, Einstein, Freud, dentre outros ?
Eles estão por aí ! Inteligência não falta. Só que ao revés de estarem concentrados no trabalho de suas vidas, estão muito ocupados escrevendo milhares de artigos meia-boca !
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