Os reinos de Ghana, do Mali e Songai fazem parte do processo civilizatório das etnias africanas do Sudão Ocidental, que vão se estabelecer como estruturas estatais mais complexas a partir do século VIII até o XV.
É interessante observar que o estudo destas sociedades apresentam características étnicas da chamada África negroide, cujas formas culturais variavam bastante das sociedades africanas do mediterrâneo, com as quais os europeus já mantinham contato comercial e militar por vários séculos, como podemos lembrar nas guerras púnicas entre Roma e Cartago.
O fato dos impérios de Mali e de Songai se sucederem numa mesma área (Sudão Ocidental) permitirá a observação de permanências culturais, na administração estatal, militar e econômica entre elas. Assim como o Mali sucedeu Ghana, Songai sucedeu o império de Mali.
O Estado unificado de Mali surge da vitória de Sundiata Keita sobre os Sossos na batalha de Kirina. Será composto por diversos povos que se encontravam na região entre os rios Senegal e Níger, sendo o povo mandinga os que mais se notabilizavam. As tribos sossas, derrotadas, foram submetidas a um tipo de servidão. Sundiata se converteu ao Islã, mas a população continuou em suas crenças antepassadas. O governante do Mali recebia a alcunha de "mansa", sendo a dinastia preponderante a Keita. A sucessão real se fazia por matrilinearidade. Constituía um império tributário através da taxação das comunidades aldeãs e do comércio internacional transaariano. Havia distinções de classe. Uma de suas principais cidades foi Tombuctu, que floresceu econômica e culturalmente.
Em relação ao Mali, uma passagem interessante diz respeito à peregrinação do Mansa Mussa à Meca. Registra-se que sua comitiva se apresentava ostentando muito luxo e riqueza, que o Mansa Mussa teria presenteado com outro diversas autoridades muçulmanas. Contudo, contrário do que se possa imaginas, não se tratou de ingenuidade, mas de uma estratégia para afirmação do novo reino muçulmano no Islã.
O império Songai será o último grande Estado da região, tendo a cidade de Gao seu maior centro comercial, político e econômico. Sua expansão se deu no século XV, tendo a frente o conquistador Soni ali, que por se manter politeísta acabou sofrendo a oposição do partido muçulmano dentro do reino. Songai derrotou Mali e ficou com a administração de seu território. O general Mohammed sucedeu Ali e se converteu ao Islã, viajando a Meca e recebendo apoio dos comerciantes muçulmanos no seu Estado. Aproveitaram a estrutura administrativa do antigo Mali fazendo algumas adequações. O Songai teve o primeiro exército profissional da região. A cidade de Tombuctu continuou um importante polo centro intelectual. O reino Songai acabou caindo perante os marroquinos que introduziram armas de fogo no combate.
Nestes reinos é importante notar a estreita relação que possuíam com a geografia desértica do Saara e o aproveitamento de suas rotas comerciais, por onde se comercializava principalmente o sal, mas também marfim, goma, dentre outros produtos. A exploração aurífera era um dos pontos altos de que se beneficiavam para alavancar a economia.
Note-se que todos eles tiveram estreita relação com a cultura islâmica. Em regra, a aristocracia se convertia ao Islã e a população camponesa e pastora continuava com seus deuses ancestrais. Tanto Mali quanto Songai mantiveram um importante centro cultural na cidade de Tombuctu, para onde se dirigiam vários sábios da África e Ásia.
A questão da fundição dos metais foi técnica importante para constituírem exércitos mais preparados, usando ponta de metal em lanças e flechas. Songai chegou a constituir um exército permanente.
As fronteiras destes Estados eram fluídicas, sem consistente unidade territorial, dependendo muito da extensão da autoridade pessoal do governante. Adotavam a monarquia como forma de governo, sendo que a forma de sucessão real oscilava entre o princípio matrilinear e o patrilinear.
Ambos Estados eram tributários. Cobravam impostos aos mercadores, aos agricultores, pastores e, principalmente, dos povos conquistados.
Configuravam sociedades multiétnicas, pois vários povos eram cooptados por cada um destes império. Por isso, também manifestavam uma multiculturalidade. Em regra, a dinastia dominante era proveniente da tribo mais forte.
Passaram a ter dificuldades em manter seus domínios a partir da chegada dos europeus no continente com seu novo paradigma comercial e militar. Marrocos ao absorver armas de fogo, em suas tropas, derrotou facilmente o exército profissional de Songai.
O estudo destas formações estatais do Sudão Ocidental joga luz sobre uma parte da história pouco estudada, pois naquele tempo (medievo) não havia o interesse direto do homem europeu sobre estas terras
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