domingo, 21 de julho de 2013

O EAD E A PRECARIZAÇÃO DO CURSO SUPERIOR

AS DISCIPLINAS ON LINE E A PRECARIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR



De início, deixamos claro que não somos contra as novas tecnologias. Ao contrário, entendemos que a universidade é local onde se deve absorver e aplicar as novidades de forma célere. Sobretudo, no que tange a novas mídias e tecnologias aplicáveis ao âmbito pedagógico.

Contudo, nem sempre o novo é bem utilizado. Por exemplo, uma das primeiras utilidades auferidas ao avião foi na área militar, durante a primeira grande guerra.

Nesta crítica, queremos observar que o chamado EAD - Ensino A Distância - que está sendo amplamente implementado nas diversas Universidades, mais parece que chegou no sentido da precarização dos cursos do que na contribuição com o aperfeiçoamento dos mesmos.

É notório que a possibilidade do estabelecimento de cursos do tipo EAD, seja teletransmitidos ou por internet, para as regiões mais pobres do interior, onde a universidade pública ainda não chegou fisicamente e a particular não tem interesse em investir, é excelente. Da mesma forma o seu emprego para aqueles estudantes que por qualquer razão não podem realizar o curso presencial.

Por outro lado, parece muito nociva a forma como as disciplinas on line  estão tomando de assalto as grades curriculares dos cursos presenciais.

Note-se que o processo de aprendizagem é, essencialmente, um fenômeno social. Por mais sofisticado que seja o ambiente virtual fornecido, jamais substituirá a riqueza proporcionada pelas trocas humanas diretas que ocorrem no ambiente físico da sala de aula e do campus universitário.

De modo que em um curso presencial jamais a sala de aula deveria ser totalmente substituída por um ambiente virtual. A base de dados informatizada da universidade, no caso do curso presencial, entraria tão somente como um apoio aos estudantes, mas nunca como substitutos das aulas.

Ocorre que o MEC, pela Portaria 4.059 de dezembro de 2004, permitiu que as faculdades, em seus cursos presenciais, ofertassem disciplinas totalmente na modalidade on line (EAD), em até 20% da grade curricular dos cursos.

A exegese do texto da portaria é bem clara. Trata-se de um dispositivo facultativo e não obrigatório. Ou seja, a instituição de ensino "poderá" dispor de disciplinas on line, desde que não ultrapasse o limite de 20% do currículo. Desta forma, o curso pode ter 20%, 15%, 10%, 5% ou nenhuma matéria pela modalidade EAD.

Uma vez que a relação entre universidade e o corpo discente é um contrato de prestação de serviço, nada mais justo que houvesse um acordo entre as partes com o fim de ajustar o quanto que os alunos entendem que seria justo receber do curso presencial em aulas por correspondência eletrônica.

Porém, infelizmente, o mundo da educação, notadamente a particular, se preocupa em primeiro lugar com os lucros e bem depois com a qualidade do produto. 

Neste sentido, o discurso das instituições de ensino é como que se a lei obrigasse o uso dos 20% em EAD, para que o aluno não debata os termos. Muitas matérias de cunho prático importantíssimo acabam sendo fornecidas de forma pasteurizada, em ambientes virtuais de péssima qualidade, com a monitoria de professores que não possuem nenhum lastro para dar uma orientação pedagógica à disciplina e acabam atendendo um número de alunos muito maior que se fosse em sala de aula.

Ressalte-se, ainda que, temos notado que na prática muitas instituições já estão forçando em seus cursos presenciais um número de disciplinas por EAD superior aos 20% regulamentados.

Portanto, fica evidente que não somente o produto entregue ao aluno está piorando, mas, também, o trabalho do professor está sob sério risco de num futuro ser substituído por tutoriais de dúvidas e perguntas mais frequentes.

Em suma, deixamos esta reflexão mais para os futuros professores que os atuais, que pressionados pelas instituições acabam reverberando e defendendo o discurso empresarial, mesmo que contra os seus interesses. A hora de se lutar pela manutenção do espaço da sala de aula é agora !

Por Marcelo Carvalho.



Um comentário:

  1. Concordo plenamente com o exposto acima. Embora o acesso seja maior, a qualidade em diversos ambitos acaba sendo comprometida. Desde a "clientela" que usufrui desse acesso "facil" sem um conhecimento previo e sem espaço suficiente para sanar suas duvidas. Até a falta de senso nas atividades direcionadas aos alunos, que alem de quantitativa acabam muitas vezes com um fim em si mesmo. Precisamos de uma reformulação no EAD, para que profissionais versadeiramente qualificados , não sejam formados ilusoriamente apenas com o acesso, mas sim com uma base teorica sólida.

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