Duby, Georges. Idade
Média, Idade dos Homens: do amor e outros ensaios. São Paulo. Companhia das
Letras. 2011.
O
historiador Georges Duby nasceu em Paris, em 1919, e faleceu em 1996. Sua
carreira universitária se iniciou em Lyon, em 1949, Foi membro da Academia
Francesa e professor do Collège de France entre 1970 e 1992. É mundialmente
reconhecido como um dos mais renomados especialistas em história medieval do
século XX. Sua abordagem historiográfica integra modernas concepções como a
história cultural e das mentalidades. Sua vasta obra conta com mais de 70
livros publicados.
O
autor realizará sua persecução na consciência e percepção da dor e do
sofrimento físico. A maneira como é percebida e a posição que lhe é atribuída
na escala de valores da cultura.
A
pesquisa se deterá no recorte feudal. Isto pelo estranhamento que causou ao autor não
haver referências na documentação da época, ou quando raríssimas, sobre a dor
e o sofrimento físico naquela cultura. Daí a problematização no sentido de investigar e vislumbrar a visão dos homens da época (padres, chefes guerreiros e outros) sobre a questão do sofrimento do corpo.
Para
Duby, era insuficiente delimitar a questão unicamente aos costumes rudes do
período ora analisado.
Uma
tese mais aceitável, para o autor, se encontra na mentalidade de ideologia
predominantemente militar e masculina que regia a cultura da época. Esta
mentalidade exaltava as virtudes viris da agressão e da resistência tenaz a
todos os assaltos. Por isso, a tendência de mascarar as fraquezas e não se
apiedar das fraquezas físicas.
Aprofundando
os estudos verifica-se uma quase sinonímia entre os termos latinos dolor e
labor; ou seja, dor e trabalho, conferindo a ideia de sofrimento físico quando
da realização laboral, numa sociedade cujo trabalho físico era visto como
degradante.
O
autor destaca que a cultura da época era herdeira de dois sistemas morais: a
Bíblia e tratados morais da antiguidade clássica.
Na
Bíblia a dor é diretamente associada ao pecado. A mulher passa a ter as dores
do parto e o homem ter que trabalhar para ter o seu sustento com o suor do
rosto a partir da desobediência de Adão e Eva. Aqui temos a dor como punição.
Por
outro lado, os valores clássicos colocam o trabalho físico como indigno ao homem livre. A tradição
greco-romana identificava liberdade com ociosidade, pois considerava toda
atividade manual como servil.
Desta
forma, a dor e o sofrimento físico, no período medieval, é visto com valor de
degradação.
Esta
percepção começará a mudar a partir do final do século XII, com o movimento de
desclericalização da cultura. E nos séculos XIV e XV serão notadas referências
não mais apenas dos heróis da devoção e da cavalaria, mas do povo comum.
Em
diversos discursos começam a valorizar a percepção da dor. A redenção de
Cristo também ocorre pelas dores que suportou. Surge Francisco de Assis como
santo estigmatizado pelas chagas de Cristo. O corpo sofredor de Cristo se transfere naturalmente para outros corpos
sofredores, como os dos pobres e representantes de Cristo entre os homens.
Consiste em excelente exemplo de historiografia cultural e das
mentalidades que busca o campo das percepções humanas. Além disto, mostra algo
muito interessante: que a falta de fontes sobre um assunto também pode ser
motivo para a investigação do historiador.
Concluindo,
mais que um texto sobre história da idade média, o capítulo analisado constitui verdadeira aula sobre teoria da história e de como o historiador pode
realizar suas abordagens analíticas.
Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/
Participe do grupo de estudos de história no facebook:
https://www.facebook.com/groups/prophisto/
Nenhum comentário:
Postar um comentário