A obra de Sigmund Freud foi um dos marcos intelectuais do século XX. Postulou a teoria psicanalítica que fala sobre categorias da personalidade como o id, o superego e o ego, assim como sobre as três etapas evolutivas do bebê: oral, anal e genital. Ela transformou a forma como vemos o indivíduo e, também, a sociedade. Por isso, acabou estendendo sua influência por vários campos do conhecimento humano, tais como: a medicina, as ciências sociais, a arte e a própria história.
As influências da teoria psicanalítica sobre o campo da história gerou a abordagem psicanalítica da história (psico-história), sendo ao mesmo tempo considerada revolucionária e polêmica.
Antes de Freud, a noção de "psiquê coletiva" já era levada em conta por alguns historiadores. Lembremos Lucien Febvre que se debruçou sobre uma psicologia histórica ao estudar a categoria da "história das mentalidades". Algumas obras de Freud, como "Totem e tabu", foram importantes para identificar a mentalidade de sua época.
Por um lado a história se preocupava com os fatos, as fontes e sua explicação racional. Por outro, a teoria freudiana oferecia a investigação das motivações inconscientes que definiam a ação humana.
Freud tinha convicção de que se fosse aplicado o método psicanalítico a grupos e sociedades do passado seria possível explicar as origens das atitudes culturais, preconceitos, mitologias, religião e a civilização. Ao trazer a psicanálise para a análise histórica, o historiador transformaria sua disciplina e metodologia.
A análise crítica das fontes levaria em conta o que elas reprimem ou admitem, as fantasias inconscientes na base dos comportamentos culturais e, até, as pulsões sexuais que precipitariam ações individuais e coletivas.
A primeira obra instruída pela psico-história, lançada por Freud, foi "Leonardo da Vinci and a memory of his childhood", em 1910, que investiga a inspiração artística de Da Vinci.
O trabalho realizado pelos adeptos da Escola dos Annales, com o estudo das mentalidades, fortaleceu o interesse nas abordagens psicológicas. Durante a segunda guerra mundial cresceu ainda mais este interesse, havendo abordagens que tentavam explicar a psicopatologia de Hitler. E usar para o totalitarismo o conceito de "mau" era muito superficial. Essa tendência encontrou simpatia entre jovens historiadores norte-americanos do pós-guerra.
Desta forma, a ciência do comportamento humano poderia dar respostas a essas questões. Uma forma de descobrir as motivações irracionais e reprimidas dos indivíduos e grupos históricos.
Note-se que a psico-história, então, se dividiu em dois campos: estudo dos indivíduos (psicobiografia) e estudo dos grupos ou sociedades.
Contudo, a psico-história gerou polêmica e foi muito atacada por várias correntes de historiadores. Alertaram que este novo campo de análise estaria reduzindo episódios históricos importantes em meras crises emocionais de certos indivíduos. Estaria tirando a complexidade do fenômeno histórico. Além do que, é muito relativo e imprecisa a pesquisa das motivações secretas e não reconhecidas das pessoas históricas. A psico-história em relação à história foi comparada, pelos críticos, como a astrologia para a astronomia.
Entre entusiastas e críticos, o fato é que a linguagem psicanalítica entrou no vocabulário do historiador. Surgiu o campo da psicologia social que estuda as culturas, sistemas de crenças, identidades de gênero, entre outras, que contribui para a aproximação da psicanálise com as ciências sociais e a história.
E fica no ar a questão de como se explicar o irracional, aquilo que é desconcertante, na história da humanidade.
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