O mundo inteiro repercute a ação ocorrida no tabloide francês - Charlie Hebdo - que culminou com a morte de vários jornalistas e chargistas do referido jornal. Saliente-se que o jornal em questão era especializado em fazer uma espécie de humor político-religioso, criticando através de seus textos e charges culturas e ideologias.
Somos veementemente contra qualquer tipo de ação ou reação armada que atente contra a vida e a integridade física das pessoas, seja pelo motivo que for argumentado. Contudo, no sentido contrário do discurso que "santifica" aqueles que foram alvo desse terrível crime, desejamos fazer uma breve reflexão sobre os limites da liberdade de expressão e, também, da responsabilidade da imprensa no exercício da sua referida liberdade.
Ocorre que, as imagens das charges que nossos telejornais mostraram como exemplo do trabalho divulgado pelo Charlie Hebdo foram selecionadas dentre algumas de conteúdo menos ofensivo. Uma grande parte do material postado como expressão de "humor" é de extremo mau gosto e ofensivo a pessoas, culturas e ideologias. Entendo que é lícito realizar a crítica através do humor. Que toda pessoa pública, instituição ou ideologia pode ser criticada. Porém, tem que haver bom senso nos limites do uso das mídias. É antiga a sabedoria que ensina que uma pena pode produzir mais estragos que uma arma. E no caso em questão, creio que não há santos em nenhum dos lados.
Apesar do Charlie Hebdo divulgar charges de gosto duvidoso e ofensivas a diversos grupos, pela pesquisa na internet parece que o número de charges ofensivas ao Islã são muito mais comuns.
Creio que muito possivelmente, se alguma publicação divulgasse periódica e constantemente imagens jocosas e de mau gosto alusivas a personagens queridos dos cartunistas e jornalistas eles também ficariam descontentes. Contudo, reiteramos que nada justifica a reação em forma de assassinatos.
Porém há que se olhar mais profundamente para esta questão. Trata-se da continuidade de uma guerra cultural entre ocidente e oriente. Edward Said, na obra Orientalismo, já nos apontava a desconstrução da imagem que o ocidente fazia em relação ao oriente. Atualmente, esta guerra ainda ocorre de forma velada.
Inclusive, com o aumento de imigrações de muçulmanos para a Europa há o temor das elites europeias de uma islamização da base de sua população. Desta forma, a desconstrução da imagem do Islã é uma trincheira desta batalha. Tabloides como o jornal Charlie Hebdo são instrumentos dessa guerra cultural.
Com repercussões internas, vemos algo parecido no Brasil, o uso da mídia por líderes que usam a liberdade de expressão e acabam disseminando ódio entre grupos. Inclusive, já com o resultado de terreiros de candomblé sendo invadidos e depredados.
Assim, devemos tanto condenar o assassinato de pessoas como a perseguição que fazem contra culturas e grupos étnicos através do papel e da tinta em nome de uma suposta vanguarda artística.
Observação:
Como alguns leitores realizam uma leitura seletiva e, por isso, dizem que o texto está justificando o ato terrorista, devemos deixar claro que em duas passagens deste pequeno texto deixamos expressa nossa total discordância com a ação contra a vida de quem quer que seja.
Mas a proposta do texto não é analisar a conduta dos assassinos, que obviamente é errada, seja por qual motivo for. A proposta é estabelecer uma crítica ao trabalho promovido pela revista Charlie Hebdo.
Falar sobre a valoração de trabalho de arte é realmente um campo complicado, pois totalmente subjetivo. O que é de mau gosto para um pode não ser para outro. Contudo, a base de nossa crítica é que as imagens depreciativas de símbolos sacros islâmicos, sendo publicadas semanalmente em jornal e expostas nas bancas para o público passa uma mensagem que vai além da arte. A habitualidade dessas imagens passa a constituir uma deliberada campanha de desconstrução dos valores de um determinado grupo étnico. E quando esse grupo é minoria na Europa e vítima histórica de preconceito no ocidente, parece que este tipo de iniciativa artística da revista em nada colabora para a construção de um futuro de tolerância e amizade entre os povos.
Tente o leitor se colocar no lugar do outro. Se o leitor não possui fervor religioso, então imagine outra coisa que lhe seja muito cara. Imagine uma pessoa próxima que seja muito querida. E um dia ao passar pela esquina da rua onde vc mora veja uma caricatura desta pessoa em posição que a ridiculariza. Você pode se chocar mas deixar para lá, pois é arte. Mas imagine que toda semana, durante meses e anos, o artista semanalmente coloque imagens jocosas dessa pessoa para o público. Cada um dos quadros, isoladamente, pode até ser considerado arte, ainda que grosseiro ou de mau gosto. Mas o ato de publica-los com habitualidade todas as semanas durante um largo período de tempo denota que existe uma outra intenção além da simples exposição artística.
Não sou muçulmano, não tenho qualquer ligação com o oriente, meu recorte histórico predileto é a história do Brasil, notadamente os movimentos messiânicos ocorridos na primeira república. Apenas estou realizando o exercício de se colocar no lugar do outro.
Esta matéria inocenta o estuprador, e culpa o estuprado, vergonha alheia por isto
ResponderExcluirEu lamento muito a leitura rasa que mtos fazem dos acontecimentos. Um crime não pode justificar o outro, contudo não há como inocentar o grau de intolerância e tamanho preconceito desse "artista".
ResponderExcluirO grande problema é que o islamismo, em sua maioria, declararam guerra ao ocidente civilizado, enquanto declaramos amores e justificamos terrorista. Francamente...
ResponderExcluirObservação:
ResponderExcluirComo alguns leitores realizam uma leitura seletiva e, por isso, dizem que o texto está justificando o ato terrorista, devemos deixar claro que em duas passagens deste pequeno texto deixamos expressa nossa total discordância com a ação contra a vida de quem quer que seja.
Mas a proposta do texto não é analisar a conduta dos assassinos, que obviamente é errada, seja por qual motivo for. A proposta é estabelecer uma crítica ao trabalho promovido pela revista Charlie Hebdo.
Falar sobre a valoração de trabalho de arte é realmente um campo complicado, pois totalmente subjetivo. O que é de mau gosto para um pode não ser para outro. Contudo, a base de nossa crítica é que as imagens depreciativas de símbolos sacros islâmicos, sendo publicadas semanalmente em jornal e expostas nas bancas para o público passa uma mensagem que vai além da arte. A habitualidade dessas imagens passa a constituir uma deliberada campanha de desconstrução dos valores de um determinado grupo étnico. E quando esse grupo já é minoria na Europa e vítima histórica de preconceito no ocidente, parece que este tipo de iniciativa artística da revista em nada colabora para a construção de um futuro de tolerância e amizade entre os povos.
Tente o leitor se colocar no lugar do outro. Se o leitor não possui fervor religioso, então imagine outra coisa que lhe seja muito cara. Imagine uma pessoa próxima que seja muito querida. E um dia ao passar pela esquina da rua onde vc mora veja uma caricatura desta pessoa em posição que a ridiculariza. Você pode se chocar mas deixar para lá, pois é arte. Mas imagine que toda semana, durante meses e anos, o artista semanalmente coloque imagens jocosas dessa pessoa para o público. Cada um dos quadros, isoladamente, pode até ser considerados arte, ainda que grosseiro ou de mau gosto. Mas o ato de publica-los com habitualidade todas as semanas durante um largo período de tempo denota que existe uma outra intenção além da simples exposição artística.
Não sou muçulmano, não tenho qualquer ligação com o oriente, meu recorte histórico predileto é a história do Brasil, notadamente os movimentos messiânicos ocorridos na primeira república. Apenas estou realizando o exercício de se colocar no lugar do outro.
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ResponderExcluirUm post maduro e coerente.
ResponderExcluirCansativo e entediante essas "colocações" ignorantes e rasas vindas dos famosos opinadores desocupados.
Fato e fato, as charges são agressivas. Sem cortina de fumaça, quem possui alguma sensibilidade, seja com a arte, ou melhor com o outro, já teria entendido.
Mas a intolerância se alarga,e peguem logo o culpado, afinal era só uma piada¹
E continuem a rir e aplaudir os standups podres e ricos desse país, incitando o ódio, a misoginia, atacando mulheres, gays, negros, velhos e outros "nomeados" minorias.
A pergunta que deve ser feita é: qual é a bola da vez? Como publicizar-se na desgraça alheia.
Obrigada pelo pequeno-grande texto.
Milene