quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Deputado Cabo Daciolo, em sessão na câmara, propõe intervenção militar e o fechamanto do Congresso. Por coerência, o nobre deputado deveria se exonerar do cargo.



O deputado federal Cabo Daciolo, em sessão plenária, fez mais um dos seus tradicionais discursos que misturam política com religião. Porém, neste discurso o deputado fez declarações pouco democráticas ao solicitar a intervenção das Forças Armadas e o fechamento do Congresso Nacional.

O deputado Daciolo é membro do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro. Foi uma figura que se destacou em movimentos realizados pelos bombeiros por melhorias de condições para a categoria ainda no governo Sérgio Cabral. Seu protagonismo naqueles movimentos valeu um convite do PSOL para se filiar ao partido e sair candidato nas eleições. Uma vez eleito, o deputado que é evangélico começou a adotar posições cada vez mais conservadoras, como se aproximar do também deputado Jair Bolsonaro, o que acarretou a sua expulsão do partido pelo qual se elegeu.

Uma das marcas e estratégia do deputado é dialogar de perto com a mentalidade conservadora que ganhou força no espectro político do país. Seus discursos são uma mistura de política com pregação religiosa fundamentalista. Neste mesmo discurso em que sugeriu o fechamento do congresso, narrou que homossexuais e corruptos não serão salvos.

O curioso nisto é que o deputado parece não perceber que, segundo sua tese, ele próprio não faz parte da solução, mas do problema do país. Ora, ao pedir o fechamento do Congresso está avaliando que a casa não acrescenta em nada. Logo, o seu próprio mandato não faz qualquer diferença, Se o deputado pensa desta forma, então, seria mais coerente que ele se exonerasse do cargo !

Contudo, já teve tempo que o deputado entendeu que poderia solucionar as mazelas do nosso combalido congresso. Certa vez, empreendeu uma caminhada em rodopio pelo prédio do congresso, lendo trechos bíblicos, para fazer uma espécie de "exorcismo" na casa. Agora, por outro lado, parece que o deputado, bombeiro e pastor entregou os pontos e jogou a toalha.

Vídeo do discurso do Deputado Cabo Daciolo:
https://www.youtube.com/watch?v=Xefg37pMiU8

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terça-feira, 19 de setembro de 2017

Olavo de Carvalho e a permanência messiânica no imaginário nacional.



Esta semana, uma das filhas do ideólogo de direita Olavo de Carvalho publicou uma carta aberta ao pai em que cita diversos problemas de convívio familiar entre pai e filhos. Até aí não há nada demais, pois somente prova que o sujeito é humano, com suas muitas falhas, erros e contradições. A única questão que se levanta, neste caso, é o fato do senhor Olavo ser um julgador draconiano da vida alheia, quando se arroga em detentor da verdade, da moral e dos bons costumes. Porém, o que mais parece interessante na carta, não são as questões familiares, mas a revelação de que o conhecido pensador e escritor conservador já tentou liderar grupos ideologicamente muito díspares entre si.

O próprio personagem já declarou que foi um militante comunista quando jovem, sendo membro do Partido Comunista Brasileiro entre 1966 e 1968. Hoje se coloca como anticomunista e assume um discurso conservador radical. No que tange à atividade intelectual e laboral, por muitos anos se dedicou aos mistérios da astrologia. Inclusive, colaborou em um curso de astrologia oferecido aos graduandos de psicologia na PUC-SP. Posteriormente, passou a  se dedicar à filosofia. Da mesma forma, no plano religioso fez uma migração do esoterismo para o catolicismo conservador. Contudo, a carta de sua filha nos surpreende com a revelação que o citado cidadão já empreendeu a fundação de um núcleo islâmico em sua casa, quando teria convertido, segundo a carta,  pessoas àquela matriz religiosa

Mudar é bom! Já dizia o cantor e poeta Raul Seixas que é preferível ser uma metamorfose ambulante. Porém, quando a mesma pessoa muda tantas vezes, em tantos assuntos,  para posições tão distantes umas das outras, começamos a desconfiar que há algo de atípico neste padrão. Primeiro, que denota uma grande instabilidade emocional e intelectual quando a mesma pessoa varia tanto as suas convicções. Segundo, que passa a impressão que o indivíduo que assim se comporta nunca se comprometeu verdadeiramente, em seu íntimo, com aqueles sistemas de crenças dos quais afirmava estar convicto. Corrobora o fato de que o escritor, em todas estas diferentes experiências que vivenciou, sempre buscou uma posição de destaque e liderança. Desta forma, parece-nos que tantas mudanças possam apontar para o uso do método de tentativa e erro. O que algumas pessoas sempre perseguem é a posição de liderar alguma coisa, sendo que as "convicções" são apenas instrumentos para se alcançar esta posição. Assim, a astrologia, a filosofia, o islã, o comunismo, o neoliberalismo, o esoterismo e o catolicismo conservador poderiam ser meramente os instrumentos para alcançar aquele objetivo. Finalmente, teria logrado êxito quando se investiu no personagem do religioso católico carola e ultraconservador, com um verniz filosófico e discurso inflamado contra os 'inimigos" da fé, da família e da propriedade.

Aliás, o discurso inflamado ou radical é característico de toda liderança do tipo messiânica. Seja radical na doçura ou na implacabilidade contra os inimigos que elege. Uma pessoa que apresenta um discurso temperado dificilmente consegue esta forma de protagonismo. Este padrão é reproduzido por boa parte dos seguidores. Alguns deles reproduzem automaticamente o padrão sem fazer um exame crítico, enquanto outros repetem a fórmula de forma calculada para tentar amealhar para si um pouco dos holofotes.

Pero Vaz de Caminha, em sua famosa carta, salientou a fertilidade do solo destas terras descobertas e apropriadas pelos lusitanos. Outra coisa que encontra terreno fértil, por aqui, são os discursos messiânicos. Um dos primeiros messianismos que ganhou vulto em nossas terras veio emprestado com os colonos portugueses, que foi o sebastianismo. Em Portugal havia a crença no retorno do Rei que morreu, sem deixar herdeiros, na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. No início do Brasil republicano, principalmente nas regiões interioranas e no agreste nordestino, acreditava-se na volta de Dom Sebastião, que iria restaurar a monarquia. O historiador Ronaldo Vainfas, na obra "A Heresia dos Índios", narra a existência de movimentos messiânicos entre os índios durante o período colonial. Destaca que alguns desses movimentos surgiram como forma de resistência contra a desconstrução cultural que sofriam por meio da catequese jesuíta.

No reinado de Dom Pedro II, um grupo de colonos alemães, sediados em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, iniciaram um movimento messiânico chamado pelos opositores de muckers, que no idioma alemão significa "falsos santos". Vários colonos iniciaram uma comunidade de viés messiânico em torno da liderança de uma vidente chamada Jacobina Maurer. A "revolta dos muckers" é pouco estudada por nossa historiografia, porém foi o primeiro fenômeno deste tipo de relevância no cenário nacional. O governo enviou o exército para combatê-los e desmobilizar a comunidade. Como haviam combatentes experientes entre os muckers, que inclusive lutaram pelo exército na guerra do Paraguai, as forças imperiais encontraram feroz resistência e sofreram algumas derrotas antes de alcançar o objetivo com a morte de Jacobina.

Posteriormente, durante a república velha, temos a ocorrência dos três movimentos messiânicos mais conhecidos de nossa história, que são a guerra de Canudos, a guerra do contestado e a sedição de Juazeiro.

A "guerra do contestado" ocorreu nas terras fronteiriças entre os estados do Paraná e de Santa Catarina. Teve como combustível o desalojamento de inúmeras famílias de camponesas por conta da construção da ferrovia pela empresa Brazil Railway Company, do investidor americano Percival Farquhar. As famílias que perderam suas terras se organizaram em torno das figuras de monges que pregavam na região e passaram enfrentar as tropas do governo acreditando que se tratava de uma guerra santa. Em outra região, no sertão baiano, ocorreu a "guerra de canudos", empreendida por camponeses sem terra e miseráveis que se organizaram na cidadela de Canudos em torno da liderança do pregador e opositor da república Antônio Conselheiro. A sedição de Juazeiro (Ceará) se dá pelo embate de tropas do governo federal contra as forças sob a liderança messiânica do Padre Cícero Romão Batista.

Os governos da velha república combatiam estes movimentos sob a alegação de que se tratavam de núcleos monarquistas sediados no interior do território nacional. O único destes movimentos que conseguiu êxito em resistir aos ataques das tropas federais foi aquele de Juazeiro. A figura de Padre Cícero conseguiu amalgamar vários atores a seu favor, desde os fiéis e grande número de romeiros até os cangaceiros e boa parte da elite local composta pelos coronéis (donos de terras).  A Igreja destituiu o padre de seus afazeres eclesiásticos, porém Cícero continuou figura importante na fé e nos arranjos políticos da região até a sua morte.

Padre Cícero teve tanta penetração no imaginário popular do nordeste, que influenciou a criação de outros movimentos messiânicos pela região. Alguns beatos de Juazeiro saíram pregando pelos sertões e fundaram novas comunidades messiânicas. Assim foi o nascimento das comunidades do Caldeirão dos Jesuítas e de Pau-de-colher. Ambas foram atacadas e destruídas por tropas federais já no período do governo Vargas. Nesta época, o discurso legitimador para o ataque contra as comunidades não foi mais aquele que as qualificavam como núcleos monarquistas contrários à República. Agora, o inimigo da vez era outro. A justificativa foi de que se tratavam de enclaves comunistas nos sertões nordestinos.

Até os dias atuais o brasileiro possui uma forte tendência a buscar soluções messiânicas para suas questões. A política nacional, por exemplo, está cheia de exemplos de vultos e lideranças que surgem por conta destas mistificações em torno de uma pessoa. A forte tendência de voto em Bolsonaro atesta esse padrão. A maioria de seus eleitores não sabem bem quais são suas propostas de governo e o que ele já fez durante tantos anos na vida pública, porém ele merece o voto por conta de supostamente reunir condições morais e ser um "mito", como dizem seus seguidores.

No outro lado do espectro político também ocorre o voto pelo messianismo político. O presidente Lula foi beneficiado por esta tendência. A história do retirante pobre que vira presidente mobilizou milhões de votos. Seria o novo "pai dos pobres", como outrora foi Getúlio Vargas. Esse é o fator que explica o porquê da população brasileira ora votar num projeto como o do Partido dos Trabalhadores ora apoiar projeto totalmente oposto como o de Bolsonaro. Deve-se pelo fato de que não se vota no projeto de país, mas apenas no simbolismo dos homens que se apresentam com aquela aura de salvador da pátria. Assim, quando se desconstrói a imagem de um deles, qualquer outro pode tomar o lugar, ainda que as propostas sejam diametralmente opostas.

Concluindo, pessoas como o escritor Olavo de Carvalho entendem como funciona este imaginário e surfam na onda.

A carta pública escrita pela filha de Olavo de Carvalho:
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/em-carta-aberta-devastadora-filha-de-olavo-de-carvalho-acusa-o-pai-de-colocar-arma-na-cabeca-dos-seus-filhos/

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Professor Pondé afirma que maioria dos artistas é de esquerda e tenta explicar o porquê do fenômeno. Só que não !





O youtube proporcionou a possibilidade de várias pessoas se sentirem como que naqueles programas matutinos ou vespertinos da televisão, como da Fátima Bernardes ou da Sônia Abrão, que se propõem a falar da mais variada gama de assuntos, mesmo que o resultado seja desastroso. Aqueles que possuem uma titulação acadêmica, tentam se valer dela para produzir uma "carteirada argumentativa". Outros, ainda, interferem nos elementos visuais para imprimir na audiência um suposto ar de intelectualidade, como falar entre dois ou três goles de vinho e algumas pitadas em um cachimbo inglês.

O professor de filosofia Luiz Felipe Pondé, em vídeo postado em seu canal no youtube, faz a afirmação de que a maioria da classe artística se identifica com o espectro político de esquerda e tenta promover um tipo de análise das razões que levaram a esta configuração.

No entanto, antes mesmo de passar para a argumentação do midiático professor, é preciso verificar a própria afirmação realizada de que a maioria dos artistas é de esquerda, que nos parece despropositada.

Ora, venhamos e convenhamos que artistas, como qualquer outra pessoa, podem se encontrar em diferentes posições dentro do eixo político que compreende desde os extremos (extrema esquerda e extrema direita) até as posições centrais (centro propriamente dito, centro-esquerda e centro-direita). Parece-me falacioso e açodado afirmar que a maioria deles está numa ou noutra posição. Para isso, seria necessário uma pesquisa muito profunda com os mais variados segmentos que podem ser entendidos como classe artística: cantores (famosos e os sem mídia), atores (renomados e dos pequenos teatros e grupos de rua), circenses, artistas plásticos de todas as técnicas, arquitetos,  poetas, entre inúmeros outros.

Na verdade, como acontece com a maioria das pessoas, entre os artistas o que aparenta é que a maioria, no que tange à política, está mais para ocupar o centro, mas com um movimento pendular que ora se inclina mais para a direita e ora mais para a esquerda, ao sabor das mudanças conjunturais históricas, econômicas e sociais.

Uma boa forma de se determinar que a afirmação "a maioria dos artistas é de esquerda" trata-se de um falso pressuposto é olhar para os dois extremos (extrema esquerda e direita), onde a posição fica muito mais evidenciada. Tente, o leitor, fazer um exercício mental e se lembrar quantos artistas aparecem realizando um discurso de extrema esquerda. Há muitos artistas por aí falando em uma revolução proletária pelas armas, como na Rússia de 1917 ? Será que alguém lembra de pelo menos um artista com este discurso ? Por outro lado, temos visto um grande número de artistas assumindo os discursos de extrema direita atualmente. Temos vários exemplos defendendo intervenção ou golpe militar. Nesses dias, um famoso cantor sertanejo "lecionou" que não existiu golpe militar no país, mas um "militarismo vigiado". Outro cantor sertanejo acaba de manifestar apoio à Bolsonaro na presidência. Alguns casos, entre tantos outros.

Assim, o vídeo já tem o seu objeto de análise viciado, sendo notoriamente um falso pressuposto.

Contudo, tudo que está ruim pode ficar muito pior ou, como diria a minha avó, a emenda foi pior que o soneto. A tentativa de explicação foi ainda mais desastrosa.

Um dos principais argumentos usado pelo autor do vídeo foi o de que artistas são de esquerda por conta de viveram de editais e financiamento público. Assim, o suposto "pensador" reduz o pensamento alheio a questões utilitaristas e de puro oportunismo. Numa abordagem psicanalítica, poderíamos suscitar a possibilidade de uma transferência ? 

Primeiro, que se o artista tivesse que se declarar de esquerda para receber financiamento público estaria quebrado, pois na maior parte do tempo o país esteve sob governos de direita. Segundo, que não é verdade que o estado brasileiro seja um mega financiador das artes. Há muitos outros países capitalistas onde se investe mais dinheiro público que no Brasil, até como estratégia geopolítica. Ocorre que no Brasil há esta falsa percepção de que o governo investe muito pelo fato de que o particular praticamente não investe nada. E isto ocorre não é unicamente por falta de interesse do particular, como sugere o autor do vídeo, mas pelo fato de não existir mercado consumidor interno que garanta retorno ao investimento. Se a maioria da população está vendendo o almoço para comprar o jantar, como irão gastar em apresentações artísticas ?  Neste caso, pessoas que defendem políticas neoliberais e que se colocam contra políticas de reparação da desigualdade social estão corroborando para que arte e cultura tenham pouco atrativo para a iniciativa privada.

Desta forma, o vídeo parece ter mais um viés psicanalítico do que uma discussão séria. Transmite mais uma dificuldade do autor em dialogar com aqueles que pensam diferente. Por isso, cria o espantalho de que são a maioria (já fez um vídeo em que os professores tb são esquerdistas, embora eu conheça professores de todas as opiniões políticas) e reduz a ideologia alheia em oportunismo e utilitarismo.

Vídeo sobre a maioria dos artistas de esquerda:
https://www.youtube.com/watch?v=4p8rkogL7hA&t=198s 

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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O limite do "politicamente incorreto" na mente média conservadora é o da conveniência.





O "politicamente correto" é uma expressão cunhada para conceituar o cuidado que se deve ter com a linguagem e outras formas de expressão para que não se ofenda ou marginalize determinados grupos de pessoas. Porém , no Brasil, já faz um tempo que a moda entre os conservadores, notadamente os mais jovens, é o sentido oposto; ou seja, ser "politicamente incorreto".

Essa jovem galera conservadora diz ser contra o "mimimi" e a "vitimização". Que no humor vale tudo, senão perde a graça, podendo fazer piada com gay, etnias, regionalidade e etc. Adoram um discurso "descolado", com muitas expressões chulas e o uso carregado de calão. O "politicamente incorreto" também se opõem a discursos de reparação de injustiças sociais. Cada um que corra atrás do seu prejuízo, pois o resto é pura "vitimização".

No rastro desta onda surgiram coleções de livros e autores do 'politicamente incorreto". Tem politicamente incorreto para história, música, política, sexo e sabe-se Deus mais o quê !  Algumas dessas obras lançam revisões sobre conteúdos escolares que não guardam correspondência com a produção acadêmica. Tentam colocar o professor de história como mentiroso e doutrinador.  

Porém, quando um museu resolve fazer uma exposição de arte com conteúdo crítico e que causa incômodo, essa mesma "galera descolada" muda radicalmente de um polo ao outro. Rapidamente assumem posição na trincheira "politicamente correta". E passam a utilizar de toda a vitimização e "mimimi" para dizer que a obra de arte é um atentado contra a tradicional família canarinho.

O mesmo pessoal que adora discursar com muitos palavrões e expressões pouco civilizadas passam a se escandalizar com a palavra inglesa "fuck" escrita em algum lugar da mostra artística.

Neste momento, percebemos que o politicamente incorreto não é um conceito ou princípio. É tão somente um artifício retórico cujo uso está unicamente adstrito à conveniência.

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terça-feira, 12 de setembro de 2017

Um país onde todos pensam que são técnicos de futebol e professores de história.





Sobre o Brasil, é comum se dizer que é um país com mais de 200 milhões de técnicos de futebol. Por isso, quão dura é a vida de treinador de time de futebol. Provavelmente, por isso há tantas demissões destes pressionados profissionais em cada certame. Cada torcedor tem certeza absoluta que sabe a melhor opção de escalação e esquema tático para seu time do coração, ainda que não viva o dia-a-dia do elenco como acontece com o profissional pago para isso.

De uns anos para cá, boa parte dos brasileiros também descobriu uma segunda profissão inata, que é a de professor de história !  Há inúmeras pessoas afirmando os mais diversos absurdos, sobre uma variedade de temas históricos, de cima de sua vasta experiência como aluno pouco atento às aulas no colegial.

No youtube, então, cresce a cada dia o número de "especialistas de plantão" sobre a disciplina iniciada por Heródoto no mundo grego clássico. Tem youtuber roqueiro ultraconservador que se acha professor de história, tem astrólogo metido a filósofo e que dá pitacos sobre história, tem professora de educação física que pensa saber mais de história do que os colegas da área, tem supostos condes e viscondes que também o fazem, jornalistas e até ator pornô querendo posar de historiador!

Essa gente vai espalhando desinformação sobre os conteúdos de história. Ora afirmam que não houve o tribunal do santo ofício (inquisição) ora que não passamos por um regime militar ditatorial no Brasil. Tudo de acordo com suas conveniências ideológicas e longe do rigor acadêmico.

O "professor" do momento é o cantor Zézé di Camargo, que em entrevista ao canal da Leda Nagle, no youtube, afirmou que não houve ditadura militar no Brasil. Segundo o cantor e dublê de historiador o que tivemos foi um "militarismo vigiado".

Tentei rapidamente achar no google se mais alguém usa essa expressão "militarismo vigiado". Confesso que na rápida busca só achei links para a entrevista do próprio "professor Zezé". Será que foi ele quem cunhou a expressão? Se foi, já pode lançar uma monografia defendendo um novo conceito  sobre este recorte histórico. 

Mas o que é um "militarismo vigiado"? Confesso que meus débeis neurônios não captaram a mensagem. Militarismo se refere aos militares, provavelmente no poder. Mas não é uma ditadura ! É vigiado ! O que é vigiado? Os militares vigiando a tudo e todos? E não é ditadura? Ou os militares que são vigiados? Talvez por uma potência imperialista fiadora do golpe ? Então, os militares teriam sido uma espécie de "laranjas" no governo. Aí faz um pouco mais de sentido. Quem sabe o "professor" Zezé lance uma revisão completa da história do Brasil !

Seria muito legal se vivêssemos num país que tivesse, realmente, 200 milhões de professores de história ! Porém, o que se tem é todo tipo de doido, ignorante na matéria e extremista querendo competir pelo espaço do professor.

Entrevista do "professor" Zezé à jornalista Leda Nagle:
https://www.youtube.com/watch?v=pHXAgD8_C0g&t=602s

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A exposição lgbt censurada, Leda e o Cisne.





No que tange à denúncia que na exposição Queermuseu, no Rio Grande do Sul, havia zoofilia, devemos lembrar que quadros e esculturas com homens e animais em ato sexual existem nos diversos estágios e períodos da história da arte.

Uma destas representações que mais foi executada por artistas renomados foi aquela intitulada "Leda e o Cisne", que representa o ato sexual entre uma mulher e um cisne. Tem por influência a mitologia grega, quando conta que Zeus se disfarçou de cisne para para seduzir e fazer filhos com com a rainha de Esparta (Leda).

Esta cena mitológica foi representada em obras de diversos artistas famosos. Entre eles, Leonaro Da Vinci. 

Se Leonardo trabalhasse no Brasil atual, correria o risco de ter seu ateliê fechado por apologia à zoofilia.

A instituição financeira privada que estava apoiando a exposição resolveu encerrar prontamente o projeto assim que grupos de extrema direita iniciaram protestos contrários à instalação. Isso demonstra o quanto é complicado deixar a educação e a cultura nas mãos da iniciativa que é orientada pelo lucro. A cultura ficará ao sabor das pressões do mercado.

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